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sábado, 30 de março de 1996

Nos passos de Jesus

O reverendo Caio Fábio lota um jumbo para Israel com 380 pessoas de todo o Brasil

Jorge Antonio Barros

Fotos de Jorge Antonio Barros, enviado especial a Israel, via d'Ávila Tours

Os 300 neoperegrinos se reuniram no anfiteatro de
Cesaréia, às margens do mar Mediterrâneo, para ouvir
a pregação do reverendo Caio Fábio

Era o inicio de mais um Shabat, o dia de descanso sagrado para os judeus, em 19 de janeiro chuva fina, o ônibus de neoperegrinos brasileiros era um dos poucos a circular pela estrada em direção a Jerusalém, a capital eterna de Israel. Quando esse veículo, o primeiro dos oito ônibus do grupo de 380 turistas brasileiros, entrou pela primeira vez na cidade de David, o silêncio foi magicamente quebrado por um velho hino evangélico, cantado pela voz bem afinada de uma das passageiras. "Jerusalém, Jerusalém", entoou a professora Rosângela Leite, de Barra do Pirai (RJ). O ônibus todo se comoveu num pranto. Era a emoção de estar na cidade santa, onde Jesus viveu, pregou, morreu e ressuscitou dentre os mortos. Não há cristão que agüente. Nem judeu, nem muçulmano, porque a cidade é santa também para eles.

Rosângela, solista do
primeiro ônibus a
entrar em Jerusalém

Para seguir os passos de Jesus em Israel, os 380 neoperegrinos se inscreveram no Seminário Conhecendo a Terra de Deus e o Deus da Terra, organizado pela agência de viagens d'Ávila Tours e liderado pelo reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, presidente da Associação Evangélica Brasileira. Em janeiro do próximo ano, o pastor Caio completa 20 anos de peregrinação na Terra Santa, 15 dos quais levando grupos de brasileiros a uma viagem através da História, pelas páginas da Bíblia. Dessa vez, Caio bateu seu próprio recorde: praticamente lotou um Jumbo da Alitalia, que levou o grupo de neoperegrinos a Tel Aviv, com escala em Roma. E o momento não poderia ser melhor: Jerusalém está completando 3 mil anos de fundação.

CIDADE DE DAVID - Situada nas Colinas da Judéia, Jerusalém é a capital de Israel, a sede do governo e o centro histórico e espiritual do povo judeu, desde que o Rei David a fez capital de seu reino, no ano 1000 a.C. Em Jerusalém, David reinou por 33 anos, o número da idade em que Jesus deu a sua vida pela humanidade, na cidade de David. Jerusalém permaneceu como capital da dinastia de David por 400 anos até ser tomada pelos babilônios. Assim como Jesus, Jerusalém também ressuscitou. E quando Ele voltar vai - segundo a fé judaica - passar pela Porta Dourada, uma das oito portas de Jerusalém.

No Ano 70 d.C., Jerusalém e o Segundo Templo foram destruídos por Tito, comandante das forças romanas que exterminaram um milhão de judeus. Do Templo restou o que os judeus chamam de Muro Ocidental, o Muro das Lamentações, que é dividido em dois lados - o feminino e o masculino. Ali são realizadas diariamente cerimônias de bar-mitzva, a iniciação judaica dos meninos, aos 13 anos. As idish mama (típicas mães judias) ficam do lado de fora da área masculina, jogando balas para saudar o debut. No final do Shabat, centenas de pessoas deixam o local, retomando as atividades paralisadas de maneira radical pelos ortodoxos. Dia de delícias para os judeus, o Shabat é como um martírio para os turistas cristãos, loucos para ver aberto o comércio e a vida voltar ao normal. Quem não respeita o Shabat está sujeito a ser apedrejado, se for pego, por exemplo, dirigindo pelas ruas do bairro judeu. No Muro Ocidental, um ortodoxo, Yehuda Steinmetz, chegou ao ponto de se negar a escrever seu nome para o repórter porque faltavam alguns minutos para o fim do Shabat. Novaiorquino radicado em Israel, Yehuda se aproximou do reverendo Caio Fábio para pregar-lhe a fé judaica. Mas acabou sendo pregado. "Obrigado pela aula de Bíblia", disse o ortodoxo, diante da fluência do pastor.

