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segunda-feira, 8 de abril de 1996

Frente a frente com o herege

Evangélica conta tudo o que viu no congresso de Moon

Por Jaqueline Rodrigues

Carlos Fernandes
Com apoio de telões, o 'reverendo' Moon falou a uma platéia formada por cerca de 800 evangélicos

Quando fui convidada a participar do Congresso das Américas em Montevidéu, no Uruguai, já sabia do que se tratava: uma conferência promovida pela Igreja da Unificação - a famosa seita do "reverendo" Moon. Sob o pomposo nome de Revitalizando o Cristianismo Para Unificação das Américas, o evento reuniu cerca de 800 evangélicos brasileiros na capital uruguaia, com todas as despesas de transporte, hospedagem e alimentação custeadas pela organização. Uma proposta extremamente sedutora, aceita com prazer incontestável por dezenas de irmãos que certamente jamais haviam saído de suas cidades, quanto mais para uma viagem internacional. Já no aeroporto, podia-se ter uma idéia do que nos esperava: entre pastores, diáconos e obreiros de diversas denominações que compunham nosso grupo, a expectativa comum era a de aproveitar a viagem ao máximo e, de quebra, ouvir in loco as doutrinas da seita que, num passado recente, foi acusada de promover lavagens cerebrais em seus jovens seguidores.

O vôo até Montevidéu transcorreu na maior normalidade, apenas com alguns episódios curiosos, como o do irmão que, após sua refeição, levantou-se e bateu na barriga, num gesto de satisfação, dizendo para seus companheiros: "Ah, agora sim." Ou de outro passageiro que furtivamente colocou em sua bagagem travesseiros, cobertores e talheres - mas esse, graças a Deus, não era evangélico nem estava conosco.

Uma vez em terra, pudemos ter a primeira impressão do extremo profissionalismo com que o Movimento da Unificação promove estes encontros. Com certeza, se uma das suas intenções é demonstrar organização e opulência, isso foi conseguido rapidamente. Hospedagem em hotéis de ótimo nível - os melhores da cidade, com 4 e 5 estrelas -, traslados em ônibus refrigerados e com guias turísticos, refeições com horas marcadas e inúmeros detalhes que foram previstos com antecedência e executados estritamente conforme o programa. Reunir quase mil brasileiros, conseguir cumprir todos os horários e não registrar nenhum imprevisto sério foi uma façanha que o staff do congresso conseguiu realizar para nossa perplexidade, acostumados que estamos com atrasos, extravios e muita bagunça.

É claro que todos os participantes tinham a curiosidade de ver de perto o famigerado Sun Myung Moon, o coreano de 76 anos que em pouco mais de quatro décadas conseguiu reunir milhões de seguidores em 160 países do mundo. Quando ele surgiu de trás das cortinas, acompanhado pela sra. Hak Ja Han, sua mulher, eu pude perceber o respeito que seus seguidores têm por ele, e até mesmo a emoção que sentem em sua presença. Para o auditório composto por evangélicos, por outro lado, sua aparição causou arrepios. Afinal, estávamos diante daquele que é proclamado por seus discípulos como o Senhor do Segundo Advento, aquele que deverá restaurar a linhagem celestial, tarefa que, para eles, não foi cumprida por Adão e Jesus, seus supostos precursores. "Isto é uma heresia", comentou alguém atrás de mim, enquanto outro espectador murmurava lá de trás: "Misericórdia!" Enquanto isso, Moon discursava em seu idioma - que às vezes dá a impressão de que o falante está brigando com os interlocutores. Ouvi-lo dizer que Jesus teria fracassado em sua missão foi muito duro para mim e não pude esconder de ninguém que estava chorando, pois eu sentava na primeira fila. Frente a frente com o herege.

