sexta-feira, 5 de janeiro de 1996

Boa Leitura

Carlos Fernandes

Um irmãozinho?
Tânia Guahiba Buchmann
Vinde Comunicações/1995 -28 págs./ la Edição

Um irmãozinho? é mais que um livro. É um instrumento para pais e educadores. Primeiro trabalho da autora, Um irmãozinho? aborda, por estratégia interativa, uma questão presente na maioria das famílias: a concepção, do ponto de vista infantil. Neste livro, a criança escreve, desenha, cola, enfim, participa da narrativa. Segundo lugar na categoria Contos Infantis no Concurso de Literatura Infanto-juvenil promovido pela Vinde Comunicações.

Compre no Estante Virtual

Carlos Fernandes

Orar com Deus
(Prayer the transforming friendskip)

James Houston
Abba Press/1995 - 319 págs.

Nossa cultura, habituada a desencontros e frustrações, desvaloriza os momentos de silêncio. Acabamos levando as confusões para nossos momentos de oração e meditação na Palavra. Em Orar com Deus, James Houston nos chama a conhecer Deus e encontrá-lo como amigo no sentido mais profundo da palavra. Esta amizade muda em nós a perspectiva de alguém a quem recorremos na crise para um Deus que busca relacionamento com seus filhos.

Compre no Estante Virtual

Carlos Fernandes

Esboços - 70 esboços de A a Z
Caio Fábio
Vinde Comunicações/1995 -260 págs.

Quem está acostumado com os livros do pastor Caio Fábio com abordagens teológicas ou de exortação encontrará neste título um lado novo do autor: o daquele que busca informações complementares ao texto, que se apropria de ilustrações para tornar a mensagem bíblica próxima a quem a estuda: Pastores e seminaristas são alvos deste livro, útil também para que o público possa tirar dos textos bíblicos a profundidade que oferecem.

Compre no Estante Virtual

Carlos Fernandes

O mundo de Sofia - Romance da história da filosofia
(Sofres verden)
Jostein Gaarder
Cia. das Letras/1995 - 555 págs.

Para os cristãos, a filosofia é quase uma heresia. No entanto, homens e seus pensamentos têm atravessado séculos e é importante conhecê-los para discuti-los. O mundo de Sofia é bom começo. Utilizando-se da forma de romance, quase thriller, Gaarder conta a história da filosofia tendo como recurso a figura de um professor que se corresponde com Sofia, menina de 15 anos a quem envia cartas que discorrem a respeito do pensamento filosófico.

Compre no Estante Virtual

Vídeos e Filmes

Por Elivânia Lima

Carlos Fernandes

Frankenstein de Mary Shelley (Mary Shelley's Frankestein)
Direção: Kenneth Branagh
Com Robert de Niro e Kenneth Branagh
Duração: 130 min./1995 - EUA - Drama

"A melhor maneira de ludibriar a morte é criar a vida." Este é o pensamento de Victor Frankestein, personagem ao mesmo tempo protagonista e coadjuvante deste filme. No século 19, um médico se destaca pela obsessão de criar uma espécie que não morra nunca. A oposição deste drama aos referenciais da criação nos traz à memória a constatação do Criador: "E viu Deus que tudo era muito bom". E nos dá uma agradável sensação de valor.


Carlos Fernandes

Uma ironia de Deus chamada Moisés
Apresentação: Reverendo Caio Fábio
Produção: Central de Produções Vinde
Duração: 50 min./1995 -Brasil - Documentário

Quer por sua liderança, quer por sua mansidão ou ainda por sua intimidade com Deus, Moisés é sempre visto como alguém que, de forma profunda e sincera, relacionou-se com Deus como poucos. Partindo desta premissa, o reverendo Caio Fábio se utiliza da riqueza dos fatos da vida de Moisés e, passando pelos lugares onde as narrações ocorreram, traz mensagens contextualizadas, revigorantes e repletas de ensinamentos válidos para nós com a mesma intensidade que tiveram para o personagem em questão.


Carlos Fernandes

Terras das sombras (Shadowsland)
Direção: Richard Althenborough
Com Anthony Hopkins e Debra Winger
Duração: 130 min./1995 -Inglaterra

Para quem já conhece o escritor e pensador cristão C.S.Lewis (Perelandra, O Grande Abismo etc.), Terra das sombras é a possibilidade de se conhecer um.pouco mais sobre o homem Lewis, na interpretação de um Anthony Hopkins que constrói o personagem com emoção, altivez e britanismo. Jack (como era chamado por seus amigos) tinha admiradores em todo o país. Solteiro, vivia entre livros e discussões filosóficas, até que a chegada de Joy (Debra Winger) começa a mexer com a solidez e as atitudes metódicas de sua vida.


