sexta-feira, 1 de março de 1996

VM Show


Vitrine de Puro Rock

Por Benilton Maia

Fotos Divulgação
Sem espaço nas rádios, a banda Átrios investe seu talento em diversos shows ao vivo

Cerca de 1.500 pessoas marcaram presença na Concha Acústica da Igreja Congregaciorral de Bento Ribeiro (RJ) para acompanhar de perto o show de lançamento do segundo disco da banda Átrios, Vitrine viva (Gospel Records). Átrios é uma banda de hard rock que tem nas consagradas Petra, Stryper e WhiteCross suas maiores fontes de inspiração. Os rapazes têm elaborado músicas com temas contextualizados aliados a um ritmo que arrebata milhões de adolescentes evangélicos. Deram o primeiro passo na estrada em 1989. Em 1991, lançaram o primeiro disco, Mudança radical (Manancial Produções). Hoje estão mais animados do que nunca com o trabalho bem aceito pelo público. Pena que a maior parte das FMs evangélicas nacionais não abra espaço em sua programação para bandas como a Átrios. Se operassem de forma democrática, o grupo certamente faria enorme sucesso. Por essas e outras, a banda promove seus trabalhos nos shows ao vivo. Por onde passa, ganha novos admiradores. Já se apresentou no Teatro Ziembinski, na Tijuca, no Circo Voador, no Espaço Tabernáculo, no Espaço Cultural Gospel do Flamengo (RJ), Praça do Pacificador (Duque de Caxias, RJ) e Teófico Otoni (MG), além de eventos nas praias da Bica e Ipanema, no Rio. Deram entrevista em vários programas de rádio AM e algumas FMs apoiaram. Foram citados por diversos jornais, fanzines e revistas nacionais e também nas americanas Heaven's Metal Higher Rock Music News e Holy Massenger Metal Magazine. A revista Tumba Vazia Zine, do México, foi outra que abriu espaço para a Átrios. Na formação estão Edimilson Scherrer, Jeziel Scherrer, Eliel Saltes, Ricardo Barros e Mauro Guima.

Michael Smith, o maduro

Arquivo pesoal
Michael W. Smith:
sensibilidade e novas parcerias

Do alto de seus 37 anos, Michael W. Smith está feliz da vida com seu último trabalho, I'll lead you home, lançado no fim do ano passado. Quem acompanhou os álbuns anteriores de Michael encontrará neste novo CD um estilo revitalizado e amadurecido. Créditos para seu novo produtor musical, Patrick Leonard, experiente profissional que já trabalhou com conhecidos nomes da música pop secular, e para o parceiro de composição, Wayne Kirpatrick (duas vezes vencedor do Dove Awards como compositor do ano). Diferente dos anteriores, apontamos um destaque maior para as cordas neste novo álbum. I'll lead you home traz 14 envolventes canções de pura sensibilidade. A primeira faixa, Cry for love, estréia a parceria de Michael com Brent Bourgeois. Breakdown é uma homenagem ao reverendo Martin Luther King, com direito a trecho de um de seus imortais discursos.


Competência com sotaque sulista

Arquivo pesoal
O Projeto Um de Davi Lemos
tenta fugir do lugar-comum

Mesmo abarrotado de títulos e lançamentos com diversos artistas, o mercado fonográfico evangélico ainda mostra que tem espaço para quem mostra talento. Procurando preencher o espaço existente na christian music nacional Davi Lemos surge com sua primeira gravação. Apesar das dificuldades de produção e financiamento, ele merece congratulações pelo esmero. Com dois hinos tradicionais e oito faixas de músicas inéditas, os arranjos de cordas e teclados são de ótima qualidade. As introduções bem trabalhadas e os arranjos de vozes mostram competência. As letras ainda não deram o passo ideal, mas também não caem no lugar-comum das composições de algumas bandas de rock. Vale a pena conferir o Projeto Um, de Davi Lemos, que surge em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, mas tem tudo para conquistar o público evangélico de todo o Brasil.


DROPS


Arquivo pesoal
Rosane e Simone: música cristã
com toque de brasilidade
Arquivo pesoal
Flávia canta no exterior

Rosane & Simone, 32 e 25 anos, respectivamente, lançaram pela Risi Arte & Cultura o CD Instrumento de vossa paz. Elas são irmãs, filhas de cantores de coral de igreja. Este primeiro trabalho traz 12 faixas que mesclam ritmos e instrumentos diferentes.


