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sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

Um corpo firme na rocha

Bailarina dá novos passos rumo ao Criador


Por Tatiana Glass


Chico Ferreira/ Editora Três

O salão era amplo, de paredes brancas com janelas altas, coloniais. Algumas vestiam cortinas de veludo claro, imensas, pomposas. O chão era de tábua corrida, de uma textura lisa, quente, acolhedora. Enquanto nos movíamos, íamos experimentando essas sensações, observando aquele espaço, caindo, levantando, caindo novamente, sendo acolhidos pelo chão, aquecendo o nosso instrumento de trabalho.

O líder propôs ao grupo mover-se, deslizando por aquele imenso salão como se estivessémos patinando sobre o chão. Ao mesmo tempo, procurávamos observar uns os outros, o movimento, nossas roupas, nossos olhares, nossos detalhes, nossos corpos e o espaço — hídico, imenso, como matéria solúvel, onde o corpo podia ser, se expressar, se apoiar, se encher, se esvaziar, se mover.

Observei o líder. Eu, a bailarina. Ele movia sua cadeira de rodas, cabelos longos presos por uma trança, olhos azuis pequenos. E um corpo que, ao mesmo tempo, integrava e transcendia aquela tetraplegia, que eu, atendendo aos meus limites, não conseguia entender. Como poderia ele se mover melhor do que eu? Eu, a bailarina?

Agora, nos propúnhamos a criar pontos de contato corporal uns com os outros, onde pudéssemos ouvir o nosso par, ouvir através da pele, do toque. Abrir a mão do controle para dar lugar ao fluxo, ao movimento de dentro, criar uma dança junto e, com ela, novas possibilidades de contato. Pares de dois, grupos de três, quatro, cinco. Todos os 12 grupos de um. Um com o espaço, um com o chão, um com o outro.

Cada encontro com o outro obrigava a transformar os referenciais, a transformar seu próprio espaço. Quanto mais aberta a pele, melhor flui o movimento, mais bonita fica a dança, o par mais harmônico. Uma dança não convencional, sem preceder de técnica, uma dança de seres humanos, não de bailarinos. De corpos que traduziam claramente a diversidade da criação de Deus.

Na verdade, era o meu primeiro contato com essa dança diferente, que se manifestava na imobilidade daquele líder, e que colocava os meus conceitos, o meu movimento, a minha dança, a minha carreira, a minha pessoa numa nova perspectiva. Eu dançava e, nas minhas dúvidas, me perguntava, e a Deus, se seria capaz de me abrir a tamanhas mudanças. E se era seguro fazê-lo.

Pensei nos meus fundamentos. Naquilo que o meu corpo já sabia. Pensei na rocha. No fundamento. Nos ventos, nas tempestades. Naquilo que vem para mudar, para testar a gente, bagunçar a nossa organização, desarrumar tudo de arrumadinho, colocado. Naquilo que a gente não entende, não consegue saber. Aquilo estranho que parece fora de hora, fora de lugar, que a gente não reconhece como manifestação do amor. Do amor de Deus que vê a gente além e tudo de melhor que a gente pode ser, e que muitas vezes só pode vir à tona quando deixamos que ele quebre as nossas mesmices e nos lance num caminho dinâmico, diferente, criativo, onde a gente se permita conhecer e ser conhecido.

Porque "o que nós vemos agora é como uma imagem embaçada num espelho; então nós veremos face a face. O que sei agora é parcial somente; então será completo — completo como é o conhecimento que Deus tem de mim" (1 Coríntios 13:11, 12).


Tatiana Glass é bailarina e professora de dança.

Revista Vinde - Edição 3

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