domingo, 7 de abril de 1996

Um império beneficiado pelo comunismo

Arquivo Editora Três
Moon acredita que através de matrimônios é possível resgatar a Humanidade

Moon conta que aos 16 anos recebeu de Jesus as revelações de que o filho de Deus estava muito triste porque não havia se casado. Criado em lar presbiteriano na Coréia, onde nasceu em 1920, Sun Myung Moon fundou sua própria seita em 1952, diante da resistência das igrejas coreanas à sua mensagem. Preso e torturado pelo regime comunista, instalado em 1948, ele esteve em campo de concentração, onde teria escapado de um fuzilamento.

Seu ódio ao comunismo resultou num dos principais pilares cía Igreja da Unificação: luta permanente contra o marxismo no mundo inteiro, através da organização Causa Internacional, mantida com sucesso até meados da década de 80. Na década anterior, a luta contra o comunismo lhe rendeu aliados milionários e poderosos. Recebeu o apoio de políticos como o prefeito de São Paulo, Paulo Salim Maluf, e o ex-presidente americano Ronald Reagan. Com a extinção da União Soviética, a seita Moon se voltou exclusivamente às atividades espirituais do reverendo que se autoproclama o senhor do segundo advento. Ele diz ter vindo ao mundo para concluir a missão de Jesus. Aos 76 anos, Moon tem pressa.

A obstinação de Moon revela uma personalidade controvertida e mega-lomaníaca. É um dos raros casos em que alguém diz que é Jesus e não vai parar num manicômio. Ao contrário, conta com o respeito de empresários e até de países inteiros. No Uruguai, Moon estabeleceu seu pequeno império na América do Sul. Com apoio do governo do general Gregorio Alvarez, investiu mais de 70 milhões de dólares na compra do terceiro maior banco uruguaio, de hotéis, um jornal diário e outros empreendimentos.

Moon conquistou também adeptos no Chile e cresceu no Paraguai associado ao governo do ditador e general Alfredo Stroessner. Mas o Brasil foi o primeiro país latino-americano onde a seita resolveu se instalar. Em São Paulo, funciona a sede administrativa da Igreja da Unificação, na Rua Cardeal Arco-verde, 928, no bairro de Pinheiros. Em São Bernardo do Campo, fica o Seminário Teológico Unido. No Rio de Janeiro, a igreja tem a sede numa bela casa em Jacarepaguá, na Estrada do Pau Ferro, 929. A vizinhança nunca esqueceu as denúncias de que a seita mantinha ali jovens submetidos a lavagens cerebrais. Apesar das ameaças, a seita nunca fechou suas portas no Brasil.

A Igreja da Unificação prosperou especialmente sob o regime de Park Chung Hee, que governou a Coréia de 1961 até ser assassinado em 1979, por seu chefe de segurança interna. O regime de Park transformou o principal grupo empresarial de Moon - a Tong II Ltda-numa fabricante de fuzis M-16, com licença americana. Uma investigação no Congresso coreano revelou o vínculo entre a formação da Igreja da Unificação e Kim Jong Pil, primeiro diretor da CIA coreana. Kim obviamente negou tudo.

Em 1972, Moon se estabeleceu nos Estados Unidos. Dez anos depois, foi condenado por ter sonegado 162 mil dólares de impostos sobre juros ganhos com os mais de dois milhões de dólares que guardava em bancos novaiorquinos. Cumpriu 11 meses na prisão de Danbury, no estado de Connecticut, e mais sete meses em regime semi-aberto. Em agosto do ano passado, o reverendo presidiu mais um dos casamentos coletivos, transmitidos diretamente do estádio olímpico de Seul, na Coréia, do Sul. Mais de 600 casais brasileiros de nove cidades do país participaram do casamento, via satélite.


Os braços de Moon

Durante uma hora e meia, os organizadores do congresso da Igreja da Unificação apresentaram, em slides no centro de convenções do hotel Victoria Plaza, as principais áreas de atuação da seita:

Arquivo Editora Três
O Victoria Plaza, onde foi realizado o congresso, pertence às empresas de Moon que tem até fábrica de computadores
  • Estaleiro de navios e várias empresas de pescado
  • Agropecuária, com lavouras- modelo para resolver o problema da fome. No Mato Grosso do Sul, a seita é dona da fazenda Nova Esperança
  • Projetos culturais na África
  • Lobby para a realização da Copa do Mundo de 2002 na Coréia do Sul
  • Jornais em vários países, indusive no Oriente Médio. Nos Estados Unidos, a seita é dona do jornal Washington Times
  • Pesquisas na área de saúde e de medicamentos como o Ginseng no Japão
  • Rede hoteleira de luxo
  • Controle acionário de bancos e corretoras
  • Joalherias
  • Universidades nos Estados Unidos, Coréia e Japão
  • Universidade americana com ensino via internet ou canal a cabo
  • Academia de Professores
  • Masa (distribuição de alimentos nas catástrofes e epidemias)
  • Panda (China) - desenvolvimento de empresas proporcionando mão-de-obra com ajuda da abertura - econômica e espiritual
  • Wacom, empresa de computadores
  • Projetos para a construção de uma rodovia internacional, através dos oceanos
  • Projeto Deus salve a América - Estados Unidos
  • Carp - grupos de estudos com universitários e secundaristas

Dez heresias de uma seita lunática

Divulgação
  1. Jesus Cristo fracassou em sua missão redentora por não ter constituído família
  2. A cruz é um símbolo do fracasso de Jesus que não deveria ter sido crucificado, mas casado e gerado uma raça pura
  3. O Espírito Santo não faz parte da Trindade, mas é a reunião de vários espíritos bons que vêm a terra para auxiliar os vivos
  4. As orações são feitas em nome do Pai e não em nome de Jesus, o único mediador entre Deus e os homens, como ensina a Bíblia
  5. Ao invés de ter sido gerado pelo Espírito Santo, como diz a Bíblia, Jesus foi concebido a partir de uma relação sexual de Maria
  6. O livro Princípio Divino, que contém as supostas revelações a Moon, para seus seguidores tem mais autoridade do que a Bíblia
  7. Só através do matrimônio é possível ter comunhão com Deus. Quem é solteiro não pode alcançar a plenitute espiritual
  8. Orientado por revelações, o reverendo Moon determina pessoalmente os casamentos, apenas por informações e fotografias dos seguidores
  9. As palavras do Novo Testamento perderão sua luz quando vier o Senhor do Segundo Advento, com uma nova palavra
  10. Os espíritos dos mortos influenciam e ajudam os vivos

Extraído Denúncia. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 16-17, abr. 1996.

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