Armando Filho, o compositor com o maior número de músicas gravadas por ele e por outros cantores, tem sido convidado para participar de campanhas evangelísticas por todo o país. Sua canção O mover do Espírito está na boca de todo o povo cristão.


Flávia Salles recebe todo o apoio pelos pais desde que começou a demonstrar talento para a música. Aos 13 anos, está em seu terceiro disco. Ainda sem gravadora, ela tem-se apresentado em cruzadas e congressos e igrejas da África e do Paraguai.



VOCÊ É O JUIZ

Atenção porque esta é o sua última chance de eleger os melhores. Daqui a dois meses divulgaremos o resultado dessa eleição. Sua opinião é importante. Copie os itens abaixo, escreva ao lado os melhores candidatos de cada categoria, coloque em um envelope e envie para:

Revista VINDE - Coluna VM Show Caixa postal 100.084 CEP 24001-970 - Niterói, RJ

  1. Melhor cantor nacional
  2. Melhor cantor internacional
  3. Melhor cantora nacional
  4. Melhor cantora internacional
  5. Melhor banda de rock nacional
  6. Melhor banda de rock internacional
  7. Melhor banda pop nacional
  8. Melhor banda pop internacional
  9. Banda revelação nacional
  10. Banda revelação internacional
  11. Melhor disco pop nacional
  12. Melhor disco pop internacional
  13. Melhor disco rock nacional
  14. Melhor disco rock internacional
  15. Melhor música pop nacional
  16. Melhor música pop internacional
  17. Melhor música de louvor e adoração (nacional/versão)
  18. Melhor show do ano
  19. Banda de melhor performance ao vivo (nacional)
  20. Dois melhores videoclipes internacionais


Extraído VM Show. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 47, mar. 1996.

Muito além das nuvens

Professor de vôo livre enxerga a Terra do ângulo de Deus

Por Rogério Becil Nogueira

Fotos de arquivo pessoal

O cenário é maravilhoso do alto da montanha. Num belo dia de sol, temperatura agradável, vento NW (noroeste), intensidade moderada. Um, banho de cachoeira para refrescar, vou rumo à decolagem para a montagem de minha asa delta. Terminado, faço uma checagem de todos os itens de segurança e decolo para mais um vôo. Logo encontro uma térmica (corrente de ar ascendente) que me leva a 850m acima da montanha que tem 545m em relação ao pouso. A esta altura podia avistar cidades a mais de 80km. Após esta ascendente, parto para um planeio à procura de outra ascendente. Vôo mais 9km e encontro outra térmica que me leva a 1,6km em relação ao pouso, chegando a entubar (entrar na nuvem). Me guio pela bússola para não me perder. Saio dela maravilhado com o que meus olhos podem ver. Este ciclo repete-se algumas vezes. Depois de quase três horas, pouso tranqüilamente.

Este seria apenas mais um vôo de tantos outros feitos ao longo de quase 14 anos em que pratico vôo livre, esporte ao qual dediquei grande parte da minha vida, pois trabalho com instrução, vôos duplos, vendas de equipamentos e sou presidente da Associação Paulista de Vôo Livre. Mas tudo isso já não representava nada para mim, não preenchia o vazio que eu tinha em minha vida. Eu me perguntava: aonde eu vou chegar? E minha esposa e meus filhos, que vão ganhar com isso? Foi quando, após muitas crises e muito sofrimento, fui apresentado a um Deus vivo que me deu a cura e me salvou de todas as aflições.

Hoje, com um ano de conversão, tudo se fez novo. Tenho visto a mão de Deus trabalhando na minha vida e de toda minha familia. Minha esposa e filhos, irmão, irmã, cunhada e mãe estão em Cristo. Deus é a bússola da minha vida. É ele quem dirige cada passo, cada pensamento. Meus vôos ganharam nova vida. Agora, quando subo a montanha, já começo a me alegrar, pois estou indo para um momento meu a sós com Deus. A certeza de saber que, aonde quer que eu vá, a altura que eu estiver, Ele estará comigo.

