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sábado, 6 de abril de 1996

Os evangélicos e o mito da democracia racial

A senadora do Rio denuncia que existe racismo nas igrejas

Jorge Antonio Barros

Fotos de Frederico Mendes

Carlos Fernandes
A senadora Benedita garante que não vai se candidatar à prefeitura do Rio de Janeiro

Quando surgiu no cenário político carioca uma vereadora negra, favelada, petista e evangélica, ninguém jamais imaginou que aquela mulher pudesse ir tão longe. Uma década depois, ela ocupa uma cadeira no Senado da República, exatamente com o mesmo perfil que a lançou nas urnas do Rio. As únicas diferenças entre a vereadora Bené e a senadora Benedita da Silva - 54 anos completados no dia 11 de março - talvez sejam o crescente acúmulo de votos (para o Senado conquistou dois milhões de eleitores), a bagagem conquistada com a experiência política e o conhecimento do mundo em viagens que a levaram, por exemplo, à Conferência de Pequim, onde foi discutida, no ano passado, a situação da mulher no mundo. "Nós, mulheres brasileiras, avançamos, mas ainda estamos aquém", lamenta a senadora, dois filhos, quatro netos e dois enteados - entre eles a atriz Camila Pitanga - filhos do ator e vereador Antônio Pitanga, com quem se casou há dois anos. Eles vivem numa casa confortável no morro Chapéu Mangueira, favela na Zona Sul do Rio. Pitanga não é evangélico, mas costuma acompanhar a mulher, nos cultos da Assembléia de Deus no Leblon, embora Benedita agora seja membro da Igreja Presbiterana Betânia, em Niterói - a mesma do reverendo Caio Fábio. Avessa à política neoliberal do governo Fernando Henrique, a senadora critica também o governador do Rio, Marcelo Alencar, e o prefeito da cidade, César Maia.

Em entrevista à VINDE, Benedita reclama da falta de espaço para a mulher, dentro e fora da igreja, explica que a postura do PT não influencia seus princípios cristãos e é dura nas denúncias de racismo e machismo nas igrejas evangélicas. "Você já viu missionário negro estrangeiro pregando no Maracanã, indaga a senadora, que não vai se candidatar à prefeitura do Rio. "É uma etapa superada".

Como ocorreu sua conversão e quem pregou o Evangelho à senhora?

Os crentes visitavam minha casa, mas eu era uma católica convicta, da Legião de Maria. Mesmo assim, havia em mim um vazio que eu não entendia. Na minha casa havia uma Bíblia, e nela estava escrito: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará." Este versículo criou em mim uma ansiedade para encontrar esta Verdade. Até que, um dia, fui à Assembléia de Deus de São Cristóvão. O pastor perguntou quem queria aceitar Jesus e levantei a mão. Quando contei para meu marido, ele riu. Parei de fumar e dei minhas roupas decotadas e imagens de santos. Peguei um vestido de manga, que era forro do travesseiro, e passei a usar. Era a única roupa que eu tinha para ir à igreja.

A senhora também diz que o Evangelho deu mais dignidade à sua vida. Como foi isso?

Eu levava uma vida de miséria e vergonha. Eu era revoltada e sectária, tinha vontade de pegar uma bomba e sair destruindo as autoridades que nos abandonam. O encontro com Jesus me mostrou meu valor. Comecei a me sentir inteligente, bem por dentro. Passei a compreender tudo o que me cercava. Pude enfrentar as adversidades sociais sem me abater. Prossegui com o trabalho comunitário, mas aí era diferente. Minha forma de disputa política passou a ser mais humana. Compreendi que o diálogo é o único meio de convencimento. Fora disso, é sectarismo.

Como a senhora chegou à decisão de se candidatar pela primeira vez, sendo membro da Assembléia de Deus e do Partido dos Trabalhadores?

Foi com a visão de que as mulheres eram importantes para a vida social, política e religiosa, mas não tinham uma oportunidade. Eu sentia esta dificuldade nas disputas de associações de moradores e, posteriormente, no próprio partido. Na época, eu era do MDB. Algumas mulheres se destacavam porque eram de classe média, intelectuais, mas não tinham poder. Fundamos o PT com a compreensão de que este era o partido em que as mulheres, os pobres e os trabalhadores teriam voz e vez.

E como se deu esse processo de compatibilização entre cristianismo e socialismo?

Confesso que não houve compatibilização. Pelo contrário, foi um choque. Acho que fui a primeira mulher que saiu candidata dentro da Assembléia de Deus. Nunca usei o púlpito para fazer pregação política. Tinha meu testemunho de vida, mas achavam que eu deveria sair da militância, que isso não era coisa de crente. Decidi ficar no partido, mas sem me envolver muito. Fui amadurecendo com o tempo. Passei a ter mais discernimento e entender que Deus deu tarefas para o ser humano. Não precisava me sentir culpada por realizar este trabalho político. A Palavra de Deus diz que aqui teríamos aflições, mas Jesus venceu o mundo. Vencer aqui é não abrir mão da convicção religiosa e a cada dia estar como sal e luz no meio da massa, trabalhando. Eu sabia o que era fome, prostituição, marginalidade. Não podia passar por cima. Não era para me assentar na roda dos escarnecedores, mas dos que estavam com fome e não tinham o que comer, estavam nus e não tinham o que vestir, estavam presos e não havia quem os visitasse.

Esta visão mais progressista das Escrituras não a ajudou dentro da igreja?

Para a igreja, estas coisas são colocadas na área do assistencialismo, do sentir pena, por exemplo, de um homossexual porque está em pecado. Só se pensa na sexualidade, não no indivíduo todo, com direito de estudar, trabalhar e ter salário igual. Isso é tão forte que se acaba aceitando a marginalização destas pessoas por causa de sua opção sexual. Ele tem um direito como cidadão que não lhe é dado.

Carlos Fernandes
Só se pensa na sexualidade, não no indivíduo como um todo. O homossexual tem direito como cidadão, que não lhe é dado

Por que ainda hoje a Igreja Evangélica tem preconceitos contra o PT?

O PT é interessante. No início, disseram que era o partido dos estudantes. Depois, dos intelectuais. Mais adiante, da Igreja Católica por causa de Frei Reno, Leonardo Boff e outros. Atribuo tudo isso à falta de politização. Sendo um partido muito contestado, a igreja luta para que não se fique nele. Não compreendem que, se tenho sucesso político, é porque Deus me dirige e abençoa neste partido. Perguntam para mim se o PT é a favor do aborto. O PT defende a descriminação do aborto, que a mulher não deve ser condenada. Mas esta não é a visão geral do partido. Eu, por exemplo, sou inteiramente contra. Do ponto-de-vista religioso, não há o que discutir. Do ponto-de-vista social, as mulheres abortam mesmo, estão morrendo, são estupradas. Devem ser criadas políticas de combate ao aborto, dando condições de trabalho a estas mulheres, garantindo que elas não ficarão desamparadas, que seus filhos terão creches. Já fiz um aborto, antes de conhecer a Cristo. É uma situação degradante e traumática. No PT, questões de foro íntimo não são fechadas.

O PT fecha questão sobre o casamento de homossexuais?

Não. Isto sequer foi colocado no programa do partido. O que o PT colocou e tratou foi o seguinte: um homossexual tem apartamento, dinheiro e tudo o mais. Vive com uma pessoa, enquanto a família não quer saber. Aí ele morre e a família pega tudo. Quem ficou cuidando não tem direito a nada. O assunto discutido no PT foi o da herança, um direito civil. É o mesmo caso dos filhos nascidos do casamento e dos outros nascidos de relação extraconjugal. Uns tem direito e os outros não? O partido tem um centralismo democrático, mas cada parlamentar tem direito de apresentar suas teses.

A senhora acha que existe machismo dentro das igrejas?

Existe. O machismo não é coisa da igreja, é das pessoas. Existe em qualquer instituição. Nós, mulheres, temos consciência disso e lutamos. Nem sempre as pessoas percebem nossa contribuição. Estive na Conferência Mundial de Pequim e pude ver o quanto a mulher progrediu, mas não conseguiu alcançar esta instância de poder.

E racismo, existe?

A igreja também vive o mito da democracia racial, a idéia de que temos uma sociedade altamente miscigenada e o negro tem seu lugar, como o mulato, o moreno etc. A sutileza deste mito se pode ver nas instâncias de poder de decisão. Onde os negros estão? Quais as grandes sedes que administram? Estão nas congregações, lugares longínquos. Já viu missionário negro estrangeiro fazendo pregações no Maracanã? Quem convidou Jesse Jackson ou Desmond Tutu? Isso não acontece nos Estados Unidos. Lá, a igreja negra se impõe. Onde você encontra os negros em nossas igrejas? Nos cânticos. Mesmo assim, os cantores negros têm dificuldades, a doutrina protestante brasileira não permite ascensão de individualidade. Às vezes, até se confunde com o PT (risos). Quando um parlamentar se destaca, a direção diz que é individualismo. As personalidades são puxadas para baixo.

Qual a sua opinião sobre a descriminação da maconha?

Tenho pouco conhecimento, não posso falar. Penso que ela é usada por um contingente muito grande e pode ser utilizada no campo da medicina, mas ainda não tenho uma posição, não sei das perdas e danos. Só sei que droga mata. Sou contra as drogas, mas quero tratá-las como trato todos os assuntos considerados polêmicos pela igreja. Quero que haja combate ao narcotráfico. Não há investimentos neste sentido no Brasil. Não é como as casas de recuperação que abrimos aqui, depósitos de abandonados. A igreja brasileira precisa envolver-se, não apenas com ação assistencialista, mas também de reintegração do indivíduo e combate à droga.

