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segunda-feira, 18 de março de 1996

Os missionários de farda

Com métodos Militares, Exército de Salvação promove evangelismo e assistência social

Por Carlos Fernandes

Nos cultos das igrejas salvacionistas, muitos membros vão uniformizados

Parece difícil acreditar que uma igreja e possa estar presente em 104 países diferentes, possuir mais de 1 milhão de membros das mais diferentes nacionalidades e, ainda assim, conservar sua unidade e manter práticas semelhantes em qualquer lugar do mundo. Para isso, seriam necessárias muita disciplina, obediência à hierarquia e dedicação quase espartana. Mas são justamente estas as características mais marcantes de um grupo muito especial, que age como uma tropa e adota costumes militares, como uso de farda e terminologias de quartel. São os integrantes do Exército de Salvação, uma igreja desconhecida para muitos evangélicos, que somente associam sua existência à famosa imagem do caldeirão de sopa para os pobres.

Mas o Exército de Salvação é muito mais do que isso. Criado na Inglaterra em 1865, chegou ao Brasil em 1922, através de um grupo de pioneiros que veio abrir fogo - iniciar uma frente de trabalho, na linguagem deles - no Rio de Janeiro. A partir daí, o grupo cresceu e foi avançando para diversos estados brasileiros. A sede nacional ficou no Rio até 1958, quando foi transferida para São Paulo, onde hoje ocupa um moderno edifício de 11 andares na Rua Juá. Logo que chegou ao Brasil, o Exército fez um reconhecimento de terreno a fim de descobrir qual era a maior necessidade do novo território. No caso do nosso país, o maior problema encontrado foi a existência de grande número de crianças carentes, o que veio ao encontro do tipo de trabalho característico do Exército de Salvação desde seu início: assistência social paralela ao trabalho espiritual. "A partir daí", conta o major Paulo Franke, de 52 anos, um dos diretores nacionais da entidade, "começaram a ser abertos corpos (igrejas) para promover esse tipo de atividade."

Os corpos não são simples locais de culto. Muitos deles abrigam estudantes residentes, centros sociais e trabalhos com meninos de rua e mães solteiras carentes, por exemplo. Na opinião de Franke, esse tipo de trabalho é fundamental para o salvacionista. "Nós sentimos que é nossa obrigação promover o bem-estar das pessoas", acredita. "Afinal, como podemos pregar o Evangelho para quem está faminto e desabrigado, sem dar-lhe o mínimo de condições físicas para receber a nossa mensagem?"

O coronel canadense
David Gruer é o líder no Brasil

UNIDADE - Além da ênfase dada ao trabalho social, uma das características marcantes da entidade é a sua unidade internacional. O Exército de Salvação é a mesma igreja no mundo inteiro, seguindo as mesmas doutrinas, regulamentos e estrutura organizacional. Até os hinos cantados são os mesmos, variando evidentemente de acordo com a língua local. Esca unidade é mantida através do comando único, exercido pelo general Paul Rader, um americano que comanda a igreja do quartel-general sediado em Londres, na Inglaterra. No Brasil, o líder máximo do Exército de Salvação é o coronel David Gruer, um canadense de 61 anos. O secretário-em-chefe é o gaúcho Alexandre Lopes, de 63 anos, que ocupa o posto de tenente-coronel.

O mais interessante no Exército de Salvação é a graduação de seus membros. Quando alguém aceita a Palavra e se converte, pode, se assim desejar, tornar-se recruta. Enquanto recruta, o novo membro passa por um período de preparação, depois do qual torna-se um soldado. O posto seguinte é o de sargento, ocupado por crentes que têm algum tipo de trabalho no corpo - algo semelhante aos diáconos nas igrejas convencionais. Aqueles que pretendem dedicar-se em tempo integral ao Exército devem cursar um seminário próprio - o Colégio de Cadetes -, onde se preparam para o ministério. Uma vez formados, são comissionados oficiais e passam a tenentes. Como oficial, o salvacionista pode exercer funções de direção, como a de pastor. Os cargos do oficialato a partir de tenente são capitão, major, tenente-coronel, coronel e comissário. O cargo máximo, de general, só pode ser ocupado por uma pessoa em todo o mundo de cada vez. Além dos membros alistados, o Exército de Salvação possui ainda outro tipo de integrante. É aquela pessoa que participa dos trabalhos, mas, por decisão pessoal, não segue carreira nem usa farda.

Paulo Franke com Anneli: mulheres são
valorizadas no Exército de Salvação

VALOR À MULHER - Os trabalhos espirituais - pregação, intercessão, evangelização - são chamados de campo de batalha. "A nossa fé é puramente evangélica", afirma Paulo Franke, "e, apesar das características militares, somos bastante semelhantes aos irmãos das demais igrejas." Segundo ele, embora sua igreja não seja considerada pentecostal, muitos de seus integrantes têm experiências carismáticas, como o batismo com o Espírito Santo. No Exército de Salvação, as mulheres têm bastante espaço. Elas podem pregar, presidir obras sociais, assumir cargos de liderança e até mesmo dirigir um território, ou seja, todos os corpos de uma nação. "É a igreja que mais dá oportunidades à mulher", confirma a major Anneli, mulher de Paulo. Sempre que um salvacionista atinge o oficialato, a esposa assume a mesma patente. "O Exército é uma grande família", resume Paulo Franke.

Os salvacionistas consideram os sacramentos como experiências exclusivamente espirituais. Embora o Exército de Salvação não promova batismos, os membros têm liberdade para procurar outra comunidade e se batizar nas águas. Nas igrejas salvacionistas também não são ministradas as ceias. O seu ministério, bastante diversificado, realiza reuniões ao ar livre, visitas a hospitais e presídios, além dos inúmeros trabalhos de cunho social. Contudo, sua mais folclórica atividade, a distribuição da sopa em caldeirões - que acabaram se tornando os maiores símbolos dos salvacionistas está desativada no Brasil. Há planos de reiniciá-la a médio prazo. Quando isso acontecer, o Exército de Salvação estará retornando aos primórdios, cujo lema era bem sugestivo: Sopa, sabão e salvação.

Página Oficial do Exército da Salvação

Extraído Especial. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 40-41, mar. 1996.

Revista Vinde - Edição 3

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