Mostrando postagens com marcador desarmamento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador desarmamento. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 1 de março de 1996

O morro, o esparadrapo e a Bíblia

Missionário em favelas, André Fernandes é símbolo do Evangelho integral

Por Danielle Franco


Fotos de Frederico Mendes


Renato BittencourVArtware
O sonho de André era tornar-se fuzileiro naval,
mas o carioca da Tijuca foi seduzido pelo
trabalho junto a comunidades carentes
e tornou-se missionário

"André sobe o morro/Porque tem uma missão." Para muitos, o personagem da música A missão, do grupo Fruto Sagrado, é fictício. Mas foi um sujeito de carne e osso, inconformado com a miséria material e espiritual das comunidades carentes do Rio de Janeiro, que inspirou os versos da canção: André Fernandes, 25 anos, carioca, da Tijuca, filho de um pediatra e de uma advogada, é o mais conhecido missionário de favelas do Rio.

Antes de se tornar coordenador do projeto Exército da Esperança e articulador da campanha Rio, desarme-se, André teve a vida totalmente transformada. Ainda na Marinha, onde pretendia seguir carreira como fuzileiro naval, foi levado por um amigo à Igreja Batista Missionária do Maracanã, onde descobriu "um Deus compreensivo, misericordioso, que me ama como sou", revela. "Tive muitas experiências com Deus e fiz um pacto: era preferível perder a vida do que me afastar da Sua presença. Nesse momento, decidi ser missionário." André participou de cursos de liderança cristã e missões urbanas.

Na Escola de Treinamento e Discipulado - Eted - da Jocum, alternava aulas teóricas e práticas no Morro do Jorge Turco, na Ilha do Governador. Seduzido pelo trabalho missionário, que até o levou ao exterior, saiu da Marinha. "O sonho da maioria dos missionários é sair do Brasil. Eu achava que havia muitos a serem alcançados pelo Evangelho aqui. Queria trabalhar com gente simples da favela, cercada pela pobreza e pelo tráfico de drogas", conta. O primeiro desafio foi o Morro do Borel, na Tijuca, com o missionário Pedro. Num local chamado terreirão, instalaram um ambulatório para prestar serviços à comunidade. "Foi um tempo muito difícil. Para se ter idéia, cheguei a ver futebol em que a bola era uma cabeça humana. Hoje, muitos daquela comunidade se converteram a Cristo", conta.

EXPANSÃO - Um ano depois, André iniciou sozinho um trabalho na favela do Morro Santa Marta, em Botafogo. Inicialmente, morava no porão da igreja batista da comunidade. Munido de uma caixa de sapato, saía pelas ruelas fazendo curativos e evangelizando. Ao mesmo tempo, ia nas igrejas pedir doações para compra de remédios e divulgava o trabalho. "Foi assim que consegui comprar a primeira casa", orgulha-se. Era um pequeno cômodo que havia funcionado como bar, conhecido como ponto dos caídos, porque as pessoas bebiam e ficavam estiradas por ali. "Depois que compramos a casa, o nome mudou para ponto dos erguidos. Nós levantamos a moral daquela gente", brinca.

Com a divulgação do trabalho, gente de fora, da comunidade foi conhecer o local e passou a fazer doações que possibilitaram a compra de uma nova casa. Desta vez com quarto, banheiro e sala, transformada em escritório. Mais pessoas passaram a colaborar e uma terceira casa foi adquirida. Outros beneficios foram estendidos aos moradores, como a construção de uma creche com capacidade para 200 crianças.

Renato BittencourVArtware
André: muito querido entre os moradores do Morro Dona Marta

No final de 1994, foi deflagrada a Operação Rio. Neste mesmo ano, André participou do Congresso para Pastores e Líderes promovido pela Vinde em Serra Negra, e lá conheceu o reverendo Caio Fábio, que o convidou para uma reunião em que seriam discutidas as diretrizes da campanha Rio, desarme-se. Como resultado, a comunidade do Santa Marta foi a primeira favela a ser invadida por voluntários com mensagens a favor da paz e contra a violência. O movimento cresceu, vários líderes comunitários foram contactados e 40 favelas foram visitadas.

