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terça-feira, 13 de fevereiro de 1996

A oração no pensamento de Walter Hilton

Por Reverendo Ricardo Barbosa de Souza

Carlos Fernandes

WALTER HILTON nasceu na terceira década do século 14, provavelmente em Yorkshire, Inglaterra, e morreu em 14 de março de 1396. Foi contemporâneo de João Wycliffe, o grande tradutor bíblico. Enquanto Wycliffe tornava-se um teólogo envolvido com questões de natureza política e civil, Hilton desenvolvia seu ministério, a princípio como leigo, ajudando grupos pequenos de pessoas. Não há nenhum indício de que tenha assumido alguma posição de destaque ou algum ministério mais público. Sua vida é praticamente desconhecida, a não ser pelos escritos e cartas que deixou, instruindo e orientando seus discípulos. Ele foi, como Evelyn Underhill apresenta, "uma destas figuras escondidas, destes amigos quietos e secretos de Deus, que nunca falharam com sua igreja".

Embora ele nunca tenha sido pastor de uma igreja local, todos os seus escritos têm um caráter pastoral e psicológico. O conteúdo dos seus escritos são bíblicos, cheios de sabedoria pastoral, penetrando nas questões mais profundas e secretas da alma humana. Um dos assuntos que marcam o pensamento de Walter Hilton é o da relação pessoal e íntima do homem com Deus. A oração, neste contexto, ocupa um espaço significativo nos seus escritos e cartas.

"Portanto, é verdade que a oração não é a causa da graça que o Senhor nos oferece, mas um canal através do qual a graça livremente flui para dentro da alma."

Para Hilton, a oração é, sobretudo, um caminho para a transformação da vida e compreensão da graça de Deus. Ele reage ao conceito mais comum da oração como sendo um instrumento de tornar conhecidas nossas necessidades diante de Deus. Ele afirma: "Oração é o meio mais proveitoso de se obter a pureza de coração, a erradicação do pecado e a receptividade das virtudes. Não devemos imaginar que o propósito da oração seja o de dizer a Deus o que precisamos, porque ele sabe muito bem quais são as nossas necessidades. Pelo contrário, o propósito da oração é o de nos tornar prontos e aptos para receber, como vasos limpos, a graça que nosso Senhor livremente nos dá".

Ele deixa claro que a pureza do coração não é uma condição para a graça de Deus, mas que o coração humano só experimenta de fato a graça quando é transformado e purificado pela experiência da oração. "Portanto, é verdade que a oração não é a causa da graça que o Senhor nos oferece, mas um canal através do qual a graça livremente flui para dentro da alma." A oração para Hilton é, em última análise, um encontro com a graça transformadora e perdoadora de Deus.

Diante disso, ele sugere que a oração não deve ser determinada pelos desejos momentâneos e circunstanciais do mundo. Pelo contrário, todo esforço deve ser orientado para que a nossa mente se desligue das coisas terrenas e perceba aquelas que são eternas. Isto não significa que a experiência da oração deva ser desconectada das realidades da vida, mas que seu foco não deve ser nós mesmos, nem as necessidades que o mundo nos impõe, mas Deus, Sua vontade e Seu reino.

Para Walter Hilton, o cristão deve procurar conhecer os desejos de sua alma para, a partir deles, definir a agenda de sua vida e da oração. Para ele, os desejos espirituais são definidos como "uma rejeição aos prazeres mundanos e carnais que residem no coração e um completo desejo pela alegria celeste e a eterna bênção da presença de Deus". Uma vez tendo estes desejos sinceramente definidos no coração, todo o nosso trabalho e toda a nossa oração devem começar e terminar neles. É neste sentido que o apóstolo Paulo fala em "buscar as coisas lá do alto" e "pensar nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra". Segundo o apóstolo, é lá que se encontra nossa vida em Cristo. É esta "vida oculta juntamente com Cristo" que devemos buscar no ato da oração. Desligar-se das coisas terrenas e mundanas e ligar-se nas eternas e celestes significa optar por aquilo que é próprio de Deus e colocar nele nossas paixões e desejos.

Infelizmente, para muitos cristãos modernos, a oração transformou-se num instrumento de conquistas, de demonstração de poder, de definir, a partir das realidades mundanas e circunstanciais da existência humana, a agenda da nossa súplica. É difícil mudar este hábito. Preferimos receber as dádivas materiais como sendo as bênçãos de Deus do que termos nossas mentes e corações transformados em Cristo. Os nossos desejos são determinados muito mais pela propaganda e pelas nossas carências do que por Deus e a esperança da comunhão eterna com ele. É aqui que Hilton contribui para com a igreja moderna. É preciso olhar mais uma vez para dentro e reconhecer quais são os desejos que nos consomem. Eles irão determinar a pauta e o significado de nossas orações.

Como afirma Walter Hilton, o propósito da oração é o de obter a pureza de coração, a erradicação do pecado e a receptividade das virtudes. Em outras palavras, oramos para alcançar a santidade na medida em que Deus converte nossos caminhos e pensamentos aos seus caminhos e pensamentos. É através da oração que somos confrontados com o nosso próprio pecado e transformados pela graça de Deus. James Houston afirma que "muitos cristãos não oram porque não querem ser transformados". Por último, a oração torna o nosso coração receptivo à compreensão e à vivência das virtudes cristãs. Humildade, obediência, amor e perdão são algumas das virtudes que só podem ser compreendidas e vividas num ambiente marcado pela oração. Num contexto de extrema competitividade e busca por realização a partir das conquistas materiais, Hilton traz uma enorme contribuição ao resgate da oração como instrumento de crucificação, amizade e santificação. Sem dúvida, o que mais necessitamos hoje é resgatar no caráter do cristão a busca por santidade, a luta contra o pecado e a manifestação do fruto do Espírito.


O reverendo Ricardo Barbosa de Souza é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília (DF).

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