O cartão-postal de Jerusalém, com a mesquita da cúpula dourada, é uma espinha na garganta dos judeus porque está no monte Moriá, na area do antigo templo judaico

Um lote pela Terra Santa

Empregada doméstica vende terreno e telefone para viajar

Desde a infância Felipa
Vieira sonhava conhecer Israel

Desde a infância, dona Felipa Vieira Campos, de 56 anos, alimentava um sonho que - confessa - tinha pouquíssimas chances de realizar: conhecer o lugar onde Jesus nasceu, em Belém da Judéia. Filha de uma família muito pobre, dona Felipa sequer sabia que a Terra Santa ficava tão longe de Goiânia (GO), onde foi criada desde a adolescência. "Eu não sabia que Jerusalém ficava em Israel", confessa, com uma santa ingenuidade, um olhar puro e intraduzível, entre tantos peregrinos orgulhosos de sua sabedoria bíblica. Dona Felipa não estava nem aí para geografia bíblica. Mas, como poucos, bebeu sedenta as palavras de fé sobre a Terra Prometida, transmitidas pelo reverendo Caio Fábio.

Membro da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia desde a juventude, dona Felipa trabalha como empregada doméstica há 42 anos no mesmo serviço. Como poucos também, ela soube dar valor à realização do velho sonho de infância. Para conhecer Israel, abriu mão de alguns bens adquiridos ao longo de anos de trabalho duro. Vendeu um lote de terra e uma das duas linhas telefônicas. "Já tenho minha casa (um apartamento na área nobre de Goiânia), lote eu compro outro: eu vi que era essa a hora de realizar meu sonho", diz dona Felipa que contou até com o apoio da filha de criação, Jocelita, de 19 anos. "Vai mesmo, mãe; não deixa para outro dia, não", incentivou a moça.

Telespectadora assídua do programa Pare & Pense, dona Felipa sentiu o coração bater forte quando assistiu as primeiras chamadas para a viagem a Israel. Sem o hábito de tirar férias, ela decidiu então reunir as economias, tirar o primeiro passaporte da vida e partir para a viagem dos seus sonhos. "Muita gente duvidou que eu conseguisse", admite, agradecendo a Deus pela bênção. E Deus agradece a fé de dona Felipa.

Do Monte das Oliveiras, se avista um dos
oito portões de Jerusalém, o Dourado,
por onde o Messias vai passar

Aproveitando para fazer gravações para o programa Pare & Pense, o reverendo Caio Fábio fez explanações bíblicas em oito locais ao ar livre, durante os nove dias de viagem por Israel. Nas noites, após o jantar, o pastor também transmitia a Palavra no Hyatt Regency, um cinco estrelas onde o grupo se hospedou. Por duas noites, falou como convidado especial o reverendo Samuel Doctorian, libanês naturalizado americano e diretor da Missão Terra Bíblica, com sede nos Estados Unidos. "É uma alegria estar aqui com esse grupo", disse Doctorian que pregou em Tiberíades, onde o grupo ficou três dias, no hotel Jordan River, às margens do Mar da Galiléia, na região onde Jesus fez milagres à vontade.

Os meninos celebram seu bar-mitzva no que restou do Segundo Templo

GALILÉIA - Com 36 mil habitantes, Tiberíades é um animado centro turístico à beira do Mar da Galiléia ou lago de Genesaré ou ainda Kineret - o maior de água doce de Israel, com oito quilômetros de largura por 21 quilômetros de comprimento. Em Tiberíades, o grupo liderado pelo pastor Caio viveu momentos de grande emoção, navegando pelo Mar da Galiléia, onde Jesus caminhou sobre as águas (Mateus 14:22), ou assistindo o batismo de mais de 40 pessoas no Rio Jordão, onde Jesus foi batizado por João Batista (Marcos 1: 9-11). O Jordão percorre, de Norte a Sul, 300 quilômetros até desaguar no Mar Morto.

Antes de partir de Jerusalém, o reverendo Caio fez um apelo para que os peregrinos fossem Forno gente simples da Galiléia. A travessia do Mar da Galiléia se confirmou como um dos momentos de maior comunhão de todo o grupo. Dentro do barco Lido 4, com capacidade para 450 pessoas, os peregrinos assistiram ao casamento da jornalista e missionária da Igreja do Evangelho Quadrangular Selma Maranha com o empresário Carlos Roberto Maranha. Há nove anos, eles não puderam se casar como queriam, em Presidente Médici (RO), onde moram com os três filhos.