Além do líder, vários outros pastores da seita fizeram conferências, que na verdade eram monólogos que tínhamos de ouvir calados. Um dos organizadores até nos tripudiou, dizendo que tinham nos trazido até ali, oferecendo-nos do bom e do melhor, para que fizéssemos nossa parte que era apenas escutá-los. Somente no final de cada palestra, era aberto um tempo de poucos minutos para perguntas - que, aliás, eram respondidas como melhor lhes conviesse. Se alguém se animasse a contestar, ouvia como resposta que era assim que eles criam e acabou-se. O tempo só esquentou quando um pastor discutiu com um conferencista e mandou-o calar a boca. Nesse momento, formou-se um bolo de gente na minha frente, o palestrante foi afastado e muitos evangélicos condenaram a atitude do pastor. Algo assim como uma briga entre irmãos. Isso motivou mais um discurso que tivemos que ouvir sobre educação, boas maneiras etc. Como crianças de uma escola interna que precisam seguir as rígidas regras de disciplina de seus tios e tias. Lamentável constatar que, na verdade, o que os organizadores queriam mesmo era comprar o nosso silêncio.

Mas quem foi apenas em busca de turismo não decepcionou-se. Além da hospedagem em hotéis confortáveis, tínhamos todas as noites jantares em uma aprazível estância-fazenda chamada La Redención, para onde éramos transportados em modernos ônibus refrigerados. Lá, tínhamos oportunidade de conversar com os outros irmãos, ouvir histórias e algumas pérolas, como a de uma irmã que dizia estar clamando a Deus para pesar a mão sobre os hereges, enquanto saboreava a comida oferecida por eles mesmos. Nesses jantares, os organizadores programaram números musicais, com cantores evangélicos que aproveitaram a oportunidade para soltar a voz - além, é claro, de vender uns disquinhos e agendar apresentações.

Na véspera de - nossa partida, fomos brindados com um passeio a Punta del Este, para conhecer o mais famoso balneário uruguaio. Nesse clima mais descontraído, pudemos trocar impressões sobre tudo o que tínhamos visto e ouvido. Conversei com uma pessoa que ficou mais tranqüila quando eu lhe disse que estava achando um absurdo as doutrinas de Moon. Ela me confidenciou que tinha pensado que eu era um de seus discípulos e estaria infiltrada entre os irmãos. Ser confundida com uma espiã de Moon foi menos chocante do que perceber, aqui e ali, alguns evangélicos comentando que as coisas faladas não eram tão feias assim e que talvez até fosse possível trabalhar junto com eles. Tive a impressão de que o ecumenismo defendido pelos adeptos do Movimento da Unificação não é uma coisa tão utópica quanto parece. E que, lamentavalmente, alguns crentes estão se deixando levar por aquele canto da sereia. Nem que para isso seja preciso levá-los para um outro país e sustentá-los por uma semana. É assim que se adestram as consciências.


Jaqueline Rodrigues é professora de Literatura, membro da Igreja Missionária Evangélica Maranata e foi ao Uruguai disposta a denunciar a estratégia de Moon.



Extraído Denúncia. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 18-19, abr. 1996.

domingo, 7 de abril de 1996

Um império beneficiado pelo comunismo

Arquivo Editora Três
Moon acredita que através de matrimônios é possível resgatar a Humanidade

Moon conta que aos 16 anos recebeu de Jesus as revelações de que o filho de Deus estava muito triste porque não havia se casado. Criado em lar presbiteriano na Coréia, onde nasceu em 1920, Sun Myung Moon fundou sua própria seita em 1952, diante da resistência das igrejas coreanas à sua mensagem. Preso e torturado pelo regime comunista, instalado em 1948, ele esteve em campo de concentração, onde teria escapado de um fuzilamento.

Seu ódio ao comunismo resultou num dos principais pilares cía Igreja da Unificação: luta permanente contra o marxismo no mundo inteiro, através da organização Causa Internacional, mantida com sucesso até meados da década de 80. Na década anterior, a luta contra o comunismo lhe rendeu aliados milionários e poderosos. Recebeu o apoio de políticos como o prefeito de São Paulo, Paulo Salim Maluf, e o ex-presidente americano Ronald Reagan. Com a extinção da União Soviética, a seita Moon se voltou exclusivamente às atividades espirituais do reverendo que se autoproclama o senhor do segundo advento. Ele diz ter vindo ao mundo para concluir a missão de Jesus. Aos 76 anos, Moon tem pressa.

A obstinação de Moon revela uma personalidade controvertida e mega-lomaníaca. É um dos raros casos em que alguém diz que é Jesus e não vai parar num manicômio. Ao contrário, conta com o respeito de empresários e até de países inteiros. No Uruguai, Moon estabeleceu seu pequeno império na América do Sul. Com apoio do governo do general Gregorio Alvarez, investiu mais de 70 milhões de dólares na compra do terceiro maior banco uruguaio, de hotéis, um jornal diário e outros empreendimentos.

