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sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

Um voto de confiança em Deus

Garotinho conta como escapou da morte e aceitou o Evangelho

Por Carlos Fernandes

Fotos de Frederico Mendes

Chico Ferreira/ Editora Três

O que poderia ter sido uma tragédia acabou trazendo salvação. Anthony Garotinho encontrou-se com Cristo após ver a morte de perto e, no leito do hospital, elegeu-o como Senhor de sua vida. No auge da campanha eleitoral para o governo do Estado do Rio, Garotinho dirigia-se para Volta Redonda (RJ), onde faria um importante comício, quando o Tempra em que viajava foi fechado na via Dutra, saiu da estrada e capotou três vezes. A violência do impacto foi tão grande que o arremessou pelo vidro traseiro do carro.

O acidente não poderia ter vindo em pior hora, pois precisamente naqueles dias - corria o mês de setembro de 1994 - o Ibope anunciava o empate técnico entre Garotinho, que concorria pelo PDT, e o candidato do PSDB, Marcello Alencar.

No hospital da Companhia Siderúrgica Nacional - para onde foi removido pelos Anjos do Asfalto, um grupo de paramédicos do Rio - foi constatada fratura múltipla do braço direito. Durante a cirurgia, que durou cinco horas, Garotinho recebeu uma placa de platina, dez parafusos e enxerto ósseo. A intervenção foi bem-sucedida, mas a situação parecia representar o fim de suas pretensões eleitoriais: "O médico me disse que eu ficaria impossibilitado de fazer campanha naquele primeiro turno, e estávamos a poucos dias da eleição. Além do braço imobilizado, eu não poderia caminhar direito pelo menos por 15 dias, porque me tiraram uma lasca do osso ilíaco para recompor o osso do braço", lembra Garotinho. "Embora entendesse que eu vivia um momento importante da minha vida, o doutor foi sincero e falou que eu deveria dar graças a Deus por estar vivo pois, pelo estado do carro, a tragédia deveria ter sido bem pior".

O calvário de Garotinho começou numa sexta-feira. Internado no hospital da CSN, ele estava completamente incapacitado. Não andava e nem tomava banho sozinho, justamente no momento mais crucial de sua vida política, com grandes chances de tornar-se governador do Rio de Janeiro. "Naqueles dias, eu estava muito feliz com o resultado das pesquisas, que me colocavam junto ao primeiro colocado", lembra. Na época, chegou-se a suspeitar de um atentado político, mas a hipótese não foi investigada. Seguiu-se um sábado angustiante, que de passou, sob efeito de analgésicos, acompanhado da mulher, Rosinha. noite, fez uma refeição leve, e dormiu.

Chico Ferreira/ Editora Três
O programa Show do Garotinho, na Rádio Tupi, é campeão de audiência

DEUS FALOU COMIGO - Foi então que aconteceu o inesperado. Por volta das três horas da madrugada de domingo, Garotinho acordou e, naquele momento, começou a ver o acidente passar na sua frente, como num filme colorido. Desperto do sono, viu todo o acidente acontecer novamente. Na hora em que ocorreu a capotagem, ele estava dando uma entrevista pelo celular, fato de que não se lembrava. "Aquela visão não era uma lembrança, pois eu não tinha percebido o acidente", afirma. A experiência foi tão intensa que Garotinho começou a chorar: "Sem que ninguém me falasse nada, caí num choro compulsivo. Chorava, chorava, chorava, e aí comecei a dizer para minha esposa que Deus estava falando comigo". Diante do espanto da companheira, relatou que estava sentindo uma coisa quente dentro de si, e sabia que era Deus falando ao seu coração. Garotinho relembra aqueles instantes com eloquência: "Eu estava sentindo uma alegria, uma coisa dentro de mim, me tocando, não sabia explicar, e continuava chorando muito".

O barulho atraiu a enfermeira, e, diante dela, Garotinho continuou afirmando que Deus falava com ele. Para espanto das duas, levantou-se do leito e caminhou sozinho até o banheiro, apoiando-se normalmente sobre a perna operada. Só então elas perceberam que não era um delírio. Totalmente lúcido e alegre, não parava de afirmar que Deus falava com ele, quando uma outra enfermeira disse que o pai dela era evangélico. "Ele é pastor? Preciso falar com um pastor", interrompeu Garotinho. Esse senhor, membro da Assembléia de Deus, foi chamado ao quarto e disse que aquilo era uma providência de Deus que, através do Espírito Santo, estava lhe mostrando que deveria lembrar-se dele, e colocá-lo acima de tudo em sua vida, até mesmo seus desejos e realizações. Ecoas palavras foram ratificadas pelo pastor Nilson Dimarzio, da Igreja Batista Central de Volta Redonda, que soube da experiência de Garotinho e foi ao hospital dizer-lhe que ele deveria ser batizado.

