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sexta-feira, 5 de janeiro de 1996

Um pescador de artistas

Após se converter, o humorista Dedé Santana lança a rede do Evangelho no meio artístico

Carlos Fernandes

Fotos: Frederico Mendes

MAANFRIED SANT'ANNA diz que nasceu com um dom de Deus: o de ser um artista. Durante toda a sua vida, essa característica fez dele um dos homens mais populares do Brasil, reconhecido nas ruas e adorado pelas crianças. No entanto, dentro daquele palhaço, havia uma alma vazia e um coração triste, escondidos por trás da cara engraçada que fazia milhões de pessoas rirem. Somente há dois anos a imagem da alegria começou a corresponder à felicidade interior. Dessa união harmônica de corpo, alma e espírito, surgiu um novo Manfried, ou melhor, um novo Dedé Santana, ou, como ele agora se denomina, o Dedé de Deus. Essa história é contada no livro Dedé de Deus - Num vôo perdido, um tesouro encontrado, da editora MEI (Missão Evangélica Internacional), lançado no mês passado. Nele, Dedé revela os bastidores dos Trapalhões, a história de sua vida e os fatos que motivaram sua conversão. "Em minhas viagens pelo Brasil, as pessoas sempre se mostravam curiosas por conhecer minha história. Muitos pastores me incentivaram a lançar este livro, para tornar público o meu testemunho", conta Dedé.

Integrante do grupo de humoristas de maior sucesso no Brasil - Os Trapalhões - Dedé Santana diz que sua conversão foi devida a uma série de acontecimentos, principalmente porque Deus o livrou da morte: "Infelizmente, eu vim a Deus pela dor. Eu estava mal, no hospital. Eu tenho certeza de que fui salvo da morte por Jesus". Mas essa experiência foi apenas o clímax de muitas outras que fizeram parte de sua vida, que ele agora entende terem sido um plano divino para salvá-lo. "Eu resisti muito aos chamados de Deus, porque eu achava que ele não ia me perdoar, pois eu era um grande pecador", relata Dedé, que enumera entre seus pecados o fato de ser muito mulherengo, "um péssimo marido", como diz. Segundo Dedé, a sua conversão causou surpresa entre seus amigos e colegas artistas: "Eles diziam: mas logo o Dedé, não é possível..." E ele próprio reconhece que há algum tempo isso lhe pareceria impossível: "Se me falavam em crente, em pastor, eu corria".

O Dedé de Deus - que, na época, era apenas o Manfried - praticamente nasceu no palco, pois sua família era formada por artistas de circo. Nascido em São Gonçalo (RJ) há 58 anos — "por coincidência, pois nosso circo estava ali" —, ele fez seu primeiro papel com três meses de idade, como o filho de uma escrava, interpretada pela sua própria mãe. Sua infância e juventude passaram-se nos palcos e picadeiros, com pouco dinheiro e muito trabalho. Foi palhaço, trapezista, atuou no globo da morte. Mais tarde, e já em parceria com Renato Aragão, que é seu amigo desde "mil, novecentos e antigamente", formou a dupla Dedé e Didi, e atuaram em programas como Um, dois, feijão com arroz, da TV Excelsior, Vídeo Alegre, Os Legionários e finalmente Os Adoráveis Trapalhões, em 1965, juntamente com Ted Boy Marino, Vanuza, Ivon Curi e Walderley Cardoso. A formação do quarteto definitivo (com Mussum e Zacarias) só aconteceu mais tarde, depois de 1972.

