Por Reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho
![Carlos Fernandes](https://images2.imgbox.com/3d/18/pcLOr2LA_o.jpg)
Quando, em 1988, decidi passar dois anos nos Estados Unidos estudando, após 15 anos de ministério ininterrupto no Brasil, muitas pessoas, inclusive amigos, especularam - e concluíram - que eu estava saindo de vez do país. Diziam que iria fundar uma organização minha, chamada Caio Fábio Ministries. Minha esposa e eu ouvíamos aquilo tudo e ríamos à distância. Por vezes, desmentimos o boato. Mas percebemos que não adiantava. Somente o tempo provaria o contrário. Tentamos desdizer as notícias porque muitas pessoas estavam profundamente magoadas comigo, dizendo que estava "traindo o Brasil" com aquela mudança. Bem, fomos, voltamos e provamos, com os fatos, o nível do nosso compromisso com a igreja e com o país.
Agora, em 1996, a boataria está correndo solta novamente. As versões são as seguintes:
- "O reverendo Caio ficou magoado com vários amigos que não se posicionaram explicitamente ao seu lado quando trouxe a público assuntos relacionados à Igreja Universal e, por isso, está se mudando do Brasil." E mais:
- "O episódio da cocaína encontrada nas dependências da Fábrica de Esperança e as denúncias feitas pelo revererendo Caio de que o governador do Rio estava mal intencionado e usava o episódio politicamente gerou uma onda de ameaças e perseguições sobre ele e sua família. Ao ponto de terem que sair do Brasil."
O que há de verdadeiro e de falso em tudo isto? Ora, cada uma das versões acima tem um pouco de verdade e de engano. Comecemos com a verdade. Não tenho como negar que me entrisceteu imensamente a postura indecisa, ambígua, neutra, cega ou infiel de algumas pessoas no episódio da confrontação que a Associação Evangélica Brasileira (Aevb) fez em relação aos métodos, doutrinas e comportamento dos líderes da Igreja Universal. Niguém fica feliz ao ouvir pessoas que o beijam, afirmam amizade e andam ao seu lado dizerem que sabem que você está certo, mas não querem se queimar. Ou ainda, ao ouvi-las dizer que dependiam de alguns favores da IURD e, por isso, não se manifestariam ou o fariam do lado de lá. Eu via, entretanto, que a maioria estava ao nosso lado, ainda que, muitas vezes, trate-se de uma maioria quieta e excessivamente discreta. Mas isto é tudo. Eu me senti mal algumas vezes, mas toquei a vida adiante.
E mais: aquilo me ajudou a ver quem realmente tem postura e coragem dentro da igreja. Quem é amigo da verdade e quem apenas faz política fraternal sem compromisso. Mas eu jamais sairia do Brasil por esta razão. Não sou menino, nem homem do tipo impressionável. Deus me fez razoavelmente forte e capaz de absorver pancadas sem baixar a cabeça. Especialmente quando minha consciência me diz que estou fazendo a coisa certa.
"Ninguém fica feliz ao ouvir pessoas que o beijam, afirmam amizade e andam ao seu lado dizerem que sabem que você está certo, mas não querem se queimar"
Também é verdade que o incidente envolvendo a Fábrica de Esperança me trouxe imensas tristezas. Afinal, ninguém gosta de ver um governante sair dando tiros a esmo, atingindo você e seu trabalho, sem que haja qualquer motivo para tal atitude. Além disso, ninguém aprecia também descobrir que seu telefone está grampeado e que seu carro está sendo seguido. Da mesma forma, ninguém deixa de sofrer ao perceber que há grupos (civis ou militares) tentando usar a situação para seqüestrá-lo emocionalmente, através de constantes e veladas ameaças telefônicas. Claro que não gostei. Mas isto também é tudo. Jamais decidiria sair do Brasil por isso. Não sou do tipo que foge. Sempre que pressionado, meu primeiro impulso é encarar a ameaça. Sou assim desde pequeno. Faz parte de minha natureza e da minha criação. Além do que, caso tais ameaças — que, graças ao Senhor, logo acabaram — me fizessem procurar um lugar seguro para minha família, não mudaria para os Estados Unidos, mas para Curitiba. Lá é gostoso, seguro, próximo e muito mais simples para a mudança.
O que está acontecendo é que a Vinde e a Vicom (Vinde Comunicações) estão abrindo uma base nos Estados Unidos, e minha esposa estará lá, nessa base na Flórida, até dezembro de 1996, a fim de estabelecê-la. Como não posso me imaginar longe da família, ficarei dez dias lá e dez aqui, durante o ano todo, ininterruptamente.
Como você pode ver, a mentira tem a ver com as motivações que teriam nos levado a decidir por esta mundança. Só que a decisão por criar a base já vinha sendo processada desde julho de 1995. Portanto, anteriormente à questão da IURD, em setembro, e ao episódio da Fábrica de Esperança, em novembro. De fato, quando ocorreu o incidente na Fábrica, minha esposa estava na Flórida, fazendo levantamento de tudo o que seria necessário para a implantação daquela base ministerial.
Então o que fica de tudo isso? Fica a certeza de quem, em 1996, vamos estar expandindo nossas atividades para a América Latina, tendo Miami como base. E mais: realizaremos eventos para hispânicos e brasileiros nos EUA e veicularemos o programa de televisão Pare & Pense em redes de TV a cabo daquele país. Fica também a verdade quanto à minha presença lá e cá, durante o ano. E ainda: fica a informação de que ninguém vai perceber diferença alguma nos ministérios que a Vinde e eu realizamos. Ao contrário, caso perceba alguma diferença, será porque realizaremos mais coisas no Brasil em 1996.
O que passar disso vem do maligno. Nós, entretanto, somos da Verdade e da Luz.
Extraído Entrevista. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 22-23, abr. 1996.