Carlos Fernandes
Já fiz um aborto antes de conhecer a Cristo. É uma situação degradante e traumática

Suas posições progressistas a distanciam de outros políticos evangélicos?

É impressionante. Os políticos evangélicos, em sua maioria, estão em seus partidos, os defendem, negociam apoio com o governo e tudo o mais. Quando é com o PT, me cobram como evangélica, não como petista. Vêm de Bíblia na mão querendo me doutrinar. Eu digo: "Olha, vocês votaram causas que, para mim, são abomináveis aos olhos de Deus. Estou votando coisas relativas a direitos dos trabalhadores, à reforma agrária." Querem que eu ignore concepções políticas que envolvem determinadas matérias. Por exemplo, concessões de rádio. Seja para quem for, quero que obedeçam o critério estabelecido pelo Conselho. Não é uma coisa de arranjo. Lembro-me que, na luta pela reforma agrária, muitos evangélicos votaram com a antiga UDR (União Democrática Ruralista). Quando o PT votou, não o fez com a concepção marxista, mas com a humana, de terra para quem nela trabalha. E eu votando com a Bíblia: "Crescei, multiplicai-vos e enchei a face da Terra." Mas como, se não há espaço?

A senhora esteve recentemente em Cuba. Como funciona a Igreja Evangélica de lá?

Não tive oportunidade de visitar igrejas. Voltei por causa das enchentes no Rio. Mas estive com o embaixador brasileiro, que é presbiteriano. A Igreja está caminhando, queixosa na questão da liberdade. Não existe uma propagação do Evangelho pelas ruas, como aqui. O povo de Deus está trabalhando dentro da abertura que Fidel (Castro) dá. A maior preocupação é não permitir infiltração de costumes americanos na religiosidade.

E qual é o futuro do socialismo no Brasil diante do neoliberalismo?

Tenho esperança de que esteja próximo. O projeto neoliberal é desintegrador, não combate a fundo os problemas de saúde, fome, bem-estar. Ele maquia e desorganiza a sociedade.

Que avaliação a senhora faz do governo de Fernando Henrique Cardoso?

O governo FHC teve respaldo político. Poderia ter avançado se sua proposta fosse, pelo menos, da social-democracia. Tenho certeza que os próprios tucanos se ressentem disto.

Por sua participação no movimento popular e seu destaque no cenário nacional, a senhora admite a possibilidade de um dia candidatar-se à presidência da República?

A política tem seu próprio giro. Não dá para dizer: "Serei isso ou aquilo." Me disponho a lutar, mas dentro da conjuntura. Tenho um ano de Senado. A gente pode até dizer: "O Lula perdeu duas vezes, não dá mais." Mas (François) Miterrand ganhou na quarta.

E a prefeitura do Rio? Por que a senhora não vai se candidatar este ano?

A prefeitura, para mim, é uma etapa já superada.

Mas a senhora não foi eleita.

Lamentavelmente a população do Rio de Janeiro perdeu. Veja as chuvas. Nosso projeto parecia simples demais, mas era o melhor para a cidade porque levava em conta a questão da segurança pública, que não se resume ao armamento da polícia. Era, sobretudo, de sustentar esta população com política de geração de empregos, de habitação popular, de contenção de encostas, de melhor transporte. Meu projeto continua sendo o mesmo, mas minha disponibilidade é outra.

Quais são as principais falhas que a senhora vê na administração Cesar Maia?

Ele falhou o tempo inteiro. Foi prepotente, enganador. O Cesar Maia foi uma farsa.

Que motivos o governador Marcello Alencar tem para constantemente atacar a Fábrica de Esperança e o reverendo Caio Fábio?

Penso que o governador sofre a síndrome da perseguição. Qualquer coisa que pareça uma contestação a seus erros ou suas responsabilidades é uma ameaça. Esta síndrome faz com que ele veja em qualquer líder um candidato em potencial ou um fiscalizador contumaz de seus erros em cada pessoa de boa-fé desta cidade.

Como a senhora vê a posição de alguns setores evangélicos que pensam que os crentes devem ter um candidato à presidência da República?

Os evangélicos devem ter um bom político, um bom administrador, como seu candidato. Pode ser um de nós, mas não necessariamente. Precisamos ter uma visão mais ampla das necessidades da sociedade. Se levarmos para nossas concepções doutrinárias sobre como a pessoa deve se comportar, seremos injustos em nossas administrações. Querer impor este comportamento à sociedade seria um desastre. Mas se tivermos uma compreensão política de justiça social e crescimento econômico, aí sim.

Muitos pastores levam candidatos ao púlpito. Qual é a sua opinião sobre esta prática?

O pastor deve proceder mais claramente. Não dá mais para fazer da igreja massa de manobra. Ele deve abrir o debate político, colocar seus interesses, sua posição e seu candidato. Temos que democratizar a política na igreja. Uma pessoa não deve receber o voto por ser um irmão, mas por ter uma proposta política. Vamos deixar dessa desfaçatez de dizer: "A gente não se mete em política, mas aqui está o irmão Fulano." Então quem não faz política é a base, porque a cúpula faz. A Universal faz isto escancaradamente. A CNBB está botanto para quebrar. O tema agora é fé e política. Alguém pode dizer: "Ela não está induzindo para qualquer partido", mas está assumindo uma posição política. A igreja deveria fazer isto.

Carlos Fernandes
Um candidato não pode receber votos por ser um irmão na fé. Vamos deixar essa desfaçatez: "A gente não se mete em política, mas o irmão Fulano é candidato"

Qual foi sua maior decepção no meio evangélico?

Não diria decepção, mas frustração com a falta de crescimento político que a gente tem no meio evangélico. Vou pegar os Estados Unidos como referência, as coisas que deveríamos imitar e não o fazemos. No culto de uma igreja americana, o pastor fala de racismo e ninguém discute. Aqui, dizemos que todos somos irmãos e isto não existe. Temos que tratar este mal. Dizem para mim: "Não, minha irmã, não existe racismo, não existe nada contra as mulheres." Onde elas estão? Na cantina, na Escola Dominical, cumprindo papéis sem destaque. Como as mulheres recebem elogio? "A minha esposa é maravilhosa, chego em casa e minha comida está ótima. Saio para a pregação e a ela fica com meus filhos." E quando tem uma Benedita, evangélica, com 'as atitudes que tenho, as primeiras a me enquadrar são as próprias mulheres.

Qual a sua maior alegria como evangélica?

É ser evangélica, ter Cristo na minha vida. O que eu contesto são coisas nossas, do corpo humano, não do Corpo de Cristo. Minha oração se torna cada dia mais curta, mas não é tão pequena que não possa dizer e repetir: "De que vale ganhar o mundo inteiro e perder a alma?" Este é o resumo de tudo para mim. Sou uma apaixonada, frágil. Agradeço a Deus pela salvação, pela minha vida, e busco n'Ele o caminho para recuperar o tempo perdido e poder servi-lo melhor. Dedico tudo a Deus, inclusive minha vida política.

O que a senhora acha das criticas que são feitas aos evangélicos por causa das igrejas que têm uma politica agressiva de arrecadação de dinheiro?

Aí é igreja como instituição, não como corpo de Cristo. É capitalismo. Na minha visão, passa a ser empresa. Sou dizimista e penso que uma igreja deve buscar entre os membros os recursos para implantar as idéias de evangelização. O dízimo é para ir para a casa do Senhor, para as obras importantes para a evangelização. Fazer disso uma empresa para tirar de quem não tem e usar aquela oferta da viúva, aí estaremos abandonando outros capítulos da Bíblia, que falam para cuidar bem delas. Entrego meu dízimo com a maior convicção, e sei que as pessoas que estão sustentando essas fábricas de fazer dinheiro que existem por aí, estão fazendo por fé, com inocência. Mas a Palavra de Deus diz que cada um dará conta de si.


Extraído Entrevista. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 6-10, abr. 1996.

sexta-feira, 1 de março de 1996

Pastor Nilson Fanini: Governo encerrou briga entre Globo e Record

Líder mundial dos batistas revela interferência do Planalto na 'guerra santa'

Marcelo Dutra e Omar de Souza

Fotos de Frederico Mendes

Carlos Fernandes
Duas semanas antes das acusações lançadas pelo O Globo, o pastor Fanini garantia que era o principal acionista da TV Record Rio

Pouca gente percebeu a trégua que houve entre as TVs Globo e Record depois de meses de confronto. Numa entrevista exclusiva concedida à revista VINDE, no início de janeiro, em Niterói, o pastor Nilson do Amaral Fanini deu pelo menos uma pista para explicar a repentina paz. Fanini revelou que a guerra santa acabou por influência direta do governo, que deu um basta aos ataques mútuos numa reunião com diretores das emissoras. "Houve uma ordem da presidência da República para que se fizesse uma reunião com a diretoria das redes Globo e Record no sentido de forçar uma parada nas denúncias de um lado e de outro, pois estavam indo longe demais", afirmou o pastor Fanini.

O pastor paranaense Nilson Fanini, 63 anos, tornou-se o primeiro brasileiro a ocupar a presidência da Aliança Batista Mundial, entidade que representa os mais de 100 milhões de batistas do planeta. Como evangelista, já pregou em 87 países. Além de pastorear há 31 anos a Primeira Igreja Batista de Niterói, também preside o Reencontro, organização assistencial que atende milhares de pessoas de Niterói e municípios vizinhos. O programa do mesmo nome que comanda é um dos mais antigos evangelísticos de TV em rede nacional. Recentemente, teve o nome cogitado para uma eventual candidatura a presidente da República.

