terça-feira, 6 de fevereiro de 1996

Próxima parada: Jerusalém

Mensageiro da CSN ganha viagem para Israel pela VINDE

Por Adriane Lopes

Pauty Araújo
Marcos Wesley, de São Gonçalo (RI), ganhou o concurso com apenas um cupom

Marcos Wesley da Silva Vargas, de 24 anos, morador de Brasilândia, em São Gonçalo (RJ) foi o vencedor do concurso VINDE leva você à Terra Santa que, em parceria com a agência de turismo D'Ávila Tours, fez uma promoção especial para comemorar a chegada da revista VINDE às bancas. O prêmio é uma viagem a Israel, justamente quando Jerusalém comemora 3 mil anos de fundação. O vencedor do sorteio, que aconteceu durante o programa Pare á Pense (exibido em 6 de janeiro, pela Rede Manchete de Televisão), trabalha como mensageiro da Companhia Siderúrgica Nacional, em Botafogo. Telespectador assíduo do programa Pare e Pense, Marcos, conhecido como Ninho, logo se tornou também leitor da revista VINDE, e elegeu como sua coluna predileta a VM Show, assinada por Benilton Maia. Faz sentido, porque Marcos tem uma banda de música, a Hora Nona, onde participam seu irmão Cláudio César e os amigos Davi e Elizelton. A banda foi criada em 92, mas, no momento, está parada por falta de baterista e guitarrista.

O sonho de Marcos Wesley, além de ver a banda de volta à ativa nas igrejas, concursos de músicas evangélicas e praças, é conhecer Israel e, por isso, não hesitou em preencher o cupom com muita fé. Ele é membro da Igreja Metodista Wesleyana no bairro do Rocha, em São Gonçalo, onde seu pai, Uziel Saturnino de Vargas, é presbítero. Nascido num lar cristão, Marcos Wesley afirma que teve várias experiências com Cristo durante sua vida. Sempre que tem oportunidade, fala de Jesus para os colegas de trabalho e vizinhos, pois acredita que sua missão é transmitir a verdade das Escrituras para as pessoas que não conhecem a Palavra de Deus. Segundo ele, a vitória no concurso VINDE leva você à Terra Santa assemelha-se à passagem bíblica de Gideão que, a mando de Deus, foi à guerra com 300 homens para que eles soubessem de onde vinha a vitória. Ele traça este paralelo ao confessar que mandou somente um cupom para concorrer à viagem. "A vitória veio de Deus", conclui. A viagem a Israel, no valor de US$ 2.400, está programada para julho e inclui 15 dias na Terra Santa, além de um país da Europa a ser decidido, com direito a hospedagem em hotéis de categoria turística superior, café da manhã, meia-pensão, guias turísticos, ingresso e um seguro completo de viagem. Emocionado, Marcos Wesley crê que não voltará o mesmo após a viagem, mas renovado pelo poder de Deus.

Franchising, a opção de novos negócios

Por Maurício Soares


Renato BittencourVArtware

Abrir o próprio negócio é, sem dúvida, o sonho de milhões de brasileiros. Há uma opção reservada exclusivamente para quem tem espírito empreendedor e capital disponível: o franchising. Muitos dos que hoje são prósperos empresários do ramo das franquias há bem pouco tempo engrossavam as fileiras dos dispensados das grandes empresas multinacionais ou do alto escalão do funcionalismo público.

Entre todos os setores econômicos, existe um no Brasil que não pode se queixar da crise, e este é o do franchising. Há poucos anos instalado no país, o franchising cresceu tanto que já elevou o Brasil à condição de forte concorrente com a França na briga pelo terceiro lugar no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e do Japão. O crescente interesse no país por este setor é notado através do número de filiações à ABF (Associação Brasileira de Franchising), que fornece toda a assessoria aos interessados em ingressar no mercado, seja como franqueador ou como franqueado, estes últimos chegando atualmente a 700 empresas.

Todo e qualquer empreendedor deverá tomar enormes cuidados quando optar por lançar-se em seu próprio negócio. O índice de empresas que não conseguem sobreviver no setor passou de 5% para 12% ao ano, não somente por causa da crise econômica e da recessão, mas em função de uma visão míope dos que entram no negócio, esperando ganhar rios de dinheiro em pouco tempo e com o mínimo de esforço. No último ano, cerca de 110 franqueadores faliram, levando consigo cerca de 250 franqueados. A experiência nos faz alertar quanto aos riscos do negócio, mas também estimula o crescimento e o aperfeiçoamento das técnicas em cada nova franquia que surge.

Há, sem dúvida, uma grande empolgação com o mercado de franchising no país. Analisando os dados relativos ao crescimento do setor nos últimos anos, esta reação é até bastante aceitável. As empresas que atuam na área foram responsáveis por um faturamento 30% acima do esperado em 1994. Em setembro daquele ano, já extremamente otimista pelo desempenho do Plano Real, calculava-se uma receita de US$ 6,1 bilhões para o ano, mas o fechamento de dados preliminares já aponta para um volume de US$ 8 bilhões, com 23,5 mil unidades gerando 200 mil empregos. Mas, como tudo na vida, devemos analisar criteriosamente os prós e contras desta nova empreitada, tanto do ponto de vista do franqueado como do franqueador, pois o conceito de parceria total deve ser a principal característica entre os envolvidos no processo. Dentro do mercado das franquias, o setor que mais cresceu foi o de alimentação, destacan-do-se as lojas de fast food. No entanto, este também foi o segundo setor onde mais ocorreu fechamento de pontos de venda.

Analisando o mercado de livrarias evangélicas, encontra-mos alguns franqueadores, tais como CPAD, Juerp e Vinde. Podemos nos deter no exemplo da Vinde Comunicações, que atua no mercado há três anos, possuindo doze franquias em funcionamento. Dentro do planejamento da Vinde Comunicações está a expansão para 20 franquias ainda no primeiro semestre de 1996. A seleção, como em toda franquia, é extremamente rigorosa e dura de três a seis meses até a abertura da livraria. Atualmente, existem cerca de 120 pessoas interessadas em fazer parte do processo de franchising.


Mauricio Soares é gerente de marketing da editora Vicom (Vinde Comunicações) e integra o conselho editorial de VINDE.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 1996

Olha os crentes aí, gente!

