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quarta-feira, 7 de fevereiro de 1996

O vazio de sonhos

Por Reverendo Caio Fábio DAraujo Filho

Estou espantado com o que aconteceu ao Brasil. O diabo roubou nossos sonhos. Os muitos ideais que marcaram as últimas gerações desapareceram subitamente, como a névoa ante o incidir implacável do sol da manhã. Bem ou mal, em tempos passados a gente via o mover irrequieto de ondas de esperança agitando a sociedade brasileira e a igreja. Eu, por exemplo, sou da geração que contestou sistemas com o movimento hippie, questionou a igreja mediante a adesão aos grupos de renovação carismática, fez propostas de integralidade ministerial através do clamor para que a fé fosse vivida no seu todo, buscou ocupar espaços para a missão evangelizadora no mundo secular, tentou oferecer um referencial cristão novo e desafiador para o mundo, andando na contramão do Evangelho, e que sonhou com a possibilidade de que a mensagem bíblica da unidade da igreja pudesse ser praticada.

Os fatos, porém, foram outros. Vi o movimento hippie, como era de se esperar, mostrar sua verdadeira face licenciosa, desesperada, materialista e interesseira. Mas isto era apenas porque os hippies não tinham nada de Deus em seu projeto. Com a igreja seria diferente. Mas não foi. A Renovação Carismática tomou rumos estranhos. Um lado se tornou legalista, comportamentalista e quadrado. Um outro lado optou por um intimismo espiritual irracional, que conseguiu ser superficial e, muitas vezes, vizinho da maluquice.

Os que buscaram ocupar espaços na secularidade acabaram, na maioria das vezes, perdendo a identidade evangélica, seja pela falta de conteúdo em suas presenças evangelizadoras, seja pela incapacidade de delimitar com clareza as fronteiras da ética, ou ainda pela impossibilidade de viverem um projeto cristão atraente e diferenciado. Por último, eu diria que o Movimento pela Unidade Visível acabou sendo vítima de si mesmo. Neste particular, sinto-me à vontade para falar pela consciência e memória histórica de ter sido um dos seus mais ardorosos protagonistas nos últimos 20 anos.

O que vale hoje é não virar dinossauro, é não ser extinto. Quem pensa assim esquece que morte é a palavra mais viva do Evangelho

Entretanto, vimos uma ação intensa, sutil e diabólica perverter muitos dos nossos sonhos naquela área. Neste aspecto, creio ser útil dedicar um pouco mais de espaço à nossa reflexão. Isto porque, presentemente, nos vemos enredados por esta situação. Pessoalmente, fico perplexo quando vejo as mais lindas palavras de ordem do clamor pela unidade serem esvaziadas de seus conteúdos e enchidas com valores totalmente contrários ao Evangelho do Senhor Jesus. Unidade, que biblicamente significa a vivência do amor generoso, que respeita e afirma diferenças, mas que converge fraternalmente para a prática da missão que nos é comum, tendo a Palavra da Verdade como elo vinculador, foi transformada em imperativo estratégico, motivado pela necessidade de mostrar força política que impressione a sociedade, a mídia, os políticos e os que podem dar e receber em eventuais negócios com os donos de igreja. Corpo de Cristo, que no Novo Testamento encerra a idéia de organicidade carismática e de vinculação essencial uns aos outros pelo. Espírito Santo e Seus dons, acabou virando senha maçônico-evangélica, palavra de ordem que caracteriza a entrada ao Corpo-rarivismo da religião, onde valores, princípios, verdade e coerência não têm nenhuma importância.

Tudo o que vale é a certeza de que, fazendo parte daquela confraria evangélica, os seus membros podem mentir, roubar, enganar, manipular e tudo o mais, pois o Corpo jamais virá contra tais procedimentos. Uma vez no Corpo, não há amputações. O dedo pode estar podre, mas o corpo morrerá com ele e confessará solidariedade à gangrena, e sempre dirá que qualquer tentativa de extirpar a podridão será encarada como quebra da harmonia do sistema. Até onde consigo enxergar, percebo que a Máfia funciona assim, mas não é como as coisas devem ser no verdadeiro Corpo de Cristo (Mateus 5.29, 30).