Mas a este impressionante e elogiável histórico de vida juntou-se, no fim de janeiro, um episódio extremanente confuso: uma reportagem do jornal O Globo acusa o pastor Fanini de ter vendido 51% das ações da TV Record Rio de forma irregular. Esta acusação contradiz as informações anteriormente prestadas pelo líder batista. Na entrevista à VINDE, duas semanas antes, ele garantia ser ainda acionista majoritário. Procurado depois pela nossa reportagem para contar sua versão, o pastor Fanini não respondeu até o fechamento desta edição, em meados de fevereiro.

O que significa para a igreja evangélica brasileira, e mais especificamente para a denominação batista, o fato de o senhor ter sido eleito presidente da Aliança Batista Mundial?

Foi uma escolha divina. É uma honra muito grande para mim e para o país ter um brasileiro à frente de 200 pastores que representam, por sua vez, várias nações da Terra, num trabalho que reúne mais de 100 milhões de cristãos.

Como ocorrem as eleições para a escolha de um novo presidente da ABM?

Para cada mandato elege-se o representante de um continente diferente. O meu vai de 1995 até o ano 2000. Nas próximas eleições, tudo indica que o presidente será da África. Ele precisa ter um certo currículo. Deus vinha me preparando. Já preguei em 87 países, o que me tornou bastante conhecido no mundo como evangelista. Na minha posse, em Buenos Aires, desafiei os representantes das 128 nações a dobrar o número de batistas na Terra até o ano 2000. Ou seja, o objetivo é atingirmos 200 milhões de pessoas, 500 mil igrejas e 72 mil universidades e colégios em toda a Terra.

Conjectura-se que o senhor pode vir a se candidatar à presidência da República. Como surgiu isto?

Houve essa passeata muito grande (promovida pela Igreja Universal do Reino de Deus), com 1 milhão de pessoas em todo o país, e alguém citou meu nome. A imprensa diz que, dessa vez, foi o Laprovita (Vieira, deputado federal), mas ele nem me consultou. O resultado é que fui procurado por diversos jornais do país e tive que me declarar contrário à idéia. Talvez amanhã Deus queira, mas, no momento, já me deu uma tarefa muito grande.

Carlos Fernandes
"Fui procurado pelos jornais e me declarei contrário à idéia de ser presidente da República. Talvez amanhã Deus queira, mas não no momento."

Pesquisas indicam que os evangélicos brasileiros estão decepcionados com a atuação dos seus representantes políticos. O que o senhor acha?

Igreja é uma coisa, política é outra. A igreja não pode ser palanque nem partido político. Agora, que a política precisa de sal e luz, é uma realidade. É uma decepção dupla: quando se elege uma pessoa e ela falha, ela falha como cidadão e como crente.

As obras assistenciais do Reencontro já existem há 20 anos. Como está este trabalho atualmente?

Me baseio na mensagem que Deus colocou no meu coração: que Jesus ia de cidade em cidade pregando, ensinando e curando. Baseado nesse tema, pregando o Evangelho total para o homem total, o Reencontro marcha. Com isso, hoje temos 29 especialidades clínicas, 56 médicos, 22 dentistas, enfermeiros que já perdi o número e assistentes sociais. Em 1995 atendemos quase 120 mil pessoas. Temos também as cruzadas no Brasil e no mundo, programas de rádio e televisão e também a Liga Bíblica, que já distribuiu 18 milhões de novos testamentos.

O programa começou durante o regime militar. Houve problemas com censura?

Me censuravam, não deixavam falar muitas coisas, mas nunca tive problemas sérios.

Como foi o processo para conseguir a concessão da TV Rio na década de 80?

Eu e o Arolde de Oliveira (deputado federal), então diretor do Dentel, fizemos uma empresa e começamos a concorrer com muitos pretendentes, entre eles o Jornal do Brasil, a Editora Abril e o Paulo Maluf. O Leitão (de Abreu), chefe de gabinete do presidente Figueiredo, sugeriu que se desse a concessão para "um pastor que tem aí, que ele não vai botar no ar mesmo". Aí, ele me deu. Só que, com a ajuda de Deus, eu botei no ar. Sem um tostão da igreja, do Reencontro ou de qualquer evangélico. O dinheiro veio da minha família, que é dona da Kepler-Weber S.A.

Seria a primeiro emissora evangélica do país?

Inicialmente nós tentamos, mas depois descobri que uma televisão no Brasil, principalmente em VHF, não consegue sobreviver só com programação evangélica. Eu estava sempre no vermelho. Mas depois que entrou em rede. o custo foi dividido.

Foi assim que a TV Rio acabou se tomando Rede Record?

O nome é fantasia. A razão social é Rádio Difusão Ebenezer Ltda. O nome fantasia pode ser mudado a qualquer momento. Para fazer a rede, ficou Record Rio.

O senhor ainda tem ligações com a TV Rio?

Detenho ainda 51% das ações e estou negociando a venda para um grupo de 6 empresários, que detêm os outros 49% das ações. Portanto, é necessário que eu assine centenas de cheques pela empresa, pois ainda sou sócio majoritário.

Os mesmos que detêm o controle da emissora no restante do Brasil?

Do lado da Rede Record, não sei dizer. Sei que a TV Rio tem um contrato de filiada com a Rede Record. A programação é selecionada por nós. O que eu quero dizer é que está-se cumprindo hoje a finalidade para a qual eu a criei, ela está glorificando e defendendo o nome de Deus.

Na época em que a Record foi comprada em São Paulo falou-se em 45 milhões de dólares. Este é o preço de uma emissora de TV?

A Record de lá é outra coisa completamente diferente. Aqui é outra empresa, não tém nada a ver com a Record de São Paulo.

Como presidente da Aliança Batista Mundial, o senhor é remunerado?

Boa pergunta. É bom que se diga que não recebo um tostão da ABM, eles só me ajudam com as passagens. É tudo por amor ao Evangelho.

A que o senhor atribui o crescimento dos evangélicos no Brasil nos últimos anos?

Hoje o crescimento dos evangélicos é duas vezes e meia mais rápido do que o da população brasileira. Não é só quando Caio Fábio, Fanini, Billy Graham enchem o Maracanã. Hoje o que vale é essa garra, esse exército de irmãozinhos e irmãzinhas que fazem reuniões nos colégios, nas fábricas, nas Forças Armadas. E mais: a mídia. Hoje nós temos boas emissoras de rádio e de televisão evangélicas.

O senhor acredita que o crescimento quantitativo foi acompanhado de crescimento qualitativo?

Sim e não. Há muitas igrejas por aí que não estão batizando. Em outras falta espiritualidade. Além disso, a liderança tem que estar cada vez melhor preparada. O pastor tem que ser quase um super-homem, visitar, pregar, evangelizar etc. Mas, na maioria dos casos, está havendo, graças a Deus, um bom crescimento.

Carlos Fernandes
"Uma pessoa me ligou do Planalto contando que o presidente queria uma reunião entre diretores da Globo e Record. Estavam indo longe demais."

Os escândalos atuais envolvendo líderes da Igreja Universal do Reino de Deus são resultado desse crescimento quantitativo sem o devido preparo qualitativo?

Neste caso há uma guerra empresarial, não religiosa. São duas redes que estão lutando por espaço. Recebi um telefonema há poucos dias do Palácio do Planalto. A pessoa me pedia para orar pela situação e me contou que houve uma ordem direta da presidência da República para que se fizesse uma reunião com a diretoria das redes Globo e Record no sentido de forçar uma parada nas denúncias de um lado e de outro, pois estavam indo longe demais. E esta reunião foi realizada.

Esta reunião foi com o próprio Ministro das Comunicações, Sérgio Motta?

Não posso declarar. Mas orei a Deus para que cultivássemos o valor religioso das mensagens da Record.

Como o senhor analisa os escândalos envolvendo os evangélicos no Brasil e no mundo por conta dos métodos da IURD?

Não me cabe criticar. A Igreja Universal tem tirado 6 milhões de pessoas das garras do diabo, e nisto realiza um grande trabalho. Agora, é uma igreja adolescente. Está formando a doutrina, a teologia, os pastores. É natural que algumas coisas aconteçam. Tem coisas que eu fazia na minha adolescência e não faço mais hoje. Houve um momento em que a Associação Evangélica Brasileira se manifestou contrária aos métodos da Universal.

A cúpula da IURD reagiu com um documento contendo a assinatura de vários pastores, inclusive do senhor. Qual o motivo de seu apoio?

Era uma questão de liberdade religiosa. A Universal tem direito à liberdade. Aquilo foi Nilson Fanini quem assinou, não foi o presidente da Aliança. A Igreja Batista não tomou partido, nem para um lado nem para o outro.

O senhor crê que esteja havendo uma perseguição contra a igreja evangélica?

Ultimamente estão perseguindo muito os evangélicos. Quando, por exemplo, um deputado católico ou espírita faz umas e outras, nunca se diz que ele é católico ou espírita. Mas quando é um evangélico, dizem até a qual igreja pertence. Isso é discriminação e é inconstitucional.

Enfim, como o senhor se posiciona em relação à IURD?

Eu admiro o trabalho fantástico que a Igreja Universal faz, mas com algumas coisas não concordo, como talvez eles não concordem com algumas coisas da minha igreja. Discordo dos métodos da IURD, mas devemos respeitar um ao outro.


