quinta-feira, 28 de março de 1996

Novidade

Pagode 'pra God'

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Razão de Viver: na cadência do Evangelho

O grupo de pagode Razão de Viver, que só canta pra God, está fazendo o maior sucesso em Belo Horizonte (MG). Com apenas 1 ano, o trabalho dessa turma foi homenageado pela Câmara Municipal de Belo Horizonte com a Comenda do Mérito Artístico Rômulo Paes. Os integrantes do grupo estão bem afinados com o objetivo: fazer missões. E eles não escolhem lugar para se apresentar. De favelas a teatros, cantam com a mesma devoção e conseguem levantar fundos para o envio de missionários ao exterior, inclusive Rússia e Inglaterra. Os ensaios são realizados na pedreira Prado Lopes, em BH, onde muitas das pessoas que param para assistir não resistem ao apelo do grupo para terem uma experiência com Jesus Cristo.


Usina de craques

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Os meninos do Projeto Vida trocam as ruas pelo futebol

A Igreja Batista da Usina, Zona Norte do Rio, realiza um trabalho interessante: o Projeto Vida, uma escolinha de futebol amador para a garotada de 3 a 17 anos. Funcionando desde julho do ano passado e liderada pelo ex-jogador Jorge Luiz Rodrigues, que já atuou no Botafogo e no Bangu, a escola conta hoje com 42 alunos, a maioria do morro do Borel. Além das atividades físicas, os alunos participam de palestras e aconselhamentos. Atletas de Cristo, como Jocimar e Tinho, já apareceram para conversar com os jovens. Jorge diz que o resultado tem sido muito bom: os pais dos alunos estão gostando de ver seus filhos fora das ruas. Ele agora procura pessoas ou entidades dispostas a ajudar no trabalho. "Não dispomos de espaço nem recursos próprios", explica. Não há limite de vagas e quem quiser participar ou ajudar deve entrar em contato pelo telefone (021) 236-3594.


Drogas, tô fora!

A Comunidade Batista Shalom, de Belo Horizonte (MG), está com uma atividade legal: o Desafio Jovem Shalom. O trabalho consiste na recuperação de jovens viciados em drogas e álcool. Funcionando há cerca de 5 anos, o Desafio compreende duas etapas: uma na sede, no bairro Barreiro de Baixo, região metropolitana de Belo Horizonte, onde os jovens passam três meses em acompanhamento espiritual e clínico; a outra no Acampamento Shekinah. O Desafio pretende ampliar seus trabalhos até Boston, EUA.


Calor Capixaba

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Vitória (ES) teve o verão mais quente da temporada. Cristo Vida Verão, evento musical que rolou durante o mês de janeiro nas areias da Praia da Costa, foi o maior sucesso. Carlinhos Félix, Banda & Voz, Expressão Musical, Raízes e Semear deram um show na arena montada na areia da praia, que reuniu cerca de 8 mil pessoas nos fins de semana capixabas. O evento faz parte da programação anual de verão da Igreja Batista de Praia da Costa. Quem perdeu, não fique triste: ano que vem tem mais.


Se os jovens e adolescentes de sua igreja estão realizando algum projeto legal ou programando um evento especial, envie um texto com as principais informações, telefone para contato e duas fotos coloridas e nítidas para nós: Redação da revista VINDE - Rua Luiz Leopoldo Fernandes Pinheiro, 604/7Y andar, Niterói - RJ, CEP 24.030-122.

Agenda: Março 1996

Evangelho na ponta da língua

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Missionários brasileiros
vão evangelinir na Inglaterra

A Missão Transcultural - Treinamento Transcultural e Lingüístico - vai preparar um grupo para participar do projeto Missão Inglaterra 96. Durante o mês de julho, Birmingham, a duas horas de Londres, se transformará no quartel-general de duas equipes. Os participantes farão curso intensivo de inglês - o Speak for Jesus -, além de trabalhos de evangelização e passeios. Maria Leonardo, coordenadora geral da missão, diz que o objetivo é treinar missionários no campo europeu. O custo é de R$ 1.830,00 por pessoa e inclui passagens, hospedagem e alimentação. A saída está prevista para o dia 30 de junho, de São Paulo. Mais informações pelo telefone (031) 487-1402 ou na Missão Transcultural, Rua Guruá, 365, Belo Horizonte (MG) - CEP 31050-610.


