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segunda-feira, 8 de abril de 1996

Frente a frente com o herege

Evangélica conta tudo o que viu no congresso de Moon

Por Jaqueline Rodrigues

Carlos Fernandes
Com apoio de telões, o 'reverendo' Moon falou a uma platéia formada por cerca de 800 evangélicos

Quando fui convidada a participar do Congresso das Américas em Montevidéu, no Uruguai, já sabia do que se tratava: uma conferência promovida pela Igreja da Unificação - a famosa seita do "reverendo" Moon. Sob o pomposo nome de Revitalizando o Cristianismo Para Unificação das Américas, o evento reuniu cerca de 800 evangélicos brasileiros na capital uruguaia, com todas as despesas de transporte, hospedagem e alimentação custeadas pela organização. Uma proposta extremamente sedutora, aceita com prazer incontestável por dezenas de irmãos que certamente jamais haviam saído de suas cidades, quanto mais para uma viagem internacional. Já no aeroporto, podia-se ter uma idéia do que nos esperava: entre pastores, diáconos e obreiros de diversas denominações que compunham nosso grupo, a expectativa comum era a de aproveitar a viagem ao máximo e, de quebra, ouvir in loco as doutrinas da seita que, num passado recente, foi acusada de promover lavagens cerebrais em seus jovens seguidores.

O vôo até Montevidéu transcorreu na maior normalidade, apenas com alguns episódios curiosos, como o do irmão que, após sua refeição, levantou-se e bateu na barriga, num gesto de satisfação, dizendo para seus companheiros: "Ah, agora sim." Ou de outro passageiro que furtivamente colocou em sua bagagem travesseiros, cobertores e talheres - mas esse, graças a Deus, não era evangélico nem estava conosco.

Uma vez em terra, pudemos ter a primeira impressão do extremo profissionalismo com que o Movimento da Unificação promove estes encontros. Com certeza, se uma das suas intenções é demonstrar organização e opulência, isso foi conseguido rapidamente. Hospedagem em hotéis de ótimo nível - os melhores da cidade, com 4 e 5 estrelas -, traslados em ônibus refrigerados e com guias turísticos, refeições com horas marcadas e inúmeros detalhes que foram previstos com antecedência e executados estritamente conforme o programa. Reunir quase mil brasileiros, conseguir cumprir todos os horários e não registrar nenhum imprevisto sério foi uma façanha que o staff do congresso conseguiu realizar para nossa perplexidade, acostumados que estamos com atrasos, extravios e muita bagunça.

É claro que todos os participantes tinham a curiosidade de ver de perto o famigerado Sun Myung Moon, o coreano de 76 anos que em pouco mais de quatro décadas conseguiu reunir milhões de seguidores em 160 países do mundo. Quando ele surgiu de trás das cortinas, acompanhado pela sra. Hak Ja Han, sua mulher, eu pude perceber o respeito que seus seguidores têm por ele, e até mesmo a emoção que sentem em sua presença. Para o auditório composto por evangélicos, por outro lado, sua aparição causou arrepios. Afinal, estávamos diante daquele que é proclamado por seus discípulos como o Senhor do Segundo Advento, aquele que deverá restaurar a linhagem celestial, tarefa que, para eles, não foi cumprida por Adão e Jesus, seus supostos precursores. "Isto é uma heresia", comentou alguém atrás de mim, enquanto outro espectador murmurava lá de trás: "Misericórdia!" Enquanto isso, Moon discursava em seu idioma - que às vezes dá a impressão de que o falante está brigando com os interlocutores. Ouvi-lo dizer que Jesus teria fracassado em sua missão foi muito duro para mim e não pude esconder de ninguém que estava chorando, pois eu sentava na primeira fila. Frente a frente com o herege.

Além do líder, vários outros pastores da seita fizeram conferências, que na verdade eram monólogos que tínhamos de ouvir calados. Um dos organizadores até nos tripudiou, dizendo que tinham nos trazido até ali, oferecendo-nos do bom e do melhor, para que fizéssemos nossa parte que era apenas escutá-los. Somente no final de cada palestra, era aberto um tempo de poucos minutos para perguntas - que, aliás, eram respondidas como melhor lhes conviesse. Se alguém se animasse a contestar, ouvia como resposta que era assim que eles criam e acabou-se. O tempo só esquentou quando um pastor discutiu com um conferencista e mandou-o calar a boca. Nesse momento, formou-se um bolo de gente na minha frente, o palestrante foi afastado e muitos evangélicos condenaram a atitude do pastor. Algo assim como uma briga entre irmãos. Isso motivou mais um discurso que tivemos que ouvir sobre educação, boas maneiras etc. Como crianças de uma escola interna que precisam seguir as rígidas regras de disciplina de seus tios e tias. Lamentável constatar que, na verdade, o que os organizadores queriam mesmo era comprar o nosso silêncio.