Enquanto a campanha ganhava espaço na imprensa e a adesão da população, André se sentia dividido com as responsabilidades dos ministérios da Jocum e da Associação Evangélica do Dona Marta. Logo em se-guida, a AEVB - Associação Evangélica Brasileira - decidiu realizar trabalhos nas favelas da cidade, convidando André para coordenar a iniciativa. Até que surgiu o convite para trabalhar na Fábrica de Esperança. "Orei a Deus. A Bíblia diz: Seja a paz o árbitro do teu coração. Fui para a Vinde, onde coordeno tudo a partir da Fábrica de Esperança", conta.

LIVRO - Na Fábrica, André deu início a um curso de liderança cristã ministrado por missionários e pastores que trabalham em favelas, está à frente da capelania, do departamento de Assessoria Comunitária e ainda do projeto Exército da Esperança. Até o final do ano, ele quer terminar de escrever um livro em que conta a história de sua vida, além de criar uma agência de notícias sobre as comunidades carentes e editar um guia com informações sobre as 50 principais favelas do Rio. A certeza de ter feito a melhor opção de vida é sentida quando André narra o culto de despedida da Jocum, realizado no Morro Santa Marta. "No fim, perguntei se alguém queria falar alguma coisa. De repente, o líder do tráfico se levantou, caminhou em minha direção com os olhos cheios de lágrimas e começou a bater palmas. Ele falava: Nota mil. Você conseguiu ser gente como a gente, se misturar à comunidade. Para mim, este é o verdadeiro cristianismo. Fiquei emocionado. Mesmo não compactuando com suas práticas, procuro compreender a sua realidade. Não aprovo o tráfico, mas, com o coração cheio de Deus, posso dizer que-amo aquelas pessoas", finaliza.

A missão

Marco, Maldon, Bênlio e Flávio


Ele mora na Cidade Maravilhosa
Maravilhoso lar da ilusão
Onde os canibais da selva de pedra
Passeiam por aí de AR-15 na mão
Ele cresceu no meio do incoerência
A desigualdade, a falta de providência
A insanidade urbana, os desencantos mil
Na violenta Babilônia do meu Brasil Rio de Janeiro

Ele poderia ter ficado imparcial
Passivo a tudo e tentar ser normal
Mas algo o atingiu de forma impactante
E não era bala perdida de PM ou traficante
Era a missão celestial
Alucinante, irradiante, transcedental
A família, os amigos, pouca gente entendeu
"O André enlouqueceu de vez? O que aconteceu?"

André sobe o morro
Sobe porque sabe que tem uma missão
André sobe o morro
Sobe o Dona Marta com muita determinação
Sobe porque sabe a resposta pro Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, muda a direção
O Redentor está de braços abertos te esperando
Rio de Janeiro, muda a direção
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

Ele não conseguiu ficar trancado no quarto
Ele não conseguiu fingir-se de avestruz
Lá fora a desgraça atravessando a rua
A infelicidade dominando nua e crua
Crianças são comidas por seus vermes intestinais
Vermes manipuladores de injustiças sociais
Homens se matando como ratos enclausurados
Num Rio de Janeiro que desaba aos pedaços
O Rio de Janeiro

André sabe que a resposta é só Jesus
No coração das favelas e dos barracos
No coração dos castelos e dos palácios
No coração de cada cidadão
No coração do Rio de Janeiro
No coração do meu Brasil



Extraído Perfil. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 30 e 31, mar. 1996.

quarta-feira, 3 de janeiro de 1996

Humor

Carlos Fernandes

Inda bem que tu foi o último, hein maladro?!
Senão, não sobrava brinquedo pra ninguém.

Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...