Além de tudo isto, é fácil ver como os grandes ideais morreram. O que vejo todos os dias é a igreja justificando seu comportamento nivelado ao que há de mais baixo no mundo. Um deputado evangélico diz acerca de usar o púlpito para fazer insistente e manipuladora campanha política: "A CUT e os outros sindicatos fazem assim nas empresas. Por que não pode ser assim a igreja?" Outros, para justificar o comportamento antibíblico e antiético de certos líderes evangélicos, dizem: "É, é sim. Mas o seu Fulano de Tal também ficou rico de modo ilícito e as organizações dele fazem a mesma coisa." Outros ainda, dizem: "É, eu sei que eles não têm escrúpulos e tudo aquilo é fake. Mas, se eu não fechar com eles, vou perder o que tenho. Por favor, você tem razão, mas fica na tua. Eu só estou com eles porque os de fora são iguais. Eles, pelo menos, se dizem nossos irmãos."

Ora, tudo isso nos mostra como os sonhos acabaram. O que vale hoje é não virar dinossauro, é não ser extinto, é sobrevivência. Quem pensa assim esquece que morte é a palavra mais viva do Evangelho. Quem quer ganhar sua vida a perde. Quem aceita sacrificá-la a salva. E quem disse isso foi aquele Santo Bobo que caiu na besteira de morrer na Cruz. Mas o Bobo tinha Pai. E o Pai dele sabia tudo sobre ressuscitar idealistas e aventureiros da Verdade. No terceiro dia, os bobos são levados ao pódio da sabedoria universal. O prêmio dos bobos que aceitam a via do sacrifício é a ressurreição dos mor-tos. Palavra de quem sabe tudo!

Talvez você esteja pensando que este meu Pare & Pense está muito down. Engano seu. A admissão da realidade é, para mim, uma admissão. Trata-se de uma ação em curso e que se transforma no primeiro passo para que sejam deflagrados nossos processos. Eu não sei ser diferente. Sou incuravelmente esperançoso. Sonhar é um mal irremediável na minha vida. Creio ter razões genéticas, históricas e espirituais para justificar o que digo. Meu bisavô, seu Araujinho, se casou aos 68 anos e morreu aos 104, cheio de ânimo. Meu avô, João Fábio, morreu cedo, aí pelos 64. Mas viveu muito. No seu humanitarismo essencial, sempre gostou de gente e quis ajudar os outros, até mesmo quando comprou um velho hospital e fez dele a sua casa, sempre lotada de necessitados. Meu pai está vivo, e como. Só tem 20% de vista em um dos olhos. O outro não vê nada. Mas a visão está lá, no fundo de sua mente. E ele continua a sonhar. Mas minha mais forte motivação sonhadora vem de Jesus e do Espírito Santo. Sei que Deus tem prazer quando eu sonho e parto para o parto, na intenção de realizar aquele ideal.

Ao chegar, ao fim deste artigo, tenho uma coisa em mente: quero provocar em você o desejo de voar bem alto, de não baixar o nível, de não deixar a sublimidade do Evangelho virar apenas um gibi de fundo de quintal. Aí vem o sonhador ....................... (escreva seu nome na seqüência desta frase).

sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

Por uma nova Reforma


Por Ricardo Gondim

Nasci num lar de católicos tipicamente nominais, daqueles que pouco vão à igreja e transitam sem muita dificuldade por centros espíritas e cartomantes. Fiz minha primeira comunhão, como a maioria das crianças brasileiras, para desincumbir a família das obrigações sociais. Nesse ambiente, familiarizei-me com uma linguagem ecumênica.

Minha infância foi cheia de medos. Vez por outra, entreouvia conversas sobre almas penadas. Naquelas noites, com certeza, perdia o sono.

