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sexta-feira, 1 de março de 1996

Pastor Nilson Fanini: Governo encerrou briga entre Globo e Record

Líder mundial dos batistas revela interferência do Planalto na 'guerra santa'

Marcelo Dutra e Omar de Souza

Fotos de Frederico Mendes

Carlos Fernandes
Duas semanas antes das acusações lançadas pelo O Globo, o pastor Fanini garantia que era o principal acionista da TV Record Rio

Pouca gente percebeu a trégua que houve entre as TVs Globo e Record depois de meses de confronto. Numa entrevista exclusiva concedida à revista VINDE, no início de janeiro, em Niterói, o pastor Nilson do Amaral Fanini deu pelo menos uma pista para explicar a repentina paz. Fanini revelou que a guerra santa acabou por influência direta do governo, que deu um basta aos ataques mútuos numa reunião com diretores das emissoras. "Houve uma ordem da presidência da República para que se fizesse uma reunião com a diretoria das redes Globo e Record no sentido de forçar uma parada nas denúncias de um lado e de outro, pois estavam indo longe demais", afirmou o pastor Fanini.

O pastor paranaense Nilson Fanini, 63 anos, tornou-se o primeiro brasileiro a ocupar a presidência da Aliança Batista Mundial, entidade que representa os mais de 100 milhões de batistas do planeta. Como evangelista, já pregou em 87 países. Além de pastorear há 31 anos a Primeira Igreja Batista de Niterói, também preside o Reencontro, organização assistencial que atende milhares de pessoas de Niterói e municípios vizinhos. O programa do mesmo nome que comanda é um dos mais antigos evangelísticos de TV em rede nacional. Recentemente, teve o nome cogitado para uma eventual candidatura a presidente da República.

Mas a este impressionante e elogiável histórico de vida juntou-se, no fim de janeiro, um episódio extremanente confuso: uma reportagem do jornal O Globo acusa o pastor Fanini de ter vendido 51% das ações da TV Record Rio de forma irregular. Esta acusação contradiz as informações anteriormente prestadas pelo líder batista. Na entrevista à VINDE, duas semanas antes, ele garantia ser ainda acionista majoritário. Procurado depois pela nossa reportagem para contar sua versão, o pastor Fanini não respondeu até o fechamento desta edição, em meados de fevereiro.

O que significa para a igreja evangélica brasileira, e mais especificamente para a denominação batista, o fato de o senhor ter sido eleito presidente da Aliança Batista Mundial?

Foi uma escolha divina. É uma honra muito grande para mim e para o país ter um brasileiro à frente de 200 pastores que representam, por sua vez, várias nações da Terra, num trabalho que reúne mais de 100 milhões de cristãos.

Como ocorrem as eleições para a escolha de um novo presidente da ABM?

Para cada mandato elege-se o representante de um continente diferente. O meu vai de 1995 até o ano 2000. Nas próximas eleições, tudo indica que o presidente será da África. Ele precisa ter um certo currículo. Deus vinha me preparando. Já preguei em 87 países, o que me tornou bastante conhecido no mundo como evangelista. Na minha posse, em Buenos Aires, desafiei os representantes das 128 nações a dobrar o número de batistas na Terra até o ano 2000. Ou seja, o objetivo é atingirmos 200 milhões de pessoas, 500 mil igrejas e 72 mil universidades e colégios em toda a Terra.

Conjectura-se que o senhor pode vir a se candidatar à presidência da República. Como surgiu isto?

Houve essa passeata muito grande (promovida pela Igreja Universal do Reino de Deus), com 1 milhão de pessoas em todo o país, e alguém citou meu nome. A imprensa diz que, dessa vez, foi o Laprovita (Vieira, deputado federal), mas ele nem me consultou. O resultado é que fui procurado por diversos jornais do país e tive que me declarar contrário à idéia. Talvez amanhã Deus queira, mas, no momento, já me deu uma tarefa muito grande.

Carlos Fernandes
"Fui procurado pelos jornais e me declarei contrário à idéia de ser presidente da República. Talvez amanhã Deus queira, mas não no momento."

