terça-feira, 2 de janeiro de 1996

Eles não gostam de oposição

A maioria dos parlamentares evangélicos pertence a partidos que apóiam o governo

Jorge Antonio Barros

Dos 40 parlamentares evangélicos que atuam no Congresso Nacional, em Brasília, apenas dois são de partidos de oposição

Durante o regime militar, a maioria deles estava na Arena, o partido que sustentava o regime. Com a redemocratização, se dispersaram por partidos pequenos até se reunirem novamente em torno dos mesmos ideais religiosos, na Assembléia Geral Constituinte, em 1986. Depois do escândalo da concessão de rádios em troca de apoio aos cinco anos de mandato do presidente Sarney, houve uma renovação dos parlamentares evangélicos no Congresso, mas a grande maioria deles continua onde sempre esteve: ao lado do Poder Executivo.

Do total de 40 parlamentares evangélicos no Congresso Nacional, apenas dois não pertencem a partidos que dão sustentação ao governo de Fernando Henrique Cardoso: a senadora Benedita da Silva (PT-RJ) e o deputado Beto Lélis (PSB-BA). Entre os 34 deputados, 19 deles inauguraram mandato na Câmara. Isto representa uma renovação de mais de 50% dos evangélicos em relação à última legislatura. Subvertendo a fama de despolitizados, os pentecostais têm mais representantes no Congresso do que os protestantes históricos. Doze deles têm origem na Assembléia de Deus, enquanto a Igreja Universal do Reino de Deus dobrou seu número de deputados em apenas uma legislatura.

A posição de sustentação ao governo da maioria dos evangélicos no Congresso é geralmente consequência do fundamentalismo religioso, que recorre ao versículo primeiro do capítulo 13 de Romanos: "Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus (...)" Só que, na política, tudo é muito relativo. A proximidade com o poder, porém, garante elogios de políticos como o deputado Inocêncio de Oliveira, líder do PFL na Câmara, o principal partido aliado do governo. "Os evangélicos são atuantes nas questões sociais e nos interesses da nação", disse Inocêncio a VINDE. Político habituado aos holofotes do poder (já foi acusado de ter-se beneficiado do extinto DNOCS para abrir poços artesianos em suas terras em Pernambuco), Inocêncio desmistifica a ideia de que os evangélicos formam uma espécie de bancada religiosa: "Eles votam sempre unidos em torno de questões que dizem respeito a suas crenças, mas estão dispersos em vários partidos". Os congressistas evangélicos estão em boa parte no PPB (13), no PFL (8) e no PMDB (8).

A reportagem de VINDE passou dois dias em Brasília para traçar um perfil dos 34 deputados federais e seis senadores de origem evangélica eleitos para a 50. legislatura (1995/1999), a última antes da virada do século. Para que o editor de fotografia Frederico Mendes fizesse a foto de capa desta edição, a revista solicitou a 38 parlamentares que estivessem numa tarde de quarta-feira no Salão Verde da Câmara. Apenas nove deles - incluindo um deputado da Câmara do Distrito Federal - puderam atender ao apelo.

A colaboração dos parlamentares ficou mais difícil ainda quando lhes foi enviada uma ficha com perguntas padronizadas sobre sua atuação política. Apenas três deputados — um deles distrital — responderam o fax da revista: Philemon Rodrigues (PTB-MG), Salatiel Carvalho (PPB-PE) e Peniel Pacheco (PTB-DF), todos da Assembléia de Deus (ver matéria na página 17).

Uma pesquisa sobre parlamentares evangélicos já tem como obstáculo inicial o número exato deles num congresso com 513 deputados e 81 senadores. Ninguém pode exigir atestado religioso. VINDE descobriu, por exemplo, que pelo menos dois ficaram de fora da lista fornecida por parlamentares evangélicos: o senador Roberto Requião (PMDB-PR), que é presbiteriano, e o deputado Carlos da Carbrás (PFL-AM), empresário da construção civil, da Igreja Batista da Chapada, em Manaus.

Arolde de Oliveira (E], com Laprovita Vieira, é o mais antigo congressista evangélico
Benedita: "Os políticos não podem
esquecer que representam uma
sociedade plural"

Representando cerca de 8% do Congresso Nacional, os 40 parlamentares evangélicos estão distribuídos entre as seguintes denominações: Assembléia de Deus (12), Batista (6), Presbiteriana (6), Universal do Reino de Deus (6), Luterana (4), Congregacional (1), Evangelho Quadrangular (1). Dois deles não têm denominação declarada: Francisco Silva, do Rio, e Elton da Luz Rohnelt (RS), o único representante do Partido Socialista Cristão.