Antes e durante cada vôo o estou consagrando a Deus, pedindo a cobertura do sangue de Jesus, sentindo seus anjos acampando ao meu redor, louvando seu santo nome, intercedendo por seus servos e pela sua Igreja em minha cidade, clamando por restauração, por edificação, para que caiam fortalezas e sofismas que impedem que vidas possam o adorar em espirito e em verdade. Em cada visão maravilhosa posso sentir sua presença ali, na criação da natureza, em ter-me dado habilidade e me capacitado para voar com asas como águia. Poucas pessoas já tiveram a oportunidade de voar. É bom saber que sou uma delas. Posso ser usado para ensinar outras pessoas, levá-las em vôos duplos e aproveitar as oportunidades de falar do Evangelho e de dar meu testemunho.

Um dia, a meu convite, levei meu pastor para fazer um vôo duplo. Ele gostou tanto que fez o curso e hoje também voa com paraglider, outra modalidade de vôo livre. Sendo assim, eu sou a ovelha que levou o pastor para o abismo. Tem sido muito bom, pois temos compartilhado com outros voadores, descoberto novos irmãos em Cristo e levado o Evangelho a todo tempo em todo lugar.


Rogério Becil Nogueira é presidente da Associação Paulista de Vôo Livre, instrutor de vôo livre e membro da Igreja Comunhão Cristã em Atibaia (SP).


Extraído Livre devoção. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 44 e 45, mar. 1996.

Cada macaco no seu galho

Por Alex Dias Ribeiro

Eduardo Reis

Eduardo Reis

O pastor chegou da igreja cansadão depois de um domingo cheio de atividades e dasabou no sofá para dar aquela relaxada. Alguém ligou a TV justo no momento em que acabavam de mostrar o gol mais bonito da rodada. O repórter perguntou ao autor da jogada como ele conseguira fazer aquele golaço. "É, eu chutei e graças a Deus foi gol." "Puxa vida, eu não sabia que esse cara era atleta de Cristo", exclamou o pastor, levantando-se empolgado do sofá. "Tenho que trazê-lo para pregar na minha igreja." Não sossegou enquanto não arrumou um diácono que era amigo da irmã da sogra do jogador. Mesmo advertido de que o craque não era tão bom de fé quanto de bola, o pastor não quis saber e pôs faixas no bairro inteiro, anúncios no rádio e convites no jornal.

No domingo, a igreja estava lotada. Depois que as 16 bandas da igreja se apresentaram, o pastor se levantou e, orgulhosamente, apresentou o grande pregador da noite. O atleta que, até então, só sentara no último banco, subiu meio desajeitado no púlpito e engoliu em seco ao encarar de frente a multidão. Resolveu encarar a situação. Respirou fundo, deu uma ajeitada na gravata que nunca tinha usado e começou. "Bom, meus irmãos, eu vou contar para vocês a parábola do bom samaritano. Amém?" A congregação respondeu em coro: "Amém." O artilheiro ganhou moral com o eco favorável da torcida.

O SERMÃO - "Um homem descia de Jerusalém para Jericó quando caiu numa plantação de espinhos que começaram a sufocá-lo. Tentando sair da incircuncisa situação, ele gastou todo o seu dinheito até ficar pobre, a ponto de comer a comida dos porcos numa fazenda. Foi então que ele encontrou a rainha de Sabá, que lhe deu um prato de lentilhas, cem talentos de ouro, vestidos brancos e um cavalo. Ao prosseguir viagem, seus cabelos se enroscaram numa árvore e o homem ficou pendurado por muitos dias, mas os corvos lhe trouxeram comida e água, de sorte que o homem comeu cinco mil pães e dois peixes."

"Uma noite, quando ainda estava suspenso, Dalila, sua mulher, chegou e sorrateiramente cortou seus cabelos. O homem caiu em pedregais escorregadios, mas levantou-se e andou. Então choveu quarenta dias e quarenta noites e o homem escondeu-se numa caverna, onde se alimentou de gafanhotos e mel silvestre. Saindo, encontrou um servo chamado Zaqueu, que o convidou para jantar. Mas o homem desculpou-se, dizendo que não podia porque havia comprado uma manada de porcos perdidos como ovelhas sem pastor. Foi então que um leão faminto tragou os porcos, mas Golias derrotou o leão com sua funda e mostrou ao homem o caminho que levava a Jericó. Ao aproximar-se das muralhas da cidade, ele viu Jezabel na janela. Mas, ao invés de ajudá-lo, ela riu. Indignado, o homem bradou em alta voz: Lançai-a fora! E eles a lançaram fora setenta vezes sete. Dos fragmentos foram recolhidos doze cestos e disseram: Bem-aventurados os pacificadores. Portanto, irmãos, na ressurreição dos mortos, de quem será esta mulher? Assim diz o Senhor. Amém."