Pesquisas indicam que os evangélicos brasileiros estão decepcionados com a atuação dos seus representantes políticos. O que o senhor acha?

Igreja é uma coisa, política é outra. A igreja não pode ser palanque nem partido político. Agora, que a política precisa de sal e luz, é uma realidade. É uma decepção dupla: quando se elege uma pessoa e ela falha, ela falha como cidadão e como crente.

As obras assistenciais do Reencontro já existem há 20 anos. Como está este trabalho atualmente?

Me baseio na mensagem que Deus colocou no meu coração: que Jesus ia de cidade em cidade pregando, ensinando e curando. Baseado nesse tema, pregando o Evangelho total para o homem total, o Reencontro marcha. Com isso, hoje temos 29 especialidades clínicas, 56 médicos, 22 dentistas, enfermeiros que já perdi o número e assistentes sociais. Em 1995 atendemos quase 120 mil pessoas. Temos também as cruzadas no Brasil e no mundo, programas de rádio e televisão e também a Liga Bíblica, que já distribuiu 18 milhões de novos testamentos.

O programa começou durante o regime militar. Houve problemas com censura?

Me censuravam, não deixavam falar muitas coisas, mas nunca tive problemas sérios.

Como foi o processo para conseguir a concessão da TV Rio na década de 80?

Eu e o Arolde de Oliveira (deputado federal), então diretor do Dentel, fizemos uma empresa e começamos a concorrer com muitos pretendentes, entre eles o Jornal do Brasil, a Editora Abril e o Paulo Maluf. O Leitão (de Abreu), chefe de gabinete do presidente Figueiredo, sugeriu que se desse a concessão para "um pastor que tem aí, que ele não vai botar no ar mesmo". Aí, ele me deu. Só que, com a ajuda de Deus, eu botei no ar. Sem um tostão da igreja, do Reencontro ou de qualquer evangélico. O dinheiro veio da minha família, que é dona da Kepler-Weber S.A.

Seria a primeiro emissora evangélica do país?

Inicialmente nós tentamos, mas depois descobri que uma televisão no Brasil, principalmente em VHF, não consegue sobreviver só com programação evangélica. Eu estava sempre no vermelho. Mas depois que entrou em rede. o custo foi dividido.

Foi assim que a TV Rio acabou se tomando Rede Record?

O nome é fantasia. A razão social é Rádio Difusão Ebenezer Ltda. O nome fantasia pode ser mudado a qualquer momento. Para fazer a rede, ficou Record Rio.

O senhor ainda tem ligações com a TV Rio?

Detenho ainda 51% das ações e estou negociando a venda para um grupo de 6 empresários, que detêm os outros 49% das ações. Portanto, é necessário que eu assine centenas de cheques pela empresa, pois ainda sou sócio majoritário.

Os mesmos que detêm o controle da emissora no restante do Brasil?

Do lado da Rede Record, não sei dizer. Sei que a TV Rio tem um contrato de filiada com a Rede Record. A programação é selecionada por nós. O que eu quero dizer é que está-se cumprindo hoje a finalidade para a qual eu a criei, ela está glorificando e defendendo o nome de Deus.

Na época em que a Record foi comprada em São Paulo falou-se em 45 milhões de dólares. Este é o preço de uma emissora de TV?

A Record de lá é outra coisa completamente diferente. Aqui é outra empresa, não tém nada a ver com a Record de São Paulo.

Como presidente da Aliança Batista Mundial, o senhor é remunerado?

Boa pergunta. É bom que se diga que não recebo um tostão da ABM, eles só me ajudam com as passagens. É tudo por amor ao Evangelho.

A que o senhor atribui o crescimento dos evangélicos no Brasil nos últimos anos?

Hoje o crescimento dos evangélicos é duas vezes e meia mais rápido do que o da população brasileira. Não é só quando Caio Fábio, Fanini, Billy Graham enchem o Maracanã. Hoje o que vale é essa garra, esse exército de irmãozinhos e irmãzinhas que fazem reuniões nos colégios, nas fábricas, nas Forças Armadas. E mais: a mídia. Hoje nós temos boas emissoras de rádio e de televisão evangélicas.