Lua-de-mel em grupo

Pastor leva noiva para a Terra Santa

O pastor Marcos e a mulher, Ivani,
jantando no hotel Hyott, em Jerusalém

Acredite se quiser, mas a viagem para Israel teve até peregrinos em lua-de-mel. Quem viu Marcos Antônio Alves José e Ivani Vitória rindo à toa não podia imaginar que eles tinham motivo de sobra para se divertir. Casados uma semana antes em Goiânia (GO) - onde Marcos é pastor da Igreja Cristã Evangélica de Campinas, de Goiás - os pombinhos embarcaram no dia 18 de janeiro, curtindo nada menos que o primeira lua-de-mel em grupo da história da igreja evangélica brasileira. Amigo do reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, o pastor Marcos, de 36 anos, contava que deixou muito irmão de queixo caído em suo cidade: "Eles me perguntavam se o pastor Caio faria meu casamento, mas eu disse que ele faria melhor: estaria comigo na lua-de-mel", brincava Marcos, um dos mais divertidos do grupo de 40 pastores de diversas denominações, que estiveram na viagem.

Pastor desde os 21 anos de idade, pela primeira vez em Israel, Marcos Antônio observa que a viagem serviu muito como crescimento espiritual dele e dos sete membros de sua igreja, que o acompanharam na lua-de-mel. "Aprendi muito com o sermão do pastor Caio no Monte das Bem-aventuranças e com o batismo no Rio Jordão", observou o pastor que tinha no ônibus momentos de descontração e muita brincadeira. Mesmo depois de pegar uma gripe violenta, era visto quase sempre rindo, com a mulher. Mas quem não ri com dias de alegria e acolhedoras noites de núpcias em hotéis cinco estrelas? "Sem querer, demos inveja em muita gente", brincou Marcos.

Quarenta pessoas foram batizadas
no Rio Jordão

Representando os casais a bordo, receberam oração especial os anciãos Halley Jansen, de 85 anos, e Nilza Garcia Jansen, de 75, exemplos de cônjuges há mais de meio século. Solteiros, como o guia-chefe Daniel Cardoso Filho, 43 anos, de Niterói, também foram alvos do clamor dos peregrinos. Bastante animado, o grupo cantou louvores a Deus e músicas típicas judaicas, dançando ao melhor estilo eslavo. O louvor foi dirigido pelo músico Marcos Salomão, um dos diretores da Vinde (Visão Nacional de Evangelização).

Vítor e David testam a alta
densidade das águas do Mar Morto

Em Cafarnaum, as ruínas da casa de Pedro lembraram piadas sobre a sogra do apóstolo-pescador. Mas foi em Tabgha, na região de Magadã, perto do Mar da Galiléia, onde Jesus multiplicou os pães e peixes, que ocorreu um dos maiores milagres da viagem: quase ninguém entrou na loja do mosteiro. O frisson que ocorria toda vez que os neoperegrinos avistavam alguma loja aberta era tanto que levou o dublê de guia Ciro D'Araújo a cultivar a seguinte pérola: "O amor às lojinhas é a raiz de todos os atrasos". No mercado da Via Dolorosa, em Jerusalém, cada um provou como pôde seus dotes mercantis.

Para a maioria dos peregrinos, no entanto, o seminário foi uma excelente oportunidade de conhecer melhor a Terra de Deus e o Deus da Terra. "Cada vez que venho há mais novidades, assim como a própria Bíblia", diz a dona de casa Célia Moraes Mota, da Igreja Presbiteriana de São Caetano do Sul, em São Paulo, em sua terceira viagem a Jerusalém. Há cinco anos levando grupos a Israel, a diretora e organizadora da viagem, Dilma d'Ávila Ribeiro, confessa que organizar excursões à Terra Santa dá mais trabalho do que se imagina, "Mas meu trabalho tem também um sentido missionário", admite.

'Romário', o profeta do riso

Locutor gospel conquista os peregrinos da d'Ávila Tours

'Romário' não precisava
de força para fazer rir

Numa manhã chuvosa do mês passado, os turistas estrangeiros que lotavam o acesso à Basílica do Santo Sepulcro - o local onde os cristãos greco-ortodoxos garantem que Jesus foi sepultado, em Jerusalém - se assustaram com uma figura curiosa que parecia ter saído das páginas da Bíblia, só que vestido como um adolescente dos anos 90. "Raça de víboras, por que procurai aqui o corpo de Jesus?; ele ressuscitou", bradava o jovem profeta, de boné e óculos escuros. Era mais uma das brincadeiras que transformaram o paulista Claudemir Campos, de 29 anos, no 'profeta do riso' da excursão. O reverendo Caio Fábio bem havia dito que todo grupo tem seus engraçadinhos. Mas Claudemir superou a si próprio. Sobretudo quando imitava com maestria o jogador 'Romário' que acabou lhe rendendo o apelido e o maior índice de popularidade da viagem.