Encantada, a congregação aplaudiu de pé. Na saída, entre um autógrafo e outro, o pastor ouviu uma confissão. "Eu não entendi nada do que ele pregou, mas foi uma bênção." "Ai, você falou ao meu coração", suspiraram as garotas da igreja. Feliz como quem marca um gol de placa, o craque da Palavra foi para casa achando que era o novo Caio Fábio.


Alex Dias Ribeiro é diretor executivo nacional dos Atletas de Cristo.

Os grandes milagres do amor

Por Reverendo Caio Fábio DAraujo Filho

"Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu Sim, Senhor, Tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias: quando porém fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me."

(João 21.15-19)

O diálogo acima é o mais doce e terapêutico já realizado neste planeta. Através dele, descobrimos o poder milagroso que o amor gera e como podemos nos beneficiar dele. É bom lembrar que a conversa acontece após alguns dias de experiências traumáticas. Perda, abandono, dor, lágrimas, frustração, revolta, medo, morte e vergonha eram os sentimentos que haviam pintado de modo lúgubre os cenários psicológicos e espirituais das almas daqueles homens. Ainda não haviam decidido deixar o luto. Jesus ressuscitara, eles não. O que aprendemos sobre o poder milagroso do amor na conversa na praia de Tiberíades?

"Se tu me amas, apascenta minhas ovelhas"

O AMOR CURA TUDO - Pedro estava enfermo de alma e mente. Como é que você acha que fica a mente de um ser humano quando trai o maior amor de sua vida? Muitos jamais se recuperam das marcas e dores de alma oriundas desta experiência. Pedro amava e sabia que era amado. Aqui abro um parêntese para dizer que traição não é prerrogativa dos que não amam. O amor é perfeito, mas os amantes são pecadores e vacilantes. Pedro traiu Jesus. Fez isto três vezes na mesma noite. Traição é sempre traição.

Não importa se por medo da morte ou apenas por não se resistir à oferta de um prazer. Prazer e morte têm a mesma força: o poder de convencer sobre o apego à vida ou àquilo que pensamos ser vida.

O caminho que Jesus escolheu para a cura de Pedro é estranho. Nada a ver com confissões morais ou grandes promessas de fidelidade. Também não se apela à força do caráter ou ao dever de honrar o papel que se tem na vida. É só um o tema de Jesus: "Pedro, tu me amas?" Por que a pergunta é sobre amor? Pode haver simplicidade maior? Não, não existe nada que a isto se compare. É a terapia do amor divino aplicada à falência humana. O inferno pode estar cheio de boas intenções, mas não de amor. Quem ama "passou da morte para a vida", diria, anos depois, João, presente naquela manhã na Caldéia.

O amor cura pois tem em si o poder de desintoxicar a alma. Ele opera na graça, na certeza do ser e não do fazer ou do dever. Deixa a gente respirar. Conecta a gente à certeza da aceitação do outro. O amor traz consigo um pacto de vida e cria um pacto com a verdadeira vida. Ele é mais forte do que a morte, por isso também mais forte que a culpa e o medo. Aliás, João de novo nos ensina: "O verdadeiro amor lança fora o medo." Quem quer cura tem que se abrir para o amor de Deus.

O AMOR CUMPRE SUA MISSÃO - Pedro não está apenas doente. Ele também está sem rumo na vida. Sente-se desempregado. A pesca daquela noite foi um bico. Mais que isto: ele não é um desempregado qualquer. É aquele que pensou que tinha Deus como patrão e o mundo como área de ação e -via em cada habitante do planeta gente de seu público-alvo. De repente, tudo isso acabou, e por culpa dele. Agora, seu sonho mais profundo é o de ser reempregado. Ele só não sabe se ainda é possível. Aliás, ele nunca tinha nem mesmo entendido por que ele havia sido chamado, quanto mais agora, depois de seu fracasso. Só mesmo muita graça para que ele pudesse ser reintegrado às suas funções. Pedro queria uma função de volta. Jesus queria restaurar uma relação. No Reino de Deus, ninguém tem funções antes de ter relações. Só o amor restaura e mantém relações. E não somente isto. Pedro quer saber o que fazer da vida. Jesus diz: "Se tu me amas, então cuida das minhas ovelhas." O amor sempre dá utilidade e missão à vida humana. O amor é útil, e quem ama sempre faz muito mais do que dele se requer. Pedro se tornou maior do que ele próprio e do amor de Deus tirou forças para cumprir sua, missão até o fim.