O senhor acredita que o crescimento quantitativo foi acompanhado de crescimento qualitativo?

Sim e não. Há muitas igrejas por aí que não estão batizando. Em outras falta espiritualidade. Além disso, a liderança tem que estar cada vez melhor preparada. O pastor tem que ser quase um super-homem, visitar, pregar, evangelizar etc. Mas, na maioria dos casos, está havendo, graças a Deus, um bom crescimento.

Carlos Fernandes
"Uma pessoa me ligou do Planalto contando que o presidente queria uma reunião entre diretores da Globo e Record. Estavam indo longe demais."

Os escândalos atuais envolvendo líderes da Igreja Universal do Reino de Deus são resultado desse crescimento quantitativo sem o devido preparo qualitativo?

Neste caso há uma guerra empresarial, não religiosa. São duas redes que estão lutando por espaço. Recebi um telefonema há poucos dias do Palácio do Planalto. A pessoa me pedia para orar pela situação e me contou que houve uma ordem direta da presidência da República para que se fizesse uma reunião com a diretoria das redes Globo e Record no sentido de forçar uma parada nas denúncias de um lado e de outro, pois estavam indo longe demais. E esta reunião foi realizada.

Esta reunião foi com o próprio Ministro das Comunicações, Sérgio Motta?

Não posso declarar. Mas orei a Deus para que cultivássemos o valor religioso das mensagens da Record.

Como o senhor analisa os escândalos envolvendo os evangélicos no Brasil e no mundo por conta dos métodos da IURD?

Não me cabe criticar. A Igreja Universal tem tirado 6 milhões de pessoas das garras do diabo, e nisto realiza um grande trabalho. Agora, é uma igreja adolescente. Está formando a doutrina, a teologia, os pastores. É natural que algumas coisas aconteçam. Tem coisas que eu fazia na minha adolescência e não faço mais hoje. Houve um momento em que a Associação Evangélica Brasileira se manifestou contrária aos métodos da Universal.

A cúpula da IURD reagiu com um documento contendo a assinatura de vários pastores, inclusive do senhor. Qual o motivo de seu apoio?

Era uma questão de liberdade religiosa. A Universal tem direito à liberdade. Aquilo foi Nilson Fanini quem assinou, não foi o presidente da Aliança. A Igreja Batista não tomou partido, nem para um lado nem para o outro.

O senhor crê que esteja havendo uma perseguição contra a igreja evangélica?

Ultimamente estão perseguindo muito os evangélicos. Quando, por exemplo, um deputado católico ou espírita faz umas e outras, nunca se diz que ele é católico ou espírita. Mas quando é um evangélico, dizem até a qual igreja pertence. Isso é discriminação e é inconstitucional.

Enfim, como o senhor se posiciona em relação à IURD?

Eu admiro o trabalho fantástico que a Igreja Universal faz, mas com algumas coisas não concordo, como talvez eles não concordem com algumas coisas da minha igreja. Discordo dos métodos da IURD, mas devemos respeitar um ao outro.


Extraído Entrevista. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 6, mar. 1996.

domingo, 11 de fevereiro de 1996

Um papel para valer

Para o ator Felipe Folgosi,trabalhar nas novelas é como uma missão

Por Stela Bastos

Fotos: Frederico Mendes

Carlos Fernandes
Felipe faz parte da Associação de
Funcionários Cristãos da Rede Globo

Cena 1: Felipe lê os capítulos da semana e vê a cena em que o cigano Wladimir, seu personagem na novela das oito, está na praia vendendo os cobertores das sete feiticeiras.

Cena 2: Felipe se aconselha com o pastor da sua igreja e sai em paz.

Cena 3: Não se sabe por que nem até quando, mas a gravação da cena foi suspensa.

