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sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

A noite do embaixador

Al Green encanta a plateia brasileira com sua música e espiritualidade

Por Benilton Maia

Fotos de Frederico Mendes

Carismático, Al Green mostrou
um repertório variado na
apresentação do Free Jazz

Na noite de 17 de outubro de 1995, abertura da décima versão do Free Jazz Festival, o palco do Metropolitan, no Rio, maior casa de shows do Brasil, se transformou em altar. Durante pouco mais de uma hora, o pastor, cantor e compositor americano Al Green mostrou ao público que boa música se aprende na escola... dominical. Alternando baladas, souls e gospels, o ministro-artista encantou a plateia com seu carisma e testemunho de fé. É a primeira vez que Green - ou, como gosta de ser chamado, reverendo - se apresentou no Brasil. Sua participação era uma das mais aguardadas para esta edição do festival, que acabou se rendendo ao pop. Mas, como todo bom cantor negro norte-americano, ele tem suas raízes no gospel.

Aos nove anos, Albert Greene (seu nome verdadeiro) já excursionava com o pai, o baixista Robert Greene, cristão conservador, integrando os Green Brothers. Pensando que tudo o que lhe atraía estava fora da igreja e era proibido por ela, decidiu formar o grupo Al Green & The Creacions, mudado depois para Al Green & The Sou1 Mates. Na época de sua primeira gravação, a canção Back up traia (1967), alcançou o Top 5 das paradas de R&B (rythm'n'blues). Empolgado com o sucesso, excursionou de Chicago a Bacon Rouge, apresentando-se em pequenas casas noturnas. Nessas andanças conheceu Willie Mitchell, em 1969. O amigo passou a produzir suas novas gravações e a compor em parceria algumas canções que se tornariam clássicas, como Tired of being alam, de 1971. Depois de vários discos de ouro entre 1971 e 1974, Green passa a ser chamado embaixador do amor por interpretar canções que pregam o romantismo, entre das Let's say together - regravada em 93 pelo grupo de hip-hop cristão ETW -,I'm still in love with you e Look what you've done for me.

Durante o show, o cantor e pastor
norte-americano falou várias vezes
do Evangelho

No apogeu da fama, porém, ele repensa seu relacionamento com Deus. Há quem diga que a queda que quase lhe custou a vida também contribuiu para a decisão de dedicar-se totalmente à música evangélica. O primeiro álbum desta nova e inesperada fase é The Lord will make my way, sucesso de crítica e vencedor de um prêmio Grammy em 1982. Nesta época, ele já havia se tornado pastor do Full Gospel Tabernacle (Tabernáculo do Evangelho Pleno) em Memphis, Tenessee. Em 1985, sai He is the light, marcando o retorno da parceria com Mitchell. Um sucesso. Em 1987, lança Soul Survivor pela A&M Records, repetindo mais uma vez o sucesso. É deste álbum a música Everything is gonna be allright.

Em 1992 , Green grava pela gravadora evangélica Word o disco Love is Reality, em que acrescenta mais R&B ao seu trabalho marcado por um balanço moderno aliado ao seu sofisticado gospel tradicional. Além dos sucessos como cantor cristão, o reverendo também trabalha junto ao mercado secular, e seu nome tem figurado em diversos créditos de filmes. Ele compôs, ao lado de Annie Lennox, o hit Put a little love in your heart, tema do filme Os fantasmas se divertem. Fez temas também para Corina, uma babá perfeita e Um tira da pesada 3.

Green quer hoje compartilhar sua mensagem de amor além dos portões da igreja em Memphis. Ele canta para a mulher amada e para Deus com o mesmo fervor. Ano passado foi lançado no Brasil (e ignorado pelas rádios) o álbum Don't look back, produzido por Arthur Baker e Fine Young Canibais. Quem garimpa e encontra algum exemplar deste CD não se arrepende pelo esforço. Al Green acaba de gravar Your heart is in your hand, produzido por Narada Michael Walden e lançado este mês nos EUA.