Participação na política sempre foi uma questão mal resolvida para os evangélicos do ramo pentecostal. A Assembléia de Deus do Maranhão, por exemplo, ainda hoje proíbe que seus pastores sejam candidatos a cargos eletivos. "Como ser pastor e não ser político? Ninguém foi tão político quanto Jesus", sentencia o deputado federal Paulo de Velasco, pastor da Igreja Universal e um dos seis representantes daquela igreja no Congresso.

Classificada como neopentecostal, a Universal tem uma orientação clara para o Congresso: a cada eleição apresenta ao povo sua lista de candidatos, com número e tudo. Com essa estratégia, a Universal passou de três para seis o número de deputados federais em apenas uma legislatura. "Enquanto esse Congresso não for predominantemente evangélico, as coisas vão continuar como estão", afirma o deputado Jorge Wilson, da Universal. As práticas político-partidárias da Universal raramente são questionadas entre os evangélicos. Enquanto o deputado Salatiel Carvalho (PPB-PE) discorda que pastores levem candidaturas para o púlpito, o deputado Carlos Apolinário (PMDB-SP) defende a estratégia da Universal: "O PT e a CUT não levam seus candidatos aos sindicatos? Por que a Universal não pode levar os seus à igreja?", questiona Apolinário, da Assembléia de Deus.

Costa Ferreira é presidente da União Parlamentar Cristã
Carlos Apolinário defende a
campanha dos candidatos
evangélicos nas igrejas

Irmão votar em irmão continua sendo uma questão bastante polêmica nas igrejas. "Os políticos não podem esquecer que representam uma sociedade plural; por isso seria difícil um evangélico governar", avalia a senadora Benedita da Silva, que já foi candidata à prefeitura do Rio e teve 40% nas pesquisas de intenção de votos para a próxima eleição. "A esquerda precisa aprender a conviver com os problemas religiosos", rebate o deputado Carlos Apolinário, que deverá candidatar-se este ano à prefeitura de São Paulo. Famoso por ter liderado uma campanha moralizadora na Assembléia Legislativa paulista, quando presidiu a casa, Apolinário também atira nos pastores: "O questionamento dos líderes da igreja é puramente fisiológico; queria ser questionado por minha atuação política, não porque deixei de favorecer a igreja A ou B", denuncia. Entre os evangélicos, Apolinário é um dos poucos lembrados por jornalistas como sendo boa fonte de informações. "Os evangélicos não circulam pelos grandes temas de interesse nacional", observa o jornalista Ilímar Franco, que cobre o Congresso para o Jornal do Brasil.

Apolinário é evangelista, nascido e criado na Assembléia de Deus. No grupo evangélico, há de tudo um pouco. Empresários, advogados, funcionários públicos e políticos profissionais. Quatro são pastores - Laprovita Vieira, Paulo de Velasco, Philemon Rodrigues e Elias Abrahão (PMDB-PR). Este último é uma espécie de ovelha negra no rebanho do Congresso. Fichado no Dops, na época do Regime Militar, Elias segue uma trajetória política na contramão da maioria dos políticos evangélicos.

Mas nem todo deputado que diz "Senhor, Senhor" herdará o reino dos céus. Entre os congressistas evangélicos, há até quem tenha sido suspeito de liderar pistoleiros no Maranhão. Ignora o sexto mandamento. O mais experiente do grupo é o deputado Arolde de Oliveira (PFL-RJ), em seu quarto mandato. Ex-articulador evangélico durante a Constituinte, Arolde ressalta que os evangélicos não cogitam de formar nenhum grupo político: "Não queremos reduzir o Evangelho a um partido", explica. Ele admite que os evangélicos se uniram na Constituinte para preservar os valores cristãos na Constituição Federal.

Se o Evangelho não foi reduzido a um partido, durante a Constituinte seus representantes no Congresso mergulharam num mar de lama que respingou nas igrejas. O escândalo ganhou os jornais e, em 1993, virou até tese de doutorado do cientista social e evangélico Paul Freston, na Universidade de Campinas - Protestantes e Política no Brasil, da Constituinte ao Impeachment. Entre os parlamentares que jogaram lama no Evangelho, um deles não poderia tomar mais em vão o nome do Criador: João de Deus. Com outro evangélico, Manoel Moreira (PMDB-SP), João foi denunciado na CPI do Orçamento, em 1993. Mais do que os incrédulos, eles sabiam o que significa "é dando que se recebe", o lema do fisiologismo. "Sou mesmo fisiologista. Mas quem não é?", dizia, na época, João, nada divino.