Evangélicos usam os dias de folia para falar de Jesus de modo original e eficiente

Por Carlos Fernandes

O bloco Unidos na Videira desfilo no centro do Rio de Janeiro, marcando a presença dos evangélicos no carnaval

Carnaval, tô fora. Assim reage a maioria maciça dos evangélicos quando vai chegando fevereiro e a festa de momo começa a ocupar todos os espaços. É um verdadeiro massacre na televisão, rádio, jornais e pelas ruas de qualquer cidade. Durante mais de um mês, só se fala e respira carnaval. As escolas de samba são as grandes atrações, blocos de rua começam a se mobilizar, os clubes promovem grandes bailes, incontáveis litros de bebidas alcoólicas são consumidos e as roupas começam a ficar mais curtas - e isso quando há roupas. O entusiasmo do povo cresce na medida inversa da disposição que os evangélicos têm quando o assunto é a festa profana. Em vez de fantasias, os crentes preparam suas malas para sumir por uma semana. Quando não viajam com a família, eles fogem para os tradicionais retiros de carnaval, onde o isolamento é completo e o clima é de Semana Santa. São verdadeiras ilhas onde não se assiste TV, não se liga rádio e carnaval é assunto proibido. No lugar do paticumbum, só se canta louvores, e o único enredo que dá samba é aquele contado na Bíblia. Quem não gosta de samba pode ser, afinal, um bom sujeito: além dos ruins da cabeça e dos doentes do pé, milhões de evangélicos poderiam ser incluídos na musiquinha.

Mas nem todos os evangélicos são atingidos pelo efeito convento. Muitas igrejas e vários grupos cristãos resolveram atender ao ide de Jesus e evangelizar os foliões - afinal, por trás da fantasia também bate um coração que muitas vezes está angustiado e deprimido. De uns dez anos para cá, os evangélicos têm marcado sua presença no carnaval em vários pontos do Brasil. É o que fazem cristãos como os da Comunidade Evangélica da Zona Sul, no Rio de Janeiro. Há nove anos, motivados pela noção de que o carnaval é uma tremenda oportunidade para o evangelismo, eles têm ido para as ruas, e até criaram o bloco carnavalesco Unidos na Videira, integrado pelos membros daquela igreja. Fantasiados com uma espécie de manto branco, com uma cruz bordada em ambos os lados, os passistas evoluem cantando músicas de louvor a Deus com ritmos bem movimentados. São mais de 800 crentes puxados pelo trio elétrico da Comunidade, o primeiro veículo do gênero usado por uma igreja evangélica. Eles desfilam pela Avenida Rio Branco - um dos principais pontos do carnaval de rua do Rio - e por alguns bairros, e a cada 100 metros percorridos, param e pregam o Evangelho, usando a potência de som do trio elétrico. O pastor Marco Antônio Peixoto, da Comunidade, diz que a ideia é mostrar a cara da igreja: "Por muitos anos, a igreja esteve acovardada entre quatro paredes, fugindo de sua responsabilidade de evangelizar e proclamar o Reino de Deus. Não podemos nos desculpar, afirmando que o carnaval é do diabo, e que, como cristãos, não podemos nos misturar. Nosso papel como igreja é ser sal da terra e luz do mundo", argumenta. Ele garante que o trabalho tem grande alcance, pois depois do carnaval muitas pessoas procuram a igreja relatando que foram contagiadas pela alegria e paz demonstradas pelo grupo. "Já houve o caso de uma senhora que estava prestes a se jogar do 15° andar de um prédio. Ouviu a Palavra de Deus e desceu, chorando, para nos pedir que orássemos por ela", lembra o pastor Marco. Este ano, a expectativa é de que o Unidos na Videira vá para a rua com mil integrantes, dizendo que o importante é não apenas quatro dias de alegria, mas uma vida de alegria com Jesus Cristo, conforme diz o lema do bloco.

ABRE-ALAS EVANGÉLICO - Há outros crentes que botam o bloco na rua São os membros do Projeto Vida Nova de Irajá, subúrbio do Rio, que há quatro anos levam sua mensagem às ruas durante o carnaval de modo original e bem-humorado: é o bloco Cara de Leão, que tem bateria, alas, fantasias e até samba-enredo (ver quadro). A coisa é tão organizada que a Riotur (órgão da prefeitura responsável pelo carnaval) chega a enviar ofícios aos responsáveis pelo bloco, solicitando sua participação nos desfiles populares.

"Todas as vezes que saímos, conseguimos atrair a atenção de muita gente", garante o pastor Ezequiel Teixeira, presidente do Projeto Vida Nova. Ele conta que o Cara de Leão surgiu a partir de uma revelação dada por Deus, segundo a qual a igreja não deveria mais sair da cidade para retiros durante o carnaval. Para ele, "a igreja tem que marcar sua presença". O nome do bloco foi inspirado numa mensagem de Deus ao pastor Ezequiel, e faz alusão ao Leão de Judá - uma das figuras pelas quais Jesus é chamado na Bíblia. "Devemos ser a imagem e semelhança de Jesus, por isso temos que ter a cara desse Leão", afirma o pastor Ezequiel. Para ele, a igreja tem a obrigação de pregar o Evangelho nos dias de folia, pois "Ele oferece uma alegria muito maior que a do carnaval". Contudo, o trabalho não tem nada de festa. Os organizadores exigem dedicação e consagração de quem vai participar. "É um trabalho sério, que envolve batalha espiritual e libertação", assegura o pastor Ezequiel. "Nós nos apropriamos de algumas táticas do inimigo; estamos matando o diabo com as armas dele", conta o pastor, admitindo que a idéia é muito controvertida e tem sofrido críticas, sobretudo de setores mais conservadores. "Mas isso não importa; queremos mesmo é chocar, causar impacto", dispara.

Luiza foi sambista e hoje desfila como porta-bandeira de bloco evangélico

Blocos evangélicos têm até hino-enredo

CANTO DE VITÓRIA
Autores: Ricardo e Cristina Santos

Ecoou um canto de vitória
É o povo do Senhor
Que veio contar uma história
Deus criou o universo
O céu, a terra e o mar
Criou o homem à sua imagem e semelhança
Fez com ele uma aliança
E o seu nome era Adão
Mas o pecado entrou nessa história
E rompeu o elo de Deus com a criação
O mal se espalhou
Gerou morte e destruição
Mas havia um plano de salvação
Seu Filho enviou Ôô-ôô

Morreu numa cruz
Mas ressuscitou
Ôô-ôô
E à minha vida trouxe luz
E o seu nome poderoso é Jesus
E hoje, nesses quatro dias
Você veste a fantasia
Fingindo ter alegria
Mas não é realilade,
Viemos mostrar
O que é ter
Alegria de verdade
Só em Jesus há gozo
Há paz, há alegria permanente
Abre o teu coração
Esse é o recado
Do bloco Cara de Leão


Os integrantes do bloco Cara de Leão capricham na maquiagem

Apesar da polêmica, o Cara de Leão saúda o povo e pede passagem. O bloco é dividido em várias alas. A frente, vêm as crianças - a igreja do amanhã -, seguidas pela ala da simpatia, integrada pelos jovens. Depois, seguem o trio elétrico e a bateria, que no último carnaval saiu com 80 instrumentos. "É uma bateria da pesada", empolga-se o pastor Ezequiel.