Crítica / Al Green **

Por Omar de Souza

Quem foi ao Metropolitan na noite de 17 de outubro de 1995 para assistir a um show do artista Al Green saiu satisfeito. Aqueles, porém, que pretendiam ouvir o pastor Al Green voltaram para casa com uma suave sensação de quero mais. Não que o cantor profissional inibisse o reverendo. Pelo contrário, os dois conviviam no palco com muita harmonia. Os nomes Deus e Jesus foram mencionados inúmeras vezes, do início ao fim da apresentação. Mas faltou mais daquilo que Green sabe fazer de melhor: interpretar, do fundo da alma, souls e gospels genuínos. O repertório, evidentemente preparado para agradar os fás do cantor, evidenciou tanto os sucessos dos anos 70 que suas melhores canções - as de adoração e louvor - ficaram em segundo plano. Aliás, era também nas músicas religiosas que a competente banda brilhava mais.

O que faltou de gospel, o reverendo compensou com carisma e estilo cênico. Sem abusar de seus famosos agudos em falsete, ele preencheu todos os espaços da casa de espetáculos projetando a potente voz, quase dispensando o microfone. As caminhadas entre as mesas da plateia também serviram para envolver todo o público no balanço de sua música. Resta a curiosidade: será que os cultos no Full Gospel Tabenacle são tão bons e animados quanto o show de Green?


• ruim; * regular; ** bom; *** ótimo

A conciliação entre púlpito e palco

4 Perguntas Al Green

O senhor grava canções românticas e evangélicas com diferentes ritmos e gêneros. Há algum tipo de diferenciação entre a música religiosa e a popular?

Sim, há uma diferença muito grande entre música gospel e música popular ou profana. Em ambas são abordados dois tipos de amor bem distintos. Uma coisa é falar sobre o amor de um rapaz por uma garota, tipo "te amo, baby, quero te beijar e abraçar", e outra é falar do amor entre o Criador e o homem. Contudo, rodo tipo de amor vem do Criador. Há quinze anos atrás, eu não poderia fazer esta afirmação porque eu ainda não tinha racionalizado isso no começo de minha dedicação a Cristo. Mas hoje posso gravar e falar sobre o amor em suas diferentes formas. Ambas as formas de amor nos são dadas pelo Criador, apesar de serem distintas. Eu me considero uma espécie de (gesticula como se abrisse parênteses) embaixador do amor. E isso não é apenas um aspecto de minha vida, mas algo que norteia todo o meu viver. Eu gostaria que esse maravilhoso amor de Deus tomasse conta do mundo todo. Então, eu quero falar desse amor.

"Deus quer que todos conheçam seu amor.
Por isso, me sustento nas posições onde
posso compartilhar, de alguma formo, esse
amor commuitas pessoas."

Seu repertório é composto apenas de gospel music?

Não, meu show consiste de músicas como Let's say together, Call me, Love is Reality, Amazing grace, enfim, as músicas que contêm todos os elementos que falam das coisas que eu penso e acredito. O show é longo, por isso posso apresentar um número grande e variado de músicas.

Como o senhor concilia a vida de pastor com a de artista?

Consigo conciliar as duas coisas porque Deus é amor. Ele quer que todos conheçam este amor, por isso me sustenta nessas posições onde posso, de alguma forma, compartilhar seu amor com muitas pessoas. Críticas sempre existirão, seja por um motivo ou outro. Certamente gravo para diferentes segmentos musicais. Porém, em última análise, todo tipo de amor vem do Criador, certo? Então, eu canto sobre todo tipo de amor que nos foi dado por Deus. E, apesar das críticas, eu sei que este amor de Deus me ajuda a superar todo tipo de barreira. O amor sempre prevalecerá.

Voltando no tempo, qual foi sua motivação para deixar os Green Brothers e seguir sua carreira?

Fui expulso do grupo por meu pai (risos). Ele me surpreendeu mais de uma vez ouvindo músicas que não eram bem-vindas em minha casa, como Jack Wilson, James Brown, Wilson Piccket. Então, me expulsou de casa. Depois disso, eu me associei a três músicos que tocavam musica pop e passei a seguir por um bom tempo nesse caminho somente.



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