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sábado, 2 de dezembro de 1995

Bateu na trave

Chute na estátua da "santa" atinge evangélicos por tabela

Por Omar de Souza

Carlos Fernandes
A imagem da discórdia, reproduzida à exaustão pela mídia nacional

Um ato de intolerância religiosa foi suficiente para deflagrar uma guerra religiosa que nada tem de santa. Na madrugada do dia 12 de outubro, o bispo Sérgio Von Helde, da Igreja Universal do Reino de Deus, chutou a estátua de Maria Aparecida, padroeira católica, diante das câmeras da TV Record. Os golpes dados pelo bispo podem não ter sido suficientemente fortes para quebrar a imagem, mas produziram uma cadeia de efeitos indiretos que colocaram os evangélicos em situação constrangedora. Como, por exemplo, o bispo Renato Suhett, recém-saído da Igreja Universal, que tenta alugar um local para realizar os cultos da igreja que pretende abrir, e só encontra respostas negativas. E, mais: a Igreja Católica capitalizou as repercussões do episódio a seu favor na tentativa de recuperar o prestígio que vem perdendo no país.

Era tudo o que a mídia afinada com as lideranças católicas precisava. No mesmo dia 12 de outubro, o Jornal Nacional, da Globo, mostrou as cenas do programa em que o bispo Von Helde desafiava uma estátua da santa a mover-se enquanto dava leves golpes com o pé na base da imagem. No dia seguinte, vários jornais estamparam na capa a reprodução da imagem da TV. O teor das matérias era sempre o mesmo, sugerindo que a maioria católica brasileira teria se sentido agredida pelos ataques à figura de Aparecida. Diversos líderes religiosos foram consultados, mas o destaque invariavelmente ia para os bispos católicos. Todos falavam do "insulto à padroeira", porém nenhum deles questionava a imposição de um feriado nacional exclusivamente católico num país onde, pelo menos no texto da Constituição, não há religião oficial.

INQUÉRITO - Enquanto religiosos católicos, como dom Aloísio Lorsheider, cardeal-arcebispo de Aparecida, e dom Eugênio Sales, do RR, apontavam o "fanatismo" do pastor da Universal, a igreja comandada pelo bispo Edir Macedo enfrentava problemas em diversas frentes. O presidente Fernando Henrique Cardoso reprovou a "manifestação de intolerância", ainda que se tenha calado quanto ao apedrejamento de um templo da Universal no bairro de Olaria, subúrbio do Rio, e a invasão de outra igreja, em Brasília, por um grupo de manifestantes supostamente católicos, que agrediu os fiéis. Von Helde - que, comenta-se, vai publicar um livro sobre o episódio - foi convocado a depor em inquérito instaurado pelo delegado do 27° Distrito Policial, no bairro do Aeroporto, em São Paulo, acusado de vilipêndio a objeto de culto. A TV Record, comprada pela Igreja Universal; passou a perder anunciantes e profissionais, inclusive o jornalista Chico Pinheiro, editor-chefe do Jornal da Record. Os donos de cinemas e teatros no Rio se recusam a alugar as salas para a realização dos cultos da igreja do bispo Renato Suhett, alegando que os evangélicos são "incitadores à agressividade". A crise levou o bispo Edir Macedo a colocar sua voz no ar para desculpar-se com os católicos, a esta altura falando pretensiosamente sobre a possibilidade de "perdoar" seus detratores. O pastor Ronaldo Didini, que defendeu a atitude do colega no programa 25ª Hora, foi afastado e enviado para a África do Sul.

O chute do bispo prejudicou, por tabela, a comunidade evangélica brasileira que, mesmo compartilhando o repúdio à adoração de imagens de escultura, não concordou com o ato de intolerância. A cúpula católica, por sua vez, contabilizou os golpes do bispo Von Helde como lucro. Há muito tempo não se via tanto espaço dedicado à igreja romana, a mesma que nunca protestou contra um grupo musical paulista chamado Devotos de Nossa Senhora Aparecida, cujo repertório é pródigo em palavrões e baixarias. A Rede Vida de televisão, controlada pelo clero católico, enxergou na polêmica uma grande oportunidade de pleitear mais verbas e aumentar sua área de alcance, no sentido de "combater as seitas evangélicas".


Extraído Intolerância. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1995, a. 1, ed. 2, p. 48, abr. 1995.

Revista Vinde - Edição 3

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