Em seguida vem a ala dos libertos, onde as pessoas desfilam sorridentes e com roupas alegres. Segue-se a ala dos oprimidos, cujos integrantes, com expressões fechadas e rebolando muito, trazem nas roupas palavras como "vícios", "feitiçaria", "prostituição" etc. É nessa ala que se desenvolve uma representação, com uma pessoa vestida de demônio que persegue os oprimidos, enquanto outra, fantasiada de anjo, tenta salvá-las. Quando um deles é salvo, passa por uma porta, carregada por outros dois anjos, e se torna um liberto, trocando a roupa e mudando de ala. Os que não escapam do demônio constituem a sombria ala dos perdidos, que fecha o desfile com personagens maltrapilhos, mutilados e desesperados.

Enquanto o bloco evolui, a porta-bandeira Luiza Cristina Barreto distribui sua simpatia. Convertida há quatro anos, ela vibra com o trabalho desenvolvido pela sua igreja: "Nós, evangélicos, é que temos alegria com liberdade", exulta. Ela sabe do que está falando, pois durante muitos anos participou do carnaval do outro lado, pois foi passista da escola de samba União da Ilha, que desfila no primeiro grupo das agremiações carioca. Para Luiza, é preciso que os evangélicos estejam presentes e falando de Jesus durante o carnaval: "Temos que mostrar para as pessoas o que é a liberdade que Ele nos oferece", afirma. Seu marido, o médico Pedro Barreto, de 44 anos, faz coro. Ele foi integrante da diretoria da União da Ilha, até se converter e abandonar o carnaval - "uma festa profana, onde Satanás manda", segundo ele. Na sua opinião, a atuação dos crentes é importante para desfazer o estereótipo de que nas igrejas não existe alegria. "Mas é preciso agir com critério", adverte, "pois, se nos propomos a evangelizar no carnaval, precisamos ter objetivos claros e saber nosso papel naquele contexto, porque o trabalho é sério", garante.

Divulgação, Jocum
Dois evangelistas da Jocum
falam de Jesus para um carnavalesco

"O impacto que nosso trabalho causa nos espectadores é enorme", conta o pastor Ezequiel. Enquanto o bloco desfila, outros membros da igreja vão em volta distribuindo folhetos, conversando e orando pelas pessoas. Geralmente, os membros da Comunidade Evangélica de Honório Gurgel e de Oswaldo Cruz -que também têm um bloco, o Boca do Leão - se unem ao pessoal do Projeto e fazem um grande desfile com mais de mil pessoas, saindo três dias durante o carnaval. Eles podem não ter muito samba no pé, mas certamente trazem a mensagem do Evangelho na ponta da língua.

DESTRONANDO MOMO - Há evangélicos que vão um pouco além. Atuam no coração do carnaval carioca: a Passarela do Samba, onde ocorrem os desfiles das grandes escolas de samba, evento de repercussão internacional. São os evangelistas da Jocum (Jovens com uma missão), uma agência missionária que marca sua presença nos grandes eventos populares do Rio de Janeiro, como o réveillon, shows de música e o carnaval. Desde 1987, a Jocum realiza o Impacto de Carnaval, com evangelismo intensivo na Avenida Presidente Vargas, onde as escolas se concentram para entrar na Passarela do Samba. O trabalho é bastante planejado, com reuniões preparatórias, e, local para alojamento e muita oração. Os participantes só voltam para casa depois do carnaval. Sérgio Tenório, 33 anos, é o diretor de evangelismo da Jocum e responsável pela organização. Para ele, é fundamental que os evangélicos estejam presentes no carnaval, pois tudo de ruim acontece nesses dias: "O Rio fica um caos, entregue à prostituição, ocorrem muitos crimes e violência. Tudo é permitido. Como os crentes podem se omitir num momento desses?", indaga. "O prefeito entrega a cidade ao rei momo. É preciso que os evangélicos estejam presentes para se opor e marcar a presença do Rei Jesus", afirma, convicto, Sérgio.

Membro da Assembléia de Deus, Sérgio é contra a realização de retiros de carnaval pelas igrejas evangélicas -costuma percorrer várias delas falando do trabalho que realiza e tentando conquistar pessoas para participar. Segundo ele, no carnaval do ano passado, a Jocum levou para a rua cerca de 270 evangelistas. Os participantes têm tarefas bem definidas: enquanto um grupo de apoio distribui folhetos, outro faz discipulado (conversam e orientam as pessoas que querem se converter ao Evangelho) e há uma equipe de intercessão que fica orando pelo sucesso do trabalho. A Jocum leva um trailer, onde médicos, enfermeiros e atendentes -todos evangélicos - ficam a postos para prestar primeiros socorros, já que há muitos casos de alcoolismo, overdose e brigas.

Bené, que trocou a cuíca pela Bíblia: "O carnaval não é de Deus"

A principal atividade, porém, é artística. A Jocum leva dezenas de atores, sendo alguns até estrangeiros, que se revezam em um palco improvisado no monumento a Zumbi dos Palmares e apresentam peças e pantomimas com histórias evangelísticas. Eles atuam maquiados e com trajes coloridos, e conseguem atrair a atenção de muita gente. Sérgio Tenório conta que no ano passado, mais de 150 pessoas foram alcançadas, cadastradas e encaminhadas a diversas igrejas evangélicas. A quem quiser participar do próximo Impacto de Carnaval, a Jocum se coloca à disposição para dar todas as informações e treinamento necessários. Basta ligar para os telefones (021) 776-1378 e 776-3002. Eles desenvolvem trabalhos semelhantes em vários estados brasileiros, como Bahia, Pernambuco, São Paulo e Minas Gerais. Nesses lugares, assim como no Rio, os evangelistas da Jocum levam a mensagem do Evangelho para milhares de pessoas que buscam alegria e diversão nos dias de folia.

Jesus, o maior destaque

Cosme, ex-passista da Mangueira,
tornou-se pregador do Evangelho

Se há muitos evangélicos que vão para a rua no carnaval, existem também aqueles que fizeram o caminho inverso: da folia para a igreja. Sambistas e carnavalescos têm abandonado as fantasias e os batuques para agarrarem a Bíblia e aderirem ao enredo de Jesus. Foi o que fez Benedito Benjamim Filho, de 52 anos, 10 dos quais convertido ao Evangelho. Conhecido nacionalmente como Bené da Cuíca, Benedito fez sucesso no carnaval carioca e foi integrante de uma das mais tradicionais escolas de samba do Rio, a Unidos dn Tijuca René, como até hoje ainda é chamado, começou no samba quando era criança, foi passista, ritmista e diretor de harmonia, dedicando 38 anos de sua vida ao carnaval. Seu estilo próprio de tocar cuíca lhe valeu inúmeros títulos, entre eles o de cidadão samba em 1985 e 86.