Carlos Fernandes

Segunda chance (Second glance)
Direção: Rich Christiano
Com David White e Lance Zitron
Duração: 60 min./1994 - EUA

Muitas vezes, diante da vida, desejamos não ter que viver baseados em princípios aparentemente caducos. O conflito de Dan Burgess (David White) passa por aí. Nascido em lar cristão, cresceu ouvindo valores bíblicos que tentava reproduzir. Mas os apelos eram muito maiores: as garotas, a turma da pesada, enfim, fatos corriqueiros na vida de qualquer jovem. Numa noite, cansado daquele papel de crente, deseja nunca ter sido um cristão. Para sua surpresa, a oração é respondida - e aí sim, começa o seu verdadeiro aprendizado.


A religião do mundo

Por Ciro Fernandes D'Araújo

O que vemos no século 20 é um mundo dominado por uma nova e poderosa religião. São construções que se levantam até o céu, superando em muito os templos, santuários, igrejas e mesquitas antigas. Dentro destas novas. catedrais predomina um espírito sério, ascético, e uma atmosfera contrita. Os padrões arquitetônicos apregoam uma nova confissão de fé. Também dentro desses santuários vemos miríades de pessoas sentadas diante de telas, observando a formação de imagens e desenhos que inspiram uma reação tecno-mágica. Estas pessoas interagem com uma realidade metafísica simplesmente pressionando botões, numa liturgia que faz lembrar a ordem e o silêncio dos mosteiros.

Podemos encontrar esses templos nos mais diversos lugares do mundo: Nova Iorque, Tóquio, São Paulo, Londres, Moscou. Cairo. Em qualquer país encontramos tais estruturas que definem a mais universal de todas as religiões. É possível perceber também a grande semelhança na arquitetura, nas vestimentas rituais dos sacerdotes e, especialmente, na mesma confissão de fé proclamada por todos: "Por si só, o dinheiro move o mundo" (Publilius Syrus, séc. I a.C.). O dinheiro assumiu em nossa sociedade muitas das características antes reservadas às religiões. Ele congrega as mais diversas partes do mundo numa mesma fé e sistema de julgamento mútuo. Ele exige grande fé e um conjunto de sacerdotes que executem rituais e sacramentos incompreensíveis aos meros leigos. Seus missionários (banqueiros e corretores) levam a fé aos lugares mais remotos do planeta, procurando pregar a todas as nações a mensagem em que crêem: a fé no crédito, nas taxas de juros, e no sagradíssimo demonstrativo de resultados. Os avaliadores de crédito e gerentes de bancos são os guardiões de segredos e de confissões indevassáveis.

Até mesmo aos termos consagrados milenarmente pelas religiões se emprestou novos significados. Redenção passou a significar resgate futuro de um título emitido. Credo tomou o significado de crédito. Perdão releva dívida que se tornou um grande pecado. Milagre se tornou um crescimento econômico brusco e inesperado. Essa religião tem uma credibilidade que o cristianismo, o budismo ou o islamismo nunca tiveram. Ela se baseia totalmente no raciocínio. Todos os seus rituais são explicados por um sistema de fé baseado apenas na razão humana. Sua teologia leva um novo nome: Economia.

"O dinheiro assumiu em nossa sociedade muitas das características antes reservadas às religiões"

Banqueiros e economistas assumem o papel dos pregadores, que em suas mensagens pintam o dinheiro como aquele que resolve todos os problemas e o instrumento central do bom, belo e certo. Cada vez mais, o credo religioso tem-se unificado, afirmando sua vitória sobre as heresias regionalistas. Vemos também a chegada de uma nova dispensação que trouxe o fim da Grande Inquisição dos tempos modernos, com sua suprema blasfêmia pronunciada contra a natureza divina do dinheiro: a heresia marxista. O poder e o mistério desta nova religião aumentaram com a universalização e a integração dos mercados de capital mundiais. Houve a crescente separação entre o dinheiro e o comércio de bens e criou-se uma geração de mestres gurus, entendidos na nova liturgia das finanças, enquanto se levantam profetas do apocalipse que afirmam terem visões das calamidades finais.

Desde suas origens, o dinheiro sempre esteve associado à religião. As primeiras moedas têm sua raiz no templo. A própria palavra moneta era o epíteto da deusa Juno (Hera), em cujos templos os romanos cunhavam suas moedas. As unidades monetárias mais simples eram o sal, as conchas, as pedras ou os dentes de animais, a que se atribuíam poderes especiais e metafísicos.

A invenção do dinheiro como meio de troca permitiu a grande expansão da produção mundial, através da divisão social do trabalho e da produção. Entretanto, o dinheiro adquiriu um novo atributo, que seus sacerdotes chamam "armazenamento de valor". Com tal salto divino, ele se tornou objeto de uma veneração ainda maior, pois se tornou sacramento do poder. O ouro, utilizado em templos desde os mais remotos tempos, se tornou o supremo receptáculo de riqueza e a mais sagrada relíquia desta nova religião. Quem possui tal graça está salvo da perdição deste tempo.