Extraído Entrevista. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 6, mar. 1996.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 1996

Sérgio Manoel: Mais que vencedor

Por Marcelo Dutra

Campeão brasileiro com o Botafogo, Sérgio Manoel canta a vitória em Cristo

Carlos Fernandes
Vitorioso sobre o Santos, que o havia liberado,
Sérgio agora vai jogar no Japão

Mais que vencedor. É assim que Sérgio Manoel Júnior se sente. ídolo do Botafogo de Futebol e Regatas, e um dos principais jogadores do atual campeão brasileiro de futebol, Sérgio Manoel, embora não se considere um grande craque, se declara um atleta determinado e credita todo o seu sucesso a Deus, que segundo ele é quem lhe dá a vitória eterna. Aos 23 anos, já atuou no Santos - clube que ajudou a derrotar na final do campeonato brasileiro -, no Fluminense e na seleção brasileira. Casado com Andréia e pai de Mateus, de um ano, Sérgio Manoel está convertido ao Evangelho há cerca de dois anos, depois de uma experiência sobrenatural com Deus, na qual uma visão mudou definitivamente sua vida. Ele é um dos mais ativos participantes da missão Atletas de Cristo, grupo que reúne esportistas ao redor do mundo, cujo trabalho é responsável por todo o seu aprendizado e crescimento espiritual Com o passe negociado pelo Botafogo após a conquista do título brasileiro, Sérgio Manoel acaba de assinar um contrato com o Cerezo Osaka, do Japão. Mais um desafio na carreira desse paulista de Santos. Além de jogar futebol naquele país, Sérgio pretende proclamar a sua fé em Deus com a mesma coragem e determinação que marcam sua vida profissional. Em seu apartamento na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, pouco antes de viajar para Santos com a família, o ponta-esquerda Sérgio Manoel deu a seguinte entrevista à revista VINDE:

Depois de jogar pelo Santos Futebol Clube, como se sentiu derrotando esse time na final do campeonato nacional?

Eu me senti bem. Ganhar do Santos serviu para provar àquele clube que foi um erro terem deixado eu sair de lá. Eles não deram o meu real valor. Mas amém, porque se estivesse no Santos até hoje, eu teria sido vice. Nada acontece à toa.

Em algum instante do campeonato brasileiro você achou que o título estava perdido?

Em momento algum esta idéia passou pela minha cabeça, porém, em determinadas situações, cheguei a pensar assim: "Pôxa, Senhor, isso está impossível!" Lá no Mineirão, na semifinal, sofremos uma pressão muito grande do Cruzeiro e o resultado foi 1 x 1. Ali eu falei: 'Senhor, se tu não tomares a frente disso aqui, eu não vou agüentar." Eu sentia que o time estava cansado, estressado e desgastado fisicamente. Naquele momento, eu senti que se a equipe passasse daquela partida, ninguém iria tirar o caneco da gente. Na minha opinião, o Cruzeiro era a equipe mais experiente e, conseqüentemente, a que estava mais tarimbada para disputar uma grande final. Diante do Botafogo eles tinham uma superioridade muito grande, mas nós conseguimos passar por eles.

O Botafogo preferia que as finais fossem no Rio?

Sim, porque nós íamos jogar as duas partidas no Maracanã. No aspecto financeiro seria muito bom para nós. E, também a campanha do Reage Rio (movimento pacifista pela recuperação do Rio de Janeiro) ganharia força, porque o Rio ficaria em evidência.

Como você acompanhou o movimento Reage Rio?

O movimento deveria ser a nível da política também. Os políticos não fazem o que têm que fazer. Depois de eleitos, eles não cumprem nada. Eu não tenho esperança nenhuma no homem, principalmente no político. Só peço a Deus que tenha misericórdia das milhares de pessoas que estão na dependência desses homens aqui na terra. Quanto a nós, acho que criamos um cerco de proteção, porque se encararmos tudo o que vemos nas ruas, não vamos viver bem. Tanta miséria, tanta fome, tanta violência. Acho que os políticos deveriam fazer um trabalho mais consistente. Apenas um ato como esse não é suficiente. No final do ano que vem você vai me perguntar: e aí, valeu? Nós faremos um retrospecto e vamos descobrir que não valeu de nada. Ganhou, sim, a conscientização de todos, mas não vai sair da cabeça. O mais interessante são as atitudes. É difícil a gente pedir hoje uma ajuda. No Botafogo nós estamos pedindo ajuda para um garotinho que precisa fazer transplante de coração. Conseguimos levantar R$ 950 e o garoto precisa de R$ 18 mil

"Não tenho nenhuma esperança no homem, principalmente no político. Eles deveriam fazer um trabalho mais consistente"
Carlos Fernandes

Você diz que sempre ora antes de entrar em campo. Durante o campeonato brasileiro você manteve esse costume?

Às vezes oro durante o jogo. Deus não especifica a forma como a gente tem de orar, nem as palavras, a hora, o local, nada. Então eu tenho a liberdade de orar onde estiver. Oro antes, durante e, principalmente, depois do jogo, seja qual for o resultado, porque eu já sou mais que vencedor. Aprendi que a minha maior vitória é conseguir espaço para levar a Palavra de Deus.

Você ora até quando o juiz faz uma besteira?

Eu levei muita bronca no início do ano porque andava irritado com a arbitragem. Resmungava, reclamava muito, gesticulava. Hoje estou mais ponderado. Eu também xingo. Em determinados momentos é difícil controlar. Mas depois a gente pede perdão, reconhece que está errado. Muitas vezes procuro sair fora da provocação, mas tudo tem limite. No jogo da decisão, por exemplo, o Marquinhos Capixaba me catucava, dando trombadas por trás o tempo todo, e teve um momento em que eu falei: se você quiser graça, nós vamos ter graça agora. Então ele parou e ficou tranqüilo o resto do jogo. O adversário tem que saber que eu sou evangélico, mas dentro de campo sou um jogador de futebol. Quando tiver de fazer uma falta, eu vou e faço, mas nunca com a intenção de quebrar a perna do companheiro, ou dar uma cotovelada na boca de um jogador. Agora, na oração, eu nunca oro para vencer. Eu acho que isso não é certo, porque nos outros clubes também temos irmãos.

O que você pede a Deus quando ora?

Peço que ele me proteja, que eu não tenha contusão, e que seja possível, depois do jogo, falar da Palavra para alguém. Minha oração é sempre baseada nisso, nunca na vitória, ou para que eu seja o melhor em campo.

Você pediu a Deus para fazer o gol do título?

Pedi para fazer um gol na final. Com isso eu teria espaço para falar da Palavra. Eu dizia: toda a honra e toda a glória pertencem a Jesus, não a mim. Se eu fiz algo, foi graças a Deus. Se eu sou perfeito, se tenho dois olhos, enxergo, ando e tenho saúde, é por causa Dele. Se eu não tive contusão durante o campeonato inteiro foi porque Jesus estava ao meu lado. E foi ele que me deu a oportunidade de estar ali, porque eu não sou merecedor. O nome de Deus tem que ser exaltado mais que qualquer outra coisa, não o meu.

Você se considera um jogador muito bom?

Eu sou um jogador normal, médio. Não consigo me ver ainda como jogador de seleção. Vejo o futebol dos outros jogadores e acho que eles têm mais potencial. No entanto: por onde eu passo, estou em destaque. Acho que o segredo é minha perseverança, não sou nenhum cracaço.

A que você atribui seu sucesso?

A Deus. Ele está me sustentando. Penso que o Senhor tem um ministério a me dar, para que eu possa retribuir tudo o que Ele tem feito por mim. O que eu fiz ainda não foi suficiente para agradecer a Deus tudo o que ele tem me dado. Eu não sou merecedor de tantas coisas. Para mim, isso é um mistério.

Qual foi o melhor momento da sua carreira?

Foi ter chegado à seleção brasileira.

Mais do que ter sido campeão pelo Botafogo?

Sim, porque ser campeão brasileiro é uma conquista coletiva, enquanto chegar à seleção foi uma conquista individual. Nessa hora fui muito abençoado por Deus. Só pude dizer: "Senhor, essa benção é só tua."

"Acho que não é certo orar para vencer um jogo porque nos outros times também tem irmãos na fé"
Carlos Fernandes

Como foi sua experiência de conversão?

Em 89 eu tive o primeiro contato com a Palavra de Deus, através do César Sampaio. Nós jogávamos no Santos. Na época, o César e outro jogador, o Davi, ergueram a bandeira do Evangelho e foram adiante. Foi quando ouvi falar dos Atletas de Cristo e comecei a colocar a Bíblia como meu livro de cabeceira. Mas o impacto inicial da mensagem de Deus foi em 93. Fui pego de surpresa. Eu estava na concentração do Santos e escutei o Sérgio, o Darci e o goleiro Gomes conversando sobre igreja. Todos eram evangélicos, o Gomes, inclusive, era pastor. Aquilo ficou, na minha cabeça, deixei de lado a revista que estava lendo e perguntei que conversa era aquela.

E o que eles responderam?

Disseram que o Gomes estava na igreja dirigindo cultos e me convidaram para ir a um. Eu me interessei na mesma hora. Cheguei em casa e falei com a minha esposa: "Olha, baixinha, tem uma reunião na igreja lá em São Vicente e eu vou. Vamos?". Ela não era cristã, bebia e fumava, mas concordou. No caminho quase bati com o carro, avancei sinal vermelho, não enxergava nada. O inimigo de nossas almas tentou de tudo para nos impedir. Na igreja prestamos atenção na oração, no culto. Eu estava absolutamente gelado, não sentia nada. O pessoal louvando, agradecendo, até minha esposa estava chorando. Mas o meu coração parecia de pedra. O Gomes se aproximou e falou comigo, ou melhor, foi o Espírito Santo. O pastor Gomes foi só um canal. Ele apontou pra mim e disse: "Não duvides de mim, porque esta noite mesmo eu te terei em prova." Nessa hora eu pensei: "Por que ele está me dizendo isso?"