Nesses dois anos, estabeleceu um verdadeiro recorde: atravessou a Passarela do Samba nada menos que 248 vezes, em todas as escolas de samba e blocos de todas as categorias, sempre mostrando uma felicidade que não possuía: "Eu esbanjava uma alegria apenas aparente, pois por dentro era vazio e angustiado': lembra Bené. Ele se converteu na Igreja Universal do Reino de Deus, onde foi levado em busca de cura para um problema de coluna. "Eu fiei completamente curado", lembra, "e mais tarde entendi que o carnaval não é uma coisa de Deus': Desde então, ele abandonou todo o sucesso e badalações para tornar-se obreiro daquela igreja. Bené apóia atividades evangelísticas no carnaval pois entende que é preciso levar a Palavra às pessoas que estão lá, mas ressalta que "é preciso estar preparado e agir para a glória de Deus". De vez em quando, ele promove reuniões de evangelização e até usa sua cuíca em algumas músicas de louvor a Deus.

Outro que abandonou as quadras pelo chamado de Jesus foi Cosme do Nascimento, um dos melhores passistas que a famosa escola de samba Mangueira já teve. No seu caso, esse chamado foi literal No carnaval de 1984, ele estava se preparando para desfilar quando houve um assassinato de um jovem ao seu lado. Enquanto o rapaz agonizava, Cosme ouviu uma voz que lhe dizia: "Saia daqui que este não é o seu lugar!': Ele saiu correndo, abandonando o desfile para nunca mais retornar ao carnaval após dedicar-se por mais de 20 anos à festa de Momo. Hoje, aos 38 anos de idade, ele é o vice-pastor da Missão Batista Nacional Ebenézer. Cosme acha fundamental levar o Evangelho aos sambistas: "Tem gente que está lá precisando ouvir a mensagem de Jesus", diz Cosme.

Esta motivação o tem levado a evangelizar outros sambistas, como José Carlos - o Canhão Tá Lá -, Lilico e Pedro Paulo, neto de Dona Zica, uma das matriarcas da Mangueira, que já se converteram e também evangelizam o reduto da verde-e-rosa. Para esse tipo de evangélico, a verdadeira harmonia está mesmo em Jesus.

Joselito Abadia [D] do Grupo Discipuluz, evangelizando em pleno Eixão da Folia, em Brasília: "Jesus é a alegria permanente" Divulgação] Jocum

CARNAVAL DA CAPITAL - Mesmo no desanimado carnaval candango os crentes descobriram meios de evangelizar. Em Brasília, os integrantes do grupo Discipuluz falam de Jesus em pleno Eixão da Folia, onde ocorre a maioria dos festejos carnavalescos da capital. A atividade já é realizada há seis anos e é semelhante àquela desenvolvida pela Jocum, com evangelismo através de peças teatrais e pantomimas, nas quais atores contam histórias que levam a mensagem da salvação em Cristo, enquanto um outro grupo distribui folhetos e tenta atrair a atenção dos foliões e das pessoas que passam pelo local. A Mocidade para Cristo (MPC), de Brasília, colabora na organização dessas atividades. Richard Werner, da MPC, um dos responsáveis pelo trabalho, estima que cerca de 150 pessoas se converteram no carnaval do ano passado. A maioria dos componentes do grupo Discipuluz pertence à Igreja de Cristo naquela cidade. Um deles, Joselito Abadia, resume a motivação do grupo em evangelizar os carnavalescos: "Nós queremos que as pessoas reflitam sobre seus atos, de maneira que percebam a necessidade de buscar Jesus, como forma de alegria permanente."

Durante o carnaval, a Jocum leva atores para evangelizar na rua
Em Brasília, evangélicos encenam pantomimas nos dias de carnaval (Mocidade para Cristo)

AGUA VIVA NA PRAIA - Em Arraial do Cabo, município do Estado do Rio, um grupo de evangélicos encontrou uma forma muito original para falar de Jesus. No carnaval, aquela cidade recebe milhares de turistas, que vão em busca das praias limpas e badaladas da Região dos Lagos. De olho na grande quantidade de pessoas, e se aproveitando do calor intenso, os membros da igreja Missão Evangélica da Paz tiveram a idéia de montar a Barraca da Agua Viva, em plena Praia Grande, a maior da cidade e que atrai uma multidão de banhistas. A coisa funciona assim: a barraca é montada na sexta-feira de carnaval e até a quarta-feira de cinzas oferece água geladinha de graça. Dentro, cerca de 50 crentes ficam a postos para puxar conversa e falar de Jesus. O pastor Sérgio Octavio Félix, da Missão, conta que o trabalho dá certo: "As pessoas vêm, pedem água e têm curiosidade de saber por que fazemos isso, sem cobrar nada. Então, nós aproveitamos a oportunidade e as evangelizamos, dizendo que Jesus é a fonte da verdadeira água da vida", relata. Segundo o pastor Sérgio, já houve casos de banhistas que pediram oração e aceitaram a Jesus como cristo salvador dentro da barraca: "Muitas pessoas que vêm brincar no carnaval aqui", continua Sérgio, "são desviadas de igrejas evangélicas e se reconciliam com Cristo por intermédio desse ministério", assegura o líder dos evangelistas da areia. Assim, a Barraca da Água Viva constitui-se num oásis de salvação para muita gente. O lema do trabalho não poderia ser mais sugestivo: "Quem tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida", conforme diz a Bíblia no livro de Apocalipse capitulo 22 versículo 17.

Retiros são a opção tradicional

Uma das maiores tradições dos evangélicos é a realização de retiros durante o carnaval. Em todo o Brasil, igrejas de todas as denominações organizam esses eventos que unem comunhão, estudos bíblicos, oração e diversão. Combatidos por grupos que vêem no carnaval uma oportunidade rara de evangelização, e por isso criticam a fuga da igreja durante os dias de folia, os retiros são defendidos por aqueles que acham que os crentes, sobretudo os mais jovens, devem ser afastados das influências malignas que a festa da carne representa. Outro argumento muito utilizado pelos organizadores de retiros é o de que a igreja precisa de momentos onde possa, longe da agitação do dia-a-dia, promover um contato mais íntimo entre seus membros, além de oferecer oportunidades de lazer e de uma busca mais profunda de comunhão com Deus. Para quem concorda com esse pensamento, uma boa opção é participar do retiro que a Fundação Renascer vai realizar em ltapecirica da Serra, no interior de São Paulo. No ano passado, cerca de mil pessoas participaram da programação, que envolve cultos de ministração e louvor pela manhã e à noite. Durante a tarde, há momentos de brincadeiras e lazer - o local dispõe de piscina e quadras de esportes. A inscrição custa R$ 50, dando direito a hospedagem e refeições, e pode ser feita pelo telefone (011) 277-4688.

