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sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

Deus é juiz, mas será que apita o jogo?

Atletas de Cristo enfrentam o dilema de orar ou não pela vitória em campo

Por Carlos Fernandes

Após a final da Copa, nos Estados Unidos os jogadores da Seleção Brasileira se reuniram
no meio do campo, num só espírito, e agradeceram a Deus a vitória contra a Itália

Quando o juiz apita e a bola começa a rolar, são 11 contra 11, certo? Nem sempre. No futebol, assim como em tantas outras atividades, cada um leva consigo a sua fé, a sua superstição, a sua esperança. Ninguém quer entrar em campo sozinho. Cada um procura urna fininha extra. Já se disse até que se macumba ganhasse jogo, o campeonato baiano terminaria sempre empatado. Exageros à parte, a verdade é que, quando o assunto é futebol, cada um se garante como pode. Tem jogador que se benze, outros beijam medalhinha, alguns acendem velas e até mesmo aqueles mais céticos de vez em quando se pegam com alguma coisa, digamos, sobrenatural. Todos os caminhos levam ao gol; é o vale-tudo pela vitória.

Mas quando o jogador é servo do Senhor, como é que fica? É lícito orar a Deus, pedindo a vitória para seu time ou Ele não se envolve em jogo? A bola é igual para todos ou procura mais os pés de quem busca ao Senhor? Na campanha do tetra, os Atletas de Cristo que integravam a seleção brasileira usaram e abusaram da oração na decisão contra a Itália. Quem não se lembra do Jorginho clamando a Deus no grande círculo durante a disputa de pênaltis? Ou do gesto histórico de Taffarel apontando para o alto depois que Roberto Baggio, budista, deu o título ao Brasil, chutando sua cobrança para fora?

A verdade é que os crentes, quando entram em campo, não dispensam a oração. Sérgio Manoel, ponta-esquerda do Botafogo, convertido há dois anos, diz que a concentração não é completa se Deus não estiver atuando, e que até mesmo no intervalo dos jogos já ouviu sua voz. Quanto a orar pedindo a vitória, ele assegura que só ora para que "seja feita a vontade de Deus". O lateral Cássio, do Fluminense, diz que, se uma vitória vier a glorificar o nome de Jesus, ele a concede. Apesar de seu time não ter sido considerado um dos favoritos ao título do atual campeonato brasileiro, venceu o primeiro turno e já está nas semifinais. Cássio confessa: "No fundo do coração, pedi a Deus que a classificação viesse para nós". E lá vai o Flu disputar o título.

Fábio, Cássio, Sérgio Manuel, pastor Zick e Tinho
participam da reunião dos Atletas de Cristo

Embora os jogadores cristãos sejam um pouco reticentes em admitir que oram a Deus para ganhar jogos, alguns acham que têm o direito de clamar pela vitória. Ivan, ex-zagueiro do Vasco, que também atuou pelo Santa Cruz e pelo Náutico de Recife, já orou dessa maneira. E relata o caso de uma semifinal entre Vasco e Botafogo, que naquela época contava com Baltazar, servo do Senhor como ele: "A imprensa divulgou o jogo como o confronto entre o artilheiro e o zagueiro de Deus", lembra: E nessa situação, quem foi abençoado com a vitória? "Não sei o motivo, mas dessa vez Deus atendeu a minha oração e o Vasco venceu por 2 a 1". Opinião diferente tem Amauri Knevitz, que durante 15 anos atuou como zagueiro do Inter-RS, Atlético-PR, Vitória-BA e outros clubes. Para ele, o atleta cristão não tem o direito de pedir a vitória. Por isso nunca orou assim. Ele acredita na dedicação do atleta, na sua preparação adequada, e somente depois de atendidas essas necessidades é licito rogar a Deus, mas "para que Ele aja segundo o seu propósito". Knevitz dá uma meia trava no atleta que apela para a oração: "Deus é amor, e pode abençoar determinadas situações, mas nem sempre o que pedimos é da sua vontade".

Pedir que a vontade de Deus seja feita parece ser a oração que todo jogador crente faz antes de pisar o gramado. Mas, por trás desse jargão evangélico, se esconde o desejo de cada coração: a vitória de seu time.

E há quem ore, pedindo que Deus afaste a bola de si: o goleiro. Afinal, não é fácil ocupar a ingrata posição que o folclore do futebol consagrou como aquela onde nem grama nasce. É preciso orar com um olho fechado e o outro aberto. E rogar para que na sua rede não caiam peixes. Trata-se da verdadeira antítese de Pedro. O goleiro Fábio Mala, do América do Rio, não sabe até que ponto é cerro ou errado pedir a vitória em oração, e prefere orar para que, independente do resultado, não saia de campo frustrado. No caso de confronto com um irmão em Cristo, Fábio acredita que nesse caso Deus abençoa os dois, mas dá a vitória àquele que der mais glória e honra ao Seu nome. Contudo, reconhece que já saiu de campo frustrado com Deus, após um jogo perdido devido a uma falha sua. "Mais tarde, o Senhor me fez entender que precisava mexer comigo para mostrar certas coisas, pois eu estava muito sapato alto, precisava cair um pouquinho". Essa é uma prova de que, Fábio (Américo do Rio) oro só para não ficar Frustrado além de mulas, Deus também pode usar frangos para falar aos seus servos.

Fábio (América do Rio) ora só para
não ficar frustado

Vinícius, do Bangu, goleiro convertido há quatro anos, ora para que seja bem-sucedido e não haja contusões, além de que - adivinhe - seja feita a vontade de Deus, é claro! Para ele, Jesus, além de mestre, também pode ser técnico: em uma excursão ao México, foi colocado no banco e não vacilou - rogou que Deus fizesse justiça e ele entrasse em campo. Não deu outra: entrou no segundo tempo, seu time ainda virou o jogo e saiu com a vitória!

Para Alex Dias Ribeiro, diretor executivo do grupo Atletas de Cristo, Deus é capaz de intervir no resultado de uma partida para influir na história de seus filhos, mas ressalta que os critérios pertencem a Ele. "'Deus não é tolo de entrar em um resultado por uma questão fútil". comenta. F. acrescenta, bem-humorado: "O atleta cristão não deve orar para vencer, pois se Deus é por nós, quem será contra nós? Seria até covardia!"

Afinal, a oração ganha jogo ou não? Não sabemos se Deus de vez em quando calça chuteiras e dá uma força aos seus filhos dentro das quatro linhas. Mas em uma coisa todos eles concordam: é muito melhor entrar em campo com Ele.



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