Administração do Reino

Carlos Fernandes
Administração e recursos humanos
são temas de Congresso em Goiânia

O Ministério Asas de Socorro, de Goiânia (GO), está promovendo, de 19 a 21 de março, em Águas de Lindóia (SP), o seminário Ferramentas para líderes, sob o tema Administração. O objetivo é auxiliar o desenvolvimento da liderança evangélica. Na pauta, assuntos como administração de marketing, qualidade, administração financeira e contabilidade, mantenedores e recursos humanos. Haverá também palestras sobre informática, levantamento de fundos, sinergia e outros. Maiores informações pelos tels. (062) 314-1133 ou 314-1450.


O Brasil lê com a Vicom

Duas novas livrarias Vinde serão inauguradas em março. As lojas, ambas contando com a assessoria do sistema de franquias da Vinde Comunicações, ficam em João Pessoa (PB) e São Paulo (SP). Ainda estão previstas as inaugurações de livrarias em Cabo Frio (RJ, abril) e Cuiabá (MT, maio). A Vicom também está abrindo vagas para colportores (revendedores em igrejas e seminários) de todo o país. Os interessados devem enviar cópias da carteira de identidade, CPF e comprovante de residência, carta de apresentação do pastor da igreja a que pertence e duas fotos 3x4 para: Vinde Comunicações, Travessa Dr. Pereira Faustino, 10, Fonseca, Niterói, RJ, CEP 24.120-040, Wallace Corrêa.


Femininas Gerais

Carlos Fernandes
A comunidade Shalom organizará
congresso de mulheres em Minas

De 8 a 10 de março, sempre às 19h30, a Comunidade Batista Shalom, de Belo Horizonte (MG), estará realizando o 110 Uniféminas - Congresso de Mulheres Shalom. O evento vai acontecer no Pavilhão da Fé, na rua Souza Magalhães, 203, Barreiro, sob o tema Mulheres cheias do Espírito Santo, fundamentadas, edificando, trabalhando e implantando a plenitude do Reino de Deus. Entrada franca.


A 'cara' dos batistas

A Igreja Batista do Méier, no Rio de Janeiro (RJ), estará sediando o Congresso de identidade denominacional, nos dias 11 a 16 de março. O evento reunirá pastores e lideres que vão discutir o valor da denominação batista no meio evangélico. Entre os temas, destaque para A pregação que fortalece a identidade denominacional e Identidade denominacional versus fenômenos neo-pentecostais, entre outros. Maiores informações pelo telefone (021) 284-0988.



Extraído Agenda. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 64, mar. 1996.

terça-feira, 26 de março de 1996

A 'casa da moeda' da Bíblia

Nova gráfica da Sociedade Bíblica Brasileira já é a segunda do mundo,na publicação das Escrituras

POr Carlos Fernandes, de São Paulo (SP)

A gráfica é o maior empreendimento do gênero na América Latina, com capacidade para produzir 200 mil Bíblias completas por mês

Acasa da moeda de Deus. Assim pode er chamada á Gráfica da Bíblia, o maior empreendimento industrial voltado à produção das Escrituras Sagradas na América Latina, que pertence à Sociedade Bíblica do Brasil - SBB entidade responsável pela tradução, produção e distribuição de 75% das Bíblias utilizadas no Brasil. Se, para os evangélicos, a Bíblia representa seu mais precioso bem, a comparação faz sentido: afinal, é através das Escrituras que cristãos dos mais diversos grupos e confissões encontram sua maior identidade e têm o seu mais alto grau de valor.

