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sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

Tempos de otimismo prudente

Por Manoel Fidalgo


Chico Ferreira/ Editora Três

Vivemos um momento em que o empresariado, de um modo geral, vem encontrando muitas dificuldades devido às regras impostas pelo Plano Real. Não questiono a meta do dito plano. Porém, não me parece muito apropriado o método utilizado na administração pública, que tem levado nosso país a sérias dificuldades. Vejamos alguns pontos importantes, que precisam ser abordados para entendermos o principio, o meio e o fim desta transição econômica e financeira do Brasil.

Desde que tomamos conhecimento da intenção do atual governo de mudar a política econômica e financeira, percebemos que se tratava de um projeto arrojado que, por certo, exigiria do povo um enorme esforço, devido à real necessidade de combater o principal vírus do problema, chamado inflação - que é, sem dúvida, o elevado custo da inflacionária máquina administrativa governamental. Enquanto houvesse abertura total das. torneiras da administração pública, assistiríamos a grandes problemas, na medida em que, quanto mais aquela máquina necessitasse de recursos, maior seria a emissão de dinheiro. Esta era, sem dúvida, a grande causa da desvalorização diária de nossa moeda.

"A escassa liquidez torna cada dia mais árdua a tarefa de manter os níveis de produção e escoamento."

Outro ponto importante se refere às taxas de juros, que têm assolado as empresas no mercado brasileiro em função da escassez do próprio dinheiro no mercado. Tais taxas, cuja prática gera o famoso compulsório, tornam a moeda forte mas, por outro lado, difícil de ser adquirida. A escassa liquidez torna cada dia mais árdua a tarefa de manter os níveis de produção e escoamento. É difícil de acieditar, mas, a despeito da inflação quase zero — e mesmo da eventual deflação —, recorrer ao crédito bancário é algo assustador.

Recentemente, quando estive num banco para realizar uma operação financeira de minha empresa, fui avisado pelo gerente de que a taxa para desconto antecipado de duplicatas era de 8,5% ao mês, o que significava uma taxa efetiva de quase 10% no mesmo período. Em outra ocasião. encontramos a oferta de contrato de capital de giro pelo prazo de 60 dias com garantia de 130% em duplicatas e taxa final de 11% ao mês. Mais desesperador ainda é o cheque especial, que está fazendo um número cada vez maior de vítimas entre pessoas físicas e jurídicas devido às exorbitantes taxas de juros, entre 12% e 15%, tornando-se, sem dúvida, o maior e mais rendoso negócio para os bancos.

No entanto, nem tudo está perdido. É possível perceber uma suave reação no consumo. Acreditamos que o pior já passou e, com a aproximação das festas natalinas, haverá reaquecimento da Marcos Cruz economia. Porém, é preciso cautela. No Brasil de hoje não se permite abusos e sonhos arrojados na administração empresarial e mesmo na familiar. Precisamos entender que, se quisermos um país robusto, com uma economia forte e moeda aceitável em todo o mundo, temos que pensar no amanhã, resguardando economias para o futuro. Portanto, irmãos, sejamos firmes e constantes.


Manoel Fidalgo é empresário do setor de autopeças e pastor batista.

Os teimosos preços que sobem

Por Emílio Gargalo


Chico Ferreira/ Editora Três
Não há plano que segure os preços altos,
que afugentam a freguesia dos restaurantes

Todo mundo percebe que a maioria dos preços não tem subido desde a implantação do real. Mas alguns preços não querem ajudar e sobem de forma assustadora. Esse é o caso de cabeleireiro, restaurante, médico, engraxate, lava-rápido, estacionamento e outros que o leitor conhece bem.

Por quê? Basicamente porque há produtos facilmente substituíveis e outros que, ou não se pode substituir, ou a substituição só se dá a médio e longo prazo. Se o preço da margarina sobe, a gente compra manteiga. Se a manteiga sobe, pode-se trocá-la por geléia. E, se todos subirem ao mesmo tempo, alguém importa os três e os preços têm que baixar. Isso vale para automóveis, balas, arroz, bicicletas, em suma, qualquer produto que se possa substituir rapidamente ou se possa importar para fazer concorrência.

Para os serviços, isso é praticamente impossível no curto prazo. Como substituir o seu médico de confiança, de tantos anos, que dobrou o preço da consulta? Isto exigiria uma longa pesquisa, e pode ser que a gente abra mão de um luxo qualquer para manter aquele médico. E os restaurantes? Levaram os preços para as nuvens. Só que, com isso, tornaram o seu negócio tão rentável que muitos outros se interessarão em abrir restaurantes. Mas isso demora. Construir casa, decorar, encontrar cozinheiros, garçons, gerente etc. Talvez alguns meses entre o momento em que se percebeu que a atividade pode ser altamente lucrativa, tomar a decisão e implementar o negócio.

Porém, ao longo do tempo, outros restaurantes surgirão e aqueles primeiros terão que baixar os preços para recuperar os fregueses. Outra alternativa, no caso dos restaurantes, quando os preços sobem muito, é parar de frequentá-los. Lentamente, os fregueses vão percebendo os preços muito altoe e simplesmente reduzem ou eliminam as idas a restaurantes. Com a redução no faturarnento, os restaurantes começam a fazer promoções do tipo mulher acompanhada não paga, cardápio executivo de segunda a sexta, etc.

