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quinta-feira, 15 de fevereiro de 1996

Um golpe de mestre

Deputado eleito pelos crentes transfere rádio evangélica para a LBV

Por Marcelo Dutra

Carlos Fernandes
Francisco Silva: possível influência para impedir
exibição de matéria sobre a Rádio Brasil

Para quem se diz evangélico desde o nascimento e foi eleito com o apoio das igrejas, o deputado federal Francisco Silva (PPB-RJ), 57 anos, surpreende. Ele prestou um desserviço aos crentes ao agir como o principal articulador da cessão da Rádio Brasil AM para a Legião da Boa Vontade (LBV), uma entidade espírita kardecista. O parlamentar retomou o controle da emissora no dia 13 de dezembro do ano passado através de uma liminar judicial, na qual alegava que a Vinde (Visão Nacional de Evangelização), como arrendatária, não vinha honrando os compromissos assumidos com ele. Francisco Silva usou o episódio para livrar-se de dívidas acumuladas durante sua gestão de cerca de dois anos à frente da Rádio Brasil. Foi um plano engenhoso, um golpe de mestre.

A Rádio Brasil AM 940khtz pertence ao Sistema Jornal do Brasil (JB) que, em 1993, a cedeu mediante promessa de venda ao deputado Francisco Silva. O compromisso previa que o deputado assumiria a administração da rádio, ficando responsável pelo pagamento de 3 milhões de dólares referentes a encargos e impostos acumulados na gestão anterior. Na ocasião, como garantia do negócio, Francisco Silva empenhou seu patrimônio empresarial e pessoal, que inclui a Rádio Melodia FM e sua mansão num condomínio de luxo. Em sua gestão à frente da emissora, o deputado não conseguiu saneá-la. Pelo contrário, a bola de neve cresceu, tornando a rádio deficitária. Além disso, durante cerca de dois anos não quitou sequer 5% do montante da dívida.

IGNORÂNCIA - Atolado nas dívidas, Francisco Silva procurou a Vinde pedindo que o ajudasse naquele "momento difícil" - conforme carta datada de 30 de maio de 1995. No mesmo documento, encaminhado ao Sistema JB, o deputado disse que a Vinde era uma entidade íntegra e de credibilidade no meio evangélico. As condições para a transferência previam que a Vinde tornava-se arrendatária da rádio mediante um aluguel mensal de R$ 30 mil para Francisco Silva. A Vinde aceitou pagar dívidas contraídas no período em que o deputado esteve à frente da emissora. Só que os valores mencionados por Francisco, talvez por ignorância, não correspondiam à realidade.

Como os advogados do deputado evitavam os fiscais do INSS, a dívida da rádio com a Previdência foi arbitrada em R$ 21 milhões. Em dois anos e meio, o deputado pagou apenas R$ 120 mil daquele total. Enquanto isso, ele garantia à Vinde que a dívida não passava de R$ 4 milhões. Nos sete meses seguintes, a Vinde efetuou o pagamento de R$ 650 mil, importância utilizada para colocar em dia os pagamentos de IPTU, Imposto de Renda, contas de luz, FGTS e INSS dos funcionários, além de outras dívidas, e que excedia substancialmente o total dos aluguéis da rádio pelo mesmo período. Além de sanear a emissora, a Vinde reestruturou-a, conquistando mais ouvintes, alcançando o terceiro lugar de audiência no Rio de Janeiro, segundo o Ibope. Quando a Vinde percebeu que a dívida da rádio estava num saco sem fundo, renegociou com o deputado Francisco Silva, que concordou verbalmente com a proposta de que a Vinde se empenharia em colocar a situação da rádio em dia e ficaria definitivamente com a concessão.