Quais foram as conseqüências disso?

Eu fui embora com a minha esposa. Quando chegamos da igreja fomos dormir. No meio da madrugada, porém, eu comecei a ter uma visão. Acordei de madrugada e vi que o teto do quarto começou a clarear. Fechei os olhos e quando abri novamente havia dois anjos. Um veio na minha orelha direita e falou pra eu orar e pedir tudo o que quisesse. Comecei a orar e pedir como nunca. Eu vivia problemas de casamento, estava numa fase de depressão, no fundo do poço mesmo. Não tinha paz nem vontade. Nessa época eu tinha muitas dificuldades jogando lá em Santos. Viera do Rio", onde havia jogado uma temporada excelente no Fluminense. O meu passe era do Santos, que me pegou de volta e me encostou na reserva. Eu não treinava com os titulares. A minha situação era de desespero. Neste período morava na casa da minha sogra e passava por uma tribulação muito grande. Se não fosse a misericórdia de Deus, não sei onde minha vida estaria hoje. Nesse momento orei por todos os meus problemas, toda aquela situação em que me encontrava. Eu não conseguia me mexer, só olhar e orar, tendo aquela visão maravilhosa de um portão de bronze, enorme, aquela claridade, os anjos. Os cabelos deles eram encaracolados, vestiam-se de branco, tinham asas e voavam. Acho que tinham uns dois metros de altura e eu fiquei ali, me deliciando com aquilo.

E sua mulher também viu algo?

Eu tentei acordá-la, mas só consegui me mexer quando a visão se foi e ficou tudo escuro novamente. Então acordei minha esposa. Fomos para a cozinha, e eu consegui falar-lhe da visão. Ela começou a chorar. O mais incrível foi que Deus mostrou que estava me escolhendo para que eu fosse servo dele. No dia seguinte procurei o Gomes para contar a visão. Ele me fez esperar até o final do treino. Eu falava que tinha de lhe contar uma coisa, mas ele me dava as costas de propósito, dizendo: "Tenha calma, depois a gente conversa." Quando acabou o treino fui para o vestiário, tomei banho e fiquei esperando. O Gomes foi o último a sair. Quando finalmente me deu atenção disse: "Não fala nada, aconteceu isso, isso..." E me contou tudo que eu tinha visto no quarto. Aí não tinha mais como fugir, não havia mais saída. Eu disse: "Me entrego, estou aqui Jesus, me faz nascer de novo."

Você tem frequentado qual igreja?

A Igreja Batista, no Centro do Rio, próxima à Candelária. Ali tem reuniões para os Atletas de Cristo, já que a gente não tem sede.

Qual a importância do ministério Atletas de Cristo para você?

Quando eu estava precisando de uma força, vinha sempre alguém dos Atletas de Cristo trazer uma Palavra, uma carta. Às vezes eu estava cheio de problemas e esse ministério me sustentava. Se eu consegui aprender alguma coisa e crescer espiritualmente, foi graças aos Atletas de Cristo.

Como você encara o fato de ser um ídolo popular?

Vejo como um espaço que Deus está me proporcionando. Ser ídolo de um clube como o Botafogo, que tem uma torcida muito grande, me dá condições de falar a Palavra Dele e essa Palavra, como uma flecha, vai cair certinho no coração do amigo que está ouvindo.

"Recebi uma profecia que se confirmou com a visão de anjos. Os cabelos deles eram encaracolados, vestiam-se de branco, tinham asas e voavam"
Carlos Fernandes

O que mudou na sua vida profissional depois que você se converteu?

Ultrapassei todos os objetivos. Seleção, sucesso no Botafogo, reconhecimento individual. Saí da posição de jogador promessa em 93, e hoje sou uma realidade, sou respeitado. A situação financeira sem dúvida mudou muito, pois posso levar uma vida de bom nível e dar conforto à minha família. O que mais chama a atenção na minha vida profissional é que desde que eu aceitei Jesus não houve mais contusão séria na minha carreira. Sei que Ele está me olhando e isso não vai me acontecer.

Como seus companheiros de clube vêem a sua fé?

A partir do momento em que assumi, levantei a bandeira do Evangelho e comecei a levar a Palavra, o pessoal passou a respeitar. Eu acho que eles não respeitam é aquele que fica em cima do muro.

Eles se interessam pela palavra de fé que você transmite?

Quando ficávamos sem receber salário alguns companheiros me perguntaram: "Pôxa Sérgio, você está feliz e duro. Nós não recebemos nada e você está feliz?" E eu respondia que essa felicidade, essa paz que eu tenho é de Deus. Já aproveitava e soltava a Palavra. Com essa atitude eu acabava por chamar a atenção deles.

Como você evangeliza os seus companheiros do Botafogo?

A maneira sempre é a mesma: cultos antes dos jogos. Também convido os companheiros para visitar igrejas, mas o mais importante é o meu testemunho, através da minha vida e conduta.

Que jogador já recebeu essa mensagem?

O principal fruto foi o Gottardo (zagueiro do Botafogo). Vê-lo convertido foi uma vitória muito grande, porque ele era muito cabeça-dura. Ele é inteligente, tem uma personalidade muito forte, e foi difícil falar da Palavra pra ele. Mas a semente ficou dentro do seu coração e várias vezes ele me perguntava alguma coisa. Eu acho que a minha conduta foi importante, pois não sou perfeito, sou cheio de defeitos, mas Deus me honrou e eu não caí. Hoje, sua esposa e dois irmãos dele são convertidos também. Eu sei que o Gottardo orou muito por eles.

No início do campeonato, a imprensa divulgou que houve uma rixa entre você e o Túlio. Como você conseguiu superar esse desentendimento? Você o perdoou?

Posso garantir que houve perdão da minha parte. Nesse caso com o Túlio, teve uma hora em que eu achei que estava no limite. Nós não conversamos sobre as matérias que saíram nos jornais, mas eu o procurei para saber o que realmente estava acontecendo. Ele disse que não havia nada e que ele estava com a gente, e isso me bastou.

Quais são seus planos para o futuro?

Meu passe foi vendido ao Cerezo Osaka, um grande clube no Japão. Espero ficar por lá dois ou três anos. É um desafio, mas acho que vou me adaptar rápido. Não pretendo apenas jogar futebol, mas falar do amor de Deus também. Onde quer que eu vá essa mensagem explode no meu coração, e eu pretendo continuar evangelizando. Para o futuro só sei que Deus tem uma missão específica para mim, não sei qual, mas creio nisso.

segunda-feira, 1 de janeiro de 1996

Pastor Jimmy Swaggart: O difícil caminho da restauração

Swaggart não toca no passado, mas diz ter superado o tempo de "humilhação, dor e sofrimento"

Jorge Antonio Barros e Marcelo Dutra

Um dos maiores televangelistas do século, cujo trabalho missionário alcança hoje 46 países, incluindo a antiga cortina de ferro — onde o Evangelho jamais havia entrado — o pastor norte-americano Jimmy Swaggart refaz seu ministério após um tempo de "humilhação, dor e sofrimento", como ele mesmo define. Embora tenha confessado publicamente o pecado de adultério, em 1988, Swaggart não se submeteu à disciplina imposta pela Assembléia de Deus de Baton Rouge, em Louisiana, nos Estados Unidos. Fundou sua própria igreja, o Centro de Adoração Familiar, depois de se recolher por um ano.

Após o escândalo, ele retorna às cruzadas evangelísticas de massa no Brasil, onde seu programa de televisão deverá voltar ao ar este ano. Com a experiência adquirida em décadas de pregação ao redor do mundo, Swaggart adverte com veemência que, após a derrocada do comunismo, já existe um novo obstáculo à expansão do Evangelho: o crescimento do islamismo. No entanto, ele se anima com a revelação que diz ter recebido de Deus: a abertura da nação mais populosa do mundo - a China comunista - ao cristinianismo.

Casado há 43 anos com Francis, que esteve ao seu lado o tempo todo, Swaggart só não fala no seu próprio passado. O drama de ter praticado adultério e confessado publicamente virou um assunto proibido. Não tocar neste tema foi a condição imposta por assessores no Brasil para que Swaggart desse a seguinte entrevista exclusiva à revista VINDE:


Como o senhor tem visto os últimos conflitos no Oriente Médio?

Toda a expectativa em torno do primeiro-ministro Yitzhak Rabin nos trouxe muitas esperanças com relação às negociações de paz entre israelenses e palestinos. Ao mesmo tempo, eu me sentia temeroso com a possibilidade de uma conspiração para afastá-lo de seus objetivos pacifistas. Agora, após sua morte, tornamos a reconhecer o fato de que não devemos nos iludir, pensando que a paz em Israel será estabelecida por um homem.

O que a Bíblia nos fala a respeito?

A Bíblia é muito clara quanto aos acontecimentos no cenário político mundial. Pelo que sabemos, Israel continuará a conviver com conflitos, atentados, conspirações e guerras. A Bíblia também mostra que apenas após o reconhecimento oficial, por parte da nação de Israel, de que Jesus é o Messias, o filho que Deus enviou para nos salvar, é que a paz será possível naquele país. Quando Israel se submeter ao completo senhorio de Cristo é que Deus poderá intervir nas questões militares e diplomáticas.

O que o senhor acha da política externa do presidente americano Bill Clinton?

