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segunda-feira, 18 de março de 1996

Seguro nas mãos de Deus

Francisco Rossi mostra como viver a fé na política

Texto e fotos de Jorge Antonio Barros, de Jerusalém

Ex-prefeito de Osasco, Rossi revelou
que vai se candidatar à Prefeitura de São Paulo

FRANCISCO ROSSI sempre teve a fala mansa, mas o coração era mais duro do que pedra de tropeço. Depois de ter feito sucesso em 1976, com a gravação de Segura na mão de Deus - um dos maiores hits evangélicos de todos os tempos Rossi levou 17 anos para aceitar a Palavra de Deus e, enfim, se converter aos caminhos de Cristo. Compositor, prefeito de Osasco (SP) duas vezes e deputado federal outras duas, Rossi admite que jamais havia sido eleito com tamanha alegria para o cargo que lhe garante mandato eterno: cidadão do Reino de Deus. A melhor eleição da vida dele ocorreu em 1993 e foi mais fácil do que eleger síndico: "Angustiado, liguei para um missionário e perguntei: dá para aceitar Jesus pelo telefone? Depois disso, minha vida mudou completamente", testemunha. Em entrevista a VINDE, no saguão do Hyatt Hotel em Jerusalém, Francisco Rossi de Almeida, 55 anos, revelou que pretende se candidatar este ano à prefeitura de São Paulo, pelo PDT. Rossi viajou no mês passado - a Israel e à Turquia, no grupo liderado pelo reverendo Caio Fábio.

Para quem lhe acusa de oportunismo eleitoral, Rossi responde com um testemunho vibrante das maravilhas que Deus tem feito em sua vida. Em setembro do ano passado, ele foi batizado com o Espírito Santo - a experiência de renovação espiritual - num congresso latino-americano de políticos evangélicos, em Miami, nos Estados Unidos. "Não acreditava no batismo com o Espírito Santo; tinha dúvidas sobre os dons de línguas (estranhas), achava que poderia ser auto-sugestão; mas agora experimentei que é real", garante Rossi, que se diz convicto de ter retomado a carreira política também com a finalidade de pregar o Evangelho.

O político paulista: "Não quero fazer da fé uma oportunidade de mais votos"

Seu retorno à política ocorreu na última eleição para o governo do Estado de São Paulo, quando disputou no segundo turno com Mário Covas, o atual governador. A performance eleitoral de Rossi significou um verdadeiro milagre para o PDT de Brizola que, em São Paulo, nunca havia ido tio longe numa eleição. No segundo turno da eleição para o Palácio dos Bandeirantes, Rossi conquistou 7 milhões de votos, 44% dos votos válidos. Foi, portanto, o quarto político mais votado do país, depois de Fernando Henrique, Lula e Mário Covas, seu adversário em São Paulo. "Não estava preparado para ser eleito, mas hoje o PDT existe em São Paulo", orgulha-se Rossi, que contraditoriamente esteve em lado oposto ao de Brizola, durante os idos de 64.

Na época do golpe militar, Rossi participava do movimento estudantil, mas em oposição aos partidos de esquerda. Vinte e dois anos depois, curiosamente, acabou sendo apoiado pelos mesmos partidos de esquerda para ser eleito deputado federal constituinte, pelo PTB, em 1986. Sua base eleitoral, formada por sindicalistas de Osasco - onde foi realizada a primeira greve de metalúrgicos do regime militar, em 1968 - o levou a uma posição considerada progressista na Assembléia Constituinte. Por isso, conquistou nota 10 na avaliação do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), entidade não governamental que fiscalizou a atuação dos parlamentares em relação aos interesses dos trabalhadores.

Entre o pastor Ageu e o amigo Aymoré,
Rossi se emocionou ao orar no
Muro das Lamentações, em Jerusalém

Apesar da realização profissional, Rossi admite que, aos 52. anos, era um homem vazio e sem paz. Tinha uma religião (participava de uma seita oriental cujo nome preferiu não revelar) que o levou até o Japão em busca de mais conhecimentos. Apesar da bela família formada por três filhos, vivia um casamento de aparências, que estava prestes a chegar ao fim -depois de 28 anos. Depois de escapar de morrer num envenenamento acidental, por arsênico, ele decidiu gravar o disco Segura na Mão de Deus, que lhe garantiu o Disco de Ouro, com mais de 500 mil cópias 'vendidas. O disco foi resultado de uma promessa, como gratidão à cura. Quando convalescia no hospital, acordou certa madrugada com um grupo orando e louvando a Deus, ao pé de sua cama. Depois de curado, se afastou dos crentes.