Moon conquistou também adeptos no Chile e cresceu no Paraguai associado ao governo do ditador e general Alfredo Stroessner. Mas o Brasil foi o primeiro país latino-americano onde a seita resolveu se instalar. Em São Paulo, funciona a sede administrativa da Igreja da Unificação, na Rua Cardeal Arco-verde, 928, no bairro de Pinheiros. Em São Bernardo do Campo, fica o Seminário Teológico Unido. No Rio de Janeiro, a igreja tem a sede numa bela casa em Jacarepaguá, na Estrada do Pau Ferro, 929. A vizinhança nunca esqueceu as denúncias de que a seita mantinha ali jovens submetidos a lavagens cerebrais. Apesar das ameaças, a seita nunca fechou suas portas no Brasil.

A Igreja da Unificação prosperou especialmente sob o regime de Park Chung Hee, que governou a Coréia de 1961 até ser assassinado em 1979, por seu chefe de segurança interna. O regime de Park transformou o principal grupo empresarial de Moon - a Tong II Ltda-numa fabricante de fuzis M-16, com licença americana. Uma investigação no Congresso coreano revelou o vínculo entre a formação da Igreja da Unificação e Kim Jong Pil, primeiro diretor da CIA coreana. Kim obviamente negou tudo.

Em 1972, Moon se estabeleceu nos Estados Unidos. Dez anos depois, foi condenado por ter sonegado 162 mil dólares de impostos sobre juros ganhos com os mais de dois milhões de dólares que guardava em bancos novaiorquinos. Cumpriu 11 meses na prisão de Danbury, no estado de Connecticut, e mais sete meses em regime semi-aberto. Em agosto do ano passado, o reverendo presidiu mais um dos casamentos coletivos, transmitidos diretamente do estádio olímpico de Seul, na Coréia, do Sul. Mais de 600 casais brasileiros de nove cidades do país participaram do casamento, via satélite.


Os braços de Moon

Durante uma hora e meia, os organizadores do congresso da Igreja da Unificação apresentaram, em slides no centro de convenções do hotel Victoria Plaza, as principais áreas de atuação da seita:

Arquivo Editora Três
O Victoria Plaza, onde foi realizado o congresso, pertence às empresas de Moon que tem até fábrica de computadores
  • Estaleiro de navios e várias empresas de pescado
  • Agropecuária, com lavouras- modelo para resolver o problema da fome. No Mato Grosso do Sul, a seita é dona da fazenda Nova Esperança
  • Projetos culturais na África
  • Lobby para a realização da Copa do Mundo de 2002 na Coréia do Sul
  • Jornais em vários países, indusive no Oriente Médio. Nos Estados Unidos, a seita é dona do jornal Washington Times
  • Pesquisas na área de saúde e de medicamentos como o Ginseng no Japão
  • Rede hoteleira de luxo
  • Controle acionário de bancos e corretoras
  • Joalherias
  • Universidades nos Estados Unidos, Coréia e Japão
  • Universidade americana com ensino via internet ou canal a cabo
  • Academia de Professores
  • Masa (distribuição de alimentos nas catástrofes e epidemias)
  • Panda (China) - desenvolvimento de empresas proporcionando mão-de-obra com ajuda da abertura - econômica e espiritual
  • Wacom, empresa de computadores
  • Projetos para a construção de uma rodovia internacional, através dos oceanos
  • Projeto Deus salve a América - Estados Unidos
  • Carp - grupos de estudos com universitários e secundaristas