Essa não é uma seqüência da novela Explode Coração, exibida pela Rede Globo de Televisão. É apenas uma pequena sinopse de um dos episódios da vida real de Felipe Folgosi, 21 anaS, um ator bonito, tranqüilo, saudável e, com certeza, um dos mais bem sucedidos de sua geração. À primeira vista, Felipe pode parecer apenas mais um jovem galã de novelas, que sonha com o sucesso: Mas, por trás da bela estampa de paulista bem nascido, existe um cristão fervoroso, cada vez mais disposto a submeter-se à vontade de Deus.

Orando e se aconselhando com os pastores de sua igreja, Felipe estreou na TV como o jovem drogado Júlio, da minissérie Sex Appeal em 1992. Em seguida, fez o paranormal do bem Alef, na novela Olho no Olho. Depois gravou um episódio do programa Você Decide e agora faz parte do polêmico núcleo dos ciganos de Explode Coração, interpretando Wladimir. A sua atuação na TV abriu-lhe, ainda, as portas do teatro profissional. Felipe já atuou ao lado de Othon Bastos, Jayme Periard e Edwin Luisi, em Meus Queridos Canalhas, com direção de Gracindo Junior, e fez o Elicano, da peça Péricles, de Shakespeare, dirigida por Ulysses Cruz.

BUSCANDO O CAMINHO - É difícil escolher o início da conversa com Felipe. Como começou a carreira ou quando se converteu? As histórias se misturam e revelam que, desde muito cedo, Felipe procurava tudo o que tem hoje. Como a maioria das pessoas que optam por essa. profissão, aos 14 anos, ele já demonstrava o gosto pela arte dramática, fazendo teatro infantil na escola. E assim como o trabalho de ator tem raiz na adolescência, ele lembra que, também nessa época, tinha o hábito de acompanhar a mãe em todos os tipos de evento ou reunião de cunho religioso. "Nós estávamos em busca de alguma coisa. Fizemos curso de meditação, tarei, yoga, entramos no espiritismo, umbanda, consultamos cartomante, búzios... Qualquer coisa que indicasse um caminho, a gente ia", lembra. Até que, em 89, fazendo compras de Natal na sofisticada Rua Oscar Freire, em São Paulo, eles encontraram "o caminho", como ele diz, através do diretor de teatro Tomás Gomide, antigo amigo de sua mãe, então convertido à fé evangélica. Conversa vai, conversa vem, ela contou que ia ser submetida a uma cirurgia cardíaca para tentar se livrar de um problema de calcificação na válvula minai e Tomás não fez por menos. "Eu achei estranhíssimo", confessa Felipe, explicando que "ele perguntou se ela cria em Jesus e orou pela cura dela ali mesmo, dentro da loja". Os novos exames confirmaram a cura.

Carlos Fernandes
Carlos Fernandes
Felipe contracena com Stela Freitas, sua mãe na
novela Explode Coração, e com Ricardo Macchi e
Stênío Garcia, seus parentes ciganos

Testemunhas do milagre que p4s um ponto final no sofrimento da mãe, Felipe e sua família nunca mais foram os mesmos. Apesar de seus pais viverem separados, já houve várias conversões de um lado e de outro. "Paralelamente, os parentes da minha mãe e alguns do meu pai também foram se convertendo", diz ele, sorridente. Seu irmão, de 27 anos, também é evangélico. E o pai "já se abriu; só falta ir para a igreja", segundo Felipe. Quando todas essas maravilhas aconteceram, ele já havia participado de outras montagens amadoras no colégio, tinha feito vários comerciais para a TV, em São Paulo, e era aluno do curso de teatro de Celia Helena, devidamente autorizado e incentivado pelos pais. "Sempre fui muito bem na escola, por isso minha mãe não viu problema nenhum", comenta. Mas, a partir daí, decidiu que era melhor colocar as coisas numa nova perspectiva. Trancou o curso e começou a orar incessantemente, pedindo a Deus que respondesse sobre suas opções profissionais. E foi justamente nesse período, que de define como "parada para pensar", em 1992, que Felipe Folgosi foi chamado para fazer o teste da Globo, candidato a interpretar Júlio, na minissérie SceAppeal O papel marcou sua estréia na TV, aos 17 anos.