Mas quem foi apenas em busca de turismo não decepcionou-se. Além da hospedagem em hotéis confortáveis, tínhamos todas as noites jantares em uma aprazível estância-fazenda chamada La Redención, para onde éramos transportados em modernos ônibus refrigerados. Lá, tínhamos oportunidade de conversar com os outros irmãos, ouvir histórias e algumas pérolas, como a de uma irmã que dizia estar clamando a Deus para pesar a mão sobre os hereges, enquanto saboreava a comida oferecida por eles mesmos. Nesses jantares, os organizadores programaram números musicais, com cantores evangélicos que aproveitaram a oportunidade para soltar a voz - além, é claro, de vender uns disquinhos e agendar apresentações.

Na véspera de - nossa partida, fomos brindados com um passeio a Punta del Este, para conhecer o mais famoso balneário uruguaio. Nesse clima mais descontraído, pudemos trocar impressões sobre tudo o que tínhamos visto e ouvido. Conversei com uma pessoa que ficou mais tranqüila quando eu lhe disse que estava achando um absurdo as doutrinas de Moon. Ela me confidenciou que tinha pensado que eu era um de seus discípulos e estaria infiltrada entre os irmãos. Ser confundida com uma espiã de Moon foi menos chocante do que perceber, aqui e ali, alguns evangélicos comentando que as coisas faladas não eram tão feias assim e que talvez até fosse possível trabalhar junto com eles. Tive a impressão de que o ecumenismo defendido pelos adeptos do Movimento da Unificação não é uma coisa tão utópica quanto parece. E que, lamentavalmente, alguns crentes estão se deixando levar por aquele canto da sereia. Nem que para isso seja preciso levá-los para um outro país e sustentá-los por uma semana. É assim que se adestram as consciências.


Jaqueline Rodrigues é professora de Literatura, membro da Igreja Missionária Evangélica Maranata e foi ao Uruguai disposta a denunciar a estratégia de Moon.



Extraído Denúncia. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 18-19, abr. 1996.

domingo, 7 de abril de 1996

Um império beneficiado pelo comunismo

Arquivo Editora Três
Moon acredita que através de matrimônios é possível resgatar a Humanidade

Moon conta que aos 16 anos recebeu de Jesus as revelações de que o filho de Deus estava muito triste porque não havia se casado. Criado em lar presbiteriano na Coréia, onde nasceu em 1920, Sun Myung Moon fundou sua própria seita em 1952, diante da resistência das igrejas coreanas à sua mensagem. Preso e torturado pelo regime comunista, instalado em 1948, ele esteve em campo de concentração, onde teria escapado de um fuzilamento.

Seu ódio ao comunismo resultou num dos principais pilares cía Igreja da Unificação: luta permanente contra o marxismo no mundo inteiro, através da organização Causa Internacional, mantida com sucesso até meados da década de 80. Na década anterior, a luta contra o comunismo lhe rendeu aliados milionários e poderosos. Recebeu o apoio de políticos como o prefeito de São Paulo, Paulo Salim Maluf, e o ex-presidente americano Ronald Reagan. Com a extinção da União Soviética, a seita Moon se voltou exclusivamente às atividades espirituais do reverendo que se autoproclama o senhor do segundo advento. Ele diz ter vindo ao mundo para concluir a missão de Jesus. Aos 76 anos, Moon tem pressa.

A obstinação de Moon revela uma personalidade controvertida e mega-lomaníaca. É um dos raros casos em que alguém diz que é Jesus e não vai parar num manicômio. Ao contrário, conta com o respeito de empresários e até de países inteiros. No Uruguai, Moon estabeleceu seu pequeno império na América do Sul. Com apoio do governo do general Gregorio Alvarez, investiu mais de 70 milhões de dólares na compra do terceiro maior banco uruguaio, de hotéis, um jornal diário e outros empreendimentos.