A Igreja Missionária Unida, de Maringá (PR), promove seu retiro de carnaval em uma fazenda perto da cidade de Mauá, naquele Estado. E o acampamento Agua Viva, construído pelo pastor Donald Mattson, dos EUA, que estará presente dirigindo o encontro, cujo tema será "Qual a sua atitude?" Uma das atrações é a Noite no Oriente, com trajes típicos e comidas japonesas. Há 180 vagas, e os acampantes participarão de gincanas e brincadeiras entre equipes. Maiores informações podem ser obtidas pelo telefone (044) 262-2522, e a taxa de R$ 80 pode ser paga em duas vezes.

Em Brasília, a Conjuban (Convenção da Juventude Batista Nacional) promove um retiro para cerca de mil de seus membros. Será em Luziânia, e o tema para estudos será "Importa renascer", ministrado pelos pastores Hidekazu Takayama e Henrique Bonfim, entre outros. Os momentos de louvor deverão ser um dos pontos altos do retiro, pois serão dirigidos por Asaph Borba. O preço é bem convidativo: R$ 40, com direito a alimentação e hospedagem. Os interessados devem ligar para (061) 567-1384. Outra boa opção para jovens de 16 a 30 anos é o retiro do Ministério Palavra da Vida, em Atibaia (SP). São duzentas vagas disponíveis para o evento, cuja programa inclui evangelismo e consagração. Os acampantes serão divididos em grupos de interesses e participarão de estudos bíblicos e cultões, além de reuniões sociais. As inscrições podem ser feitas pelo telefone (011) 487-1377, e a taxa é de R$ 150. Pode parecer meio salgado, mas quem já foi lá garante que o serviço e as refeições são de primeira. E só escolher para onde ir e passar quatro dias bem longe dos agitos do carnaval.

Nos retiros, os evangélicos têm momentos de confraternização, lazer e comunhão com Deus

Epístola do Leitor


Edição 3

Informação séria
"Tive a alegria de verificar o ótimo trabalho feito pela equipe da VINDE na elaboração, confecção e divulgação desta revista, que deve representar toda a massa evangélica deste país tão carente de informações sérias, seguras e imparciais sobre tudo o que ocorre no Brasil e no mundo."
Joaquim M. Neto - São Paulo (SP)

Políticos desmascarados
"O episódio da apreensão de cocaína na Fábrica de Esperança serviu para desmascarar alguns políticos que, na época de eleição, procuram os evangélicos apenas para angariar votos. Meu apoio ao reverendo Caio Fábio, reconhecidamente um dos homens mais atuantes na causa do Evangelho pelo seu trabalho junto àquela comunidade."
Washington Fazolato Barbosa - Duque de Caxias (RJ)

Apoio à Fábrica
"Minha solidariedade ao pastor Caio Fábio neste momento em que o mal tenta prejudicar seu trabalho brilhante em prol dos pobres deserdados da sorte material. Pessoas possuídas de interesses apenas políticos tentam enlamear a vida e a obra desse promotor do bem-estar humano, usando a mentira, a calúnia, a aleivosidade e o prestígio político momentâneo de que são detentores. Saibam, porém, estes políticos, que a mentira tem perna curta."
Francisco de Assis Quiorato - Maceió (AL)

Sem demagogia
"Gostaria de ver os grandes temas nacionais - como reforma agrária, reforma administrativa etc. - sendo discutidos na revista por profissionais de reconhecida capacidade, sob o ponto de vista bíblico. Cristãos e não cristãos cansados de demagogia poderão optar pela VINDE."
Luis Carlos Porto - Belo Horizonte (MG)

Amor à igreja
"Como católica, minha alma ficou abalada com os disparates do pastor da seita Betesda em criticar a igreja que o próprio Cristo fundou na terra (...) Não basta ser doutor em lei ou ser mestre de uma teologia deturpada separatista que não enxerga no irmão de crença ou ideologia diferente a busca incessante do Deus único (...) O senhor Ricardo Gondim diz que encontrou a salvação, mas se decepcionou com sua própria igreja (...) Caro pastor Ricardo, peço-lhe que nunca mais diga a ninguém que foi católico, pois isso ofende homens de consciência limpa, como os irmãos da minha comunidade (...)"
Izabel Cristina Araújo - Natal (RN)

Resposta do pastor Ricardo Gondim

"Minhas críticas não foram endereçadas à Igreja Católica, e sim ao tipo de catolicismo que eu vivia, meramente nominal. O fato de Cristo ter findado ou não uma igreja não a impede de adoecer, apostatar e, inclusive, tornar-se 'sinagoga de Satanás' -aconselho a leitora a ler as cartas do Apocalipse às sete igrejas. Se em algum momento meus posicionamentos parecem ácidos na análise comportamental da igreja - católica ou evangélica -, é porque eu amo a igreja de Jesus, estou me dando por ela e quero vê-la alicerçada na Bíblia, pura e perfeita perante o seu Senhor."

Respeito
"Os católicos acusam os evangélicos de não respeitaram a mãe de Jesus. Nós a respeitamos porque ela foi mãe do Salvador na terra, mas não é mãe dele nos céus. Em todo o Novo Testamento, não há referência de que Maria seja nossa intercessora junto ao Pai. Jesus não passou procuração para sua mãe."
Maria Helena Magalhães - Rio de Janeiro (RJ)

Parabéns
"Quero parabenizá-los pelo lançamento da revista VINDE que, já no primeiro número, mostrou que veio para ficar e é realmente mais um meio usado pelo Senhor para a expansão do seu Evangelho."
Eloísa dos Santos - Juiz de Fora (MG)

Cartas para esta seção devem ser enviadas para:
Revista VINDE
Redação, Atendimento ao Leitor,
Rua Luís Leopoldo Femandes Pinheiro, 604 - 100 andar - Niterói, RJ - 24030-122

Extraído Epístola do Leitor. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1995, a. 1, ed. 4, p. 11, jan. 1996.

Sérgio Manoel: Mais que vencedor

Por Marcelo Dutra

Campeão brasileiro com o Botafogo, Sérgio Manoel canta a vitória em Cristo

Carlos Fernandes
Vitorioso sobre o Santos, que o havia liberado,
Sérgio agora vai jogar no Japão

Mais que vencedor. É assim que Sérgio Manoel Júnior se sente. ídolo do Botafogo de Futebol e Regatas, e um dos principais jogadores do atual campeão brasileiro de futebol, Sérgio Manoel, embora não se considere um grande craque, se declara um atleta determinado e credita todo o seu sucesso a Deus, que segundo ele é quem lhe dá a vitória eterna. Aos 23 anos, já atuou no Santos - clube que ajudou a derrotar na final do campeonato brasileiro -, no Fluminense e na seleção brasileira. Casado com Andréia e pai de Mateus, de um ano, Sérgio Manoel está convertido ao Evangelho há cerca de dois anos, depois de uma experiência sobrenatural com Deus, na qual uma visão mudou definitivamente sua vida. Ele é um dos mais ativos participantes da missão Atletas de Cristo, grupo que reúne esportistas ao redor do mundo, cujo trabalho é responsável por todo o seu aprendizado e crescimento espiritual Com o passe negociado pelo Botafogo após a conquista do título brasileiro, Sérgio Manoel acaba de assinar um contrato com o Cerezo Osaka, do Japão. Mais um desafio na carreira desse paulista de Santos. Além de jogar futebol naquele país, Sérgio pretende proclamar a sua fé em Deus com a mesma coragem e determinação que marcam sua vida profissional. Em seu apartamento na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, pouco antes de viajar para Santos com a família, o ponta-esquerda Sérgio Manoel deu a seguinte entrevista à revista VINDE:

Depois de jogar pelo Santos Futebol Clube, como se sentiu derrotando esse time na final do campeonato nacional?

