sexta-feira, 1 de março de 1996

Os grandes milagres do amor

Por Reverendo Caio Fábio DAraujo Filho

"Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Tornou a perguntar-lhe pela segunda vez: Simão, filho de João, tu me amas? Ele lhe respondeu Sim, Senhor, Tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Pastoreia as minhas ovelhas. Pela terceira vez Jesus lhe perguntou: Simão, filho de João, tu me amas? Pedro entristeceu-se por ele lhe ter dito, pela terceira vez: Tu me amas? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas. Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias: quando porém fores velho, estenderás as tuas mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me."

(João 21.15-19)

O diálogo acima é o mais doce e terapêutico já realizado neste planeta. Através dele, descobrimos o poder milagroso que o amor gera e como podemos nos beneficiar dele. É bom lembrar que a conversa acontece após alguns dias de experiências traumáticas. Perda, abandono, dor, lágrimas, frustração, revolta, medo, morte e vergonha eram os sentimentos que haviam pintado de modo lúgubre os cenários psicológicos e espirituais das almas daqueles homens. Ainda não haviam decidido deixar o luto. Jesus ressuscitara, eles não. O que aprendemos sobre o poder milagroso do amor na conversa na praia de Tiberíades?

"Se tu me amas, apascenta minhas ovelhas"

O AMOR CURA TUDO - Pedro estava enfermo de alma e mente. Como é que você acha que fica a mente de um ser humano quando trai o maior amor de sua vida? Muitos jamais se recuperam das marcas e dores de alma oriundas desta experiência. Pedro amava e sabia que era amado. Aqui abro um parêntese para dizer que traição não é prerrogativa dos que não amam. O amor é perfeito, mas os amantes são pecadores e vacilantes. Pedro traiu Jesus. Fez isto três vezes na mesma noite. Traição é sempre traição.

Não importa se por medo da morte ou apenas por não se resistir à oferta de um prazer. Prazer e morte têm a mesma força: o poder de convencer sobre o apego à vida ou àquilo que pensamos ser vida.

O caminho que Jesus escolheu para a cura de Pedro é estranho. Nada a ver com confissões morais ou grandes promessas de fidelidade. Também não se apela à força do caráter ou ao dever de honrar o papel que se tem na vida. É só um o tema de Jesus: "Pedro, tu me amas?" Por que a pergunta é sobre amor? Pode haver simplicidade maior? Não, não existe nada que a isto se compare. É a terapia do amor divino aplicada à falência humana. O inferno pode estar cheio de boas intenções, mas não de amor. Quem ama "passou da morte para a vida", diria, anos depois, João, presente naquela manhã na Caldéia.

O amor cura pois tem em si o poder de desintoxicar a alma. Ele opera na graça, na certeza do ser e não do fazer ou do dever. Deixa a gente respirar. Conecta a gente à certeza da aceitação do outro. O amor traz consigo um pacto de vida e cria um pacto com a verdadeira vida. Ele é mais forte do que a morte, por isso também mais forte que a culpa e o medo. Aliás, João de novo nos ensina: "O verdadeiro amor lança fora o medo." Quem quer cura tem que se abrir para o amor de Deus.

O AMOR CUMPRE SUA MISSÃO - Pedro não está apenas doente. Ele também está sem rumo na vida. Sente-se desempregado. A pesca daquela noite foi um bico. Mais que isto: ele não é um desempregado qualquer. É aquele que pensou que tinha Deus como patrão e o mundo como área de ação e -via em cada habitante do planeta gente de seu público-alvo. De repente, tudo isso acabou, e por culpa dele. Agora, seu sonho mais profundo é o de ser reempregado. Ele só não sabe se ainda é possível. Aliás, ele nunca tinha nem mesmo entendido por que ele havia sido chamado, quanto mais agora, depois de seu fracasso. Só mesmo muita graça para que ele pudesse ser reintegrado às suas funções. Pedro queria uma função de volta. Jesus queria restaurar uma relação. No Reino de Deus, ninguém tem funções antes de ter relações. Só o amor restaura e mantém relações. E não somente isto. Pedro quer saber o que fazer da vida. Jesus diz: "Se tu me amas, então cuida das minhas ovelhas." O amor sempre dá utilidade e missão à vida humana. O amor é útil, e quem ama sempre faz muito mais do que dele se requer. Pedro se tornou maior do que ele próprio e do amor de Deus tirou forças para cumprir sua, missão até o fim.

O AMOR GLORIFICA A DEUS EM TUDO - Pedro não estava apenas doente e desempregado. Ele estava com medo de falhar outra vez, se fosse aceito. Jesus sabe disso. Por isso mesmo, faz a Pedro uma profecia que, para a maioria das pessoas, seria horrível, mas para Simão era um bálsamo: "Pedro, você vai ter uma morte antinatural. Sua velhice não reserva descanso, mas dor. Sua autodeterminação será totalmente retirada. Outro o conduzirá pela mão e o vestirá, e você será levado aonde não gostaria de ir. Mais: morrerá como mártir."

Para qualquer um, aquela seria uma profecia que geraria angústia, medo e ansiedade. A maioria dos cristãos oraria: "Senhor, se possível, me livra de tal morte." Porém, para o apóstolo candidato à fidelidade, o anúncio da certeza daquela morte era um bálsamo. Para ele, o que Jesus estava dizendo era: "Pedro, vai sem medo. Você não vai cair mais. Meu amor por ti e teu amor por mim dão a ti a garantia de que tu nunca mais chorarás o choro amargo dos que negam a fé ante o medo da perda e da morte. Vai sem medo, porque tu me amarás até a morte. É isto que vejo no teu futuro."

O amor inverte o significado da dor. Quando se sofre por amor e isto não é dor, é glória. O amor encontra sempre o caminho da glorificação do nome de Deus. Mesmo a catástrofe, o flagelo, a perda, a desapropriação, a falência, ou qualquer coisa que nos aconteça porque nós fomos fiéis ao Princípio do Amor será transformado em glória.

Concluindo, quero apenas dizer: converta sua vivência com Deus numa experiência de abandono no amor de Jesus. Não tenha medo de responder ao amor de Cristo, mesmo que você esteja atormentado pelo medo do fracasso e da fraqueza ou angustiado pela culpa decorrente de sua incoerência. Mergulhe no amor de Jesus. Ele curará você, dará sentido de missão na vida e garantirá que sua existência será glória para Deus, mesmo na morte.


Extraído: Pare e pense. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 36 e 37, mar. 1996.

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