À medida que o poder do dinheiro cresceu, a maioria dos ensinamentos religiosos passou a advertir quanto ao poder corruptor que este ente espiritual possui. O verdadeiro Deus detesta idolatria e, com relação ao deus-dinheiro, ninguém foi mais explícito na denúncia de seu poder espiritual do que Jesus. Ao dizer que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no céu, Jesus afirmava a força perniciosa que o culto ao dinheiro provoca. Todavia, a própria igreja caiu na idolatria deste novo deus e mergulhou fundo em seu sistema, adquirindo propriedades e riqueza, tornando-se a instituição mais rica e, portanto, a mais corrupta do mundo medieval. O poder do dinheiro para corromper, controlar e dominar a vida dos homens tornou-se um tema repetido no discurso de místicos, poetas e dramaturgos. Shakespeare já dizia: "Este escravo amarelo/Formará e destruirá religiões, bendirá amaldiçoados/Tornará a velha lepra adorada, coroará ladrões/E lhes dará títulos, mesuras e atenções/Com senadores sentados no anfiteatro". Outro grande dramaturgo, Dickens, escreveu: "Essa misteriosa moeda de papel (...)/(...) quando o vento sopra (...)/(...) De onde veio, para onde vai ?"

Lá pelo século 19, o advento da revolução industrial quebrou as barreiras impostas pela religião e pela moral. O poeta Heine chegou a dizer: "O dinheiro é o deus da nossa era e Rothschild é seu profeta". A felicidade dada pelo dinheiro, mediante a aquisição e propriedade das coisas, é mensurável, tendo assim uma vantagem no que tange à felicidade proporcionada por outros sistemas de fé. O mundo, que nunca antes esteve pronto para aceitar universalmente qualquer dos sistemas de fé oferecidos para sua salvação, adotou a religião do dinheiro sem qualquer restrição.

O dinheiro também exige disciplina e moral. Trata-se de um sistema de leis e regras cuja transgressão se tornou pecado. Perder tempo é um dos piores. O verdadeiro pecado, imperdoável, é a falta de crédito. O dinheiro exige abnegação e disciplina, que se tornarim indispensáveis à salvação da pior de todas as maldições: a ineficiência. Foi no Oriente que a religião do dinheiro mais mostrou sua eficiência em produzir o milagre do crescimento econômico. As antigas religiões budistas, xintoístas e até o marxismo foram abandonados em favor de uma fé que realizou um milagre insofismável: o desenvolvimento. Atualmente, Japão, Taiwan e Coréia parecem ser os celeiros missionários da nova religião, à medida que uma multidão de adoradores ergue seus olhos para os gráficos e dados estatísticos projetados nas telas.

Enquanto isso, os Estados Unidos continuam como o centro do pensamento teológico, fornecendo as bases dogmáticas da religião, enquanto seus sacerdotes continuam a fazer exegese dos textos sagrados: os livros santos de Smith, Ricardo, Malthus, Keynes, Schumpeter, Fredman e outros grandes profetas. Como se não bastasse o crescimento universal dessa religião secular, vimos, aturdidos, mais recentemente, a rendição da fé evangélica a esse deus. O surgimento da chamada teologia da prosperidade nada mais é do que o curvar dos joelhos dos cristãos ante a força esmagadora desse deus malévolo. E, como em muitos outros momentos da história, estamos vendo que o pior inimigo de Jesus está se tornando o maior amor dos crentes. Até Jesus já foi relido a partir dessa nova ótica. Agora Ele não entra mais em Jerusalém montado num jumentinho. Se quiserem que Ele entre lá devem mandar buscá-lo de Rolls Royce e com cachê de astro de cinema. E para tudo isto dão-se justificativas superespirituais. Paulo, entretanto, diria: "Anátema! Isto é outro evangelho".

Top
Ciro Fernandes D'Araujo é estudante de Economia na PUC/Rio e filho mais velho do reverendo Caio Fábio.

Maria, sobrenome fé

Maria: "Deus me deu um filho"

Biblicamente falando, Maria é quase sinônimo de fé. Foi assim com a mulher escolhida para dar à luz a Cristo. Foi assim com Maria Madalena. E não poderia ser diferente com Maria José de Souza Castro, 28 anos, da Igreja Batista Monte Gerizim, na Ilha do Governador, no Rio. Seu testemunho de cura é uma belíssima história de esperança nas promessas de Deus.

Desde o fim de 94, a menstruação de Maria estava irregular e muito escura. Paralelamente, ela sentia dores sob a costela esquerda que se estendiam para a perna. "A médica insistia que eu não tinha nada", conta. Um exame realizado em agosto do ano passado, porém, apontou os problemas: um cisto na região extraovariana, presença de líquido no chamado saco de Douglas e uma lesão. Os resultados indicavam o risco de um câncer, e a cirurgia era inevitável.

No dia 9 de setembro, durante uma série de palestras na igreja, a irmã Simone, esposa do pastor Levi Corrêa, da Igreja Batista de Santo André, São Paulo, orava por M-aria quando o Espírito Santo revelou o problema de saúde. "Ela e o pastor oraram por mim na hora. Comecei a sentir uma espécie de fogo saindo da mão dela na minha barriga e algo como um óleo fresco derramado pela mão dele sobre minha cabeça", diz Maria.