O AMOR GLORIFICA A DEUS EM TUDO - Pedro não estava apenas doente e desempregado. Ele estava com medo de falhar outra vez, se fosse aceito. Jesus sabe disso. Por isso mesmo, faz a Pedro uma profecia que, para a maioria das pessoas, seria horrível, mas para Simão era um bálsamo: "Pedro, você vai ter uma morte antinatural. Sua velhice não reserva descanso, mas dor. Sua autodeterminação será totalmente retirada. Outro o conduzirá pela mão e o vestirá, e você será levado aonde não gostaria de ir. Mais: morrerá como mártir."

Para qualquer um, aquela seria uma profecia que geraria angústia, medo e ansiedade. A maioria dos cristãos oraria: "Senhor, se possível, me livra de tal morte." Porém, para o apóstolo candidato à fidelidade, o anúncio da certeza daquela morte era um bálsamo. Para ele, o que Jesus estava dizendo era: "Pedro, vai sem medo. Você não vai cair mais. Meu amor por ti e teu amor por mim dão a ti a garantia de que tu nunca mais chorarás o choro amargo dos que negam a fé ante o medo da perda e da morte. Vai sem medo, porque tu me amarás até a morte. É isto que vejo no teu futuro."

O amor inverte o significado da dor. Quando se sofre por amor e isto não é dor, é glória. O amor encontra sempre o caminho da glorificação do nome de Deus. Mesmo a catástrofe, o flagelo, a perda, a desapropriação, a falência, ou qualquer coisa que nos aconteça porque nós fomos fiéis ao Princípio do Amor será transformado em glória.

Concluindo, quero apenas dizer: converta sua vivência com Deus numa experiência de abandono no amor de Jesus. Não tenha medo de responder ao amor de Cristo, mesmo que você esteja atormentado pelo medo do fracasso e da fraqueza ou angustiado pela culpa decorrente de sua incoerência. Mergulhe no amor de Jesus. Ele curará você, dará sentido de missão na vida e garantirá que sua existência será glória para Deus, mesmo na morte.


Extraído: Pare e pense. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 36 e 37, mar. 1996.

O morro, o esparadrapo e a Bíblia

Missionário em favelas, André Fernandes é símbolo do Evangelho integral

Por Danielle Franco


Fotos de Frederico Mendes


Renato BittencourVArtware
O sonho de André era tornar-se fuzileiro naval,
mas o carioca da Tijuca foi seduzido pelo
trabalho junto a comunidades carentes
e tornou-se missionário

"André sobe o morro/Porque tem uma missão." Para muitos, o personagem da música A missão, do grupo Fruto Sagrado, é fictício. Mas foi um sujeito de carne e osso, inconformado com a miséria material e espiritual das comunidades carentes do Rio de Janeiro, que inspirou os versos da canção: André Fernandes, 25 anos, carioca, da Tijuca, filho de um pediatra e de uma advogada, é o mais conhecido missionário de favelas do Rio.

Antes de se tornar coordenador do projeto Exército da Esperança e articulador da campanha Rio, desarme-se, André teve a vida totalmente transformada. Ainda na Marinha, onde pretendia seguir carreira como fuzileiro naval, foi levado por um amigo à Igreja Batista Missionária do Maracanã, onde descobriu "um Deus compreensivo, misericordioso, que me ama como sou", revela. "Tive muitas experiências com Deus e fiz um pacto: era preferível perder a vida do que me afastar da Sua presença. Nesse momento, decidi ser missionário." André participou de cursos de liderança cristã e missões urbanas.