"SEM COBERTURA, NÃO DÁ" - Felipe não tem dúvida de que só foi escolhido porque Deus quis: "Eu era um entre muitos atores, fiz um teste só e logo que acabei o diretor Ricardo Waddington me disse que eu poderia dormir tranqüilo. Eu sei que Deus tem seus propósitos", conclui, confiante. Mas isso não quer dizer que ele tenha ilusões a respeito da profissão, das características próprias de seu trabalho, do meio artístico, e das freqüentes recaídas que qualquer pessoa pode ter, se não estiver atenta à comunhão com o Senhor. Felipe sentiu na pele as conseqüências de levar a vida "sem cobertura", como diz, quando foi escalado para fazer um dos protagonistas da novela Olho no Olho, de Antônio Calmon, cuja trama se baseava numa espécie de guerra do bem contra o mal através dos poderes paranormais de dois jovens. Felipe fazia o paranormal do bem e o ator Nico Puig, seu amigo pessoal, o suposto adversário. O contexto é fictício e não vem ao caso, mas assim como alguns atores e pessoas da equipe se sentiram gravemente afetados por uma atmosfera espiritual negativa nos bastidores da novela, Felipe também não tem as melhores recordações desta época. "Foi um momento muito importante da minha carreira, artisticamente falando", recorda, "afinal, eu era um protagonista; mas fiquei muito tempo aqui no Rio, morando sozinho, longe da minha família, sem ir à igreja e sem cobertura. Foi pela misericórdia mesmo", admite, com a expressão de quem já cresceu na fé.

CENAS DE BEIJO - É fato, porém, que um ator crente, jovem, bonito e assediado pelas gatinhas de todo o Brasil dificilmente escaparia da curiosidade geral: E essa história de ficar beijando as atrizes? Não tem uma hora em que as coisas se confundem? Afinal de contas, há muitos coleguinhas de trabalho que acabam se envolvendo durante a novela. Mas Felipe não perde a pose para responder sobre as supostas vantagens de seu ofício. E aproveita para fazer uma interessante comparação: "As pessoas têm preconceitos contra a igreja e o cristianismo", argumenta, "mas os cristãos também não podem cair nesse erro, por falta de informação. É claro que há pessoas que se relacionam amorosamente no meio artístico, assim como há casais de namorados em bancos, hospitais, enfim, em quaisquer locais de trabalho. O beijo é técnico, na hora você não está nem vendo a pessoa direito, não é um momento propício a nada", assegura o ator. Ele acha que algumas pessoas se aproximam afetivamente, muito mais pela convivência do dia-a-dia do que por qualquer outro motivo. "Aí, é claro, uma cena romântica pode acabar ajudando", admite, lembrando ainda que a diferença está na repercussão que a mídia proporciona aos namoros de pessoas famosas, como os atores.

Carlos Fernandes
Na novela, Felipe amo Leandro Leal (D), mas namora Roberto índio do Brasil, irmã de Patrick Alenco

Como um deles, Felipe sabe que está na mira das lentes e bastante vulnerável a tais situações. Mas nunca pensou em abrir mão da carreira por conta disso. Quando foi escalado para fazer o cigano, assumiu a mesma conduta que sempre seguiu: orou muito e se aconselhou com o pastor Esteves, da Igreja Renascer, de São Paulo, onde congrega. "Até agora, graças a Deus, não tive nenhuma cena de ler mão, nem cartas, nem fazendo adoração a nada", diz, aliviado. Mas, se for preciso, Felipe tem consciência de que estará agindo como intérprete de uma trama. Na sua visão, o mais importante é estar fora dos muros da Igreja, pregando o amor de Cristo. "Deus precisa da gente em todos os lugares; acho muito bom que a igreja esteja mudando a sua estratégia de evangelismo. Jesus não andava entre pecadores? Se nós não falarmos para este povo, quem vai falar?", indaga Felipe.