Sei que o presidente americano é duramente criticado por sua postura diante do comportamento das demais nações, por suas atitudes e estratégias. Contudo, vamos reconhecer que os Estados Unidos, como nação evangélica, devem influenciar o mundo. Somos uma nação poderosa e desenvolvida porque nossos pais foram tementes a Deus e hoje desfrutamos das bênçãos do legado de fé e serviço ao Senhor. Então, biblicamente, temos uma responsabilidade muito grande diante de Deus para com o mundo em que vivemos. Sempre que possível, devemos ajudar, promover a paz ou agir com justiça. Aquele a quem muito é dado, muito lhe será cobrado. Por isso, devemos assumir nossas responsabilidades e trabalhar para o bem-estar comum.

Meu retorno se deu após uma fase de muita humilhação, dor e sofrimento. Deus me levantou e me fez saber o tempo de começar de novo a pregar o Evangelho.


Como está a igreja evangélica brasileira?

Sinto muito, mas eu não me sinto capacitado para fazer uma avaliação segura sobre esse tema. Este é um país muito grande, a igreja evangélica aqui possui milhões de membros e continua em franco crescimento. Porém, é só o que eu sei. Não estou inteirado sobre questões doutrinárias e comportamentais das diversas denominações evangélicas. Mas uma coisa percebo: a igreja evangélica no Brasil é uma das mais fortes do mundo. E é uma grande organização, que cresce e se impõe a cada dia.

O senhor tem acompanhado o crescimento do movimento pentecostal na igreja evangélica brasileira nesses últimos dez anos?

Realmente, é um movimento que cresce de modo muito veloz. Eu diria até que é no Brasil que se tem detectado um crescimento mais forte do pentecostalismo em todo o mundo. Temos uma experiência muito grande em televisão aqui porque mantivemos por sete anos um programa de TV. A receptividade foi muito grande. E, visitando esta nação, fui percebendo uma sede e uma fome muito grande por Deus. As pessoas estão buscando Deus com muita intensidade. Uma outra grande evidência do derramar do Espírito Santo é a convivência pacífica em uma mesma igreja de etnias tão diferentes: são negros, brancos e amarelos vivendo como irmãos. Eu admiro e gosto muito de ver isso. Creio que esse amor a Deus e essa ausência de segregação são itens importantes que levam o Brasil a liderar o avanço do movimento pentecostal no mundo.

Quando o senhor planeja retornar ao Brasil?

Antes de tudo, tenho que considerar que sou um evangelista ocupado em levar a mensagem de Deus para todo o mundo. Sendo assim, deverei cumprir vários compromissos já agendados com outros países, antes de retornar. A propósito, estou seguindo rumo à África para urna grande concentração e depois estarei nas Filipinas em uma cruzada de evangelização. Mas, é claro, assim que cumprir os compromissos com esses e outros países, estarei breve retornando. Eu sinto no Brasil uma força e uma fé muito grande. Em relação aos demais países, é uma nação muito promissora no que diz respeito às missões. Além disso, o povo daqui é muito caloroso e hospitaleiro. Eu me sinto muito bem no Brasil.

Quais os países em que o senhor tem visto uma resistência maior à pregação do Evangelho?

Nos países muçulmanos há uma grande oposição à mensagem do Evangelho. Mas nas demais nações as pessoas têm respondido de modo muito positivo à pregação da palavra de Deus e à unção do Espírito Santo.

Em sua opinião, qual o maior desafio para a igreja evangélica em nossos dias?

Eu diria que continua sendo o mesmo desafio lançado por Jesus Cristo há dois mil anos: cumprir a convocação para a pregação do Evangelho. A ordenança é ainda a mesma. O grande desafio é e será o que encontramos na Palavra de Deus: "Ide por todo o mundo e pregai o meu Evangelho a toda a criatura". Sei que existem muitos outros desafios, mas nossa preocupação básica deve ser a de levar as boas novas para todas as pessoas.

Quais os benefícios e mudanças trazidos pelo fim do comunismo?

Meu ministério mantinha nosso programa de TV na Rússia bem antes da queda do comunismo. O Senhor já me fazia sentir que o comunismo iria acabar, que estava com os seus dias contados. Deus providenciou para que entrássemos na Rússia antes disto acontecer. Foi uma bênção muito grande. Com o advento da queda do comunismo, várias outras portas se abriram e então conseguimos penetrar em muitos outros países outrora fechados para o Evangelho. A nossa surpresa e alegria foram enormes. Encontramos um povo ávido por conhecer o nosso Deus. Hoje estamos com o nosso programa em diversos países que estiveram sob o domínio do comunismo. Atualmente estamos penetrando na China comunista. É claro que, com o desaparecimento e a queda desse tipo de governo, a igreja cresceu e foi beneficiada com as mudanças que se seguiram. Hoje, Deus tem me falado de maneira muito forte que em breve haverá uma abertura política e espiritual muito grande na China. Eu amo muito aquele povo. Nós já temos conseguido, de forma muito tímida, entrar na China. Acredito muito que logo poderemos levar o Evangelho de uma forma mais abrangente e tremenda. Eu não possuo nenhuma informação que possa me garantir que isso esteja prestes a acontecer, contudo creio que Deus intervirá.

Uma evidência do derramar do Espírito Santo é a convivência na igreja de etnias tão diferentes: negros, brancos e amarelos vivem como irmãos.


Como está o seu ministério hoje, nos Estados Unidos?

Mantemos nosso programa de televisão e nossa igreja em Baton Rouge está indo muito bem. O programa tem sido transmitido para vários países, como Filipinas. África e Rússia.

Quantas pessoas assistem ao seu programa nesses países?

Não posso dizer com precisão o número de nossos telespectadores. Sei que temos um público muito grande nas Filipinas e também na Rússia. Para você entender melhor, o sinal das emissoras vai além das fronteiras e consegue alcançar povoados, cidades dos países vizinhos da Rússia e da África, por exemplo.

Os Estados Unidos já foram um grande celeiro espiritual, enviando centenas de missionários que evangelizaram boa parte do mundo. Essa realidade está hoje mudada. Como o senhor vê isso?

É verdade. Nossa nação é muito abençoada. De lá saíram muitos homens e famílias que dedicaram suas vidas à pregação do Evangelho. Aconteceram muitas mudanças ao longo do tempo. Esse envio de missionários caiu consideravelmente. Mas hoje podemos claramente perceber que um grande reavivamento espiritual está para acontecer em nosso país. Com esse derramar do Espírito Santo, creio que voltaremos a enviar missionários para a evangelização dos povos.

Quem são os grandes evangelistas de nossa geração?

Você vai querer que eu me inclua nesta relação? (risos) Bem, sou apenas mais um homem de Deus a levar o Evangelho às nações dentre vários outros de nossa geração. Posso mesmo citar grandes nomes, como Billy Graham, Benny Hinn, evangelistas de linha tradicional ou pentecostal.

O que o senhor nos diz sobre o movimento neo-pentecostal, no qual poderíamos incluir o pastor Benny Hinn como uma de suas expressões internacionais?

Eu aprecio muito o trabalho desenvolvido pelo pastor Benny Hinn. Também vejo com bons olhos o movimento que cresce velozmente nas dissidências de igrejas de linhas histórica e tradicional. Eu oro para que Deus continue ungindo e abençoando ministérios como os do pastor Hinn.

O que a igreja norte-americana tem feito contra o avanço do consumo de drogas no país, que segundo estimativas, possui cerca de três milhões de dependentes?

Não existe nenhum programa amplo e específico para o combate ao crescimento de dependentes químicos sendo desenvolvido pela igreja. Uma coisa eu posso afirmar: a igreja não possui uma fórmula mais eficaz do que o Evangelho de Jesus Cristo. O Evangelho liberta, restaura e traz perdão. A igreja deve reagir e tem reagido contra as drogas e toda a sorte de crise moral com a mensagem simples do Evangelho. Temos milhares de testemunhos de pessoas que foram libertas de vícios e de uma vida moral decadente pelo poder maravilhoso do Evangelho de Jesus. Essa é a resposta da igreja para o mundo em crise: o Evangelho.

Quantos cristãos existem hoje na América?

Eu diria que toda a América é cristã (risos). Todos se dizem cristãos. É difícil fazer uma estimativa desse tipo quando se trata de um país típica e tradicionalmente evangélico. Ou seja, cristãos são mais de 250 milhões, agora, o número de cristãos genuínos, os que experimentaram o novo nascimento, não dá para calcular.

Quantos discos o senhor já gravou como cantor evangélico, desde que iniciou sua carreira musical?

Desde que nasci eu comecei a cantar (risos). Gravei meu primeiro disco em meados dos anos 50 e hoje tenho mais de 40 álbuns gravados. Agora mesmo finalizei mais um, a ser lançado em breve, cujo título é God is real (Deus é real).

O que o senhor tem a dizer sobre o movimento da música cristã contemporânea?

Sinto que a música cristã está mudando suas perspectivas, e se tornando apenas uma música popular. Nunca fui simpatizante da MCC, não concordo com o movimento e acho que não vem do Senhor. O movimento ainda cresce na América, mas não deverá ser sempre assim.

Deus tem me falado de maneira bem forte que em breve haverá uma abertura política e espiritual muito grande na China. Temos conseguido, de forma tímida, entrar neste país.


E quanto ao White Metal, o heavy metal cristão? O que dizer sobre isso?