Converti-me numa Igreja Presbiteriana. E que alívio. Logo habituei-me com uma linguagem totalmente nova. Os conteúdos da mensagem evangélica significaram valores profundamente libertadores para mim. Primeiro, aprendi que a salvação não depende diretamente de mim, ela aconteceu no Monte Calvário, há quase dois mil anos. Pela fé nos méritos expiatórios de Cristo, eu podia ter certeza de minha salvação. Depois, soube que o mundo dos mortos não é angustiante. O destino eterno das pessoas vai selado pela decisão de aceitar ou rejeitar o dom gratuito de Deus. Quão glorioso foi para mim viver sem o constante assédio das almas penadas do meu imaginário. Foi-me apresentada uma mensagem na qual Cristo reinava sobranceiro, gloriosamente entronizado como Senhor dos senhores. Naqueles dias de neófito, o Senhor era meu tudo, e a vida cristã, uma alegria contagiante.

Passados mais de 25 anos, a igreja mudou muito. Estarrecido, deparo-me com uma Igreja Evangélica carente de intermináveis correntes para alcançar o favor de Deus. Medrosa de maldições, essa Igreja precisa constantemente quebrar encantos. Incerta quanto ao soberano controle de Deus, nomeia paranoicamente a atuação de demônios que precisariam ser amarrados para não manipularem nossa história. Aturdido, vejo essa Igreja reelaborando a água benta da minha infância, com o nome de água fluidificada. Isso para não falar do sal grosso, dos ramos de arruda e de uma longa lista de superstições praticadas em nome da fé evangélica.

"Influenciada por uma concepção materialista, a igreja Evangélica brasileira tem se lançado numa busca desenfreada para alcançar multidões, sem se importar como"

Alguns tentam explicar esses acontecimentos como sincretismo. Diante da rápida expansão dos evangélicos e seu lamentável enfraquecimento doutrinário, a igreja teria, inconscientemente, incorporado valores da religiosidade popular. Não creio assim. Penso testemunharmos um fenômeno puramente mercadológico. A fim de alcançar as massas em um tempo mínimo, apela-se para atalhos não evangélicos. Influenciada por uma concepção materialista e enxergando no crescimento numérico um fator divino, a Igreja Evangélica tem se lançado numa busca desenfreada para alcançar as multidões, sem se importar como. Assim, princípios fundamentais da fé vão sendo deixados de lado. Importa hoje ocupar espaços físicos, mostrar-se visível. Infelizmente, em alguns momentos, essa visibilidade tem sido prejudicial.

A apropriação desses valores da religiosidade popular é desonesta. Parecemos com católicos e espíritas, não porque os admiramos, mas para cooptar seus fiéis. Esse adultério brasileiro dos princípios da fé cristã agrava o coração de Deus, gera cristãos sem conversão genuína e, pior, é antiético.

A Igreja Evangélica brasileira deve lembrar-se de onde caiu, arrepender-se e voltar à prática das primeiras obras (Apocalipse 2:5). É tempo de voltar à Bíblia. Buscar uma nova Reforma. Quando a igreja medieval naufragava no lamaçal das indulgências, Deus levantou Maninho Lutero, conclamando o povo ao Sola Scriptura. Basta de invencionice humana somente para atrair multidões. A mensagem dos nossos púlpitos deve voltar a ser }astreada pela graça. As pessoas não precisam fazer mais nada para alcançar o favor de Deus.

Deus é por nós. As forças diabólicas não nos atormentam. Cristo já derrotou a perigosa serpente. Agora é possível descansar em Seu amor. Não há mais demônios a serem amarrados, "pois tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz. E, despojando os principados e as potestades publicamente os expôs ao desprezo, triunfando deles na cruz" (Colossenses 2:14-15).

Que a igreja abandone urgentemente qualquer obsessão mercadejadora da fé e volte ao caminho do discipulado. Assim, pode ser que não se impressione com superlativos numéricos e cumpra sua vocação de ser sal e luz. Soli Deo Gloriae.


Ricardo Gondim é presidente da Fraternidade Teológica Latino-americana no Brasil e pastor da Igreja Betesda em São Paulo

Revista Vinde - Edição 3

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