FALANDO DE JESUS - Sentindo-se incluído neste chamado, ele acha que está fazendo o que deve: "Todo mundo sabe que sou cristão e tenho tido oportunidade de falar do amor de Jesus para muitas pessoas", ele diz. Felipe procura crescer como ator mas também deixa evidente a preocupação em evoluir como servo de Deus. "Já fui mais ansioso, mas hoje sei que é muito mais valioso dar um bom testemunho e ficar tranqüilo para aproveitar as aberturas, sem obrigação. Mas é claro que eu tenho as minhas estratégias: já orei com muitos companheiros do trabalho, e lhes dei bíblias e livros evagélicos", conta Felipe, sem traços de vaidade. Ao contrário. Felipe deve dar trabalho às meninas com tanto equilíbrio. Ele confessa que já namorou mais de uma atriz, mas descobriu que não vai ser feliz em "jugo desigual", ou seja, namorando uma menina que não seja também sua irmã em Cristo, e está calmo, esperando sua varoa chegar. Apesar das inúmeras jovens evangélicas que dizem estar orando por Felipe - numa desculpa para paquerá-lo, ele tem uma certeza: "Oração nunca é de-mais, e adoro quando oram por mim."

quarta-feira, 7 de fevereiro de 1996

Universal reúne fiéis contra a Globo

Por Danielle Franco

Fotos de Pauty Araújo
Os fiéis da Universal tomaram a Cinelândia com faixas e cartazes

Abriga entre a Igreja Universal do Reino de Deus e a Rede Globo de Televisão teve mais um episódio no dia 6 de janeiro, quando os representantes da IURD organizaram uma manifestação em defesa do bispo Edir Macedo, que está sob investigação policial. Convocados a participar do 1° Encontro da Paz, milhares de fiéis da IURD se concentraram nas principais capitais do país. Na Cinelândia, centro do Rio, a manifestação reuniu pastores de várias denominações, embora nenhum líder nacional tenha comparecido.

Alguns dos mais exaltados incitavam o povo a pronunciar palavras de ordem contra a Rede Globo. Num momento de tensão, o bispo Romualdo pediu que os fiéis, munidos de pedrinhas de isopor, se dirigissem à câmera da Globo e imaginassem que estavam "derrubando Golias". A manifestação terminou às 18h com uma oração na qual se pediu "misericórdia para os inimigos".

Em São Paulo, a manifestação a favor do bispo Macedo reuniu 80 mil pessoas no Vale do Anhangabaú, segundo a Polícia Civil. O coordenador do evento, Mário Luiz de Souza, acredita ter contado com o apoio de todos os evangélicos do país: "Quem não se pronunciou a nosso favor também não acusou, ficou calado." Ficar calado, aliás, parecia ser a palavra de ordem. Quatro fiéis da Igreja Universal disseram que "não podiam falar nada". O padre Marco Antônio Janom, da Igreja Católica de Vila Formosa, diz não acreditar que a Igreja Universal ataque a católica: "O objetivo deles é falar de Jesus." O rabino da Congregação Israelita do Tucuruvi, Mário Najmanovich, afirma apoiar qualquer manifestação pela liberdade religiosa, e ataca: "Toda informação que a Rede Globo produz sobre judeus, ciganos e evangélicos é distorcida."

MANIFESTO - A postura da Igreja Universal tem motivado manifestações de entidades evangélicas internacionais. A Fraternidade Evangélica Latino-Americana, com sede em Buenos Aires, Argentina, que representa 60 milhões de cristãos evangélicos no continente, expediu um documento conjunto com a Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da República Argentina (ACIERA). Na nota, a entidade declara "ser necessário deixar clara nossa posição frente a práticas estranhas à nossa fé", além de afirmar que a IURD não pertence a nenhuma das organizações signatárias do manifesto. Em outro trecho, a declaração afirma que repudia os métodos de proselitismo e arrecadação de fundos "que não estão de acordo com as normas bíblicas, a moral pública e as leis de cada país", acrescentando que é preocupante o uso abusivo da palavra seita, que vem sendo aplicada em referência aos evangélicos em geral e aos pentecostais em particular. "Do mesmo modo", prossegue o manifesto, "o uso do termo evangélico não pode ser aplicado a igrejas cujas doutrinas e práticas não condizem com o que os cristãos evangélicos aceitam como princípios derivados da Palavra de Deus". A declaração termina lembrando que esses fatos lamentáveis não são surpreendentes, pois foram anunciados pelo Senhor Jesus Cristo.

