Swaggart não toca no passado, mas diz ter superado o tempo de "humilhação, dor e sofrimento"
Jorge Antonio Barros e Marcelo Dutra

Um dos maiores televangelistas do século, cujo trabalho missionário alcança hoje 46 países, incluindo a antiga cortina de ferro — onde o Evangelho jamais havia entrado — o pastor norte-americano Jimmy Swaggart refaz seu ministério após um tempo de "humilhação, dor e sofrimento", como ele mesmo define. Embora tenha confessado publicamente o pecado de adultério, em 1988, Swaggart não se submeteu à disciplina imposta pela Assembléia de Deus de Baton Rouge, em Louisiana, nos Estados Unidos. Fundou sua própria igreja, o Centro de Adoração Familiar, depois de se recolher por um ano.
Após o escândalo, ele retorna às cruzadas evangelísticas de massa no Brasil, onde seu programa de televisão deverá voltar ao ar este ano. Com a experiência adquirida em décadas de pregação ao redor do mundo, Swaggart adverte com veemência que, após a derrocada do comunismo, já existe um novo obstáculo à expansão do Evangelho: o crescimento do islamismo. No entanto, ele se anima com a revelação que diz ter recebido de Deus: a abertura da nação mais populosa do mundo - a China comunista - ao cristinianismo.
Casado há 43 anos com Francis, que esteve ao seu lado o tempo todo, Swaggart só não fala no seu próprio passado. O drama de ter praticado adultério e confessado publicamente virou um assunto proibido. Não tocar neste tema foi a condição imposta por assessores no Brasil para que Swaggart desse a seguinte entrevista exclusiva à revista VINDE:
Como o senhor tem visto os últimos conflitos no Oriente Médio?
Toda a expectativa em torno do primeiro-ministro Yitzhak Rabin nos trouxe muitas esperanças com relação às negociações de paz entre israelenses e palestinos. Ao mesmo tempo, eu me sentia temeroso com a possibilidade de uma conspiração para afastá-lo de seus objetivos pacifistas. Agora, após sua morte, tornamos a reconhecer o fato de que não devemos nos iludir, pensando que a paz em Israel será estabelecida por um homem.
O que a Bíblia nos fala a respeito?
A Bíblia é muito clara quanto aos acontecimentos no cenário político mundial. Pelo que sabemos, Israel continuará a conviver com conflitos, atentados, conspirações e guerras. A Bíblia também mostra que apenas após o reconhecimento oficial, por parte da nação de Israel, de que Jesus é o Messias, o filho que Deus enviou para nos salvar, é que a paz será possível naquele país. Quando Israel se submeter ao completo senhorio de Cristo é que Deus poderá intervir nas questões militares e diplomáticas.
O que o senhor acha da política externa do presidente americano Bill Clinton?
Sei que o presidente americano é duramente criticado por sua postura diante do comportamento das demais nações, por suas atitudes e estratégias. Contudo, vamos reconhecer que os Estados Unidos, como nação evangélica, devem influenciar o mundo. Somos uma nação poderosa e desenvolvida porque nossos pais foram tementes a Deus e hoje desfrutamos das bênçãos do legado de fé e serviço ao Senhor. Então, biblicamente, temos uma responsabilidade muito grande diante de Deus para com o mundo em que vivemos. Sempre que possível, devemos ajudar, promover a paz ou agir com justiça. Aquele a quem muito é dado, muito lhe será cobrado. Por isso, devemos assumir nossas responsabilidades e trabalhar para o bem-estar comum.

Meu retorno se deu após uma fase de muita humilhação, dor e sofrimento. Deus me levantou e me fez saber o tempo de começar de novo a pregar o Evangelho.
Como está a igreja evangélica brasileira?
Sinto muito, mas eu não me sinto capacitado para fazer uma avaliação segura sobre esse tema. Este é um país muito grande, a igreja evangélica aqui possui milhões de membros e continua em franco crescimento. Porém, é só o que eu sei. Não estou inteirado sobre questões doutrinárias e comportamentais das diversas denominações evangélicas. Mas uma coisa percebo: a igreja evangélica no Brasil é uma das mais fortes do mundo. E é uma grande organização, que cresce e se impõe a cada dia.
O senhor tem acompanhado o crescimento do movimento pentecostal na igreja evangélica brasileira nesses últimos dez anos?