Na Escola de Treinamento e Discipulado - Eted - da Jocum, alternava aulas teóricas e práticas no Morro do Jorge Turco, na Ilha do Governador. Seduzido pelo trabalho missionário, que até o levou ao exterior, saiu da Marinha. "O sonho da maioria dos missionários é sair do Brasil. Eu achava que havia muitos a serem alcançados pelo Evangelho aqui. Queria trabalhar com gente simples da favela, cercada pela pobreza e pelo tráfico de drogas", conta. O primeiro desafio foi o Morro do Borel, na Tijuca, com o missionário Pedro. Num local chamado terreirão, instalaram um ambulatório para prestar serviços à comunidade. "Foi um tempo muito difícil. Para se ter idéia, cheguei a ver futebol em que a bola era uma cabeça humana. Hoje, muitos daquela comunidade se converteram a Cristo", conta.

EXPANSÃO - Um ano depois, André iniciou sozinho um trabalho na favela do Morro Santa Marta, em Botafogo. Inicialmente, morava no porão da igreja batista da comunidade. Munido de uma caixa de sapato, saía pelas ruelas fazendo curativos e evangelizando. Ao mesmo tempo, ia nas igrejas pedir doações para compra de remédios e divulgava o trabalho. "Foi assim que consegui comprar a primeira casa", orgulha-se. Era um pequeno cômodo que havia funcionado como bar, conhecido como ponto dos caídos, porque as pessoas bebiam e ficavam estiradas por ali. "Depois que compramos a casa, o nome mudou para ponto dos erguidos. Nós levantamos a moral daquela gente", brinca.

Com a divulgação do trabalho, gente de fora, da comunidade foi conhecer o local e passou a fazer doações que possibilitaram a compra de uma nova casa. Desta vez com quarto, banheiro e sala, transformada em escritório. Mais pessoas passaram a colaborar e uma terceira casa foi adquirida. Outros beneficios foram estendidos aos moradores, como a construção de uma creche com capacidade para 200 crianças.

Renato BittencourVArtware
André: muito querido entre os moradores do Morro Dona Marta

No final de 1994, foi deflagrada a Operação Rio. Neste mesmo ano, André participou do Congresso para Pastores e Líderes promovido pela Vinde em Serra Negra, e lá conheceu o reverendo Caio Fábio, que o convidou para uma reunião em que seriam discutidas as diretrizes da campanha Rio, desarme-se. Como resultado, a comunidade do Santa Marta foi a primeira favela a ser invadida por voluntários com mensagens a favor da paz e contra a violência. O movimento cresceu, vários líderes comunitários foram contactados e 40 favelas foram visitadas.

Enquanto a campanha ganhava espaço na imprensa e a adesão da população, André se sentia dividido com as responsabilidades dos ministérios da Jocum e da Associação Evangélica do Dona Marta. Logo em se-guida, a AEVB - Associação Evangélica Brasileira - decidiu realizar trabalhos nas favelas da cidade, convidando André para coordenar a iniciativa. Até que surgiu o convite para trabalhar na Fábrica de Esperança. "Orei a Deus. A Bíblia diz: Seja a paz o árbitro do teu coração. Fui para a Vinde, onde coordeno tudo a partir da Fábrica de Esperança", conta.

LIVRO - Na Fábrica, André deu início a um curso de liderança cristã ministrado por missionários e pastores que trabalham em favelas, está à frente da capelania, do departamento de Assessoria Comunitária e ainda do projeto Exército da Esperança. Até o final do ano, ele quer terminar de escrever um livro em que conta a história de sua vida, além de criar uma agência de notícias sobre as comunidades carentes e editar um guia com informações sobre as 50 principais favelas do Rio. A certeza de ter feito a melhor opção de vida é sentida quando André narra o culto de despedida da Jocum, realizado no Morro Santa Marta. "No fim, perguntei se alguém queria falar alguma coisa. De repente, o líder do tráfico se levantou, caminhou em minha direção com os olhos cheios de lágrimas e começou a bater palmas. Ele falava: Nota mil. Você conseguiu ser gente como a gente, se misturar à comunidade. Para mim, este é o verdadeiro cristianismo. Fiquei emocionado. Mesmo não compactuando com suas práticas, procuro compreender a sua realidade. Não aprovo o tráfico, mas, com o coração cheio de Deus, posso dizer que-amo aquelas pessoas", finaliza.