Hoje, as únicas questões que mobilizam os parlamentares evangélicos, enquanto cristãos, são aquelas que dizem respeito à moral. A grande maioria deles vota junto e contra quando o assunto é aborto, casamento entre homossexuais, liberação do jogo, descriminalização das drogas e pena de morte. Este último tema deve ser, na verdade, a única unanimidade entre todos os parlamentares e evangélicos. Quanto aos outros assuntos, a senadora Benedita da Silva (PT-RJ) admite ser uma das poucas a divergir de seus irmãos na fé. "A patrulha religiosa é muito grande, mas os direitos civis de quem quer que seja devem ser respeitados", afirma Benedita, acrescentando que sua base eleitoral é mais plural do que a maioria dos evangélicos no Congresso.

Benedita é batizada na igreja da Assembléia de Deus, mas sua ação política é questionada dentro de sua própria denominação. O deputado Costa Ferreira, evangelista da Assembléia de Deus no Maranhão, está convencido que o partido ao qual Benedita é filiada - o PT - é comunista e, portanto, anticristão. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) não é evangélico nem do mesmo partido que Benedita, mas comunga com ela de algumas idéias que dizem respeito à moral. "Por isso, eu sou o diabo para os parlamentares evangélicos", conclui Gabeira, com uma ponta de ironia. "Quem pode dizer que o seu partido está com Deus ou o meu está com o demônio? Então, o Espírito está nos enganando a todos os evangélicos, que fomos eleitos por diversos partidos", rebate Benedita.

Os três parlamentares mais acessíveis


Salatiel Carvalho admite ter recebido uma rádio do ex-presidente José Sarney

Apenas três dos 38 parlamentares evangélicos responderam ao fax enviado pela VINDE, solicitando informações sobre sua atuação política - os deputados federais Salatiel Carvalho (PP-PE), Philemon Rodrigues (PTB-MG) e o deputado Peniel Pacheco (PTB), da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Eleito pelo PP com 36.430 votos - 60% dados por evangélicos -, Salatiel Carvalho é engenheiro civil, casado e pai de quatro filhos. Em entrevista à VINDE, Salatiel é um dos raros parlamentares que admite ter ganho do presidente Sarney uma concessão de rádio, mas afirma que não foi por isso que votou no mandato de cinco do presidente. Ele se considera um político progressista, integra a base de sustentação política do governo e sempre vota de acordo com sua bancada. É favorável ao fim dos monopólios e da estabilidade dos servidores públicos e afirma que é um parlamentar assíduo: segundo ele, seu índice de comparecimento às sessões da Câmara é de 100%.

Philemon Rodrigues da Silva teve um percentual de votos alto entre os evangélicos: 90% dos 40.378 sufrágios que recebeu. Philemon, do PTB de Minas Gerais, pertence à Assembléia de Deus desde criança, é casado e tem cinco filhos. Integra a Frente Parlamentar da Agricultura e a base de sustentação do Planalto. Para ele, representar a igreja no Congresso é uma grande responsabilidade. O deputado distrital Peniel Pacheco também é do PTB e da Assembléia de Deus, e acha que um parlamentar não pode ser representante de um único segmento social, e sim, da comunidade como um todo. Recebeu cerca de 9,5 mil votos, tem 37 anos, é casado e tem três filhos. Peniel defende a liberdade com justiça social e o equilíbrio entre capital e trabalho.

'Santos' projetos para todos os gostos

Por Carlos Fernandes

De Velasco: projeto contra feriado

Legislar é a principal função dos Carlos Fernandes Integrantes do Congresso Nacional - afinai, para isso eles foram eleitos. Os parlamentares evangélicos, que percorrem as igrejas em época de eleições pedindo votos, prometem, muitas vezes, representar o povo evangélico nas duas casas do Legislativo. Coda um, dentro das suas convicções e denominações, procuro fazer o máximo para agradar seu rebanho eleitoral.

O deputado De Velasco, por exemplo, apresentou um projeto de lei revogando o lei 6802, que declarou o dia 12 de outubro como feriado nacional consagrado a Nossa Senhora Aparecida - a mesma cuja imagem foi chutada pelo bispo Von Helde. Os integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus parecem mesmo ter declarado guerra à "padroeira do Brasil". Em uma provável consequência do efeito Decadência, o deputado mineiro Philemon Rodrigues sugeriu ao Poder Executivo providências relativas ao episódio atentatório contra um templo da IURD, envolvendo a TV Globo. Já o deputado Arolde Oliveira quis santificar o real e propôs que a inscrição da frase "Deus seja louvado" fosse obrigatória no papel moeda e nos moedas metálicas.

Já o cruzada antitabagista e antialcoólico - velhas bandeiras dos crentes - motivo a apresentação de inúmeros projetos de lei por parte dos parlamentares evangélicos. São mensagens propondo a restrição ao uso do cigarro em meios de transporte e lugares públicos, bem como medidas proibindo o consumo de bebidas alcoólicas em várias situações. A veiculação de filmes pornográficos também é um alvo constante dos congressistas cristãos.