Dez dias depois, Maria se submeteu a outro exame e, para surpresa da médica do laboratório, o cisto, a lesão e o líquido haviam desaparecido. "Minha ginecologista não acreditava que Deus havia me curado. Ela também disse que eu teria uma chance irrisória de engravidar, mas o Senhor completou a bênção. Estou grávida", conta feliz. Ela já está providenciando o enxoval.

Como nos tempos de Eli

Rosemary Ferreiro, com Antônio
e Gabriel, teve um órgão reconstituído

Impossível é uma palavra que, definitivamente, não faz parte do vocabulário divino. Que o diga Rosemary da Silva Ferreira, 36 anos, da Igreja Batista em Renovação Espiritual Nova Jerusalém, em Sampaio, subúrbio do Rio de Janeiro. Casada com o pastor Antônio Ferreira, 50, ela tem três filhos, mas um deles pela ação milagrosa de Deus, que reconstruiu um órgão amputado para confirmar sua promessa.

Há cerca de 14 anos, quando deu à luz Mariane - Rodrigo, o primogênito, tinha um ano na época -, Rosemary decidiu submeter-se a uma cirurgia para extrair as trompas, realizada no hospital Casa de Portugal pelo médico Aristauziro Ferreira. Por ser ainda muito jovem, receava uma terceira gravidez. Porém, arrependeu-se e pediu a Deus que lhe desse mais um filho. Cinco meses depois, numa reunião de oração, Deus revelou em visão a uma senhora o problema de Rosemary. Ainda mais, que iria restaurar seu corpo.

Guardando aquela palavra consigo, ela permaneceu firme em oração. Oito anos se passaram e nada aconteceu.

Durante um culto em sua igreja, Rosemary encontrou no primeiro capítulo do livro de Samuel uma palavra de incentivo no relato bíblico do momento em que o sacerdote Eli abençoava Ana. No fim do culto, o pastor de sua igreja chamou todos à frente para que recebessem oração. Sem conseguir chegar até lá, mas confiante na promessa, falou com Deus silenciosamente. "Naquele momento", conta, "eu senti a presença de Deus de forma tão gloriosa que não pude permanecer de pé". Caída, pediu a Deus que enviasse um dos pastores para impetrar a bênção sacerdotal sobre ela. O pastor Celester Paul, que visitava a igreja, viu Rosemary caída e impôs as mãos sobre sua cabeça. Depois da oração, Deus falou com Rosemary dizendo: "Assim como Ana, daqui a um ano". Exatamente doze meses depois, nascia Gabriel, o caçula da família.

Um pescador de artistas

Após se converter, o humorista Dedé Santana lança a rede do Evangelho no meio artístico

Carlos Fernandes

Fotos: Frederico Mendes

MAANFRIED SANT'ANNA diz que nasceu com um dom de Deus: o de ser um artista. Durante toda a sua vida, essa característica fez dele um dos homens mais populares do Brasil, reconhecido nas ruas e adorado pelas crianças. No entanto, dentro daquele palhaço, havia uma alma vazia e um coração triste, escondidos por trás da cara engraçada que fazia milhões de pessoas rirem. Somente há dois anos a imagem da alegria começou a corresponder à felicidade interior. Dessa união harmônica de corpo, alma e espírito, surgiu um novo Manfried, ou melhor, um novo Dedé Santana, ou, como ele agora se denomina, o Dedé de Deus. Essa história é contada no livro Dedé de Deus - Num vôo perdido, um tesouro encontrado, da editora MEI (Missão Evangélica Internacional), lançado no mês passado. Nele, Dedé revela os bastidores dos Trapalhões, a história de sua vida e os fatos que motivaram sua conversão. "Em minhas viagens pelo Brasil, as pessoas sempre se mostravam curiosas por conhecer minha história. Muitos pastores me incentivaram a lançar este livro, para tornar público o meu testemunho", conta Dedé.

Integrante do grupo de humoristas de maior sucesso no Brasil - Os Trapalhões - Dedé Santana diz que sua conversão foi devida a uma série de acontecimentos, principalmente porque Deus o livrou da morte: "Infelizmente, eu vim a Deus pela dor. Eu estava mal, no hospital. Eu tenho certeza de que fui salvo da morte por Jesus". Mas essa experiência foi apenas o clímax de muitas outras que fizeram parte de sua vida, que ele agora entende terem sido um plano divino para salvá-lo. "Eu resisti muito aos chamados de Deus, porque eu achava que ele não ia me perdoar, pois eu era um grande pecador", relata Dedé, que enumera entre seus pecados o fato de ser muito mulherengo, "um péssimo marido", como diz. Segundo Dedé, a sua conversão causou surpresa entre seus amigos e colegas artistas: "Eles diziam: mas logo o Dedé, não é possível..." E ele próprio reconhece que há algum tempo isso lhe pareceria impossível: "Se me falavam em crente, em pastor, eu corria".