Coordenador e apresentador gospel da rádio evangélica Expressão FM, de São Paulo, Claudemir se tornava ainda mais pitoresco por viajar ao lado de um senhor reservado, sempre metido num sobretudo preto. O que pouca gente sabia é que o tal senhor é o pastor de Claudemir, Paulo José da Silva, presidente da Igreja Monte das Oliveiras, uma denominação pentecostal com sede em São Paulo. Outra surpresa: com aquele jeito gaiato de ser, Claudemir é nada menos que vice-presidente da igreja. "Ninguém acredita, né?", indagava Claudemir, meio sem graça. Mas seu ministério não poderia ser outro, além da evangelização de jovens. "Vejo a rádio evangélica como uma estratégia de mídia, que precisa romper com a linguagem da igreja", teorizava Claudemir, nos poucos momentos em que falava sério.

O reverendo Caio celebrou o
casamento de Carlos e Selma
A travessia do Mar da Galiléia foi
um dos momentos mais emocionantes da viagem

Com mais de 40 carimbos de Israel nos passaportes, o pastor Caio observa que cada viagem é uma experiência inédita, garantida pela diversidade dos grupos. Esse último se distinguiu pelo equilíbrio entre o siso e o sorriso. Mais uma vez o seminário atraiu gente de todo o Brasil. Rio e São Paulo disputaram o primeiro lugar, com 100 pessoas cada, seguidos por Goiás (46), Minas Gerais (41) e Distrito Federal (20), entre outros estados.

De gente simples como a empregada doméstica Felipa Vieira Campos - que vendeu até bens para adquirir seu bilhete - ao quarto político mais votada do país, Francisco Rossi, que disputou o governo do Estado de São Paulo, a maioria dos peregrinos estava no mesmo espírito. A comunhão de classes na viagem foi evidente em histórias como a da bancária Flávia Meire da Silva, do Bradesco de Bauru que, sem saber, viajava no mesmo ônibus de um dos vice-presidentes do banco, o pastor Ageo Silva.

TENTAÇÃO NO DESERTO - Embora tivesse 90% de evangélicos, o grupo era formado também por quem confessa outras religiões. "Chorei muito ao conhecer Jerusalém; não tinha a menor idéia de que fosse tão bom assim", admitiu Marisa Aparecida Capriotti, de Mello, católica praticante, de São Paulo. Impressionado com tudo o que viu ouviu, o comerciante Clóvis Escarabelin, de São Paulo, confessou que está prestes a se converter. Bem-aventurados os que, para aumentar sua fé, podem ver os lugares por onde Jesus andou, pregou, curou e abençoou. Em Jerusalém, a descida do Monte das Oliveiras terminou no Jardim do Getsêmane, onde Jesus foi preso depois de traído por Judas. Bem perto dali está o pináculo, de onde Jesus foi tentado pelo diabo a se jogar ao chão.

Os neoperegrinos também foram tentados a reclamar. As primeiras eleições palestinas, que confirmaram Yasser Arafat como o líder da Autoridade Palestina, no dia 20 de janeiro, prejudicaram um pouco a excursão. Como o dia foi marcado por tensão e conflitos entre árabes e judeus, no setor palestino, foi suspensa a ida 3 Igreja de Cristo, na Porta de Jaffa, na cidade velha. Mesmo assim foi possível conhecer, no setor palestino, Belém e Jericó.

Sete vidas em Israel

Aposentada retorna sempre que pode

Obédia: só falta conhecer o túmulo
dos patriarcas em Hebron

Filha de uma família com nada menos que 17 irmãos, a professora aposentada Obédia Dantas de Moraes, de 55 anos, nunca imaginou que viajasse além de Brasília para onde foi, ainda jovem, em busca de uma vida melhor. Nascida e criada num lar evangélico em Mossoró, no Rio Grande do Norte, ela levava uma vida comum até o dia em que decidiu buscar mais a presença de Deus. Em 1970, numa vigília em Brasília, Obédia recebeu de um jovem seminarista a mensagem de Deus que iria mudar sua vida. "O Espírito Santo me revelou que a irmã vai fazer uma longa viagem em vários países do mundo. E um plano de Deus para você; muitos serão abençoados e Deus será glorificado através do que Ele vai realizar na sua vida", afirmou José Sales, hoje pastor batista em Florianópolis (SC).