Dez heresias de uma seita lunática

Divulgação
  1. Jesus Cristo fracassou em sua missão redentora por não ter constituído família
  2. A cruz é um símbolo do fracasso de Jesus que não deveria ter sido crucificado, mas casado e gerado uma raça pura
  3. O Espírito Santo não faz parte da Trindade, mas é a reunião de vários espíritos bons que vêm a terra para auxiliar os vivos
  4. As orações são feitas em nome do Pai e não em nome de Jesus, o único mediador entre Deus e os homens, como ensina a Bíblia
  5. Ao invés de ter sido gerado pelo Espírito Santo, como diz a Bíblia, Jesus foi concebido a partir de uma relação sexual de Maria
  6. O livro Princípio Divino, que contém as supostas revelações a Moon, para seus seguidores tem mais autoridade do que a Bíblia
  7. Só através do matrimônio é possível ter comunhão com Deus. Quem é solteiro não pode alcançar a plenitute espiritual
  8. Orientado por revelações, o reverendo Moon determina pessoalmente os casamentos, apenas por informações e fotografias dos seguidores
  9. As palavras do Novo Testamento perderão sua luz quando vier o Senhor do Segundo Advento, com uma nova palavra
  10. Os espíritos dos mortos influenciam e ajudam os vivos

Extraído Denúncia. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 16-17, abr. 1996.

A cilada da Unificação

Seita de Moon tenta aliciar pastores_brasileiros com mordomias no Uruguai

Por Carlos Fernandes, de Montevidéu

Carlos Fernandes
O 'reverendo' Moon montou uma estratégia diabólica para se fixar no Brasil: apresentar suas heresias através da Igreja Evangélica

O autoproclamado senhor do segundo advento armou uma arapuca para centenas de pastores brasileiros. Maquiada como um congresso para unir as igrejas, a Associação do Espírito Santo para a Unificação do Cristianismo Mundial - ou simplesmente Igreja da Unificação - está promovendo uma série de conferências em Montevidéu, no Uruguai, nas quais tenta conseguir a simpatia e o apoio de líderes evangélicos brasileiros. O próprio dirigente máximo da organização, o reverendo coreano Sun Myung Moon, de 76 anos, comparece aos encontros, que têm o objetivo de reunir até o final de abril pelo menos 3.600 representantes de dezenas de denominações evangélicas do Brasil. Tudo com a intenção diabólica de lançar as bases para uma grande investida que a organização pretende fazer no país até o ano 2000.

Os encontros estão sendo realizados no Hotel Victoria Plaza, um cinco estrelas da capital uruguaia que pertence à seita de Moon. Os convidados - pastores, diáconos e missionários, entre outros líderes de cerca de 50 denominações - recebem gratuitamente a passagem de ida e volta dt avião e hospedagem de cinco dias em hotéis de categoria superior, com pensão completa - um regabofe que custou pelo menos 800 mil dólares. O pacote - ou embrulho - inclui ainda passeios a Punta del Leste, um badalado balneário, em ônibus cedidos pelos organizadores.

EMBOSCADA - A organização dos congressos é tão perfeita que enche os olhos dos participantes: "A estrutura é excepcional", admite o pastor Israel Rodrigues de Mello, da Igreja Batista em Vila da Beleza, em São Paulo, que garante ter comparecido, sem saber do que se tratava, ao primeiro evento da série, realizado de 26 de fevereiro a 1° de março. No primeiro encontro, a grande maioria dos pastores se sentiu enganada: "Foi uma emboscada", reagiu o pastor Luiz Vieira, da Assembléia de Deus em Venda das Pedras (RJ). Outro pastor, Dejair Silva, da Igreja Obra do Senhor, de Rio Bonito (RJ), contou que o convite falava de uma reunião com o objetivo de apresentar o nome de três pastores que disputariam as próximas eleições presidenciais no Brasil, representando a comunidade evangélica.

A história se repetiu de 11 a 15 de março, quando um novo congresso foi promovido. Estranhamente, alguns pastores que já sabiam do que se tratava organizaram grupos para viajar, ao Uruguai e ouvir os discípulos de Moon proclamarem uma série de heresias (ver quadro). "É um absurdo que os pastores levem mais gente para essa arapuca", esbravejou o pastor Paulo Romeiro, diretor do Instituto Cristão de Pesquisas (ICP), de São Paulo. Especialista no estudo de seitas e heresias, Romeiro distribuiu um documento a centenas de pastores, às vésperas do segundo congresso, no qual denunciava a natureza do encontro e tentava dissuadi-los de viajar. "Sabemos que há vários líderes evangélicos coordenando esses eventos, levando crentes 'para ouvir heresias", revela o diretor do ICP.