Colaborou Sandra Silva, de São Paulo.

Fotos de Pauty Araújo
O protesto levou às ruas membros de várias denominações evangélica

As diversas faces de um conflito

Briga Universal x Globo permite abordagens maniqueístas a uma questão complexa

A guerra entre as emissoras Globo e Record é apenas uma das vertentes da polêmica... que envolve a disputa pelo poder político nos sistemas de comunicação de massa

Nos filmes e novelas é muito fácil. O mocinho é o sujeito bacaninha, imaculado, cheio de boas intenções, geralmente bonito e elegante, enquanto o vilão é o calculista incapaz de um gesto altruístico e disposto a usar os mais sórdidos expedientes para alcançar seus objetivos. Na vida real, porém, a coisa é bem mais complicada, ainda que os veículos de comunicação brasileiros aparentemente se deixem influenciar pela tradição folhetinesca do país. A guerra que travam as Organizações Globo e a cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus demonstra esta tendência maniqueísta da mídia. Jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão posicionados dos dois lados procuram reduzi-la a uma mera rusga religiosa. Tal simplismo tem levado muitas pessoas, principalmente evangélicos, a fazer de Roberto Marinho e o bispo Edir Macedo anjos ou demônios ao sabor de novas denúncias recíprocas.

Há, pelo menos, meia dúzia de batalhas inventadas durante a discussão dos ataques da Globo e dos métodos da Universal. Nos programas de debates da Rede Record e nas rádios e jornais controlados pela IURD aduba-se o terreno do que é plantado nas igrejas da denominação: a TV Globo é a filial mais poderosa do inferno e, portanto, suas acusações nada mais são que investidas demoníacas para destruir a grande obra da Universal. Eventualmente, o reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, presidente da Associação Evangélica Brasileira - AEVB - é citado como cúmplice e pau mandado de Roberto Marinho. A conveniência desta abordagem é que da dispensa explicações sobre os métodos de arrecadação nas igrejas à base de intimidação, a aplicação do dinheiro, a filosofia do dá ou desce etc. O pastor e teólogo batista Ariovaldo Ramos não tem dúvida de que, em qualquer igreja que respeita os princípios básicos de disciplina, denúncias como as que foram feitas contra os principais líderes da IURD gerariam, no mínimo, inquéritos internos. "A imprensa aumentou, mas não inventou", lembra.

Por outro lado, quando a Globo mobiliza todo seu arsenal contra a Universal, mira em outros alvos. As manchetes do jornal e os noticiários da TV que levam o nome do grupo de Roberto Marinho vendem a idéia de que uma grande ameaça paira sobre a sociedade cristã - leia-se católica -brasileira. Quando colocam a função eclesiástica de Edir Macedo entre aspas, mas não usam o mesmo critério para identificar, por exemplo, o arcebispo do Rio, dom Eugênio Sales, as Organizações Globo e vários outros veículos bombardeiam sobre o povo a concepção de que Igreja, com i maiúsculo, só há uma, com sede no Vaticano. Os efeitos respingam em toda a sociedade evangélica brasileira, que acaba adotando um mote semelhante e enxergando os católicos como adversários.

DISPUTA POLÍTICA - O restante da grande imprensa aponta outra face da chamada "guerra santa": a disputa pelo poder político. Reportagens de revistas como Veja e IstoÉ chamam atenção para o rápido crescimento do sistema de comunicação da IURD que, se ainda é pequeno comparado à Globo, já é suficiente para garantir a publicidade da igreja e a projeção de seus aliados, particularmente os que ocupam cargos políticos. Se é verdade que, por ser dono da Globo, Roberto Marinho tem o país em suas mãos, a mais evidente ameaça a seu poder se chama Edir Macedo. Mas é ingenuidade intelectual limitar a briga ao âmbito político.