Portanto, há que se substituir os substituíveis e usar em escala mínima os serviços que não se pode substituir, esperando que, ao longo do tempo, voltem ao normal.

Isso é normal nos processos de estabilização de economias altamente inflacionárias, e foi observado em todos os países que lograram a estabilização.

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Emílio Gargalo é bacharel em Economia pela PUC-SP e sócio-diretor da MCM Consultores Associados S. C Ltda.

O Brasil da vitrine

Por Délis Ortiz


"EL MANGO! EL MANGO!", gritavam algumas senhoras. Elas se acotovelavam entre os curiosos em busca de um bom ângulo para ver passar a recordação viva, também grisalha, dos tempos de estudante. Era o presidente Fernando Henrique Cardoso nas ruas de Caracas. Quase 30 anos separam o professor galã do que hoje os castelhanos chamam de Líder latino-americano. Lido e relido, nos idos de 68, na revolta dos estudantes, o sociólogo inebria também as platéias na Europa. Em Berlim, arranca lágrimas dos velhos companheiros de teses e deixa boquiaberta a juventude com a postulação de que a sociedade, fragmentada nos interesses, precisa de um líder sensível à real necessidade coletiva, capaz de aglutinar forças em busca do objetivo comum. Alemães, franceses, ingleses, todos aplaudem. O presidente conquista, pelo menos, um bom espaço na mídia internacional. Arranca manchetes como "o mais importante presidente da história do Brasil". O País visto lá de fora, por onde passa o presidente, não tem a mesma cara do Nordeste, da periferia, dos sem-terra, da violência. É a economia emergente, o terreno fértil para investimentos, o campo aberto para bons negócios. Para cada bilhão de dólares que os estrangeiros apostarem no Brasil, pelo menos cinco bilhões voltarão para os seus bolsos.

Neste ou noutro hemisfério, o tratamento é o mesmo dispensado aos mais importantes chefes de Estado do planeta. Charmoso, poliglota, diplomata nato. Com certeza, porém, não são pelos belos olhos do tucano que o mundo lhe estende o tapete vermelho. A pompa cinco estrelas ostentada em Frankfurt para o visitante era, na verdade, para a Amazônia, para o fim dos monopólios, para o mercado que ele representa. Mas de que adianta ser bem representado lá fora? Qual o retorno para o cidadão que ficou na corda bamba do emprego, equilibrando o orçamento apertado? Parece um país de duas caras. A do paraíso para investidores estrangeiros e purgatório para os nativos.

São, na verdade, dois mundos. O econômico, sem fronteiras, e o social, absolutamente compartimentado. No primeiro, apenas um elo une qualquer um a qualquer parte - o dinheiro. No segundo, o do perdido é exatamente o responsável pelo distanciamento nas relações - a miséria. E na balança humana, que falta numa bandeja é justo o que sobeja noutra. Para um pretendente a líder, a guerra é essa: a busca do equilíbrio.

Fernando Henrique conquistou o cenário internacional
frequentado por lideres como o presidente Bóris Yeltsin

Nada do que FHC acenou lá fora teve efeito imediato aqui dentro. Isto leva tempo. É coisa para Fazer diferença só a partir do ano 2000. Nossa miséria con-tinua nossa. Bilhões de dólares vão entrar, milhões de brasileiros vão morrer, doentes, famintos, mal-educados. É a velha história da água que corre para o mar. Outro dia, no proselitismo capitalista, um grande empresário me perguntou: "Você sabia que um lingote de alumínio custa 40% mais barato que o pãozinho de 50 gramas? É um absurdo", reclamou. Não resisti e retruquei: "O senhor sabia que ninguém come lingote de alumínio?" Não vi reação. Os dois mundos, do dinheiro e da miséria, ignoram um ao outro. Cegos, não percebem o risco de serem engolidos um pelo outro.

A esperança nos faz apostar que há de fazer diferença, sim, a entrada de capitais. Pelo menos empregos, salários, progresso e competitividade hão de vir juntos. Os exemplos vizinhos nos fazem temer a modernidade. É o grande dilema do século - a alta tecnologia versus recursos humanos. Os impérios econômicos se lançam em busca da eficiência, qualidade e baixo custo. Substituem seus homens por computadores e robôs. Os imperadores políticos se descabelam, ou pelo menos deveriam, em busca de solução para os desempregados da modernidade.

Cada viagem de FHC ao primeiro mundo é como uma volta ao futuro. FHC é um privilegiado. Pode ver o direito e o avesso das questões. Se não resumir os encontros diplomáticos e comerciais a sessões de exibicionismo. Se não perder de vista a realidade além dos tapetes. Se insistir na equação social. Os giros de FHC pelos continentes hão de ser uma bênção, para de e para nós. Se para cada decolagem houver uma aterrisagem consciente. Que FHC dê vôos ainda mais altos, mas que carregue o Brasil real nas asas desse Boeing. Os candidatos a passageiros dessa esperança só precisam embarcar pela fé.

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Délis Ortiz é jornalista, repórter de Política da Rede Globo de Televisão e membro da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília.

Revista Vinde - Edição 3

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