O Dedé de Deus - que, na época, era apenas o Manfried - praticamente nasceu no palco, pois sua família era formada por artistas de circo. Nascido em São Gonçalo (RJ) há 58 anos — "por coincidência, pois nosso circo estava ali" —, ele fez seu primeiro papel com três meses de idade, como o filho de uma escrava, interpretada pela sua própria mãe. Sua infância e juventude passaram-se nos palcos e picadeiros, com pouco dinheiro e muito trabalho. Foi palhaço, trapezista, atuou no globo da morte. Mais tarde, e já em parceria com Renato Aragão, que é seu amigo desde "mil, novecentos e antigamente", formou a dupla Dedé e Didi, e atuaram em programas como Um, dois, feijão com arroz, da TV Excelsior, Vídeo Alegre, Os Legionários e finalmente Os Adoráveis Trapalhões, em 1965, juntamente com Ted Boy Marino, Vanuza, Ivon Curi e Walderley Cardoso. A formação do quarteto definitivo (com Mussum e Zacarias) só aconteceu mais tarde, depois de 1972.

CARREIRA DE SUCESSO - Os Trapalhões marcaram gerações de telespectadores com seu programa. Dedé conta casos de adultos que se aproximam dele com filhos no colo e dizem que sempre foram seus fãs, e que seus filhos também o são. O grupo realizou milhares de shows, 37 filmes - muitos deles recordes de bilheteria no Brasil - 16 discos (três deles premiados com o Disco de Ouro) e incontáveis programas de TV. "Sempre fomos campeões de audiência", relembra o Trapalhão. Com seu humorismo no estilo pastelão, atravessaram as fronteiras e atuaram na América Latina, Estados Unidos, Europa e África. Dedé Santana recorda com carinho dos companheiros Zacarias e Mussum, já falecidos: "O cômico nato do grupo era o Mussum. Ele era um comediante perfeito. Eu e o Renato sabemos a arte de fazer rir, com expressões, caretas e truques. O Mussum não, ele era engraçado mesmo. Já o Zacarias era um ator, porque ele compunha um tipo, ele era diferente. Quando ele desfazia o personagem, era outra pessoa"

Nos velhos e bons tempos, com Renato Aragão, Zacharias e Mussum, o humorista agora lança o livro Dedé de Deus, com seu testemunho

POR DENTRO, TRISTEZA - Apesar de todo o sucesso e fama, Dedé Santana não era um homem feliz. Embora tenha sido criado em um lar católico, com o tempo foi perdendo o sentimento religioso: "Eu me tornei apenas mais um católico nominal", admite. Já adulto, teve envolvimentos com cartomancia, Kardecismo e Umbanda. Contudo, foram experiências passageiras, como conta: "Eu não ficava mais de seis meses praticando uma religião, nunca fui adepto de nenhuma". Renato Aragão costumava dizer que ele era ateu. "E era verdade", confirma. As pessoas que conheciam na intimidade o quarteto costumavam dizer que Dedé era o mais mal-humorado, e que com o tempo passou a se tornar esquivo, fugindo dos fãs, ao contrário dos companheiros. Embora tivesse conseguido uma confortável condição financeira, sentia um vazio interior e uma falta de perspectivas para sua vida pessoal que o levavam constantemente à angústia. Mais de uma vez chegou a pensar em suicídio, mas logo percebeu que não teria coragem de praticá-lo. Chegou a procurar a morte, frequentando lugares perigosos e dominados pela marginalidade no Rio de Janeiro, mas o máximo que conseguiu foi ser reconhecido e admirado pelos bandidos... As ingratidões que sofreu ao longo da vida também o entristeciam. Dedé Santana relembra com amargura esses momentos: "Sempre procurei ajudar as pessoas, colaborar com quem precisasse do meu auxílio, mas não era reconhecido por isso, pelo contrário, outras pessoas recebiam os elogios pelas coisas que eu fazia". O humorista dava lugar, então, a um homem solitário e deprimido.

'TOQUES' DE JESUS - Dedé Santana diz que sua conversão deve-se a uma série de acontecimentos aparentemente inusitados, como uma senhora que ofereceu-lhe uma Bíblia em um sinal, um pastor que o perseguia falando de Jesus em Angola, na África, uma camareira da Rede Globo que orava por ele e uma menininha que, no enterro de Mussum, se aproximou e falou-lhe que, durante seus programas, colocava a mão na TV e orava por ele. Em uma viagem de avião, uma passageira disse-lhe que Deus o amava, embora ele houvesse se esquecido dele. "Foi tanta gente que falou de Jesus para mim, que eu nem sei", ele conta. No episódio de sua internação, um grupo de pastores, acompanhados por seu filho. Áttila Sant'anna, foi até seu quarto, para orar por ele. Dedé diz que foi uma surpresa, "pois até então eu não sabia que meu filho havia se convertido". A sua doença foi amplamente noticiada em todo o Brasil, e muitos artistas chegaram a dizer que ele estava à morte. No dia seguinte à oração, uma série de exames foi realizada e nenhum sinal da doença foi encontrado. Alguns dias depois. Dedé teve alta, após ser considerado completamente curado. No entanto, nem assim ele decidiu seguir o Evangelho: "Mesmo depois que Jesus curou-me no hospital, eu ainda resisti, na minha ignorância na fé", diz. A sua decisão só ocorreu em uma reunião da Adhonep (Associação dos Homens de Negócio do Evangelho Pleno), há dois anos, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Dedé Santana, ex-farrista contumaz,
agora é membro da Assembléia de Deus, no Rio.