"Onde e quando?", indagou Obédia, curiosa. A resposta só veio 10 anos depois. Obédia confessa que já havia até esquecido a profecia, quando foi a primeira pessoa a se inscrever para participar do 14° Congresso da Aliança Batista Mundial, em Toronto, no Canadá. Em junho de 1980 embarcava para oito países. "Achei tudo maravilhoso, mas só Israel ficou no meu coração", lembra Obédia. E como ficou. Dezesseis anos depois, ela acaba de voltar à Terra Santa pela sétima vez e pela primeira com o grupo do reverendo Caio Fábio. "Essa foi uma das viagens mais equilibradas que já fiz a Israel: cultura, turismo e poder de Deus", testemunha Obédia que ainda não terminou sua peregrinação. Pretende voltar o mais breve possível. O momento mais emocionante nessas sete viagens - que já lhe renderam até o livro Tu és fiel, Senhor - ocorreu em 1990: Obédia foi batizada com o Espírito Santo no Cenáculo, onde foi realizada a última ceia de Cristo, em Jerusalém, no dia e hora do Pentecostes, a experiência espiritual que mudou a vida dos apóstolos.

De Jericó, se avista o Mosteiro de
São Jorge, no Monte da Tentação
Uma volta de camelo, em Jericó,
custa um dólar, que equivale a 3
shekels, a moeda israelense

Para entrar em Jericó, a caravana enfrentou alguma resistência por parte de soldados, alegando problemas de segurança. Mas o reverendo Samuel Doctorian levou a caravana a outro acesso, o grupo orou e passou pela barreira. De Jericó se avista o Mosteiro de São Jorge, construído pelos greco-ortodoxos no século V, no deserto da Judéia, próximo ao Monte da Tentação. Ali Jesus foi tentado pelo diabo depois de jejuar por 40 dias e 40 noites (Lucas 4, Marcos 1, Mateus 4). Na região existe hoje um restaurante chamado Tentação, onde se desfruta de boa cozinha árabe.

No deserto da Judéia, por onde João Batista pregava quando não comia gafanhotos, os neoperegrinos conheceram Qunrã, onde foram descobertos em 1947 os vestígios de uma comunidade de judeus essênios e os rolos sagrados que contêm a mais antiga cópia existente do livro de Isaías em hebraico e ainda legível. Depois da pregação do pastor Caio, pausa para um banho no Mar Morto, o ponto mais baixo do planeta, a 398 metros do nível do mar. É uma praia feita sob encomenda para quem não sabe nadar: é difícil mergulhar porque as suas águas têm o mais alto grau de sanilidade e densidade do mundo.

Mais de 200 peregrinos ajudaram a reflorestar Jerusalém plantando árvores.
A notícia saiu no Jerusalem Post

Jerusalém três vezes santa

Um ano após a fundação do Estado de Israel, ocorrida em 1948, Jerusalém foi dividida em duas partes, por muros de concreto e arame farpado, em conseqüência da reação dos vizinhos árabes. Durante 19 anos, a parte oriental foi anexada à Jordânia e a ocidental a Israel. Em 1967, Jerusalém foi reunificada com a vitória na Guerra dos Seis Dias e seus portões foram abertos a todas as religiões. E hoje a maior cidade de Israel, com cerca de 600 mil habitantes, e apresenta todos os estilos de vida e de religião. Em seu terceiro milênio, Jerusalém vive a excentricidade de ser uma cidade santa três vezes - para os judeus, muçulmanos e cristãos. Na Antigüidade, a cidade não tinha mais do que 50 mil habitantes, no máximo 250 mil durante as festividades. Do total de habitantes hoje, 406 mil são judeus, 146 mil são muçulmanos e apenas 15 mil são cristãos, sobretudo Breco-ortodoxos. A maior parte dos cristãos que vivem em Jerusalém descende de centenárias comunidades cristãs do período bizantino.

Os judeus foram proibidos de entrar em Jerusalém, exceto num só dia do ano, quando podiam chorar a destruição do templo. A cidade depois ficou quatro séculos sob o domínio árabe, de 636 a 1099, quando foi resgatada para a cristandade pelos cruzados. A Terra Santa esteve ainda sob o domínio mameluco e, em seguida, otomano. Em 1917, as forças britânicas entraram em Jerusalém, derrotando o império otomano. Por todo esse período, Jerusalém nunca foi capital daqueles domínios.