Eu me senti bem. Ganhar do Santos serviu para provar àquele clube que foi um erro terem deixado eu sair de lá. Eles não deram o meu real valor. Mas amém, porque se estivesse no Santos até hoje, eu teria sido vice. Nada acontece à toa.

Em algum instante do campeonato brasileiro você achou que o título estava perdido?

Em momento algum esta idéia passou pela minha cabeça, porém, em determinadas situações, cheguei a pensar assim: "Pôxa, Senhor, isso está impossível!" Lá no Mineirão, na semifinal, sofremos uma pressão muito grande do Cruzeiro e o resultado foi 1 x 1. Ali eu falei: 'Senhor, se tu não tomares a frente disso aqui, eu não vou agüentar." Eu sentia que o time estava cansado, estressado e desgastado fisicamente. Naquele momento, eu senti que se a equipe passasse daquela partida, ninguém iria tirar o caneco da gente. Na minha opinião, o Cruzeiro era a equipe mais experiente e, conseqüentemente, a que estava mais tarimbada para disputar uma grande final. Diante do Botafogo eles tinham uma superioridade muito grande, mas nós conseguimos passar por eles.

O Botafogo preferia que as finais fossem no Rio?

Sim, porque nós íamos jogar as duas partidas no Maracanã. No aspecto financeiro seria muito bom para nós. E, também a campanha do Reage Rio (movimento pacifista pela recuperação do Rio de Janeiro) ganharia força, porque o Rio ficaria em evidência.

Como você acompanhou o movimento Reage Rio?

O movimento deveria ser a nível da política também. Os políticos não fazem o que têm que fazer. Depois de eleitos, eles não cumprem nada. Eu não tenho esperança nenhuma no homem, principalmente no político. Só peço a Deus que tenha misericórdia das milhares de pessoas que estão na dependência desses homens aqui na terra. Quanto a nós, acho que criamos um cerco de proteção, porque se encararmos tudo o que vemos nas ruas, não vamos viver bem. Tanta miséria, tanta fome, tanta violência. Acho que os políticos deveriam fazer um trabalho mais consistente. Apenas um ato como esse não é suficiente. No final do ano que vem você vai me perguntar: e aí, valeu? Nós faremos um retrospecto e vamos descobrir que não valeu de nada. Ganhou, sim, a conscientização de todos, mas não vai sair da cabeça. O mais interessante são as atitudes. É difícil a gente pedir hoje uma ajuda. No Botafogo nós estamos pedindo ajuda para um garotinho que precisa fazer transplante de coração. Conseguimos levantar R$ 950 e o garoto precisa de R$ 18 mil

"Não tenho nenhuma esperança no homem, principalmente no político. Eles deveriam fazer um trabalho mais consistente"
Carlos Fernandes

Você diz que sempre ora antes de entrar em campo. Durante o campeonato brasileiro você manteve esse costume?

Às vezes oro durante o jogo. Deus não especifica a forma como a gente tem de orar, nem as palavras, a hora, o local, nada. Então eu tenho a liberdade de orar onde estiver. Oro antes, durante e, principalmente, depois do jogo, seja qual for o resultado, porque eu já sou mais que vencedor. Aprendi que a minha maior vitória é conseguir espaço para levar a Palavra de Deus.

Você ora até quando o juiz faz uma besteira?

Eu levei muita bronca no início do ano porque andava irritado com a arbitragem. Resmungava, reclamava muito, gesticulava. Hoje estou mais ponderado. Eu também xingo. Em determinados momentos é difícil controlar. Mas depois a gente pede perdão, reconhece que está errado. Muitas vezes procuro sair fora da provocação, mas tudo tem limite. No jogo da decisão, por exemplo, o Marquinhos Capixaba me catucava, dando trombadas por trás o tempo todo, e teve um momento em que eu falei: se você quiser graça, nós vamos ter graça agora. Então ele parou e ficou tranqüilo o resto do jogo. O adversário tem que saber que eu sou evangélico, mas dentro de campo sou um jogador de futebol. Quando tiver de fazer uma falta, eu vou e faço, mas nunca com a intenção de quebrar a perna do companheiro, ou dar uma cotovelada na boca de um jogador. Agora, na oração, eu nunca oro para vencer. Eu acho que isso não é certo, porque nos outros clubes também temos irmãos.

O que você pede a Deus quando ora?

Peço que ele me proteja, que eu não tenha contusão, e que seja possível, depois do jogo, falar da Palavra para alguém. Minha oração é sempre baseada nisso, nunca na vitória, ou para que eu seja o melhor em campo.

Você pediu a Deus para fazer o gol do título?

Pedi para fazer um gol na final. Com isso eu teria espaço para falar da Palavra. Eu dizia: toda a honra e toda a glória pertencem a Jesus, não a mim. Se eu fiz algo, foi graças a Deus. Se eu sou perfeito, se tenho dois olhos, enxergo, ando e tenho saúde, é por causa Dele. Se eu não tive contusão durante o campeonato inteiro foi porque Jesus estava ao meu lado. E foi ele que me deu a oportunidade de estar ali, porque eu não sou merecedor. O nome de Deus tem que ser exaltado mais que qualquer outra coisa, não o meu.

Você se considera um jogador muito bom?

Eu sou um jogador normal, médio. Não consigo me ver ainda como jogador de seleção. Vejo o futebol dos outros jogadores e acho que eles têm mais potencial. No entanto: por onde eu passo, estou em destaque. Acho que o segredo é minha perseverança, não sou nenhum cracaço.

A que você atribui seu sucesso?

A Deus. Ele está me sustentando. Penso que o Senhor tem um ministério a me dar, para que eu possa retribuir tudo o que Ele tem feito por mim. O que eu fiz ainda não foi suficiente para agradecer a Deus tudo o que ele tem me dado. Eu não sou merecedor de tantas coisas. Para mim, isso é um mistério.

Qual foi o melhor momento da sua carreira?

Foi ter chegado à seleção brasileira.

Mais do que ter sido campeão pelo Botafogo?