Chico Ferreira/ Editora Três
Garotinho recebe 30 mil cartas por mês

Nesse instante, de começou a viver um dilema: muito embora soubesse que sua experiência era real e diferente de tudo que já sentira — materialista, fora integrante do PCB e não praticava nenhuma religião —, ficou com medo de que a atitude de aceitar o batismo pudesse ser interpretada como uma tentativa de obter votos dos evangélicos. Dessa forma, resolveu esperar um momento mais apropriado para tornar pública sua fé. Depois das eleições, em que foi derrotado por uma margem de apenas 3% dos votos, passou algum tempo lendo, se preparando e procurando um ambiente para si. Conheceu o reverendo Caio Fábio que, após um período de preparação, batizou-o em 30 de julho deste ano.

O político Anthony. Garotinho acha que sua conversão deu-lhe uma visão diferente das questões que sempre o acompanharam. O fato de ter se tornado crente mostrou-lhe uma face nova da vida: "Eu sempre fui um cara combativo, envolvendo-me com lutas sociais, com vontade de fazer as coisas. Ficava angustiado porque não encontrava respostas definitivas para as lutas políticas. Continuo produtivo e atuando politicamente, mas perdi aquela angústia". Na sua opinião, os lados material e espiritual caminham em direções opostas, pois "quanto mais se avança espiritualmente, mais a gente se desprende das coisas materiais". O ex-materialista encontrou em Deus esse despojamenro.

COMPREENSIVO E HUMANO Garotinho passou a ler a Bíblia com outros olhos. Embora já conhecesse o Evangelho através das leituras diárias que fez durante anos para seu avô que não podia ler, foi somente após sua experiência com Deus que começou realmente a entendê-la "com o coração, e não somente pela leitura". Nas Escrituras, começou a descobrir a luta de um povo com o qual se identificou: "Desde o início, esse povo buscava a terra prometida, a justiça. Era um povo que queria respeito à lei e lutava pela liberdade; um povo que queria o fim da opressão e clamava por pão. A partir desse conhecimento, eu passei a ver a minha luta política como uma missão dentro de um caráter evangélico e social".

Chico Ferreira/ Editora Três
A mulher de Garotinho, Rosinha, afirma que,
depois de convertido, seu marido ficou mais humano,
compreensivo e confiante de que vale a pena viver

Aos 35 anos de idade e tendo em seu currículo um mandato de deputado estadual e a prefeitura de Campos, município do norte fluminense onde nasceu, Garotinho iniciou-se no rádio ainda bastante novo (daí a alcunha Garotinho, que incorporou ao nome). Aos 15 anos, já participava do movimento estudantil e foi eleito para a Assembléia Legislativa com 25 anos. Iniciou sua administração em Campos aos 27, e depois foi secretário de estado no governo Brizola. Segundo diz, sua trajetória foi como um meteoro, "fazia 300 mil coisas ao mesmo tempo". Sua esposa confirma que ele era muito agitado e "se atirava nas coisas de qualquer jeito", mas que depois que se converteu passou a ter um objetivo maior em sua vida, que o faz pensar e agir com mais equilíbrio. Rosinha acrescenta que Garotinho continua tendo as mesmas atividades de antes. "mas acreditando mais, com mais certeza de que a vida vai dar certo e de que vale a pena viver". Casada há 14 anos, ela diz que agora tem um marido mais compreensivo e humano. Garotinho está freqüentando a Comunidade Evangélica da Zona Sul, e, sempre que pode. realiza cultos domésticos.

Chico Ferreira/ Editora Três

O quase governador Anthony Garotinho vive em uma ampla casa numa sossegada rua do bairro do Cosme Velho, zona sul do Rio, cercada de verde por todos os lados. No térreo da Casa funcionam suas empresas, que fazem distribuição de produtos, edição de livros, jornais e publicidade, além de cuidar do seu programa Show do Garotinho, que vai ao ar pela Rádio Tupi. O programa é campeão de audiência no seu horário, atingindo, de acordo com as pesquisas, cerca de 400 mil ouvintes por minuto. Segundo Garotinho, o programa recebe cerca de 30 mil canas por mês. Os números elevados também estão presentes em sua vida pessoal: São sete filhos, sendo três adotivos. Garotinho está sempre cercado de pessoas, sejam empregados ou colaboradores. No entanto, apesar do espaço. não tem animais de estimação: "Só crio gente", diz, rindo.

E como ele avalia o governo de Marcello Alencar. que o derrotou no segundo turno? "Segundo penso, é muito mais fácil destruir do que construir. Ele venceu a eleição com o discurso de destruir o que havia sido feito no governo anteriorm como os Cieps e a Universidade do Norte Fluminense", dispara. Embora ressalte que torce, como cidadão do Rio de Janeiro, para que o atual governo acerte. E afirma, convicto: "Eu não preciso do fracasso dele para ser governador amanhã", sinalizando claramente que pretende ocupar o Palácio Guanabara a partir de 1999.

Para quem começou tão cedo na política, esperar mais três anos não deve ser tão difícil.



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