A Via Dolorosa e suas 14 estações
levam ao Calvário de Jesus
Do Segundo Templo, em maquete, só
restou o Muro Ocidental, também
conhecido como o das Lamentações,
o local mais sagrado para os judeus
Junto à fonte de Harode, Gideõo separou
seus 300 homens para lutar contra os midianitas

Israel tem 3.500 sítios arqueológicos que contam milhares de anos de história do povo judeu. Alguns dos manuscritos do Mar Morto foram vistos pelo grupo no Santuário do Livro, no Museu de Israel. Foi visitado também o museu Iad Vashem, um centro de pesquisa e documentação do holocausto, o extermínio de seis milhões de judeus pelo nazismo. Além dos museus, o grupo conheceu os belíssimos vitrais de Marc Chagal, na sinagoga do Hospital Hadassa, em Jerusalém, e mais de 200 peregrinos deixaram sua marca em Israel: plantaram uma árvore e viraram, com o pastor Caio, notícia do Jerusalém Post.

HISTÓRIA VIVA - Jerusalém é um museu histórico ao vivo. Ao final do século IV, com a conversão do imperador Constantino ao cristianismo (313), a mãe dele, Helena, determinou a construção de igrejas nos lugares santos cristãos de Jerusalém, Belém e Galiléia, e mosteiros foram fundados em muitas partes do país. A basílica do Santo Sepulcro - onde a maioria das tradições cristãs crêem que Jesus foi sepultado - foi a primeira dessas construções. Os direitos de custódia das várias igrejas cristãs sobre os lugares santos de Jerusalém foram definidos durante o século XIX e ainda hoje são respeitados. De onde Jesus subiu aos céus, existe hoje a Capela da Ascensão; onde Pedro negou a Jesus existe hoje a Igreja de São Pedro do Galicantu, em Jerusalém.

O túmulo de Jesus, no Jardim
da Tumba, é um local especialmente
reverenciado pelos evangélicos

Os evangélicos, em geral, valorizam mesmo é a Jerusalém celestial. Isso ficou claro na Basílica da Anunciação, em Nazaré, onde Jesus viveu até os 30 anos, a 131 quilômetros de Jerusalém. Diante de tanta imagem de Maria, na igreja de Nazaré, alguém do grupo soltou um "tá amarrado" que, no jargão evangélico, significa "esconjuro". "A anunciação é de Jesus, mas a glória fica para Maria, né?", protestou a professora universitária Denise Nascimento, de Belo Horizonte. Protestos à parte, ninguém deixou de visitar a igreja de Caná da Galiléia, onde Jesus realizou seu primeiro milagre - a água virou vinho.

Livres dos monumentos construídos por mãos de homem, os peregrinos descobriram a força de lugares como o Monte das Bem-aventuranças, na Galiléia, onde Jesus fez o famoso sermão da montanha. Ali, o reverendo Caio Fábio convidou os 20 pastores a orarem pelos que buscam as bem-aventuranças, as maneiras mais simples de se alcançar a felicidade.

Um dos momentos de maior devoção, no entanto, foi a santa ceia - a comunhão do pão e do cálice - no lugar que os evangélicos preservam como sendo o da ressurreição de Jesus, o Jardim da Tumba. "Foi o que mais me emocionou nessa viagem; ali tive a sensação gostosa de uma saudade não doída de Jesus", disse Rosângela, a solista do ônibus. "Chorei, mas de felicidade por saber que um dia O verei face a face", afirmou.

No dia seguinte, livre, um grupo foi a Massadas e o outro visitou Emaús. Massadas foi a fortaleza que serviu de refúgio à última resistência judaica ao cerco dos romanos. No ano de 73 a. C. cerca de 1 mil judeus, homens, mulheres e crianças, se mataram para não se entregarem vivos ao inimigo. Foi aí que o diretor jurídico da Vinde, Ernan Andrada, trocou as bolas. Andrada disse que preferiu conhecer Emaús para relembrar uma velha canção cristã: "Fica comigo esta noite e não se arrependerás". Na verdade, ele queria dizer "Fica, Senhor; já se faz tarde". A história já entrou para o anedotário cristão.

No Monte das Bem-aventuranças, em Tiberíades, o reverendo Caio Fábio reuniu os 20 pastores
que participaram da viagem para orarem juntos pelos peregrinos


Extraído Terra Santa. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 12-20, mar. 1996.

Revista Vinde - Edição 3

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