Moon conquistou também adeptos no Chile e cresceu no Paraguai associado ao governo do ditador e general Alfredo Stroessner. Mas o Brasil foi o primeiro país latino-americano onde a seita resolveu se instalar. Em São Paulo, funciona a sede administrativa da Igreja da Unificação, na Rua Cardeal Arco-verde, 928, no bairro de Pinheiros. Em São Bernardo do Campo, fica o Seminário Teológico Unido. No Rio de Janeiro, a igreja tem a sede numa bela casa em Jacarepaguá, na Estrada do Pau Ferro, 929. A vizinhança nunca esqueceu as denúncias de que a seita mantinha ali jovens submetidos a lavagens cerebrais. Apesar das ameaças, a seita nunca fechou suas portas no Brasil.

A Igreja da Unificação prosperou especialmente sob o regime de Park Chung Hee, que governou a Coréia de 1961 até ser assassinado em 1979, por seu chefe de segurança interna. O regime de Park transformou o principal grupo empresarial de Moon - a Tong II Ltda-numa fabricante de fuzis M-16, com licença americana. Uma investigação no Congresso coreano revelou o vínculo entre a formação da Igreja da Unificação e Kim Jong Pil, primeiro diretor da CIA coreana. Kim obviamente negou tudo.

Em 1972, Moon se estabeleceu nos Estados Unidos. Dez anos depois, foi condenado por ter sonegado 162 mil dólares de impostos sobre juros ganhos com os mais de dois milhões de dólares que guardava em bancos novaiorquinos. Cumpriu 11 meses na prisão de Danbury, no estado de Connecticut, e mais sete meses em regime semi-aberto. Em agosto do ano passado, o reverendo presidiu mais um dos casamentos coletivos, transmitidos diretamente do estádio olímpico de Seul, na Coréia, do Sul. Mais de 600 casais brasileiros de nove cidades do país participaram do casamento, via satélite.


Os braços de Moon

Durante uma hora e meia, os organizadores do congresso da Igreja da Unificação apresentaram, em slides no centro de convenções do hotel Victoria Plaza, as principais áreas de atuação da seita:

Arquivo Editora Três
O Victoria Plaza, onde foi realizado o congresso, pertence às empresas de Moon que tem até fábrica de computadores
  • Estaleiro de navios e várias empresas de pescado
  • Agropecuária, com lavouras- modelo para resolver o problema da fome. No Mato Grosso do Sul, a seita é dona da fazenda Nova Esperança
  • Projetos culturais na África
  • Lobby para a realização da Copa do Mundo de 2002 na Coréia do Sul
  • Jornais em vários países, indusive no Oriente Médio. Nos Estados Unidos, a seita é dona do jornal Washington Times
  • Pesquisas na área de saúde e de medicamentos como o Ginseng no Japão
  • Rede hoteleira de luxo
  • Controle acionário de bancos e corretoras
  • Joalherias
  • Universidades nos Estados Unidos, Coréia e Japão
  • Universidade americana com ensino via internet ou canal a cabo
  • Academia de Professores
  • Masa (distribuição de alimentos nas catástrofes e epidemias)
  • Panda (China) - desenvolvimento de empresas proporcionando mão-de-obra com ajuda da abertura - econômica e espiritual
  • Wacom, empresa de computadores
  • Projetos para a construção de uma rodovia internacional, através dos oceanos
  • Projeto Deus salve a América - Estados Unidos
  • Carp - grupos de estudos com universitários e secundaristas

Dez heresias de uma seita lunática

Divulgação
  1. Jesus Cristo fracassou em sua missão redentora por não ter constituído família
  2. A cruz é um símbolo do fracasso de Jesus que não deveria ter sido crucificado, mas casado e gerado uma raça pura
  3. O Espírito Santo não faz parte da Trindade, mas é a reunião de vários espíritos bons que vêm a terra para auxiliar os vivos
  4. As orações são feitas em nome do Pai e não em nome de Jesus, o único mediador entre Deus e os homens, como ensina a Bíblia
  5. Ao invés de ter sido gerado pelo Espírito Santo, como diz a Bíblia, Jesus foi concebido a partir de uma relação sexual de Maria
  6. O livro Princípio Divino, que contém as supostas revelações a Moon, para seus seguidores tem mais autoridade do que a Bíblia
  7. Só através do matrimônio é possível ter comunhão com Deus. Quem é solteiro não pode alcançar a plenitute espiritual
  8. Orientado por revelações, o reverendo Moon determina pessoalmente os casamentos, apenas por informações e fotografias dos seguidores
  9. As palavras do Novo Testamento perderão sua luz quando vier o Senhor do Segundo Advento, com uma nova palavra
  10. Os espíritos dos mortos influenciam e ajudam os vivos

Extraído Denúncia. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 16-17, abr. 1996.

Revista Vinde - Edição 3

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