Instalada em um centro empresarial no município de Barueri, a 22km de São Paulo, a Gráfica da Bíblia ocupa uma área de 10,5 mil m2, e está funcionando há apenas seis meses. Mas a sua produção já é tão grandiosa quanto suas instalações (ver quadro). A inauguração da gráfica representou a concretização de um antigo sonho da SBB, que era dispor de meios próprios para suprir a crescente demanda de Bíblias no país. "Nós tínhamos necessidade de uma gráfica própria", conta o reverendo presbiteriano Luiz Giraldi, de 62 anos, secretário-geral da SBB, "pois a distribuição cresceu muito e as gráficas nacionais não comportavam o volume de trabalho." Segundo Giraldi, nos últimos três anos a distribuição de Bíblias pela SBB duplicou, tornando viável o projeto.

A partir de 1993, foram lançadas campanhas de arrecadação de fundos em todo o país, além de contribuições e empréstimos que vieram do exterior, possibilitando a construção da gráfica. "O nosso principal objetivo aqui não é ter lucro, mas reduzir os custos para que o preço de cada Bíblia seja o mais baixo possível, acessível a todos", garante Giraldi. Além da comercialização, a SBB também promove a distribuição gratuita de Bíblias e porções das Escrituras em escolas, presídios, hospitais e comunidades carentes. "A distribuição da Bíblia é uma das coisas mais importantes que se faz neste país, pois a Palavra de Deus pode transformar a vida das pessoas e, como cristão, me sinto muito emocionado por participar deste projeto", conclui Giraldi.

VÔOS ALTOS - A tecnologia utilizada na Gráfica da SBB é das mais modernas destinadas a esse segmento em todo o mundo. "Estamos em primeiro lugar em termos de equipamento e estrutura para produção de Bíblias encadernadas", diz o engenheiro mecânico Celio Emerique, de 52 anos, que ocupa a gerência-geral do empreendimento. A SBB pertence ao grupo das Sociedades Bíblicas Unidas, que congrega 115 dessas entidades em todo o mundo. Dentre todas, a brasileira está em segundo lugar em produção e distribuição, atrás apenas da americana, de acordo com Emerique.

Atualmente, a Gráfica da Bíblia ainda não faz impressão, serviço que, por enquanto, ainda é terceirizado. Os principais investimentos têm sido dirigidos à parte de encadernação. "É no processo de encadernação que existe a maior carência de prestação de serviços no mercado", argumenta Emerique. "Por isso, temos dado mais ênfase a esta parte da produção." Dentro de dois anos, depois de completar sua capacidade de encadernação, a Gráfica pretende investir na impressão, alcançando autonomia em todas as etapas da produção. "Até porque", continua Emerique, "esta é outra área carente, pois no Brasil não existe ninguém especializado na impressão em papel-bíblia."

Giraldi: "Este projeto me emociona"

Mas na Gráfica da Bíblia não existe só tecnologia. Além do galpão fabril e das instalações administrativas, o moderno prédio tem sala de reuniões, refeitório, cozinha, berçário e ambulatório. A construção é moderna e arejada, possibilitando a entrada de luz natural e a visão de um jardim interno. Toda essa estrutura visa possibilitar uma produção cada vez maior das Escrituras. Quando todo o projeto estiver concluído, a Gráfica da Bíblia terá condições de distribuir 4 milhões de exemplares da Bíblia completa por ano, quantidade suficiente para suprir o mercado interno e atender também outros países da América Latina e nações africanas de língua portuguesa. Um projeto ambicioso, que pode fazer do Brasil o grande disseminador da Palavra de Deus no próximo século. "Queremos dar vôos cada vez mais altos", garante o reverendo Luiz Giraldi.

Os números da SBB

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Em 95, a SBB distribuiu 1,8 milhão de Bíblias
  • 1º lugar na produção de Escrituras no Brasil e na América Latina
  • 2º maior publicadora das Escrituras do mundo
  • 21 milhões de Bíblias completas distribuídas desde a fundação, em 1948
  • 1,8 milhão de Bíblias completas distribuídas em 1995
  • 200 mil Bíblias completas produzidas por mês
  • 157 milhões de porções e seleções das Escrituras distribuídas em 1994
  • 10,5 mil metros quadrados tem o terreno da Gráfica da Bíblia
  • 11 milhões de dólares é o custo total do projeto