Realmente, é um movimento que cresce de modo muito veloz. Eu diria até que é no Brasil que se tem detectado um crescimento mais forte do pentecostalismo em todo o mundo. Temos uma experiência muito grande em televisão aqui porque mantivemos por sete anos um programa de TV. A receptividade foi muito grande. E, visitando esta nação, fui percebendo uma sede e uma fome muito grande por Deus. As pessoas estão buscando Deus com muita intensidade. Uma outra grande evidência do derramar do Espírito Santo é a convivência pacífica em uma mesma igreja de etnias tão diferentes: são negros, brancos e amarelos vivendo como irmãos. Eu admiro e gosto muito de ver isso. Creio que esse amor a Deus e essa ausência de segregação são itens importantes que levam o Brasil a liderar o avanço do movimento pentecostal no mundo.
Quando o senhor planeja retornar ao Brasil?
Antes de tudo, tenho que considerar que sou um evangelista ocupado em levar a mensagem de Deus para todo o mundo. Sendo assim, deverei cumprir vários compromissos já agendados com outros países, antes de retornar. A propósito, estou seguindo rumo à África para urna grande concentração e depois estarei nas Filipinas em uma cruzada de evangelização. Mas, é claro, assim que cumprir os compromissos com esses e outros países, estarei breve retornando. Eu sinto no Brasil uma força e uma fé muito grande. Em relação aos demais países, é uma nação muito promissora no que diz respeito às missões. Além disso, o povo daqui é muito caloroso e hospitaleiro. Eu me sinto muito bem no Brasil.
Quais os países em que o senhor tem visto uma resistência maior à pregação do Evangelho?
Nos países muçulmanos há uma grande oposição à mensagem do Evangelho. Mas nas demais nações as pessoas têm respondido de modo muito positivo à pregação da palavra de Deus e à unção do Espírito Santo.
Em sua opinião, qual o maior desafio para a igreja evangélica em nossos dias?
Eu diria que continua sendo o mesmo desafio lançado por Jesus Cristo há dois mil anos: cumprir a convocação para a pregação do Evangelho. A ordenança é ainda a mesma. O grande desafio é e será o que encontramos na Palavra de Deus: "Ide por todo o mundo e pregai o meu Evangelho a toda a criatura". Sei que existem muitos outros desafios, mas nossa preocupação básica deve ser a de levar as boas novas para todas as pessoas.
Quais os benefícios e mudanças trazidos pelo fim do comunismo?
Meu ministério mantinha nosso programa de TV na Rússia bem antes da queda do comunismo. O Senhor já me fazia sentir que o comunismo iria acabar, que estava com os seus dias contados. Deus providenciou para que entrássemos na Rússia antes disto acontecer. Foi uma bênção muito grande. Com o advento da queda do comunismo, várias outras portas se abriram e então conseguimos penetrar em muitos outros países outrora fechados para o Evangelho. A nossa surpresa e alegria foram enormes. Encontramos um povo ávido por conhecer o nosso Deus. Hoje estamos com o nosso programa em diversos países que estiveram sob o domínio do comunismo. Atualmente estamos penetrando na China comunista. É claro que, com o desaparecimento e a queda desse tipo de governo, a igreja cresceu e foi beneficiada com as mudanças que se seguiram. Hoje, Deus tem me falado de maneira muito forte que em breve haverá uma abertura política e espiritual muito grande na China. Eu amo muito aquele povo. Nós já temos conseguido, de forma muito tímida, entrar na China. Acredito muito que logo poderemos levar o Evangelho de uma forma mais abrangente e tremenda. Eu não possuo nenhuma informação que possa me garantir que isso esteja prestes a acontecer, contudo creio que Deus intervirá.

Uma evidência do derramar do Espírito Santo é a convivência na igreja de etnias tão diferentes: negros, brancos e amarelos vivem como irmãos.
Como está o seu ministério hoje, nos Estados Unidos?
Mantemos nosso programa de televisão e nossa igreja em Baton Rouge está indo muito bem. O programa tem sido transmitido para vários países, como Filipinas. África e Rússia.
Quantas pessoas assistem ao seu programa nesses países?
Não posso dizer com precisão o número de nossos telespectadores. Sei que temos um público muito grande nas Filipinas e também na Rússia. Para você entender melhor, o sinal das emissoras vai além das fronteiras e consegue alcançar povoados, cidades dos países vizinhos da Rússia e da África, por exemplo.
Os Estados Unidos já foram um grande celeiro espiritual, enviando centenas de missionários que evangelizaram boa parte do mundo. Essa realidade está hoje mudada. Como o senhor vê isso?
É verdade. Nossa nação é muito abençoada. De lá saíram muitos homens e famílias que dedicaram suas vidas à pregação do Evangelho. Aconteceram muitas mudanças ao longo do tempo. Esse envio de missionários caiu consideravelmente. Mas hoje podemos claramente perceber que um grande reavivamento espiritual está para acontecer em nosso país. Com esse derramar do Espírito Santo, creio que voltaremos a enviar missionários para a evangelização dos povos.
