Mostrando postagens com marcador opinião. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador opinião. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 5 de janeiro de 1996

Ação da Cidadania, a força da sociedade

Por Herbert de Souza

Carlos Fernandes

Ação da Cidadania contra a Miséria pela Vida é um movimento autônomo, descentralizado, que tem a parceria como filosofia principal de trabalho. Em 1993, depois que a sociedade organizada venceu a batalha do impeachment do então presidente Fernando Collor, as entidades da sociedade civil que se aglutinaram em torno do impeachment se reuniram para pensar numa forma de não desmoralizar sociedade, numa maneira de canalizar a força da indignação da sociedade para mais uma causa ética.

O combate à fome e à miséria nasceu de um conceito tão simples quanto a frase que o resume: "democracia e miséria são incompatíveis". A sociedade brasileira podia se orgulhar de ter derrubado um presidente da República dentro das regras democráticas e em respeito a todas as instituições.

"A comunidade evangélica há muito tempo já demonstra seu enorme sentido social"

Hoje, ao entrar no seu terceiro ano, a Ação da Cidadania já contou com a participação de cerca de 28 milhões de pessoas no país inteiro, mobilizou todos os segmentos da sociedade para o combate à fome e à miséria e para a necessidade de geração de emprego. Desde o começo, a proposta da Ação da Cidadania foi deixar de esperar por ações estruturais que não estão ao alcance do cidadão, mas estimular o gesto imediato, a solidariedade de dar um quilo de alimento a quem tem fome. Partir para ações emergenciais sem esquecer de que as ações estruturais são necessárias.

Um dos objetivos dessa campanha é o de promover um encontro dos mais diversos setores da sociedade. Antes, as ações e reivindicações se limitavam a grupos políticos ou a determinadas classes e segmentos da sociedade. Estamos inventando uma nova forma de fazer política, com a participação de toda a sociedade civil.

Neste sentido, a participação da comunidade evangélica é fundamental. Esta é uma comunidade que há muito tempo demonstra seu enorme sentido social e preocupação com o problema da miséria e que também já mostrou que é capaz de realizar grandes ações. Mas a ação não pode parar. Cada grupo deveria se reunir e pensar no que pode fazer de útil à sociedade dentro de área, de seu conhecimento, enfim, dentro do que estiver ao seu alcance. Muita gente já começou a fazer isso e à medida que estas ações crescem, cresce também a nossa cidadania. Cada igreja, cada núcleo, pode se tornar um comitê, um grupo de combate à fome, que não espera apenas por ações, faz. Com isso nossa rede de solidariedade se tornará cada vez maior.

Herbert de Souza, 60 anos, sociólogo, diretor-geral do IBASE, articulador nacional da Ação da Cidadania contra a Miséria e Pela Vida.


Deus trabalha no turno da noite
Anúncio do livro: Deus Trabalha no Turno da Noite (JAN/1996)
Deus trabalha no turno da noite
Anúncio da editora: Luz & Vida (JAN/1996)

sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

Por uma nova Reforma


Por Ricardo Gondim

Nasci num lar de católicos tipicamente nominais, daqueles que pouco vão à igreja e transitam sem muita dificuldade por centros espíritas e cartomantes. Fiz minha primeira comunhão, como a maioria das crianças brasileiras, para desincumbir a família das obrigações sociais. Nesse ambiente, familiarizei-me com uma linguagem ecumênica.

Minha infância foi cheia de medos. Vez por outra, entreouvia conversas sobre almas penadas. Naquelas noites, com certeza, perdia o sono.

Converti-me numa Igreja Presbiteriana. E que alívio. Logo habituei-me com uma linguagem totalmente nova. Os conteúdos da mensagem evangélica significaram valores profundamente libertadores para mim. Primeiro, aprendi que a salvação não depende diretamente de mim, ela aconteceu no Monte Calvário, há quase dois mil anos. Pela fé nos méritos expiatórios de Cristo, eu podia ter certeza de minha salvação. Depois, soube que o mundo dos mortos não é angustiante. O destino eterno das pessoas vai selado pela decisão de aceitar ou rejeitar o dom gratuito de Deus. Quão glorioso foi para mim viver sem o constante assédio das almas penadas do meu imaginário. Foi-me apresentada uma mensagem na qual Cristo reinava sobranceiro, gloriosamente entronizado como Senhor dos senhores. Naqueles dias de neófito, o Senhor era meu tudo, e a vida cristã, uma alegria contagiante.

Passados mais de 25 anos, a igreja mudou muito. Estarrecido, deparo-me com uma Igreja Evangélica carente de intermináveis correntes para alcançar o favor de Deus. Medrosa de maldições, essa Igreja precisa constantemente quebrar encantos. Incerta quanto ao soberano controle de Deus, nomeia paranoicamente a atuação de demônios que precisariam ser amarrados para não manipularem nossa história. Aturdido, vejo essa Igreja reelaborando a água benta da minha infância, com o nome de água fluidificada. Isso para não falar do sal grosso, dos ramos de arruda e de uma longa lista de superstições praticadas em nome da fé evangélica.

"Influenciada por uma concepção materialista, a igreja Evangélica brasileira tem se lançado numa busca desenfreada para alcançar multidões, sem se importar como"

Alguns tentam explicar esses acontecimentos como sincretismo. Diante da rápida expansão dos evangélicos e seu lamentável enfraquecimento doutrinário, a igreja teria, inconscientemente, incorporado valores da religiosidade popular. Não creio assim. Penso testemunharmos um fenômeno puramente mercadológico. A fim de alcançar as massas em um tempo mínimo, apela-se para atalhos não evangélicos. Influenciada por uma concepção materialista e enxergando no crescimento numérico um fator divino, a Igreja Evangélica tem se lançado numa busca desenfreada para alcançar as multidões, sem se importar como. Assim, princípios fundamentais da fé vão sendo deixados de lado. Importa hoje ocupar espaços físicos, mostrar-se visível. Infelizmente, em alguns momentos, essa visibilidade tem sido prejudicial.

A apropriação desses valores da religiosidade popular é desonesta. Parecemos com católicos e espíritas, não porque os admiramos, mas para cooptar seus fiéis. Esse adultério brasileiro dos princípios da fé cristã agrava o coração de Deus, gera cristãos sem conversão genuína e, pior, é antiético.

A Igreja Evangélica brasileira deve lembrar-se de onde caiu, arrepender-se e voltar à prática das primeiras obras (Apocalipse 2:5). É tempo de voltar à Bíblia. Buscar uma nova Reforma. Quando a igreja medieval naufragava no lamaçal das indulgências, Deus levantou Maninho Lutero, conclamando o povo ao Sola Scriptura. Basta de invencionice humana somente para atrair multidões. A mensagem dos nossos púlpitos deve voltar a ser }astreada pela graça. As pessoas não precisam fazer mais nada para alcançar o favor de Deus.

Deus é por nós. As forças diabólicas não nos atormentam. Cristo já derrotou a perigosa serpente. Agora é possível descansar em Seu amor. Não há mais demônios a serem amarrados, "pois tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz. E, despojando os principados e as potestades publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz" (Colossenses 2:14-15).

Que a igreja abandone urgentemente qualquer obsessão mercadejadora da fé e volte ao caminho do discipulado. Assim, pode ser que não se impressione com superlativos numéricos e cumpra sua vocação de ser sal e luz. Soli Deo Gloriae.


Ricardo Gondim é presidente da Fraternidade Teológica Latino-americana no Brasil e pastor da Igreja Betesda em São Paulo

Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...