Os operários da Palavra

Quando alguém abre sua Bíblia, nem imagina por quantas etapas de fabricação passou aquele livro antes de estar disponível para leituras, estudos e meditações. Para ficar pronta, com sua tradicional capa preta e páginas finas - ou outro dos inúmeros formatos e apresentações atuais, cada exemplar da Palavra de Deus passa pelas mãos de várias pessoas, que usam seus conhecimentos e esforço físico em muitas horas de trabalho operando equipamentos nas diversas fases de produção industrial. Eles são simples trabalhadores, peças de uma estrutura que objetiva a produtividade, mas o fruto de seu trabalho produz vida e transformação na existência de milhões de pessoas em todo o Brasil. São funcionários anônimos, cujos nomes não vão impressos na obra. Mas a tarefa é nobre.

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Neto: "É um privilégio fabricar Bíblias"

O paranaense José Rosa Neto, 38 anos, é operador da máquina de corte de capas na Gráfica da Bíblia. Convertido ao Evangelho há 9 anos, ele é evangelista da Igreja Mensagem do Amor de Deus, em São Paulo, e considera muito gratificante ser um dos cooperadores da obra de Deus. "Para mim, é um privilégio fazer parte de um grupo que fabrica Bíblias", conta José, "pois quem conhece seu conteúdo sabe da importância da Palavra de Deus." Ele acha que, com seu trabalho, contribui para que muitas vidas sejam transformadas. Na sua opinião, a salvação depende de Deus, mas cada crente deve fazer sua parte falando de Jesus, pois a fé depende de se ouvir a Palavra.

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Maria das Neves não é evangélica, mas gosta do que faz

José garante que procura evangelizar seus colegas de trabalho, pois, entre eles, há pessoas que não são evangélicas, como a baiana Maria das Neves Barbosa de Souza, que trabalha no setor de costura. Ela se sente contente por trabalhar ali. "Eu gosto bastante, acho bom porque trabalhar com a Palavra de Deus deixa a gente muito mais tranqüila." Ela diz que costuma ler a Bíblia, principalmente na hora do almoço. Maria das Neves é casada, tem 27 anos, mora em Itapevi e, embora não seja crente, dá uma definição bem evangélica para o trabalho que executa, costurando zíperes nas capas das Bíblias: "É muito importante trabalhar na Gráfica da Bíblia pelo fato de levar a Palavra para muitas pessoas que não a conhecem e mesmo aos que já conhecem."

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Trabalhar com a Bíblia trouxe Marcos de volta à fé cristã

RECONCILIAÇÃO - Mas há aqueles qui já foram tocados através do trabalho que executam. O almoxarife Marcos Rodrigues de Moraes se reconciliou com Cristo depois de se tornar funcionário da Gráfica da Bíblia. Filho de mãe evangélica, Marcos, paulista de 21 anos, havia se desviado da fé. "Depois disso", conta, "eu não achava solução para meus problemas, nada do que fazia dava certo." Ele tem certeza de que trabalhar em contato direto com a Palavra de Deus influenciou bastante sua decisão de voltar a ser crente. "Foi muito edificante para minha vida, pois passei a ter mais tempo de manusear a Bíblia, lê-la e receber sua mensagem", relata Marcos. Ele freqüenta a Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, e é prova viva de que, além de alcançar milhões de pessoas com sua produção, a Gráfica da Bíblia já deu frutos internos.


Extraído Brasil. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 26-28, mar. 1996.

segunda-feira, 25 de março de 1996

Dupla tendência diante da missão

Por Pastor Oswaldo Prado

Retornando para São Paulo depois de exaustiva viagem pelo Nordeste do país, busquei na leitura de um dos jornais da região um motivo para passar o tempo e atualizar as informações. Chamou-me a atenção um editorial, cujo título - Sem Fronteiras - levou-me para aquilo que mais amo e sirvo: a teologia da missão. O articulista, dom Luciano Mendes, dirigente da CNBB, escrevia sobre a necessidade da evangelização dos povos em todo o mundo. Mais do que isso, afirmava categoricamente que a natureza da igreja cristã é ser missionária. Caso contrário, dizia, ela deixa de ser igreja.