Quem são os grandes evangelistas de nossa geração?
Você vai querer que eu me inclua nesta relação? (risos) Bem, sou apenas mais um homem de Deus a levar o Evangelho às nações dentre vários outros de nossa geração. Posso mesmo citar grandes nomes, como Billy Graham, Benny Hinn, evangelistas de linha tradicional ou pentecostal.
O que o senhor nos diz sobre o movimento neo-pentecostal, no qual poderíamos incluir o pastor Benny Hinn como uma de suas expressões internacionais?
Eu aprecio muito o trabalho desenvolvido pelo pastor Benny Hinn. Também vejo com bons olhos o movimento que cresce velozmente nas dissidências de igrejas de linhas histórica e tradicional. Eu oro para que Deus continue ungindo e abençoando ministérios como os do pastor Hinn.
O que a igreja norte-americana tem feito contra o avanço do consumo de drogas no país, que segundo estimativas, possui cerca de três milhões de dependentes?
Não existe nenhum programa amplo e específico para o combate ao crescimento de dependentes químicos sendo desenvolvido pela igreja. Uma coisa eu posso afirmar: a igreja não possui uma fórmula mais eficaz do que o Evangelho de Jesus Cristo. O Evangelho liberta, restaura e traz perdão. A igreja deve reagir e tem reagido contra as drogas e toda a sorte de crise moral com a mensagem simples do Evangelho. Temos milhares de testemunhos de pessoas que foram libertas de vícios e de uma vida moral decadente pelo poder maravilhoso do Evangelho de Jesus. Essa é a resposta da igreja para o mundo em crise: o Evangelho.
Quantos cristãos existem hoje na América?
Eu diria que toda a América é cristã (risos). Todos se dizem cristãos. É difícil fazer uma estimativa desse tipo quando se trata de um país típica e tradicionalmente evangélico. Ou seja, cristãos são mais de 250 milhões, agora, o número de cristãos genuínos, os que experimentaram o novo nascimento, não dá para calcular.
Quantos discos o senhor já gravou como cantor evangélico, desde que iniciou sua carreira musical?
Desde que nasci eu comecei a cantar (risos). Gravei meu primeiro disco em meados dos anos 50 e hoje tenho mais de 40 álbuns gravados. Agora mesmo finalizei mais um, a ser lançado em breve, cujo título é God is real (Deus é real).
O que o senhor tem a dizer sobre o movimento da música cristã contemporânea?
Sinto que a música cristã está mudando suas perspectivas, e se tornando apenas uma música popular. Nunca fui simpatizante da MCC, não concordo com o movimento e acho que não vem do Senhor. O movimento ainda cresce na América, mas não deverá ser sempre assim.

Deus tem me falado de maneira bem forte que em breve haverá uma abertura política e espiritual muito grande na China. Temos conseguido, de forma tímida, entrar neste país.
E quanto ao White Metal, o heavy metal cristão? O que dizer sobre isso?
Simplesmente, não sou a favor, embora eu seja da época em que o rock'n'roll se popularizou nas canções de Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. O rock gerou o heavy metal e hoje ele está na igreja também. Sabe, a música é o meio pelo qual revelamos nosso coração a Deus, e ela não pode ter um ritmo agressivo. Eu entendo que nossa música deva ser alegre e de muita celebração. Posso citar que no Velho Testamento as pessoas adoravam a Deus cantando Salmos e Hinos. Não consigo aceitar o rock como apropriado para nos levar à adoração e ao louvor a Deus.
Quais as maiores mudanças em seu ministério nos últimos cinco anos?
As coisas estão sempre mudando em meu ministério, porém não existe uma sequer que mereça destaque, a não ser quando Deus restaurou o meu chamado e a minha vocação. Retomei minhas atividades e, sentindo forças renovadas, continuei, de lá para cá, a cumprir aquilo para que fui chamado: pregar o Evangelho, levar a Palavra de Deus a todas as partes do mundo.
Como foi o seu retorno à pregação do Evangelho após algum tempo de impedimento por motivo de falha humana?
Eu me sinto muito bem. É claro que meu retorno se deu após uma fase de muita humilhação, dor e sofrimento. Mas pude entender o grande amor que Deus teve pelo rei Davi que, após seus grandes erros e pecados, o perdoou e restaurou. Deus me levantou e me fez saber o tempo de começar de novo a pregar o Evangelho.
E como está o amor por sua esposa?
Bem, muito bem. Acabamos de completar 43 anos e posso lhe garantir que tudo o que ela manda eu faço direitinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário