Adolfo Cruz conta como fez uma entrevista exclusiva com Carmem Miranda
Adolfo Cruz

Em 50 anos de jornalismo, entrevistei artistas como Charlton Heston, Bob Hope, Tony Curtis, Kirk Douglas, Erro! Flyn, Maurice Chevalier, John Wayne, Natalie Wood e Gene Kelly. No entanto, jamais superei em repercussão a reportagem que fiz com Carmem Miranda, cantora da música popular brasileira e estrela de Hollywood. Tive oportunidade de entrevistá-la em sua bela casa em Bervely Hills, na Califórnia. Como repórter foi, sem dúvida, o momento mais significativo de minha carreira.
Chateada com uma reportagem publicada na extinta revista O Cruzeiro, Carmem Miranda não dava entrevistas há 14 anos à imprensa brasileira. Por isso, cheguei bastante receoso à casa de Carmem. Depois de ver toda aquela parafernália - um gravador daqueles enormes com transformador e tudo, bastante usado naqueles anos 50 - ela foi taxativa: "Pode desligar tudo; não dou mais entrevista para o Brasil." Deu o assunto por encerrado, enquanto eu desapareci na poltrona, murchei repentinamente. Num canto da sala, Carmem ficou pensativa, diante de um quadro.
Naqueles momentos de extremo desconforto, recorri a Deus. Com minha pequenina fé, aguardei. Carmem, então, veio em minha direção, bateu no meu ombro e disse: "Você volta feliz para o Brasil, se eu lhe der a entrevista?" "Claro", respondi imediatamente, já vibrando. Gravamos então quase meia hora de entrevista, com Carmem alegre e bem falante. Melhor resultado não poderia obter: a entrevista exclusiva foi um marco do programa Cinelándia Matinal, que apresentei por 26 anos na Rádio Nacional.
A entrevista em Beverly Hills foi também a última concedida por Carmem Miranda. Trinta dias após a morte da cantora, publiquei a entrevista na íntegra na revista Manchete. Na época, cedi até trechos da entrevista à Voz da América, serviço radiofônico norte-americano, em português. Também ofereci, várias vezes, partes da entrevista a diversas emissoras de rádio, sem cobrar um tostão. Até porque a entrevista foi um presente dos céus, de um valor que cada vez mais se fortalece histórica, emocional e espiritualmente. Foi a vitória de um profissional ainda jovem, em situação difícil.
Mas a bênção não parou por ali. Ainda hoje, 40 anos após a morte de Carmem Miranda, a entrevista exclusiva é lembrada com carinho. Agora mesmo recebi do Museu Carmem Miranda, no Rio, um bonito troféu. Nesse museu há uma réplica do escritório de Carmem Miranda, em Los Angeles e trechos da entrevista são exibidos aos visitantes.
Como não poderia deixar de ser, ainda sou grato a Deus por essa vitória. Não avaliamos como, ao longo de nossa existência, perdemos muitas oportunidades de exercitarmos nossa fé. Claro que, pelos anos a fora, minha fé tem se multiplicado, em diferentes momentos, quando fui respondido por Deus. A fé em Deus, em nosso salvador Jesus Cristo e no Espírito Santo, é muito importante. Conquistamos a paz, a despeito de nossas lutas e imperfeições e podemos sentir em sua plenitude o amor e a misericórdia infinita. Ainda estamos aprendendo a usar o poder da fé. Para o que crê tudo é possível. E sem fé, como diz Hebreus 11, versículo 6, é impossível agradar a Deus.

Extraído Entrevista. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 33, abr. 1996.