Ao terminar a leitura, questionei-me sobre as razões pelas quais o cristianismo ainda caminha vagarosamente em algumas regiões do planeta e mesmo do nosso país. Teriam razão os que apregoam ser a fé cristã um bom motivo de crença tão somente para os ocidentais? Ou ainda, seria a mensagem de Cristo inadaptável a certas culturas?

Imagino estarmos hoje diante de uma dupla tendência, que tem ofuscado e comprometido o cumprimento da missão da igreja. A primeira tem a ver com uma teologia que fala e trata de Deus, mas que o destrona para torná-lo nosso serviçal. Um antropocentrismo levado às últimas conseqüências. O fato da redenção ter-se concretizado no âmbito da vida humana como alvo do amor de Deus poderia levar o ser humano a uma atitude de querer viver seu relacionamento de fé exdusivamente em volta de si? A missão da igreja acontece em toda a sua plenitude quando os que foram impactados pela presença de Cristo passam a viver em direção a seu semelhante. Não se trata apenas de uma atitude de abnegação e renúncia, mas da compreensão de que fomos chamados para ser bênção para todos os seres humanos.

"Conservamos um ar de provincianismo no que se refere à necessidade cie uma visão mais abrangente da missão. E uma tendência que beira a xenofobia."

Nota-se também em nossos dias a presença muitas vezes velada, mas de conseqüências visíveis, de um sentimento avesso a tudo aquilo que diga respeito à presença missionária em culturas distintas da nossa. Um etnocentrismo sem sentido. Herdeiros de um Evangelho que nos foi trazido por pessoas que souberam romper os seus próprios limites, ainda conservamos um certo ar de provincianismo no que se refere à necessidade de uma visão mais abrangente da missão. Ronda-nos uma tendência que beira a xenofobia. A proposta de Jesus aos discípulos foi de que o Evangelho não só alcançasse o lugar onde estavam, mas que também se espalhasse por todas as nações da terra.

Miscigenado através de tantas culturas, posso ver em nosso país o modelo ideal daquilo que podemos extrair do mandato bíblico: a missão para todos os povos. A possibilidade da evangelização das mais variadas etnias que vivem em solo brasileiro deveria nos desafiar. Sabe-se de segmentos sociais caracteristicamente transcultu cais presentes em nosso país. Ao lado disto, outros deverão ser alcançados pelo rompimento dos nossos limites geográficos. Sempre priorizando os grupos humanos ainda desprovidos de quais-quer influências libertadoras provenientes do Evangelho.

Até onde a visão da missão continuará comprometida por uma incompreensível tendência para privilegiar apenas alguns, estejam eles próximos ou não de nós? Rompamos com uma perspectiva reducionista da missão da igreja e ampliemos os horizontes. O real objetivo de uma igreja é cumprir sua missão: resgatar o ser humano integralmente, sem preferências de raça, língua ou cultura. Os próximos anos mostrarão se isto será uma realidade.


Oswaldo Prado é pastor presbiteriano, secretário especial de Missões da AEVB, diretor da missão Avante e coordenador do Movimento AD 2000.


Extraído Opinião. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 66, mar. 1996.

segunda-feira, 18 de março de 1996

Os missionários de farda

Com métodos Militares, Exército de Salvação promove evangelismo e assistência social

Por Carlos Fernandes

Nos cultos das igrejas salvacionistas, muitos membros vão uniformizados

Parece difícil acreditar que uma igreja e possa estar presente em 104 países diferentes, possuir mais de 1 milhão de membros das mais diferentes nacionalidades e, ainda assim, conservar sua unidade e manter práticas semelhantes em qualquer lugar do mundo. Para isso, seriam necessárias muita disciplina, obediência à hierarquia e dedicação quase espartana. Mas são justamente estas as características mais marcantes de um grupo muito especial, que age como uma tropa e adota costumes militares, como uso de farda e terminologias de quartel. São os integrantes do Exército de Salvação, uma igreja desconhecida para muitos evangélicos, que somente associam sua existência à famosa imagem do caldeirão de sopa para os pobres.

