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terça-feira, 9 de abril de 1996

Pedradas no Banco Central

Por Emílio Garófalo Filho

Carlos Fernandes
As funções ingratas, mas necessárias,
do BC provocam a ira de muita gente

De uns tempos para cá, jogar pedras no Banco Central se transformou num dos esportes mais populares do Brasil. Seja pela prática de juros altos, pelo câmbio baixo, ou pelo excessivo lucro dos bancos e até mesmo pela quebra de algumas instituições. O BC é culpado quando não podemos comprar a prazo, ou quando encurtam os prazos de consórcios. Dia virá em que ouviremos dizer que a falta ou excesso de chuva, se não foi culpa do BC, pelo menos, foi desejada pelo banco. Pedra nele.

O Banco Central existe para cuidar da moeda, da estabilidade do sistema financeiro e das reservas internacionais. Não é de sua competência zelar pela agricultura, apoiar o comércio, incentivar a indústria, patrocinar o setor de serviços e, muito menos, investir em educação, saúde, infraestrutura etc. Não que sejam menos importantes que a moeda ou o sistema financeiro. Simplesmente, o BC não foi criado para esses fins. Para exercer sua missão, o Banco Central utiliza alguns instrumentos conhecidos:

1) Política monetária - Compreende a administração da taxa de juros e do prazo de colocação dos títulos emitidos pelo BC. O objetivo básico é controlar a quantidade de dinheiro em circulação. Isto porque, se esse dinheiro se multiplica demais, isto é, acima da taxa de crescimento dos produtos e serviços disponíveis, gera inflação. Lembre-se do cruzeiro, cruzado, cruzeiro novo, cruzeiro real etc.

Também pode-se incluir aí a política creditícia. Trata-se do controle de crédito ao consumidor, compulsórios, cartões de crédito, consórcios. O objetivo principal é evitar uma explosão do consumo. Lembremos novamente o cruzado: explosão de consumo, desabastecimento, importação alucinada e crise cambial.

2) Política cambial - Basicamente, é o controle da taxa de câmbio entre o real e as moedas estrangeiras. O valor dessas moedas não deve cair muito em relação à nossa, porque isso atrapalha ou inviabiliza as exportações. Também não pode subir muito, porque encarece produtos que o Brasil precisa importar, causando inflação. A eterna (e complexa) busca desse equilíbrio expõe o BC a críticas, ora de um lado, ora de outro.

Nesse âmbito, se destaca a política á capital estrangeiro. Estamos apelidando assim o conjunto de esforços para controlar o fluxo ao Brasil de capitais externos. Quando faltam, podem levar o país a uma crise cambial. Quando são abundantes, ou seja, há muita oferta de moeda estrangeira, a moeda nacional tende a ficar muito forte, prejudicando as exportações e ensejando a substituição de quase tudo por produtos estrangeiros. Para evitar isso, só se o BC comprar todo esse excesso, mas aí coloca muito dinheiro em circulação e volta ao problema da política monetária.

A administração desses remédios econômicos, como se vê, é muito complexa e, em países como o nosso, eles não têm bula. Nunca se sabe a dose ideal, nem os efeitos colaterais. São ruins, amargos, mas sem eles o paciente pode morrer. É pela sua obrigação de administrá-los e por sua complexidade que, freqüentemente, o BC é alvo de pedradas.


Emílio Garófalo Filho é bacharel em Economia pela PUC-SP e sócio-diretor da MCM Consultores Associados S. C. Ltda.


Extraído Moeda e Mercado. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 24, abr. 1996.

sexta-feira, 1 de março de 1996

Real vale mais que dólar?

Por Emilio Gargalo


Renato BittencourVArtware

O brasileiro vive uma situação curiosa e inédita ao ver que um dólar vale menos do que um real, esta moeda mágica, e pergunta-se como isto é possível, durável, razoável. Claro que é! Mas, veja bem, isto não significa que o real seja mais forte do que o dólar. Da mesma forma, com um único peso argentino pode-se comprar 1,5 mil libras italianas, sem que isto signifique que a moeda de nosso vizinho seja mais forte que a moeda do país de Pavarotti.

Vamos por partes (à moda de Jack, o estripadar): lembre-se de que um real é a nova versão dos antigos 2.750 cruzeiros reais. Que, por sua vez, já eram uma versão melhorada de 2.750.000 cruzeiros. Ou, 2.750.000.000 de cruzados. E assim sucessivamente. Ou seja, fizemos várias cirurgias plásticas na moeda nacional ao longo dos anos, mudando a forma de representá-la. O grande mérito do real está no fato de não se ter deteriorado ao longo do tempo, isto é, não perdeu valor em relação às outras moedas e, principalmente, manteve seu poder de compra dentro do Brasil. Isso porque o governo vem controlando a emissão de moeda e mantendo sob controle os seus próprios gastos. Emitir dinheiro sem controle faz com que ele perca o valor.

Quando alguém, brasileiro ou estrangeiro, troca seus dólares, seus ienes, seus pesos etc. por reais, não o faz porque um dólar corresponde a noventa e sete centavos de real. Faz porque gosta da rentabilidade do real, garantida pelos juros altos, e porque aposta na sua estabilidade, pelo menos a médio prazo.

Por isso, não se assuste se a relação vier a se inverter, isto é, se um dólar passar a comprar mais do que um real. O Brasil não tem um compromisso forte da relação um por um como, por exemplo, a Argentina, que fixou em lei esta paridade. O real poderá ser lentamente desvalorizado, se isto for necessário para manter nossas exportações. O investidor se assusta, na verdade, quando uma moeda se deteriora muito rapidamente, como acontecia com nossos cruzeiros e cruzados, ou se a rentabilidade for muito baixa, ou ainda se as reservas do pais forem baixas, indicando que ele pode vir a não receber o dinheiro investido.

Só para completar a história, já que citamos a Argentina, lembre-se de que na Ultima cirurgia da moeda feita por lá, quando transformaram os austrais em pesos, o valor da moeda foi dividido por 10 mil. Mas, diferentemente do Brasil, a paridade é um peso para um dólar. E é lei.


Emílio Gargalo é bacharel em Economia pela PUC-SP e sócio-diretor da MCM Consultores Associados S. C. Ltda.


Extraído Moeda e Mercado. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 24, mar. 1996.

Revista Vinde - Edição 3

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