A missão

Marco, Maldon, Bênlio e Flávio


Ele mora na Cidade Maravilhosa
Maravilhoso lar da ilusão
Onde os canibais da selva de pedra
Passeiam por aí de AR-15 na mão
Ele cresceu no meio do incoerência
A desigualdade, a falta de providência
A insanidade urbana, os desencantos mil
Na violenta Babilônia do meu Brasil Rio de Janeiro

Ele poderia ter ficado imparcial
Passivo a tudo e tentar ser normal
Mas algo o atingiu de forma impactante
E não era bala perdida de PM ou traficante
Era a missão celestial
Alucinante, irradiante, transcedental
A família, os amigos, pouca gente entendeu
"O André enlouqueceu de vez? O que aconteceu?"

André sobe o morro
Sobe porque sabe que tem uma missão
André sobe o morro
Sobe o Dona Marta com muita determinação
Sobe porque sabe a resposta pro Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, muda a direção
O Redentor está de braços abertos te esperando
Rio de Janeiro, muda a direção
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro

Ele não conseguiu ficar trancado no quarto
Ele não conseguiu fingir-se de avestruz
Lá fora a desgraça atravessando a rua
A infelicidade dominando nua e crua
Crianças são comidas por seus vermes intestinais
Vermes manipuladores de injustiças sociais
Homens se matando como ratos enclausurados
Num Rio de Janeiro que desaba aos pedaços
O Rio de Janeiro

André sabe que a resposta é só Jesus
No coração das favelas e dos barracos
No coração dos castelos e dos palácios
No coração de cada cidadão
No coração do Rio de Janeiro
No coração do meu Brasil



Extraído Perfil. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 30 e 31, mar. 1996.

Real vale mais que dólar?

Por Emilio Gargalo


Renato BittencourVArtware

O brasileiro vive uma situação curiosa e inédita ao ver que um dólar vale menos do que um real, esta moeda mágica, e pergunta-se como isto é possível, durável, razoável. Claro que é! Mas, veja bem, isto não significa que o real seja mais forte do que o dólar. Da mesma forma, com um único peso argentino pode-se comprar 1,5 mil libras italianas, sem que isto signifique que a moeda de nosso vizinho seja mais forte que a moeda do país de Pavarotti.

Vamos por partes (à moda de Jack, o estripadar): lembre-se de que um real é a nova versão dos antigos 2.750 cruzeiros reais. Que, por sua vez, já eram uma versão melhorada de 2.750.000 cruzeiros. Ou, 2.750.000.000 de cruzados. E assim sucessivamente. Ou seja, fizemos várias cirurgias plásticas na moeda nacional ao longo dos anos, mudando a forma de representá-la. O grande mérito do real está no fato de não se ter deteriorado ao longo do tempo, isto é, não perdeu valor em relação às outras moedas e, principalmente, manteve seu poder de compra dentro do Brasil. Isso porque o governo vem controlando a emissão de moeda e mantendo sob controle os seus próprios gastos. Emitir dinheiro sem controle faz com que ele perca o valor.

Quando alguém, brasileiro ou estrangeiro, troca seus dólares, seus ienes, seus pesos etc. por reais, não o faz porque um dólar corresponde a noventa e sete centavos de real. Faz porque gosta da rentabilidade do real, garantida pelos juros altos, e porque aposta na sua estabilidade, pelo menos a médio prazo.

Por isso, não se assuste se a relação vier a se inverter, isto é, se um dólar passar a comprar mais do que um real. O Brasil não tem um compromisso forte da relação um por um como, por exemplo, a Argentina, que fixou em lei esta paridade. O real poderá ser lentamente desvalorizado, se isto for necessário para manter nossas exportações. O investidor se assusta, na verdade, quando uma moeda se deteriora muito rapidamente, como acontecia com nossos cruzeiros e cruzados, ou se a rentabilidade for muito baixa, ou ainda se as reservas do pais forem baixas, indicando que ele pode vir a não receber o dinheiro investido.

Só para completar a história, já que citamos a Argentina, lembre-se de que na Ultima cirurgia da moeda feita por lá, quando transformaram os austrais em pesos, o valor da moeda foi dividido por 10 mil. Mas, diferentemente do Brasil, a paridade é um peso para um dólar. E é lei.


Emílio Gargalo é bacharel em Economia pela PUC-SP e sócio-diretor da MCM Consultores Associados S. C. Ltda.


Extraído Moeda e Mercado. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 24, mar. 1996.

Humor

Carlos Fernandes

O senhor poderia me informar onde estou?

Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...