Sim, porque ser campeão brasileiro é uma conquista coletiva, enquanto chegar à seleção foi uma conquista individual. Nessa hora fui muito abençoado por Deus. Só pude dizer: "Senhor, essa benção é só tua."

"Acho que não é certo orar para vencer um jogo porque nos outros times também tem irmãos na fé"
Carlos Fernandes

Como foi sua experiência de conversão?

Em 89 eu tive o primeiro contato com a Palavra de Deus, através do César Sampaio. Nós jogávamos no Santos. Na época, o César e outro jogador, o Davi, ergueram a bandeira do Evangelho e foram adiante. Foi quando ouvi falar dos Atletas de Cristo e comecei a colocar a Bíblia como meu livro de cabeceira. Mas o impacto inicial da mensagem de Deus foi em 93. Fui pego de surpresa. Eu estava na concentração do Santos e escutei o Sérgio, o Darci e o goleiro Gomes conversando sobre igreja. Todos eram evangélicos, o Gomes, inclusive, era pastor. Aquilo ficou, na minha cabeça, deixei de lado a revista que estava lendo e perguntei que conversa era aquela.

E o que eles responderam?

Disseram que o Gomes estava na igreja dirigindo cultos e me convidaram para ir a um. Eu me interessei na mesma hora. Cheguei em casa e falei com a minha esposa: "Olha, baixinha, tem uma reunião na igreja lá em São Vicente e eu vou. Vamos?". Ela não era cristã, bebia e fumava, mas concordou. No caminho quase bati com o carro, avancei sinal vermelho, não enxergava nada. O inimigo de nossas almas tentou de tudo para nos impedir. Na igreja prestamos atenção na oração, no culto. Eu estava absolutamente gelado, não sentia nada. O pessoal louvando, agradecendo, até minha esposa estava chorando. Mas o meu coração parecia de pedra. O Gomes se aproximou e falou comigo, ou melhor, foi o Espírito Santo. O pastor Gomes foi só um canal. Ele apontou pra mim e disse: "Não duvides de mim, porque esta noite mesmo eu te terei em prova." Nessa hora eu pensei: "Por que ele está me dizendo isso?"

Quais foram as conseqüências disso?

Eu fui embora com a minha esposa. Quando chegamos da igreja fomos dormir. No meio da madrugada, porém, eu comecei a ter uma visão. Acordei de madrugada e vi que o teto do quarto começou a clarear. Fechei os olhos e quando abri novamente havia dois anjos. Um veio na minha orelha direita e falou pra eu orar e pedir tudo o que quisesse. Comecei a orar e pedir como nunca. Eu vivia problemas de casamento, estava numa fase de depressão, no fundo do poço mesmo. Não tinha paz nem vontade. Nessa época eu tinha muitas dificuldades jogando lá em Santos. Viera do Rio", onde havia jogado uma temporada excelente no Fluminense. O meu passe era do Santos, que me pegou de volta e me encostou na reserva. Eu não treinava com os titulares. A minha situação era de desespero. Neste período morava na casa da minha sogra e passava por uma tribulação muito grande. Se não fosse a misericórdia de Deus, não sei onde minha vida estaria hoje. Nesse momento orei por todos os meus problemas, toda aquela situação em que me encontrava. Eu não conseguia me mexer, só olhar e orar, tendo aquela visão maravilhosa de um portão de bronze, enorme, aquela claridade, os anjos. Os cabelos deles eram encaracolados, vestiam-se de branco, tinham asas e voavam. Acho que tinham uns dois metros de altura e eu fiquei ali, me deliciando com aquilo.

E sua mulher também viu algo?

Eu tentei acordá-la, mas só consegui me mexer quando a visão se foi e ficou tudo escuro novamente. Então acordei minha esposa. Fomos para a cozinha, e eu consegui falar-lhe da visão. Ela começou a chorar. O mais incrível foi que Deus mostrou que estava me escolhendo para que eu fosse servo dele. No dia seguinte procurei o Gomes para contar a visão. Ele me fez esperar até o final do treino. Eu falava que tinha de lhe contar uma coisa, mas ele me dava as costas de propósito, dizendo: "Tenha calma, depois a gente conversa." Quando acabou o treino fui para o vestiário, tomei banho e fiquei esperando. O Gomes foi o último a sair. Quando finalmente me deu atenção disse: "Não fala nada, aconteceu isso, isso..." E me contou tudo que eu tinha visto no quarto. Aí não tinha mais como fugir, não havia mais saída. Eu disse: "Me entrego, estou aqui Jesus, me faz nascer de novo."

Você tem frequentado qual igreja?

A Igreja Batista, no Centro do Rio, próxima à Candelária. Ali tem reuniões para os Atletas de Cristo, já que a gente não tem sede.

Qual a importância do ministério Atletas de Cristo para você?

Quando eu estava precisando de uma força, vinha sempre alguém dos Atletas de Cristo trazer uma Palavra, uma carta. Às vezes eu estava cheio de problemas e esse ministério me sustentava. Se eu consegui aprender alguma coisa e crescer espiritualmente, foi graças aos Atletas de Cristo.

Como você encara o fato de ser um ídolo popular?

Vejo como um espaço que Deus está me proporcionando. Ser ídolo de um clube como o Botafogo, que tem uma torcida muito grande, me dá condições de falar a Palavra Dele e essa Palavra, como uma flecha, vai cair certinho no coração do amigo que está ouvindo.

"Recebi uma profecia que se confirmou com a visão de anjos. Os cabelos deles eram encaracolados, vestiam-se de branco, tinham asas e voavam"
Carlos Fernandes

O que mudou na sua vida profissional depois que você se converteu?

Ultrapassei todos os objetivos. Seleção, sucesso no Botafogo, reconhecimento individual. Saí da posição de jogador promessa em 93, e hoje sou uma realidade, sou respeitado. A situação financeira sem dúvida mudou muito, pois posso levar uma vida de bom nível e dar conforto à minha família. O que mais chama a atenção na minha vida profissional é que desde que eu aceitei Jesus não houve mais contusão séria na minha carreira. Sei que Ele está me olhando e isso não vai me acontecer.

Como seus companheiros de clube vêem a sua fé?

A partir do momento em que assumi, levantei a bandeira do Evangelho e comecei a levar a Palavra, o pessoal passou a respeitar. Eu acho que eles não respeitam é aquele que fica em cima do muro.

Eles se interessam pela palavra de fé que você transmite?

Quando ficávamos sem receber salário alguns companheiros me perguntaram: "Pôxa Sérgio, você está feliz e duro. Nós não recebemos nada e você está feliz?" E eu respondia que essa felicidade, essa paz que eu tenho é de Deus. Já aproveitava e soltava a Palavra. Com essa atitude eu acabava por chamar a atenção deles.

Como você evangeliza os seus companheiros do Botafogo?