CARREIRA DE SUCESSO - Os Trapalhões marcaram gerações de telespectadores com seu programa. Dedé conta casos de adultos que se aproximam dele com filhos no colo e dizem que sempre foram seus fãs, e que seus filhos também o são. O grupo realizou milhares de shows, 37 filmes - muitos deles recordes de bilheteria no Brasil - 16 discos (três deles premiados com o Disco de Ouro) e incontáveis programas de TV. "Sempre fomos campeões de audiência", relembra o Trapalhão. Com seu humorismo no estilo pastelão, atravessaram as fronteiras e atuaram na América Latina, Estados Unidos, Europa e África. Dedé Santana recorda com carinho dos companheiros Zacarias e Mussum, já falecidos: "O cômico nato do grupo era o Mussum. Ele era um comediante perfeito. Eu e o Renato sabemos a arte de fazer rir, com expressões, caretas e truques. O Mussum não, ele era engraçado mesmo. Já o Zacarias era um ator, porque ele compunha um tipo, ele era diferente. Quando ele desfazia o personagem, era outra pessoa"

Nos velhos e bons tempos, com Renato Aragão, Zacharias e Mussum, o humorista agora lança o livro Dedé de Deus, com seu testemunho

POR DENTRO, TRISTEZA - Apesar de todo o sucesso e fama, Dedé Santana não era um homem feliz. Embora tenha sido criado em um lar católico, com o tempo foi perdendo o sentimento religioso: "Eu me tornei apenas mais um católico nominal", admite. Já adulto, teve envolvimentos com cartomancia, Kardecismo e Umbanda. Contudo, foram experiências passageiras, como conta: "Eu não ficava mais de seis meses praticando uma religião, nunca fui adepto de nenhuma". Renato Aragão costumava dizer que ele era ateu. "E era verdade", confirma. As pessoas que conheciam na intimidade o quarteto costumavam dizer que Dedé era o mais mal-humorado, e que com o tempo passou a se tornar esquivo, fugindo dos fãs, ao contrário dos companheiros. Embora tivesse conseguido uma confortável condição financeira, sentia um vazio interior e uma falta de perspectivas para sua vida pessoal que o levavam constantemente à angústia. Mais de uma vez chegou a pensar em suicídio, mas logo percebeu que não teria coragem de praticá-lo. Chegou a procurar a morte, frequentando lugares perigosos e dominados pela marginalidade no Rio de Janeiro, mas o máximo que conseguiu foi ser reconhecido e admirado pelos bandidos... As ingratidões que sofreu ao longo da vida também o entristeciam. Dedé Santana relembra com amargura esses momentos: "Sempre procurei ajudar as pessoas, colaborar com quem precisasse do meu auxílio, mas não era reconhecido por isso, pelo contrário, outras pessoas recebiam os elogios pelas coisas que eu fazia". O humorista dava lugar, então, a um homem solitário e deprimido.

'TOQUES' DE JESUS - Dedé Santana diz que sua conversão deve-se a uma série de acontecimentos aparentemente inusitados, como uma senhora que ofereceu-lhe uma Bíblia em um sinal, um pastor que o perseguia falando de Jesus em Angola, na África, uma camareira da Rede Globo que orava por ele e uma menininha que, no enterro de Mussum, se aproximou e falou-lhe que, durante seus programas, colocava a mão na TV e orava por ele. Em uma viagem de avião, uma passageira disse-lhe que Deus o amava, embora ele houvesse se esquecido dele. "Foi tanta gente que falou de Jesus para mim, que eu nem sei", ele conta. No episódio de sua internação, um grupo de pastores, acompanhados por seu filho. Áttila Sant'anna, foi até seu quarto, para orar por ele. Dedé diz que foi uma surpresa, "pois até então eu não sabia que meu filho havia se convertido". A sua doença foi amplamente noticiada em todo o Brasil, e muitos artistas chegaram a dizer que ele estava à morte. No dia seguinte à oração, uma série de exames foi realizada e nenhum sinal da doença foi encontrado. Alguns dias depois. Dedé teve alta, após ser considerado completamente curado. No entanto, nem assim ele decidiu seguir o Evangelho: "Mesmo depois que Jesus curou-me no hospital, eu ainda resisti, na minha ignorância na fé", diz. A sua decisão só ocorreu em uma reunião da Adhonep (Associação dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno), há dois anos, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Dedé Santana, ex-farrista contumaz,
agora é membro da Assembléia de Deus, no Rio.