LEVANDO A PALAVRA - A partir da sua conversão. Dedé Santana entendeu que deveria usar seu talento para levar o Evangelho. "Se Deus me escolheu no meio artístico", acredita, "ele quer que eu fique lá". Ele garante que tem conciliado muito bem as atividades profissionais com a sua fé. O humorista tem certeza de que sua missão é levar o Evangelho, à sua maneira, a todo o Brasil. Dedé realiza trabalhos evangelísticos em todo o país -em um deles. em Belo Horizonte, chegou a reunir mais de cem mil pessoas. Além disso, tem participado de eventos, shows, campanhas beneficentes e trabalhos comunitários, sempre fazendo piadas e brincadeiras: "Quando subo um morro, por exemplo, chego dizendo que vou brincar com as crianças. Depois de muitas palhaçadas, sinto-me à vontade com as pessoas. e aí começo a falar de Jesus", relata. O fato de ter-se tornado evangélico não o impede de envolver-se em projetos artísticos. Ainda tem um ano e meio de contrato com a Rede Globo, que prevêem a realização de dois especiais para esta emissora. Além disso, os Trapalhões pretendem fazer mais um filme, com a participação de Xuxa. Ele garante que continua fazendo muito sucesso: "Em Portugal. por exemplo, o nosso programa é muito conhecido, está há mais de um ano em primeiro lugar na audiência. Lá, os Trapalhões estão no auge da fama", conta, sem esconder a satisfação.

Dedé tem viajado muito, embora já tenha recusado diversos convites para sair do Brasil. A Beto Carreiro, que convidou-o a ir para Las Vegas, e a Renato Aragão, que queria levá-lo para Miami, deu a mesma resposta: "Tenho que ficar no Brasil, para falar do Homem que me salvou da morte no leito do hospital". Ele tem se empenhado em evangelizar seus colegas de profissão - é o criador e presidente da Asac, Associação dos Artistas de Cristo, entidade que conta com a participação. entre outros, de Jece Valadão. Nil (ex-integrante do grupo Dominó) e Wagner Montes, e que tem o objetivo de divulgar o Evangelho entre a classe, além de auxiliar artistas inativos em dificuldades financeiras. "Já contei minha experiência com Deus para o Tony Ramos, o Rômulo Arantes e o Kadu Moliterno. e todos eles se interessaram pela mensagem", testemunha o Dedé de Deus. acrescentando que "quando eu falo para os meus colegas atores que há muitos crentes orando por eles, ficam admirados".

Dedé Santana frequenta a Assembléia de Deus, mas não diz em qual congregação: "Se eu falar, a igreja lota e há muito tumulto, pois as pessoas às vezes confundem o irmão com o artista". Além de Áttila, Dedé tem mais seis filhos, sendo que o mais novo, Marcos, tem apenas um ano. "É uma criança linda, de cabelos pretos e olhos azuis", derrete-se o humorista. Sua esposa, Cristiane, confirma que Dedé é um homem que demonstra com suas atitudes que leva uma nova vida: "Ele é maravilhoso, um ótimo pai, um excelente marido, carinhoso comigo e atencioso com os filhos. Dedé realmente tem Jesus no coração", atesta a companheira do artista. O ex-farrista confirma: "Meu negócio, agora, é viver para minha família".

Suas diversas atividades não o impedem, contudo, de dedicar-se a falar de Cristo para os artistas com os quais convive. Para ele, "só um artista pode evangelizar outro artista de modo mais eficaz, pois é preciso ter tato. sensibilidade e saber falar de um jeito próprio". Para os que consideram o meio artístico muito podre, ele dá um recado: "São pessoas que precisam ser evangelizadas como quaisquer outras. Os crentes e os pastores costumam abandonar essa classe". O Dedé de Deus tem um argumento pessoal para estimular a evangelização dos atores: "A primeira vez que falaram de Jesus para mim, eu ouvi".

Liberdade, Legalismo ou licenciosidade?

Por George R. Foster

CHARLES WESLEY descreveu a nossa liberdade em Cristo na letra do grandioso hino And Can it Be?

"Desejoso a esperar o meu espírito aprisionado
Acorrentado no pecado e na natureza noturna.
Teus olhos difundiram luz
Eu acordei, a prisão flamejou com a luz.
As minhas cadeias caíram.
Meu coração estava livre,
Eu me levantei, fui em frente e te segui"

Liberdade para seguir Jesus, que maravilha! Porém, como os gálatas do período do Novo Testamento, hoje muitos cristãos que uma vez experimentaram a liberdade através da graça salvadora de Cristo já não vivem mais nesta liberdade. Eles perderam a paz, a felicidade e a certeza que chegara às suas vidas com a conversão e caíram em aprisionamento do legalismo auto-justificativo ou da licenciosidade auto-indulgente.