A maneira sempre é a mesma: cultos antes dos jogos. Também convido os companheiros para visitar igrejas, mas o mais importante é o meu testemunho, através da minha vida e conduta.

Que jogador já recebeu essa mensagem?

O principal fruto foi o Gottardo (zagueiro do Botafogo). Vê-lo convertido foi uma vitória muito grande, porque ele era muito cabeça-dura. Ele é inteligente, tem uma personalidade muito forte, e foi difícil falar da Palavra pra ele. Mas a semente ficou dentro do seu coração e várias vezes ele me perguntava alguma coisa. Eu acho que a minha conduta foi importante, pois não sou perfeito, sou cheio de defeitos, mas Deus me honrou e eu não caí. Hoje, sua esposa e dois irmãos dele são convertidos também. Eu sei que o Gottardo orou muito por eles.

No início do campeonato, a imprensa divulgou que houve uma rixa entre você e o Túlio. Como você conseguiu superar esse desentendimento? Você o perdoou?

Posso garantir que houve perdão da minha parte. Nesse caso com o Túlio, teve uma hora em que eu achei que estava no limite. Nós não conversamos sobre as matérias que saíram nos jornais, mas eu o procurei para saber o que realmente estava acontecendo. Ele disse que não havia nada e que ele estava com a gente, e isso me bastou.

Quais são seus planos para o futuro?

Meu passe foi vendido ao Cerezo Osaka, um grande clube no Japão. Espero ficar por lá dois ou três anos. É um desafio, mas acho que vou me adaptar rápido. Não pretendo apenas jogar futebol, mas falar do amor de Deus também. Onde quer que eu vá essa mensagem explode no meu coração, e eu pretendo continuar evangelizando. Para o futuro só sei que Deus tem uma missão específica para mim, não sei qual, mas creio nisso.

Epístola da Redação

Carlos Fernandes

Na opinião da maioria dos crentes, carnaval é sinônimo de isolamento. O princípio básico é simples: se as folias de Momo nada significam para um evangélico, o melhor a fazer é aproveitar o feriado prolongado para fugir da confusão e participar de um retiro. Nosso repórter Carlos Fernandes - que, embora não goste de samba, é um ótimo sujeito - mostra na matéria de capa desta edição que nem todo mundo pensa assim. Para grupos como o Unidos da Videira, da Comunidade Evangélica da Zona Sul, o carnaval é, na verdade, uma oportunidade peculiar de anunciar o Evangelho. E, como ensina o apóstolo Paulo, ocasiões singulares exigem estratégias específicas. Organizado como bloco e entoando "hinos-enredos", como costumam dizer os integrantes, o Cara de Leão é outro que ganha as ruas do Rio, para espanto da populacão - inclusive de alguns irmãos na fé.

Em diversos pontos do país, crentes inconformados com os problemas da fome e da miséria estão arregaçando as mangas. Eles são a mais perfeita tradução do Evangelho integral, contextualizado e ativo, em que a Palavra não apenas é ministrada, como também praticada, tal como Jesus fez ao falar do amor de Deus aos símplices de coração e providenciar pães e peixes para alimentar a multidão que ouvia seus ensinamentos. Nossa reportagem descobriu alguns destes anônimos que não se acomodam com os parcos recursos nerri se deixam abaterteom os obstáculos para realizar um trabalho social sem negligenciar o grande objetivo espiritual.

Nem todo judeu espera do Messias. Nesta edição da revista VINDE você conhecerá os judeus messiânicos, ou seja, aqueles que reconhecem que Jesus é mesmo o redentor prometido ao povo escolhido. Apesar de viverem na dispensação da graça, eles mantêm algumas tradições judaicas que convivem perfeitamente com a fé em Cristo. A matéria é de Teresa Cristina Abreu.

Apesar do perfil mais light da VINDE deste mês, apropriado ao período de férias e verão, a revista volta ao assunto do momento - a briga entre a Globo e a Igreja Universal - trazendo um artigo especial que facilitará a compreensão sobre a complexidade do problema que, ao contrário do que muitos pensam, não se restringe à guerra religiosa. Boa leitura e até março.

Foto: Luiza, o porta-bandeira do bloco Coro de Leão, por Frederico Mendes

sexta-feira, 5 de janeiro de 1996

Ação da Cidadania, a força da sociedade

Por Herbert de Souza

Carlos Fernandes

Ação da Cidadania contra a Miséria pela Vida é um movimento autônomo, descentralizado, que tem a parceria como filosofia principal de trabalho. Em 1993, depois que a sociedade organizada venceu a batalha do impeachment do então presidente Fernando Collor, as entidades da sociedade civil que se aglutinaram em torno do impeachment se reuniram para pensar numa forma de não desmoralizar sociedade, numa maneira de canalizar a força da indignação da sociedade para mais uma causa ética.

O combate à fome e à miséria nasceu de um conceito tão simples quanto a frase que o resume: "democracia e miséria são incompatíveis". A sociedade brasileira podia se orgulhar de ter derrubado um presidente da República dentro das regras democráticas e em respeito a todas as instituições.

"A comunidade evangélica há muito tempo já demonstra seu enorme sentido social"

Hoje, ao entrar no seu terceiro ano, a Ação da Cidadania já contou com a participação de cerca de 28 milhões de pessoas no país inteiro, mobilizou todos os segmentos da sociedade para o combate à fome e à miséria e para a necessidade de geração de emprego. Desde o começo, a proposta da Ação da Cidadania foi deixar de esperar por ações estruturais que não estão ao alcance do cidadão, mas estimular o gesto imediato, a solidariedade de dar um quilo de alimento a quem tem fome. Partir para ações emergenciais sem esquecer de que as ações estruturais são necessárias.

Um dos objetivos dessa campanha é o de promover um encontro dos mais diversos setores da sociedade. Antes, as ações e reivindicações se limitavam a grupos políticos ou a determinadas classes e segmentos da sociedade. Estamos inventando uma nova forma de fazer política, com a participação de toda a sociedade civil.

Neste sentido, a participação da comunidade evangélica é fundamental. Esta é uma comunidade que há muito tempo demonstra seu enorme sentido social e preocupação com o problema da miséria e que também já mostrou que é capaz de realizar grandes ações. Mas a ação não pode parar. Cada grupo deveria se reunir e pensar no que pode fazer de útil à sociedade dentro de área, de seu conhecimento, enfim, dentro do que estiver ao seu alcance. Muita gente já começou a fazer isso e à medida que estas ações crescem, cresce também a nossa cidadania. Cada igreja, cada núcleo, pode se tornar um comitê, um grupo de combate à fome, que não espera apenas por ações, faz. Com isso nossa rede de solidariedade se tornará cada vez maior.

Herbert de Souza, 60 anos, sociólogo, diretor-geral do IBASE, articulador nacional da Ação da Cidadania contra a Miséria e Pela Vida.


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Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...