Mas o Exército de Salvação é muito mais do que isso. Criado na Inglaterra em 1865, chegou ao Brasil em 1922, através de um grupo de pioneiros que veio abrir fogo - iniciar uma frente de trabalho, na linguagem deles - no Rio de Janeiro. A partir daí, o grupo cresceu e foi avançando para diversos estados brasileiros. A sede nacional ficou no Rio até 1958, quando foi transferida para São Paulo, onde hoje ocupa um moderno edifício de 11 andares na Rua Juá. Logo que chegou ao Brasil, o Exército fez um reconhecimento de terreno a fim de descobrir qual era a maior necessidade do novo território. No caso do nosso país, o maior problema encontrado foi a existência de grande número de crianças carentes, o que veio ao encontro do tipo de trabalho característico do Exército de Salvação desde seu início: assistência social paralela ao trabalho espiritual. "A partir daí", conta o major Paulo Franke, de 52 anos, um dos diretores nacionais da entidade, "começaram a ser abertos corpos (igrejas) para promover esse tipo de atividade."

Os corpos não são simples locais de culto. Muitos deles abrigam estudantes residentes, centros sociais e trabalhos com meninos de rua e mães solteiras carentes, por exemplo. Na opinião de Franke, esse tipo de trabalho é fundamental para o salvacionista. "Nós sentimos que é nossa obrigação promover o bem-estar das pessoas", acredita. "Afinal, como podemos pregar o Evangelho para quem está faminto e desabrigado, sem dar-lhe o mínimo de condições físicas para receber a nossa mensagem?"

O coronel canadense
David Gruer é o líder no Brasil

UNIDADE - Além da ênfase dada ao trabalho social, uma das características marcantes da entidade é a sua unidade internacional. O Exército de Salvação é a mesma igreja no mundo inteiro, seguindo as mesmas doutrinas, regulamentos e estrutura organizacional. Até os hinos cantados são os mesmos, variando evidentemente de acordo com a língua local. Esca unidade é mantida através do comando único, exercido pelo general Paul Rader, um americano que comanda a igreja do quartel-general sediado em Londres, na Inglaterra. No Brasil, o líder máximo do Exército de Salvação é o coronel David Gruer, um canadense de 61 anos. O secretário-em-chefe é o gaúcho Alexandre Lopes, de 63 anos, que ocupa o posto de tenente-coronel.

O mais interessante no Exército de Salvação é a graduação de seus membros. Quando alguém aceita a Palavra e se converte, pode, se assim desejar, tornar-se recruta. Enquanto recruta, o novo membro passa por um período de preparação, depois do qual torna-se um soldado. O posto seguinte é o de sargento, ocupado por crentes que têm algum tipo de trabalho no corpo - algo semelhante aos diáconos nas igrejas convencionais. Aqueles que pretendem dedicar-se em tempo integral ao Exército devem cursar um seminário próprio - o Colégio de Cadetes -, onde se preparam para o ministério. Uma vez formados, são comissionados oficiais e passam a tenentes. Como oficial, o salvacionista pode exercer funções de direção, como a de pastor. Os cargos do oficialato a partir de tenente são capitão, major, tenente-coronel, coronel e comissário. O cargo máximo, de general, só pode ser ocupado por uma pessoa em todo o mundo de cada vez. Além dos membros alistados, o Exército de Salvação possui ainda outro tipo de integrante. É aquela pessoa que participa dos trabalhos, mas, por decisão pessoal, não segue carreira nem usa farda.

Paulo Franke com Anneli: mulheres são
valorizadas no Exército de Salvação

VALOR À MULHER - Os trabalhos espirituais - pregação, intercessão, evangelização - são chamados de campo de batalha. "A nossa fé é puramente evangélica", afirma Paulo Franke, "e, apesar das características militares, somos bastante semelhantes aos irmãos das demais igrejas." Segundo ele, embora sua igreja não seja considerada pentecostal, muitos de seus integrantes têm experiências carismáticas, como o batismo com o Espírito Santo. No Exército de Salvação, as mulheres têm bastante espaço. Elas podem pregar, presidir obras sociais, assumir cargos de liderança e até mesmo dirigir um território, ou seja, todos os corpos de uma nação. "É a igreja que mais dá oportunidades à mulher", confirma a major Anneli, mulher de Paulo. Sempre que um salvacionista atinge o oficialato, a esposa assume a mesma patente. "O Exército é uma grande família", resume Paulo Franke.