Muitos pastores preferem conjecturar a respeito de um quarto tipo de batalha, igualmente maniqueísta. São os que resumem o episódio à questão pessoal envolvendo o bispo Edir Macedo e o pastor dissidente Carlos Magno de Miranda. Neste círculo de discussão, eminentemente evangélico, os protagonistas alternam a condição de mocinhos e bandidos. Enquanto o bispo Macedo é classificado como "um homem ousado, responsável por uma grande obra", seu detrator é "o traidor ressentido por ter sido excluído da cúpula da IURD". Na mesma roda, os papéis podem se inverter. Há os que defendem o pastor Carlos Magno como "um exemplo de coragem nas denúncias", ao mesmo tempo que celebram o desprestígio do principal líder da Universal.

PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA - É possível identificar ainda outras duas formas maniqueístas de se enxergar o episódio. Uma delas, entre política e intelectual, coloca a elite brasileira, com a Globo como principal agente, organizada contra os evangélicos - explicação que só faz sentido quando os crentes, ao invés de se associarem aos interesses da classe dominante, procuram posicionar-se em favor dos oprimidos e sem voz, como orienta o livro de Provérbios, capítulo 31, versículos 8 e 9, o que nem sempre acontece. A outra, interessante na intenção, mas limitada na abrangência, identifica evangélicos pela postura, dividindo-os entre éticos ou não. De fato, é de uma miopia quase insana assimilar explicações pouco convincentes sobre a gana por dinheiro demonstrada pela cúpula da IURD nas imagens da fatídica fita de vídeo. Só que a questão não reside apenas na probidade - ou ausência dela - de quem freqüenta os templos. Em artigo publicado na edição de janeiro do jornal A Raiz, o bispo Tico Oscar, líder da Igreja de Nova Vida em São Paulo, lembra que a prioridade da Igreja, antes da necessidade de provar sua honestidade, é cumprir as determinações do Evangelho.

Além do simplismo, o reducionismo também afeta as análises que vêm sendo feitas sobre a guerra Globo x Universal. Muitos falam em perseguição religiosa, esquecendo que, pelo menos por enquanto, apenas um grupo está sob ataque direto. E seria pretensioso demais, inclusive no que diz respeito às práticas eclesiásticas, achar que a IURD representa toda a comunidade evangélica brasileira. Outros falam em perseguição diabólica, mas não lembram da farta munição que muitos crentes, famosos ou não, vêm fornecendo ao inimigo, seja na exploração da boa-fé de milhares ou nos escândalos locais, como adultérios e cheques sem fundo. "O que está havendo, para ser misericordioso, não é perseguição, mas muita imaturidade", afirma o pastor Ariovaldo Ramos. "A perseguição de fato dependerá muito do quanto de atenção, reflexão e arrependimento haverá em meio a isso tudo."

COMBINAÇÃO DE FATORES - A verdade é que cada linha de pensamento tem suas argumentações. Além da santidade que lhe é atribuída, a guerra que travam a Igreja Universal do Reino de Deus e as Organizações Globo é mais complexa, até porque uma análise menos apaixonada demonstra que há mais gente envolvida no conflito. É o resultado da soma de vários fatores, tanto os citados nesta matéria como outros que possam ainda estar por ser revelados, posto que, a cada dia, as partes diretamente envolvidas trazem à tona algo novo. Fato é - e a História comprova - que o Evangelho escandaliza sempre, seja quando é proclamado e vivido de forma genuína ou nas ocasiões em que é utilizado como fachada. No primeiro caso, porque incomoda quem não quer compromisso com o Reino de Deus. No segundo, porque a prática não condiz com o discurso. Nos dois, porque a sociedade sempre reage aos novos fenômenos. Se nem todos os fatos recentes favorecem a Igreja Evangélica brasileira, ao menos comprovam que ela não é mais ignorada.

Revista Vinde - Edição 3

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