Alguns são manipulados por líderes que se esquecem da graça e impõem leis de sistema, fórmulas e exercícios espirituais designados a guiar os seus seguidores no reino da vida. Geralmente, estas leis são distorções ou más aplicações das Escrituras, prescritas por homens e mulheres com sede de poder, cuja necessidade de autoridade impele-os a ditar o que os cristãos devem fazer, ver, ouvir, sentir, experimentar, praticar, preferir e até pensar. A lista de "não pode" geralmente é muito maior do que a lista de "pode".

Talvez o problema não seja tanto que os cristãos obedeçam a tais regulamentos - eles são relativamente inofensivos se meramente seguidos como guias de comportamento -, mas muitos vão além disso. Eles confiam nessas imposições como a fonte de crescimento, justiça e espiritualidade. Eles se tornam orgulhosos delas, dependentes e escravizados por elas. Outros reagem a esse tipo de manipulação, mas vão para o extremo oposto, insistindo que a liberdade significa fazer o que quisermos, sem nenhuma consideração pela vontade de Deus, o senhorio de Cristo ou o bem-estar dos outros. Da mesma forma, se não colocarmos os desejos sob o controle de Deus, eles vão nos controlar e nos escravizar.

Paulo escreveu para os gálatas a respeito dos extremos do legalismo e da licenciosidade, e os advertiu a trilhar o caminho da liberdade. Preste bastante atenção a estes dois importantes versículos: "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão" (Gálatas 5.1). "Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém, não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor" (Gálatas 5.13).

Escolha o caminho que você seguirá - Paulo mostrou para os galaras que Deus tinha posto à frente deles um caminho de liberdade para seguir, evitando, por um lado, os extremos do legalismo e, por outro, a licenciosidade. Há um caminho de liberdade no Espírito Santo que conduz à vitória. Também há caminhos paralelos, na carne, que levam à derrota.

Liberdade quer dizer que somos perdoados pelos nossos pecados e libertos da penalidade e daquela formação de hábitos destrutivos do pecado. Ela traz espontaneidade e autenticidade à..nossa caminhada com o Senhor, e à habilidade de respondermos a Deus e fazermos a Sua vontade. A liberdade é tudo o que resulta de se experimentar as palavras de Jesus: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (João 8.31). Legalismo é adesão excessiva à letra da Lei, sem se preocupar com o Espírito nela. É uma tentativa de agradar a Deus e manipular a vida da igreja pela observância, multiplicação e imposição rígida das leis. É o que os fariseus tentavam fazer e Jesus tão severamente condenou.

Licenciosidade significa desprezo pelas regras e padrões, falta de controle moral. Outra palavra para isso é libertinagem. Na antiga Roma, libertina era uma pessoa que tinha sido liberta da escravidão. Mais tarde, a palavra veio a significar uma pessoa que vive uma vida imoral. Alguns querem liberdade para fazer o que desejam. Eles se esquecem de que ter Jesus como Salvador e Senhor é viver em submissão ao seu senhorio.

Pedro se une a Paulo ao apontar os perigos da licenciosidade e nos dá um bom exemplo. "Como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto de malícia, mas vivendo como servos de Deus. Tratai a todos com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai ao rei". (1 Pedro 2.16,17).

Liberdade, legalismo ou licenciosidade? O caminho de Deus para a liberdade é o caminho balanceado, o caminho bíblico, o melhor caminho.

George R. Foster, pastor americano, é escritor e diretor da Missão Evangelistica Betânia na America do Sul

Há poder de cura na confissão

Por Reverendo Ricardo Barbosa de Souza

TIAGO, em sua carta, afirma: "Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados". A confissão, quando feita em secreto, no quarto, longe das pessoas, é uma prática que acompanha a vida de muitos cristãos. No entanto, estender esta prática secreta ao mundo público, torná-la conhecida dos outros, é uma realidade bem diferente, incomum na experiência cristã. Agostinho (354-430), bispo de Hipona, foi educado num contexto cristão, mas resistiu ao chamado de Cristo e ao envolvimento numa vida de fé por muitos anos. Sua mãe, Mônica, sempre orou pela conversão do filho que, numa visita a Ambrósio, em Milão, converteu-se e foi batizado no ano de 387. Tornou-se então sacerdote e depois bispo de Hipona. Entre suas obras, uma que tornou-se conhecida e teve grande influência sobre a espiritualidade cristã foi As Confissões.

"Crescer na experiência da caridade é crescer em direção a imagem de Deus e tornar-se mais unido a ele."