Carlos Fernandes
A seita Moon programou quatro congressos em Montevidéu, exclusivamente para pastores e líderes evangélicos
Carlos Fernandes
Simão Ferraboli, presidente da
Igreja da Unificação no Brasil:
"E preciso que todos os cristãos
trabalhem juntos"

O líder nacional da Igreja da Unificação, Simão Feraboli, garante que nenhum pastor foi enganado e que, desde o início, informou bem a motivação do encontro a líderes evangélicos como Paulo Carvalho, da Assembléia de Deus, de Goiânia. Feraboli confirmou que Carvalho é o homem-chave para os contatos com pastores brasileiros, sobretudo da Assembléia de Deus - cujos membros eram maioria nos congressos. No segundo encontro, ele esteve no congresso, apenas por um dia. Quando o reverendo Moon falou, Carvalho estava ao seu lado com fones de tradução simultânea no ouvido. Procurado por VINDE, por telefone, Carvalho negou absolutamente tudo, até mesmo conhecer o líder nacional da Unificação que estava no Uruguai quando o evangelista esteve lá, em fevereiro: "Quem é Simão Feraboli?".

Um dos líderes da Assembléia de Deus, o pastor Abner Ferreira, vice-presidente da igreja de Madureira (RJ), porém, rechaça qualquer conivência da denominação com o movimento- da Unificação. Ferreira e seu pai, pastor Manoel, reagiram indignados à presença de pastores da Assembléia nos congressos de Moon, ameaçando até excluir os reincidentes. "Esse falso ecumenismo é típico de final dos tempos", diz Abner, convicto de que os primeiros pastores que estiveram no Uruguai foram enganados.

'PASSEIÃO'- No entanto, ainda há pastores que defendem as excursões turístico-espirituais promovidas pelos seguidores de Moon. O pastor Josuel Silva, presidente da Igreja Pentecostal Missionária em Cuiabá (MT), é um dos organizadores do movimento que tornou-se uma espécie de peregrinação às avessas - os crentes vão ao Uruguai ouvir manifestações contrárias à obra de Cristo. O pastor Josuel levou cerca de 140 pessoas na primeira vez e, na segunda dose, conduziu mais 100 a Montevidéu. Para ele, é a chance de proporcionar uma espécie de seminário de heresiologia ao vivo, com o objetivo de fornecer a líderes e obreiros subsídios para combater as doutrinas da Unificação. Além, é claro, de uma viagem barata ao exterior.

"Isso é um passeião, muitas pessoas do meu grupo jamais poderiam fazer uma viagem dessas", diz o pastor Josuel. A cada uma delas, foi cobrada, a título 'de taxa de embarque, a quantia de R$ 74 (a taxa custa R$ 29). Esse dinheiro, segundo Josuel, destinava-se a cobrir suas despesas na organização da caravana, como telefonemas e deslocamentos a São Paulo e Brasília. O pessoal que saiu do Rio, assim como os paulistas e goianos que integravam a caravana, também pagaram taxas semelhantes aos coordenadores de seus estados.

Carlos Fernandes
O pastor Josuel Silva, de Cuiabá,
admite que cobra uma taxa dos fiéis
que leva, embora os gastos sejam
todos por conta de Moon

A cobrança dessa cota pelos pastores organizadores é uma coisa mal explicada. Afinal, as duas entidades promotoras do evento, a Fundação Religiosa Internacional e a Fundação Washington Times - na verdade, dois braços operacionais da seita Moon - custearam todas as despesas de transporte, hospedagem e alimentação. Funcionários da agência de viagens Hotur garantem que a empresa pagou tudo, inclusive taxas de embarque, que estavam incluídas no contrato com os organizadores. "Tem espertalhão querendo tirar proveito disso", conclui o pastor Mário Veiga, da Igreja Pentecostal Vida e Paz - uma dissidência da Assembléia de Deus, em São Paulo -, que foi ao Uruguai.

Após uma pregação em que deixou clara sua posição contrária às heresias de Moon, Mário conta ter sido chamado para uma reunião com um dos líderes da seita, Frank Kaufmann, no Victoria Plaza, na qual insinuaram que "o pastor deveria colaborar mais". "Disseram que eu tenho tudo para ajudá-los, mas eu lhes disse que pertenço a Jesus", contou o pastor, que disse ter encerrado o assunto.