Simplesmente, não sou a favor, embora eu seja da época em que o rock'n'roll se popularizou nas canções de Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. O rock gerou o heavy metal e hoje ele está na igreja também. Sabe, a música é o meio pelo qual revelamos nosso coração a Deus, e ela não pode ter um ritmo agressivo. Eu entendo que nossa música deva ser alegre e de muita celebração. Posso citar que no Velho Testamento as pessoas adoravam a Deus cantando Salmos e Hinos. Não consigo aceitar o rock como apropriado para nos levar à adoração e ao louvor a Deus.

Quais as maiores mudanças em seu ministério nos últimos cinco anos?

As coisas estão sempre mudando em meu ministério, porém não existe uma sequer que mereça destaque, a não ser quando Deus restaurou o meu chamado e a minha vocação. Retomei minhas atividades e, sentindo forças renovadas, continuei, de lá para cá, a cumprir aquilo para que fui chamado: pregar o Evangelho, levar a Palavra de Deus a todas as partes do mundo.

Como foi o seu retorno à pregação do Evangelho após algum tempo de impedimento por motivo de falha humana?

Eu me sinto muito bem. É claro que meu retorno se deu após uma fase de muita humilhação, dor e sofrimento. Mas pude entender o grande amor que Deus teve pelo rei Davi que, após seus grandes erros e pecados, o perdoou e restaurou. Deus me levantou e me fez saber o tempo de começar de novo a pregar o Evangelho.

E como está o amor por sua esposa?

Bem, muito bem. Acabamos de completar 43 anos e posso lhe garantir que tudo o que ela manda eu faço direitinho.


sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

Bispo Renato Suhett

"Macedo perdeu o controle da Universal" O bispo do amor revela por que deixou a Igreja do Reino de Deus

Por Jorge Antonio Barros

Apesar de ter sido líder da Igreja Universal por três anos e vivido sob o mesmo teto que o líder máximo, bispo Edir Macedo, o bispo e cantor gospel Renato Suhett, 34 anos, garante desconhecer qualquer irregularidade administrativa ou financeira na denominação evangélica que, hoje, mais provoca escândalos, no país. Justamente por seu estilo light, dedicado apenas ao povo de Deus, sem falar em política ou constranger ninguém a fazer doações à igreja, Suhett acredita que foi discriminado por seus próprios pares a ponto de ser enviado pelo bispo Macedo como missionário da Universal nos Estados Unidos.

Ali, acompanhado da mulher, a produtora de modas Lúcia, Suhett viveu por dois anos uma espécie de exílio involuntário. Durante esse tempo era impedido de vir ao Brasil até mesmo para ver a família. Quando a igreja que ele findava começava a crescer, ouvia do bispo Macedo o seguinte conselho: 'É hora de mudar de templo para você não ficar orgulhoso' o que Deus falava a Macedo, porém, não era a mesma palavra que ouvia Suhett, triste por ter deixado de gravar suas músicas.

Movido por "divergências doutrinárias", Suba: decidiu há três meses desobedecer o antigo líder e amigo. Voltou ao Brasil com a mulher e praticamente a roupa do corpo. "Não tenho nem uma bicicleta'; garante. Agora só quer voltar a gravar (lança seu disco este mês) e implantar a Igreja do Senhor Jesus Cristo, o nome mais simples que poderia dar à denominação que poderá causar um dos maiores rachas já sofridos pela Universal. Ao final de seu programa Tarde Amiga, transmitido diariamente pela rádio Brasil AM, Suhett deu a seguinte entrevista à VINDE:

Fotos Divulgação
O bispo Renato Suhett morou três anos com o bispo Macedo, em São Paulo.

Qual a maior crise que a Igreja Evangélica atravessa hoje no Brasil?

A questão doutrinária. Nós temos um fundamento, que é o Senhor Jesus. A doutrina é o terreno. É óbvio que precisa haver o terreno sobre o fundamento. Tem que ter os dois, mas o fundamento é o mais importante. Por causa das doutrinas estão colocando separações. As igrejas estão se separando não somente entre si, mas estão se separando dos ímpios. E aí, onde está o amor? Os ímpios são colocados para serem salvos. Se você se nega a estar com eles, quem é que vai 'pregar para eles'? Pedro não queria comer com os ímpios na frente de Tiago, e Paulo o repreendeu cara a cara. Nós estamos na mesma maré.

E qual é a pior crise da Igreja Universal?

A inércia. Os bispos que comandam igreja têm uma certa liberdade de agir, alguns seguem por uma vertente mais acirrada, aguerrida, que atingiu seu ápice com o bispo Sérgio Von Helde, cuja maneira de pregar é agressiva. O episódio da santa foi a "confirmação da mentalidade de que Deus está no meio deles e fora dali não conta com mais ninguém. Nem todos os pastores pensar assim. O povo não pensa assim. Há uni divisão.

O episódio da santa caracterizou uma perda de controle do bispo Macedo?

Sim. Penso que o Von Helde não avisou ao bispo com antecedência sobre o que pretendia fazer.

Apesar dessa crise, a Universal é a Igreja Pentecostal que mais cresce no Brasil. Como o senhor explica essa contradição: uma igreja em crise e em crescimento?

O crescimento da Igreja Universal é questionável. Na liderança se dizia que a igreja tem uma porta aberta na frente e outra atrás, bem maior. Ela traz as pessoas pelos meios de comunicação, mas muita gente também sai para outras igrejas. A Universal tem funcionado como um pronto-socorro, que dá injeção para o doente, cura e alivia no momento. Mas tratamento de recuperação tem que ser feito pela Palavra e isso falta na igreja. Falta doutrina de amor, do Evangelho.

Qual a consequência mais negativa do chute na imagem da santa para os evangélicos?

A gente tenta abrir uma igreja nova e encontra barreira, porque os donos de cinemas e teatros não querem alugá-los para nenhum evangélico. Eles nos vêem como incitadores à agressividade. Estou tentando abrir uma igreja desde o início de outubro. O pastor Manuel Ferreira, da Assembléia de Deus de Madureira, teve dificuldades terríveis para alugar o Maracanã [para a cruzada do pastor Jimmy Swaggart], mesmo depois que já estava tudo certo. O Juizado de Menores quis impedir o culto. Levaram três dias em luta para liberar o que já estava liberado. Com isso, a Igreja Católica cresceu, o gigante adormecido despertou e se beneficiou. O tiro saiu pela culatra.

Em que outra ocasião o tiro saiu pela culatra?

Sempre que a igreja foi para a rua ou para a imprensa pedir justiça. Toda vez que tentou defender o bispo Macedo, ou qualquer pastor, ou qualquer doutrina, ou falou contra o Espiritismo. Tudo isso era antipático. A justiça pertence a Deus. Quando o homem quer fazer justiça, faz fumaça. Mas a fumaça vai para o vento e o tiro, para trás.

Como os evangélicos se posicionam sobre o episódio da santa?

Em sua maioria, são contra aquela atitude. Acham que foi um ato impensado. Porém, a IURD procurou manifestar na televisão que os evangélicos estariam divididos, uns a favor, outros contra. Qualquer pessoa de bom senso é contra.

"O bispo Edir Macedo pode pensar em ter um presidente da República da igreja dele. Mas ele se candidatar, de jeito nenhum"

A Igreja Católica, por outro lado, disse que não sabe se vai perdoar. A atitude cristã não deveria ser o de perdoar o bispo Von Helde?

A Igreja Católica também se faz de vítima. A IURD pega o episódio e se diz perseguida, mas ela afrontou. A Igreja Católica se diz ofendida, quer tirar partido. É partidária, cínica, falsa. Não precisa levar chute para se revelar.

Na prática, em que esse episódio afetou a Universal?

Houve queda do número de membros da Universal. Eles podem ter voltado para a Igreja Católica ou, decepcionados, podem não querer mais estar em igreja nenhuma. Dou graças a Deus por ter saído antes deste episódio, porque, se eu saísse agora seria chamado de covarde.

Como foi a sua saída?

Depois de pensar e orar eu falei com o bispo Macedo pelo telefone. Eu lhe disse que havia uma divergência doutrinária no meu coração, que a igreja estava se tornando muito agressiva, partindo para um lado muito legalista. O povo não estava feliz e eu tampouco. Expliquei que sairia bem, sem nenhuma crise pessoal. Reiterei que os direitos autorais sobre meus discos eram da igreja. Os quatro LPs, mais dois discos em espanhol. Alguns outros pastores saíram da igreja pedindo indenização, dinheiro, até chantageando. Fiz a minha obrigação de servir a Deus.

Como ele reagiu?

Ele disse que eu estava errado por pensar que havia uma predisposição da liderança contra mim. Eu comentei: "Olha, bispo, eu tenho sido muito pressionado. Isso não parte do senhor, não?" Ele foi bastante tratável, queria conversar, mas era uma decisão do meu coração com Deus.

Quando o senhor começou a pensar em sair da Igreja Universal?

Há um ano eu comecei a sentir que as nossas diferenças eram muito grandes, mas eu tentei contornar, achando que eu é que estava errado. As diferenças foram aumentando.

Houve uma gota d'água paro o senhor tomar essa decisão?

Não. Foi uma coisa progressiva. Fui vendo a escassez do amor, que começa na relação entre pastor e membros, depois entre os próprios membros e cada um dos obreiros. pastores e bispos, entre eles mesmos. Quando a gente vê que é uma voz seca, tem que tomar uma atitude: ou fica como voz no deserto, ou sai. Eu estava sendo objeto de chacota, de gozação, porque era "bispo do amor". Não sei por que colocaram essa oposição.

O senhor acha que houve uma conspiração dos outros bispos contra o senhor?