Os salvacionistas consideram os sacramentos como experiências exclusivamente espirituais. Embora o Exército de Salvação não promova batismos, os membros têm liberdade para procurar outra comunidade e se batizar nas águas. Nas igrejas salvacionistas também não são ministradas as ceias. O seu ministério, bastante diversificado, realiza reuniões ao ar livre, visitas a hospitais e presídios, além dos inúmeros trabalhos de cunho social. Contudo, sua mais folclórica atividade, a distribuição da sopa em caldeirões - que acabaram se tornando os maiores símbolos dos salvacionistas está desativada no Brasil. Há planos de reiniciá-la a médio prazo. Quando isso acontecer, o Exército de Salvação estará retornando aos primórdios, cujo lema era bem sugestivo: Sopa, sabão e salvação.

Página Oficial do Exército da Salvação

Extraído Especial. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 40-41, mar. 1996.

Uma tropa multinacional

Frederico Mendes
Sede nacional do Exército
de Salvação: modernidade

O fundador do Exército de Salvação, William Booth, sentiu um chamado de Deus para combater os vícios, pecados e a miséria quando, caminhando ao longo do Rio Tâmisa, em Londres, viu várias pessoas desabrigadas, sofrendo com o frio ao relento. "Enquanto restar uma alma que esteja nas trevas, sem a luz de Deus, eu lutarei até o fim", disse Booth, lançando o movimento que inicialmente chamou-se Missáo Cristã. A designação Exército de Salvação surgiu em 1878. Os pioneiros do trabalho criam que sua missão era uma batalha espiritual, razão por que começaram a adotar práticas militares. Por acreditarem num Evangelho com ênfase em trabalhos assistenciais, os pioneiros enfrentaram incompreensão e sofreram constrangimentos. Era comum, nas marchas que promoviam, serem recebidos com ovos podres e baldes d'água.

Mas o Exército de Salvação cresceu e se multiplicou. Hoje está presente em 104 países espalhados por todos os continentes e possui, segundo levantamentos de 1995, mais de 800 mil soldados, 25 mil oficiais e 180 mil membros não-alistados, além de cerca de 355 mil crianças. Embora oriundos das mais diferentes nacionalidades e culturas, os salvacionistas possuem dois elos de ligação muito fortes: sua fé e sua farda.

No Brasil, as últimas estatísticas apontam 145 oficiais e 1,5 mil soldados. Os dados revelam ainda 133 freqüentadores não-alistados e 621 crianças. O trabalho social possui oito lares para crianças, seis creches e três unidades pré-escolares. Há 12 centros comu-nitários que atendem meninos de rua e um lar para mães solteiras, clínicas médicas e 2) dentárias. Além da sede nacional, em São Paulo, há sedes regionais (divisões) no Rio, Porto Alegre, Curitiba, Brasília e Recife. Ao todo, são 45 corpos - as igrejas salvacionistas.

Recrutado nas ruas

Frederico Mendes
Ex-menino de rua,
Paulo Rogério agora é soldado

Auxiliar crianças carentes e recuperar meninos de rua é o desafio que o Exército de Salvação escolheu enfrentar no Brasil. Os salvacionistas os convidam a participar de centros comunitários e acampamentos, oferecendo alimentação, roupas, atividades recreativas e de ressocialização. Ao mesmo tempo, procuram ensinar-lhes a Palavra de Deus, atraindo seu interesse para o Evangelho. O trabalho assistencial tem dado frutos. Um dos menores atendidos pelo Exército de Salvação foi Paulo Rogério Neves, de 16 anos. Ele vivia na rua depois de ser expulso de casa pela mãe, de quem diz ter apanhado muito. "Eu fiquei uns nove meses nas ruas", conta Paulo, "até que, há dois anos, um salvacionista me encontrou e convidou para um projeto que havia no corpo da Liberdade."