Fora os pastores que estariam faturando com as caravanas, a seita Moon acena com facilidades como programas de computadores para igrejas (Moon é dono da fábrica Wacom) e até ajuda financeira a quem precisar. "Estamos dispostos a colaborar com os grupos evangélicos que necessitarem, pois tudo o que temos pertence a Deus", confirma o pastor Simão Feraboli.

Pastor Paulo, o profeta censurado

Fernando Moura
Sacramento: Bíblia na panela do veneno

O convite foi para pregar num congresso internacional sobre revitalização do cristianismo nas Américas. O lugar: Montevidéu, a antiga Suíça latino-americana. Estava tudo muitíssimo bem até que, ao colocar os fones de ouvido para a tradução simultânea, o pastor Paulo Lucas Sacramento, experiente evangelista da Assembléia de Deus de Osasco (SP), percebeu que havia caído numa armadilha. "Temos grande satisfação de apresentar o fundador da Igreja da Unificação, reverendo Sun Myung Moon", disse o apresentador. Foi nessa hora que mudou o semblante da grande maioria dos convivas.

"O homem (Moon) estava sentado a 30 centímetros de mim, mas eu sequer podia imaginar que se tratava dele e, muito menos, que o herege havia patrocinado nossa viagem", contou o pastor Paulo Sacramento, em entrevista à VINDE. A notícia de que Moon era o dono da festa, porém, não foi suficiente para desanimar o pastor Paulo Sacramento, 54 anos, 25 dos quais como evangelista com uma bagagem de 17 países nas costas. Convidado para falar sobre o que quisesse, o pastor Paulo deu uma no cravo e outra na ferradura: pregou sobre a panela de veneno, episódio narrado no livro de II Reis. A história conta que o profeta Eliseu jogou farinha numa panela para separar o veneno da comida.

"Pois temos 66 sacos de farinha (os 66 livros da Bíblia) para jogar nessa panela (a seita Moon)", afirmou o pastor Paulo Sacramento, que recebeu total aprovação da platéia. Os pastores se puseram de pé, louvando a Deus pela pregação. "O poder de Deus caiu no meio dos filisteus (inimigos do povo de Deus)", contou Sacramento, acrescentando que os pastores de Moon foram vaiados. A reação da platéia resultou na censura do pastor Paulo Sacramento. Ele teria outra oportunidade para falar, mas foi dispensado. "Me cortaram a segunda vez", lembra o pastor, que após sua participação, percebeu que passou a ser acompanhado de perto por dois seguranças. Sacramento afirma ter sido informado de que houve ofertas de ajuda financeira a alguns pastores evangélicos, pela seita de Moon. Ele disse duvidar que algum pastor tenha aceito porque a brincadeira mais comum entre eles era a seguinte: "Não ameis o Moon nem o que no Moon há; quem ama o Moon o amor do Pai não está nele", numa alusão a 1 João 2: 15.

BANHO DE HERESIA - Qualquer que seja a oferta de Moon à igreja brasileira, o preço é alto. Em Montevidéu, os evangélicos brasileiros são submetidos a um verdadeiro banho de heresia. São quatro dias ouvindo conferências durante oito horas, nas quais o espectador não pode se manifestar, exceto num reduzido espaço para perguntas - que nunca são satisfatoriamente respondidas. Um dos conferencistas, o pastor Cesar Zaruski, um dos líderes nacionais do Movimento da Unificação, fez questão de deixar claro a posição dos organizadores: "É assim que nós cremos, não adianta querer discutir conosco", disse ao iniciar suas palestras. "Cada vez que um de nós fazia uma pergunta comprometedora, eles respondiam evasivamente", confirma o pastor Vanderlei Martins, 37 anos, da Comunidade Evangélica de Diadema. Ele esteve no primeiro congresso e ficou assustado com o que presenciou: "Eles chegaram ao absurdo de dizer que Jesus fracassou em sua missão por não haver se casado com uma tal Angélica", conta.