O choque, contudo, não tardou. No último dia 13 de dezembro, através de uma liminar, o deputado retomou a Rádio Brasil, deixando estarrecidos os funcionários, a diretoria da Vinde e os ouvintes. O presidente da Vinde, reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, confessa sua decepção com o episódio: "Me sinto triste porque o dinheiro veio do povo de Deus que o doou por acreditar que a rádio vinha abençoando milhares de pessoas." Caio Fábio, porém, ressalta não ter qualquer ressentimento em relação ao deputado: "Acho que ele agiu de modo errado e que foi extremamente oportunista tanto em relação à Vinde como com a LBV, mas estou orando para que coloque esta consciência em seu coração."

Carlos Fernandes
A mansão num condomínio do luxo na Barra da
Tijuca foi usada como garantia
Carlos Fernandes
Paulo Lopes: irregularidades na
administração Francisco Silva

Apesar de ter perdido a rádio através da liminar, o reverendo Caio Fábio lembra que a decisão judicial seria facilmente derrubada em virtude da fragilidade das alegações. O reverendo Caio revela que, antes da liminar, já havia decidido devolver a Rádio Brasil AM, depois de uma onda de boatos. Uma nota plantada na coluna do Zózimo, do jornal O Globo, dizia que os evangélicos não se entendiam e que o reverendo Caio Fábio estava devendo aluguéis da emissora a Francisco Silva. "Meu maior capital na vida é a integridade e o respeito, e não iria colocar a Vinde numa confusão dessas", diz Caio Fábio.

A manobra de Francisco Silva foi motivada por uma notificação judicial movida pelo Sistema JB que visava a reintegração da posse da emissora. Ameaçado de perder não somente o controle da rádio, como também o restante de seu patrimônio, Francisco Silva resolveu retomar a emissora para renegociá-la com a LBV.

Entre as acusações do deputado, uma é de que a Vinde não vinha pagando direitos trabalhistas dos funcionários da rádio. Esta informação é contestada pelo presidente do Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro, Paulo Lopes. Ele afirma que os funcionários estavam plenamente satisfeitos com a Vinde, o que não ocorria no período em que o deputado administrou a rádio. "Na época de Francisco Silva, os pobres dos funcionários tinham que implorar para ter seus direitos", denuncia Lopes. As ações arbitrárias do deputado não pararam ali. Segundo a assessoria da imprensa da LBV, apenas dois dias após reassumir o controle da emissora, Francisco Silva procurou a diretoria da entidade oferecendo a locação da rádio. Apesar de ter sido eleito com apoio dos evangélicos, Silva não se constrangeu em passar a rádio para um grupo espírita.

Procurado pela reportagem da Vinde, o deputado escorregou e se contradisse. Pelo telefone, disse que o responsável pela transferência da rádio para a LBV havia sido a própria Vinde - um absurdo sem igual. Ao ser lembrado que conversava com um repórter da Vinde, Francisco Silva gaguejou e deu outra versão: "Foi o JB que passou a rádio para a LBV." Só que o Sistema JB está brigando na Justiça com Francisco Silva. Dias depois, novamente procurado pelo repórter da Vinde, o deputado Francisco Silva se irritou e fez ameaças ao saber que sua casa havia sido filmada para o programa de TV Pare & Pense, apresentado pelo reverendo Caio Fábio. Ele disse que colocaria o repórter na cadeia por invasão de domicílio. Mais uma vez estava blefando. As cenas haviam sido feitas da rua. Seus advogados chegaram a insinuar que a matéria do programa de TV explicando sobre a negociata não iria ao ar, o que de fato ocorreu. O programa do dia 13 de janeiro foi estranhamente suspenso, possivelmente censurado por influência de Francisco Silva ou de pessoas ligadas a ele. No momento, o processo sobre a posse da Rádio Brasil AM ainda está sendo julgado, apesar de a programação estar sendo produzida pela Legião da Boa Vontade, uma instituição séria e que tem o direito democrático de possuir uma rádio, mas que não atende às expectativas do ouvinte evangélico.

Carlos Fernandes
Na carta enviada ao JB, a credibilidade da Vinde é reconhecida

Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...