Não. Isso traz a ideia de que eles sentaram para conversar a respeito. Eu fui bispo do Brasil e esse ergo exerce um tremendo poder sobre o trabalho da igreja. Eu fiquei no lugar do bispo Macedo, durante quase três anos. Houve um desejo de mostrar ao bispo que aquele meu trabalho baseado no amor, na graça de Deus, na Palavra não surtia efeito. Não houve uma conspiração, mas uma predisposição.

Há uma estratégia da Universal para a ocupação de cargos políticos?

Existe uma estratégia política de colocar candidatos da igreja para defendê-la, ajudá-la a crescer sem nenhuma barreira.

Só para a Igreja Universal, ou para os evangélicos como um todo?

Para a Universal. Esporadicamente, um ou outro pode ter essa abertura, como o Aldir Cabral, secretário de Trabalho e Ação Social do Estado do Rio de Janeiro, um homem que fala pelas outras denominações por decisão dele. Mas a igreja elege candidatos para trabalhar para ela, não está pensando em ninguém.

O bispo Macedo já pensou em se candidatar a um cargo político?

Se pensasse a esposa dele seria a primeira a se opor. Ele pode pensar em ter um presidente da República da igreja dele. Mas ele se candidatar, de jeito nenhum.

Existem candidatos que se aproveitam dos votos da Universal?

Os candidatos são escolhidos dentro da igreja. Não há como um candidato vir de fora para se aproveitar.

O senhor conviveu muito tempo com o bispo Macedo, morou na mesma casa que ele. Durante esse período em que a Igreja Universal cresceu, ganhou dimensões internacionais, o poder subiu à cabeça dele?

Era isso que ele colocava, referindo-se a mim. A Igreja Universal no Brasil cresceu e alcançou dinamismo durante o meu bispado. Eu falo isso sem medo, sem risco de estar exagerando, errando ou me auto-elogiando. É fato, nós abríamos cerca de dez igrejas por semana em São Paulo, fazendo discípulos. Brasília começou a crescer, Minas e Curitiba cresceram razoavelmente. Na medida em que ele falou que poderia subir à minha cabeça, sendo eu bispo do Brasil e ele bispo mundial, acredito que o poder possa ter subido à cabeça dele sim. Existe uma megalomania na IURD, que o bispo Macedo tem também, de achar que a igreja é maior do que o é de fato. Na última campanha política lançou um candidato ao senado. Se ela tivesse esse suposto número de membros, teria eleito o senador.

"O crescimento da Igreja Universal é questionável. Na liderança se dizia que a igreja tem uma porta aberta na frente e outra atrás, bem maior"
Fotos Divulgação

A Igreja Universal parece sofrer de uma certa paranoia de perseguição. Ela sofre perseguição?

Nunca vi a igreja como a "pobrezinha perseguida". As vezes sofre perseguições como consequência do que ela mesma aprontou. Se você mexe com casa de abelha, a abelha vai persegui-lo. Se você reclama por estar sendo perseguido, causa comoção popular, mas não corresponde à realidade.

Com que intenção a Igreja Universal comprou a Rede Record?

Até hoje eu não sei. A Record serviu como ponto de discórdia dentro e fora da igreja. Quando o bispo comprou a Record eu ainda era pastor no Rio de Janeiro. Não participei das transações. Mas pensei que a Record havia sido comprada para pregar o Evangelho, para ser uma TV cristã. Hoje ela é uma nau perdida no oceano da TV brasileira, porque quando você a quer evangélica, você a tem mais secular; quando a quer secular, ela parece evangélica. É uma TV sem identidade.

Na época, os jornais denunciaram que ela fora adquirida com dinheiro do exterior. O senhor viu alguma coisa sobre isso?

Vi nos jornais, mas por dentro, não. Como ela poderia receber ajuda do exterior?

O dinheiro teria sido mandado antes para o exterior, e retornado para a compra da emissora?

Eu não poderia dizer nem sim nem não. A igreja não tem nenhuma fonte de renda no exterior. Veja bem, quando não respondo a essas perguntas, é porque eu não sei mesmo. Posso parecer cínico, mas não é não. Quando eu morava com o bispo, eu coloquei bem claro que não queria me envolver com problemas econômicos. Então foi feita uma divisão: outra pessoa se encarregaria das finanças da igreja e eu me ficaria com a parte espiritual.

Quem se encarregava da outra parte?

O deputado federal Ademir Laprovita Vieira, um homem de confiança, um ancião da igreja.

Ele sabe tudo sobre a Igreja Universal?

Ele é um deputado da Universal, é o presidente de honra e de fato. Cuidava da parte econômica. Eu ficava na parte espiritual, me esquivava quando tinha reuniões administrativas, coisa de advogados. Sou arredio, não entendo e faço questão de não entender. Talvez seja um erro meu. Segundo a Associação Evangélica Brasileira, os métodos de arrecadação da IURD são agressivos e levam muita gente ao constrangimento. Como o senhor vê isso?

Se eu digo que a igreja está dentro de uma vertente agressiva e hiperlegalista, isso pressupõe que vai se pedir oferta com esse espírito, que caracteriza a maneira de pregar, de tratar os membros, os obreiros, de falar na rádio, de agir na televisão. Obviamente, a maneira agressiva de pedir oferta faz aumentar o poder econômico da igreja.

O dinheiro é bem aplicado na pregação do Evangelho?

A Record e muitas rádios foram compradas. Penso que o dinheiro era aplicado nisso. Nunca vi riqueza de pastores, bispos, sujeitos comprando carros, ou propriedades. O dinheiro é aplicado dentro da igreja, se bem ou mal, não sei.

Que o senhor saiba, então, ninguém usava o dinheiro em benefício próprio?

Eu nunca vi. O pastor da IURD não tem nada. Uma vez fui à rádio El-Shaddai dar uma entrevista. Eles pensavam que eu era milionário porque era bispo da IURD. E Deus sabe que eu saí sem um tostão. Eu não tenho uma bicicleta.

Mas durante um certo tempo o bispo Macedo era apresentado pela imprensa como dono de automóveis importados...

Ele tinha um Mercedes em nome dele. Pegaram esse carro. Na confusão entrou o carro e tudo. Os carros que usávamos eram de propriedade da igreja, penso que os dos bispos também, mas não posso afirmar.

No período em que o senhor conviveu com ele, como era a vida dele, seus atos?

Normais, de uma pessoa simples. Nós tocávamos violão, fizemos duas músicas juntos.

Não havia nenhum luxo pessoal?

Não mesmo. Ah. uma coisa que ele gosta é de carro importado. Ele usava esses carros e permitia que nós os usássemos também. Mas nunca o vi preso a nada de luxo.

"Nunca vi riqueza de pastores ou bispos. Os direitos autorais dos discos são doados à !URD. O dinheiro é aplicado dentro da igreja. O pastor não tem nada"
Fotos Divulgação

Como Macedo reagia às acusações feitas pela imprensa e pela sociedade?

Ficava triste ou nervoso, principalmente pelo modo como as coisas chegavam até ele. O bispo não compra jornal, nem ouve rádio ou vê televisão. Geralmente as notícias chegam a ele através de informantes, que quase nunca dizem a coisa como ela é. Há pessoas que ficam se solidarizando com ele para tirar proveito. O pessoal falava: "Olha, nós estamos contigo". Vinha um advogado e falava: "Eles se levantaram, mas eu já fiz algo contra eles". E o bispo acreditava.

O bispo Macedo é um homem que anda só?

Ele anda com a esposa ou com a filha. Gosta de estar sempre junto de um ou dois pastores. É uma pessoa normal. Não andava com guarda-costas, mas parece que agora tem.

Quando o bispo Von Helde foi indiciado, houve um tumulto causado por homens armados que o acompanhavam. A Universal tem seguranças armados?

No meu tempo não tinha segurança armado. Perto da igreja do Brás, em São Paulo, ocorreram vários roubos de carros. Foi pedida proteção à polícia, que dava uma olhada. Mas segurança pessoal, nunca. A coisa não chegou a este nível. Agora, aumentou o perigo ou a paranoia.

Por que o bispo Macedo controla e comanda a igreja de fora do Brasil?

No meu tempo, eu era bispo do Brasil justamente para ele não ter esse trabalho. Ele estava com a visão de comandar a igreja universalmente, de abrir trabalhos no exterior. Ele mora em Nova Iorque, mas mantém o pessoal controlado, faz mudanças. Quando eu não servia mais dentro daquela estratégia. fui tirado.

Qual foi a emoção de retornar ao Brasil e se desligar da igreja na qual tinha criado raízes?

Não deu tempo de sentir essa emoção ainda. Eu me sinto feliz, não por ter me desligado da igreja, mas por estar fazendo algo que Deus a cada dia confirma no meu coração.

Se o senhor tivesse hoje a oportunidade de encontrar-se com o bispo Macedo, o que diria a ele?

O que eu já falei: que ele deveria trazer de volta, dentro dele, aquele homem que saiu da Igreja Nova Vida. As raízes dele são muito boas. Quando ele prega a inspiração do amor, a palavra de Jesus, é muito bacana. Eu tenho respeito por ele, sempre foi meu amigo, mas, a gente ouve comentários, fica sabendo que as pessoas não podem mais se aproximar da gente. Outros, que eram amigos, deixaram de ligar. Virei persona non grata. Saí da IURD para pregar o que eu sempre preguei, o amor. a palavra e a graça de Deus.

O senhor está querendo dizer que a IURD se desviou da graça de Deus?

Ela se desviou da graça.


Extraído Entrevista com Renato Suhett. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1995, a. 1, ed. 2, p. 6-10, dez. 1995.

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