Carlos Fernandes
Ao lado do 'reverendo' Moon, o 'pastor' Paulo Carvalho, de Brasília, ouve atentamente o falso pro-

O momento mais esperado nesses encontros é o discurso do reverendo Moon. Falando em coreano com tradução simultânea, o fundador e líder do Movimento da Unificação é veemente ao enfatizar que somente através dos matrimônios realizados por ele é possível restaurar a humanidade, constituindo o Reino de Deus na terra, tarefa na qual Jesus falhou, segundo Moon. Por isso, ele insinua que é o salvador, enquanto seus seguidores consideram-no o senhor do segundo advento - o que seria uma segunda vinda do Messias em carne. Na genuína fé cristã, o Messias é Jesus Cristo, o filho de Deus, que voltará à terra com um corpo sobrenatural, para levar consigo seus fiéis.

Mas o congresso não fica apenas por conta dos discípulos de Moon. Alguns líderes evangélicos brasileiros, que compuseram a mesa de abertura, também se manifestaram. No primeiro congresso, o pastor Paulo Carvalho leu uma mensagem atribuída ao pastor Nilson Fanini, presidente da Aliança Batista Mundial, que falava em unidade e na necessidade de todos os cristãos trabalharem juntos. No segundo encontro; o suposto apoio de Fanini à realização do evento foi novamente citado. Segundo o líder da seita Moon no Brasil, Simão Feraboli, o pastor Fanini participou de uma reunião, em dezembro do ano passado, com Carvalho e o próprio reverendo Moon. Procurado por VINDE, Fanini não foi localizado nem respondeu a nenhuma das solicitações feitas através de sua assistente até o fechamento desta edição.

NOVO ALVO - Pagar para conseguir ouvintes parece ser uma antiga tática dos seguidores de Moon, que já se especializaram nesse tipo de programa. Há 10 anos, um congresso semelhante foi realizado em São Paulo. Naquela época, o inimigo a ser exorcizado era o comunismo, e havia até uma entidade, a Causa Internacional, criada pela Unificação com o objetivo de semear pelo mundo a doutrina ultra-direitista de Moon. Agora, entretanto, o alvo é a igreja evangélica brasileira. O pastor Simão Ferabolli, presidente da Igreja da Unificação no Brasil, é bastante cuidadoso nas palavras: "Nós não queremos converter ninguém", faz questão de dizer. No entanto, ele considera que o verdadeiro inimigo é aquele que tenta impedir a obra da Unificação. Em outro momento, cita o parecer de Gamaliel (um personagem do Novo Testamento), de que era preciso dar tempo para se saber se a obra é ou não de Deus.

Por mais teóricos que pareçam seus dogmas, o Movimento da Unificação tem atitudes bem práticas. Além de inúmeras propriedades e empreendimentos em diversos setores, a seita do reverendo Moon se caracteriza pela militância ideológica. No Brasil, um de seus alvos principais, além de diminuir a resistência dos evangélicos, é investir na educação. Está prevista a instalação de uma grande universidade, provavelmente no Mato Grosso do Sul. Além disso, a organização pretende investir maciçamente na produção de alimentos.

Mas o grande objetivo dos adeptos da Unificação é fazer os evangélicos acreditarem que é possível trabalhar junto com eles. "Queremos que todos saibam que nossa intenção é colaborar com todas as religiões para o beneficio dá Humanidade", diz o pastor Zaruski. Pouco importa, nesse caso, a fé original de cada um. Segundo o pastor Antonio Carlos Narciso, líder do movimento no Rio de Janeiro, fiéis de todas as crenças são chamados a colaborar: "O ideal da Unificação é o ajuntamento de todos -cristãos, muçulmanos, judeus - para serem aperfeiçoados." Escamoteando seus princípios mais contundentes em relação à fé evangélica, os seguidores do reverendo coreano estão tentando mostrar uma face mais amena nesta sua aproximação com líderes e crentes brasileiros. Para eles, o senhor do segundo advento vem para completar as bases da Providência Divina que Jesus teria deixado incompletas. Eles só não dizem abertamente que esta figura, para eles, é o próprio Moon. Provavelmente, acreditam que, desta maneira, conseguirão atrair simpatizantes ou até - quem sabe - adeptos entre os evangélicos. A estratégia já está traçada e, perigosamente, colocada em prática, com a colaboração de líderes evangélicos.


* Colaboraram: Jorge Antonio Barros e Omar de Souza

https://www.youtube.com/watch?v=byJbMw_lX_U

Revista Vinde - Edição 3

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