Para Agostinho, confessar é desnudar a alma e o coração diante de Deus, de nós mesmos e dos outros. É através deste ato que o homem passa a conhecer-se a si mesmo. "Eis que amaste a verdade, porque aquele que a pratica vem à luz. Com essa confissão em meus escritos, quero praticar a verdade no meu coração diante de Deus e diante de tantas testemunhas." Para ele, praticar a verdade é tornar claro quem ele é. Agostinho sabia que é possível ao homem enganar-se a si mesmo e construir uma imagem falsa perante o próximo, mas diante de Deus é impossível que o homem esconda sua verdadeira face. "Diante de Deus, está sempre a descoberto o abismo da consciência humana. Que poderia haver de oculto em mim para Deus, por mais que eu não quisesse dizer a verdade? Conseguiria apenas ocultar Deus aos meus olhos, mas não poderia ocultar-me dos seus". Somente Deus conhece a verdade do coração do homem e pode revelá-la. Confessar é permitir que a verdade sobre nós mesmos seja revelada.

Tiago propõe que a confissão seja uma experiência pública, feita não apenas em secreto diante de Deus, mas também "uns aos outros" para sermos curados. Este é o lado mais difícil e complexo da confissão. Agostinho também enfrentou este dilema. Ele pergunta: "Mas, para que tenho de confessar-me diante dos homens, como se fossem eles que me perdoassem os pecados? Os homens estão sempre dispostos a bisbilhotar e a averiguar as vidas alheias, mas têm preguiça de conhecer-se a si próprios e de corrigir a sua própria vida. Por que querem ouvir-me dizer quem sou, eles que não querem que Deus lhes diga quem e como são?" Por que devemos nos expor aos outros? Tornar nossa vida privada, pública? Revelar segredos íntimos e pessoais? Que bem isto poderia trazer aos homens? A resposta que Agostinho dá a estas perguntas é bastante simples. Para ele, a razão de suas confissões perante os homens não nasce do desejo ingênuo de, simplesmente, revelar seus segredos àquelas pessoas ávidas por bisbilhotar a vida alheia, mas sim, do seu desejo de que as pessoas compartilhem com ele a natureza da graça e do perdão de Deus por ele experimentados. "A confissão que fiz dos meus pecados anteriores à conversão... moveu os corações, quando foi lida e ouvida; assim foi, para que ninguém adormecesse no desalento e dissesse: 'Não posso', antes despertasse para o amor e a felicidade, para a misericórdia e para a graça de Deus, que torna forte todo aquele que antes era fraco".

Há outra razão pela qual Agostinho deseja tornar sua confissão pública. Ele quer dar a conhecer aquilo que Deus, por sua graça fez por ele, e as transformações que a bondade de Deus realizou em sua vida. A confissão é o caminho que nos leva à experiência da transformação do caráter e do coração. "Dar-me-ei a conhecer porque não é pequeno o fruto que pode produzir: que sejam muitos os que dêem graças a Deus por mim e que orem por mim; desejo que aqueles que me leiam se sintam movidos a amar o que Deus ensina, e a sentir dor do que lhes deve causar dor... O fruto que agora desejo tirar das minhas confissões não se refere, pois, ao que fui, mas ao que sou hoje. Desejo dá-lo a conhecer não só diante de Deus, mas diante dos homens, dos meus concidadãos, que caminham comigo." A confissão, segundo Agostinho, é essencialmente um encontro transformador do nosso próprio caráter, que promove a transformação daqueles que conosco caminham o caminho da fé.

Agostinho procura nas suas confissões apresentar não apenas fatos ocorridos em sua vida, mas, sobretudo, aquilo que ele é. Para ele, o pecado não é apenas um acidente isolado, mas a realidade da própria existência humana. Sua confissão não revela somente seus erros, mas sua natureza, seu caráter. Ele fala da tentação da carne em sonhos, da gula, da atração dos perfumes, dos olhos, da curiosidade, do orgulho, da vaidade e do amor próprio, procurando fazer de Deus um espelho de sua própria alma. Ao contemplar a Deus em sua luz e verdade, contemplamos nosso próprio coração. "Deus é luz que não se extingue; aquela que eu consultava sobre todas as coisas." Confessar é conhecer a realidade mais íntima do nosso ser, e isso só nos é possível diante daquele que nos conhece completamente, aceita e ama. Deus não é apenas luz que ilumina nosso interior, mas também é a verdade que desmascara a mentira e a ilusão. "Deus é a verdade que está sobre todas as coisas. Mas eu não queria perdê-la e, ao mesmo tempo, na minha avareza, queria possuir também a mentira; como o mentiroso que não quer mentir muito para não perder a noção da verdade. Foi assim que perdi a Deus, porque Ele não quer ser possuído juntamente com a mentira." Na comunhão com a luz e a verdade, Deus revela não apenas o que faço, mas também quem sou no íntimo da minha alma.

Para Agostinho, o conhecimento de Deus, bem como a transformação do caráter humano, obtidos pela experiência da confissão, nos levam ao encontro e à comunhão com Deus e o próximo, que é a razão da vida e a causa primeira do propósito do Criador. "Fizeste-nos para ti e o nosso coração está inquieto enquanto não descansar em ti."

(As citações foram extraídas do livro As Confissões, de Santo Agostinho. Ed. Quadrante, São Paulo, 1989)

Reverendo Ricardo Barbosa de Souza é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília (DF).

Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...