"Em 93, estava no fundo do poço, quando apareceu um empresário Dino Dibella, dizendo-se missionário; ele insistiu muito para falar comigo e, por fim, cedi", lembra Rossi. Mas novamente fez ouvido de mercador. Precisou passar por mais uma moenda, até que ligasse, desesperado, para o mesmo missionário: "Dá para aceitar a Jesus por telefone?" O missionário disse, chorando: "É claro! É pra já!" Depois de sua conversão, Rossi conta que o primeiro sinal de Deus em sua vida foi o resgate de seu casamento. "Estavámos a ponto de nos separar, mas Deus fez um milagre", conta Rossi, paulista de Caçapava, criado em Osasco, na Grande São Paulo.

Independentemente do partido, Rossi sempre deu duro na política. Quando retornar de sua viagem ao exterior, no início deste mês, Rossi vai arregaçar as mangas e começar a trabalhar por sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Na eleição para o governo do Estado, Rossi calcula ter recebido boa parte dos cerca de 3 milhões de votos dos evangélicos de São Paulo. Mas garante não ter trabalhado espeficicamente para isso. Membro da igreja de Vila Iara, Rossi conta ter sido procurado por líderes da Igreja Universal do Reino de Deus, em São Paulo, que lhe prometeram apoio político. "Na hora H, apoiaram o Covas por causa do Fernando Henrique", diz Rossi, com uma ponta de ressentimento.

Prejuízos maiores têm lhe causado os escândalos nos quais aparecem envolvidos integrantes da cúpula da Universal. "Como político e evangélico, me sinto muito prejudicado por esses escândalos; minha mãe, D. Mercedes, católica praticante, estava prestes a se converter ao Evangelho quando ficou muito revoltada com o chute dado na imagem de Nossa Senhora, por um bispo da Universal", lembra Rossi.

A conversão restaurou o casamento
com Ana Maria, que o acompanhou a Israel

Apesar dos contratempos, Rossi conta que tem se dedicado bastante à pregação do Evangelho e à oração por pessoas doentes. Seu testemunho de vida tem servido para que outros colegas de partido sejam alcançados por Deus. Um deles é seu primo, o deputado federal Fernando Zuppo (PDT-SP), recém-convertido. O pai de Zuppo e tio de Rossi, Fernando, aceitou Jesus exatamente 15 minutos antes de morrer, num hospital em São Paulo. Rossi foi especialmente ao hospital depois de jejuar por 24 horas, em intenção da conversão do tio, homem de dura cerviz. Quando chegou ao hospital, o tio estava em coma. Rossi, então, clamou a Deus para que lhe desse mais uma chance. Logo depois, o tio saiu de coma, ouviu a Palavra de Deus e entregou sua vida a Jesus. Quinze minutos depois tio Fernando partiu dessa para melhor.

Assim como sua carreira política, Rossi tem aprendido a colocar seus planos diante de Deus. Convidado pelo pastor de sua igreja, Ageu Silva, para fazer a viagem à Terra Santa, Rossi diz que pediu confirmação a Deus, antes de arrumar as malas. Acompanhado da mulher, Ana Maria, Rossi se emocionou bastante em vários momentos de sua peregrinação pelos locais por onde Jesus passou. Com fervor, participou da ceia (o sacramento da comunhão) no Jardim da Tumba. No Muro das Lamentações, orou pela paz em Jerusalém, ao lado do amigo Aymoré de Mello Dias, presidente do Instituto de Previdência do Município de Osasco, católico, que defendeu uma virtude do político Rossi: "Com 28 anos de vida pública, ele tem experiência para não fazer carreira política em cima de religião." De fato, Rossi demonstra estar consciente de que é melhor ser um político com uma experiência de conversão do que um convertido se aventurando na política. "Não quero fazer da igreja ou da fé uma oportunidade de mais votos", afirma Rossi que prefere ser mais conhecido como político do que como evangélico. Ele admite, porém, que durante a campanha para o governo de São Paulo enfrentou perseguições por causa de sua fé. "Era acusado apenas por exibir a Bíblia", lembra.


Extraído Opinião. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 56-58, mar. 1996.

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