LEVANDO A PALAVRA - A partir da sua conversão. Dedé Santana entendeu que deveria usar seu talento para levar o Evangelho. "Se Deus me escolheu no meio artístico", acredita, "ele quer que eu fique lá". Ele garante que tem conciliado muito bem as atividades profissionais com a sua fé. O humorista tem certeza de que sua missão é levar o Evangelho, à sua maneira, a todo o Brasil. Dedé realiza trabalhos evangelísticos em todo o país -em um deles. em Belo Horizonte, chegou a reunir mais de cem mil pessoas. Além disso, tem participado de eventos, shows, campanhas beneficentes e trabalhos comunitários, sempre fazendo piadas e brincadeiras: "Quando subo um morro, por exemplo, chego dizendo que vou brincar com as crianças. Depois de muitas palhaçadas, sinto-me à vontade com as pessoas. e aí começo a falar de Jesus", relata. O fato de ter-se tornado evangélico não o impede de envolver-se em projetos artísticos. Ainda tem um ano e meio de contrato com a Rede Globo, que prevêem a realização de dois especiais para esta emissora. Além disso, os Trapalhões pretendem fazer mais um filme, com a participação de Xuxa. Ele garante que continua fazendo muito sucesso: "Em Portugal. por exemplo, o nosso programa é muito conhecido, está há mais de um ano em primeiro lugar na audiência. Lá, os Trapalhões estão no auge da fama", conta, sem esconder a satisfação.

Dedé tem viajado muito, embora já tenha recusado diversos convites para sair do Brasil. A Beto Carreiro, que convidou-o a ir para Las Vegas, e a Renato Aragão, que queria levá-lo para Miami, deu a mesma resposta: "Tenho que ficar no Brasil, para falar do Homem que me salvou da morte no leito do hospital". Ele tem se empenhado em evangelizar seus colegas de profissão - é o criador e presidente da Asac, Associação dos Artistas de Cristo, entidade que conta com a participação. entre outros, de Jece Valadão. Nil (ex-integrante do grupo Dominó) e Wagner Montes, e que tem o objetivo de divulgar o Evangelho entre a classe, além de auxiliar artistas inativos em dificuldades financeiras. "Já contei minha experiência com Deus para o Tony Ramos, o Rômulo Arantes e o Kadu Moliterno. e todos eles se interessaram pela mensagem", testemunha o Dedé de Deus. acrescentando que "quando eu falo para os meus colegas atores que há muitos crentes orando por eles, ficam admirados".

Dedé Santana frequenta a Assembléia de Deus, mas não diz em qual congregação: "Se eu falar, a igreja lota e há muito tumulto, pois as pessoas às vezes confundem o irmão com o artista". Além de Áttila, Dedé tem mais seis filhos, sendo que o mais novo, Marcos, tem apenas um ano. "É uma criança linda, de cabelos pretos e olhos azuis", derrete-se o humorista. Sua esposa, Cristiane, confirma que Dedé é um homem que demonstra com suas atitudes que leva uma nova vida: "Ele é maravilhoso, um ótimo pai, um excelente marido, carinhoso comigo e atencioso com os filhos. Dedé realmente tem Jesus no coração", atesta a companheira do artista. O ex-farrista confirma: "Meu negócio, agora, é viver para minha família".

Suas diversas atividades não o impedem, contudo, de dedicar-se a falar de Cristo para os artistas com os quais convive. Para ele, "só um artista pode evangelizar outro artista de modo mais eficaz, pois é preciso ter tato. sensibilidade e saber falar de um jeito próprio". Para os que consideram o meio artístico muito podre, ele dá um recado: "São pessoas que precisam ser evangelizadas como quaisquer outras. Os crentes e os pastores costumam abandonar essa classe". O Dedé de Deus tem um argumento pessoal para estimular a evangelização dos atores: "A primeira vez que falaram de Jesus para mim, eu ouvi".

Revista Vinde - Edição 3

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