Paulo passou a comer e tomar banho todos os dias na igreja onde ficou abrigado. Depois de algum tempo, se converteu e quis alistar-se, tornando-se soldado. Passou a ajudar nos trabalhos e hoje está feliz. Ele se considera salvo para servir. "E muito bom participar, ajudar as pessoas carentes e evangelizar, eu gosto de fazer isso", afirma, sorridente. Sobre seu futuro, ele ainda tem dúvidas, mas garante que, se Deus o chamar, pretende seguir carreira tornando-se, um dia, oficial. "O Exército de Salvação mudou minha vida."



Extraído Especial. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 42, mar. 1996.

Exército de solidariedade

Fábrica de Esperança 'invade' favelas com projeto social e espiritual

Por Danielle Franco

Fotos de Frederico Mendes

Voluntários de diversos estados do Brasil dedicaram o período de férias à participação no projeto Exército da Esperança

Nem bem começou o ano e duas favelas da cidade do Rio de Janeiro, as de Parada de Lucas e do Morro Santa Marta, em Botafogo, já foram invadidas por uma nova operação do Exército. Mas desta vez não é uma nova mobilização das Forças Armadas. O contingente que entrou em ação foi de voluntários que participaram do novo 'projeto desenvolvido pela Vinde - Visão Nacional de Evangelização - em parceria com a Fábrica de Esperança. A tropa do Exército da Esperança - 22 homens e mulheres - foi dividida em duas turmas, em janeiro e fevereiro, com o objetivo de formar missionários para o desenvolvimento de trabalhos evangelísticos em comunidades carentes, principalmente nas favelas.

O projeto, coordenado por André Fernandes, surgiu numa conversa com o reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, presidente da Vinde, sobre a possibilidade de se formar um exército de cristãos que, no período de férias, visitasse favelas não só para pregar, mas também para praticar os ensinamentos deixados por Jesus Cristo no que diz respeito à ação social. Os pioneiros vieram de vários estados do Brasil: São Paulo, Bahia, Ceará, Santa Catarina, Paraná, Goiás, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Eles se inscreveram usando os folders distribuidos nos congressos da Vinde e através do programa Pare & Pense. Todos os que preencheram os requisitos necessários - eram maiores de idade, evangélicos, receberam carta de recomendação de suas lideranças e tinham muita disposição - foram selecionados.

O trabalho social abriu
espaço para a evangelização
Dentistas fizeram aplicação de
flúor e orientaram as crianças

Depois de participar de palestras e aulas teóricas, os voluntários se hospedaram na casa de Angelita e José Carlos Aleixo, membros da Igreja Obra em Restauração, localizada na entrada da favela de Parada de Lucas. "A comunidade acolhe muito bem essas iniciativas porque os moradores não recebem nenhum tipo de assistência", explicou Angelica. "Com a convivência, acabam pedindo oração e muitos se convertem." Feliz por ter participado do projeto, o dentista cearense Antônio Sérgio Teixeira de Menezes, 28 anos, falou com empolgação sobre a experiência. "Nós abordamos as pessoas na ruas, visitamos as casas e, através da amizade, levamos a Palavra de Deus. Foi muito edificante", acrescentou.

O pastor Reginaldo Torquato Brandão, que dividiu a coordenação do projeto com André, contou que o trabalho recebeu apoio da associação das igrejas evangélicas locais, que cedeu dois horários diários na rádio comunitária. "O espaço foi utilizado para pregar a Palavra e prestar serviços de utilidade pública", disse. O pastor Aser Fernandes, que liderou um dos grupos, considerou a experiência inesquecível. "Depois do Exército da Esperança, nossas vidas nunca mais serão as mesmas", afirmou.

O projeto foi tão bem-sucedido que os coordenadores pretendem repetir a experiência em julho deste ano e no início de 1997. Se depender desses soldados de Cristo, o Exército da Esperança veio para mudar para melhor a paisagem das favelas do Rio.


Extraído Atitude. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 29, mar. 1996.

Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...