Projetos inusitados não faltam. O deputado Elias Abrahão (PMDB-PR) apresentou uma proposta proibindo o importação de lápis de cera com altos teores de metais pesados, enquanto o deputado Costa Ferreira (PPB-MA) propôs a inclusão do suco de laranja na merenda escolar. Costa Ferreira, aliás, é o autor de dezenas de projetos de criação de escolas federais técnicos e agrícolas no seu estado - o Maranhão -, em municípios como Bacabal, Açoilândia, Turiaçu e Zé Doca. Mas, numa demonstração de que não tem apenas preocupações regionais, ele também propôs a criação do Dia Nacional do Fé Cristã.

Há também as idéias polêmicas. Numa aparente contradição ao princípio bíblico do Não matarás, o deputado Luiz Moreira (PFL-BA) elaborou um projeto de lei que autoriza o interrupção da gravidez até 24 semanas, no caso de o feto ser portador de graves e irreversíveis anomalias físicas ou mentais. A instituição do dia nacional do perdão foi sugerida pelo deputado Francisco Silva, o mesmo que apresentou projeto de lei determinando a doação compulsória de órgãos pelos condenados por crimes hediondos. Será que os criminosos perdoariam o deputado?

Preocupado com o que pode vir por aí, o deputado Herculano Anghinetti (PSDB-MG) fez um projeto de resolução estabelecendo a impenhorabilidade dos templos religiosos - afinal, cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém. E o deputado Salatiel Carvalho, além de considerar, em projeto de sua autoria, que os templos religiosos devem pagar tarifa de energio elétrica como se fossem consumidores residenciais, quis vedar a realização de eleições gerais, concursos públicos e exames vestibulares em dias ou datas coincidentes com os consagrados a eventos religiosos e ao exercício de culto. Como o projeto abrange qualquer crença, fica a dúvida: haveria data disponível para se votar, concorrer a um cargo público ou a uma vaga no faculdade?

Elias Abrahão
Werner Wanderer
Beto Lélis
Hugo Biehl
Raimundo Santos
Arolde de Oliveira
João Tensen
Benedito Domingos
Laprovita Vieira

PARLAMENTARES QUE SE CONFESSAM EVANGÉLICOS

NOMELEGENDAIGREJA

SENADORES

Benedita da Silva PT-RJ Presbiteriana Betânia
Iris Rezende PMDB-GO Cristã Congregacional
Joel de Holanda PFL-PE Batista
Levi Dias PPR-MS Presbiteriana
Onofre Quinan PMDB-GO Presbiteriana
Roberto Requião PMDB-PR Presbiteriana

DEPUTADOS FEDERAIS

Aldir Cabral PFL-RJ Universal do Reino de Deus
Arolde de Oliveira PFL-RJ Batista
Benedito Domingos PP-DF Assembléia de Deus
Beto Lélis PSB-BA Batista
Carlos Apolinário PMDB-SP Assembléia de Deus
Carlos da Carbrás PFL-AM Batista
Costa Ferreira PP-MA Assembléia de Deus
Carlos Magno PFL-SE Batista
Davi Alves Silva PFL-MA Assembléia de Deus
Elias Abrahão PMDB-PR Presbiteriana
Elton da Luz Rohnelt PSC-PR
Eraldo Tinoco PFL-BA Batista
Francisco Silva PP-RJ
Herculano Anghineti PMN-MG Batista
Hugo Biehl PPF-SC Luterana
Idemar Kussler PSDB-RO Assembléia de Deus
João lensen PTB-PR Assembléia de Deus
Jorge Wilson PMDB-RJ Universal do Reino de Deus
José Carlos Lacerda PPR-RJ Presbiteriana
Josias Gonzaga PMDB-GO Assembléia de Deus
Laprovita Vieira PP-RJ Universal do Reino de Deus
Lídia Quinan PMDB-GO Presbiteriana
Luiz Moreira PFL-BA Universal do Reino de Deus
Mário de Oliveira PP-MG Quadrangular
Paulo Bauer PPR-SC Luterana
Paulo de Velasco PSD-SP Universal do Reino de Deus
Philemon Rodrigues PTB-MG Assembléia de Deus
Raimundo Santos PPR-PA Assembléia de Deus
Reinhold Stephanes Licenciado Luterana
Salatiel Carvalho PP-PE Assembléia de Deus
Silas Brasileiro PMDB-MG Presbiteriana
Valdenor Guedes PP-AP Assembléia de Deus
Wagner Salustiano PPR-SP Universal do Reino de Deus
Werner Wanderer PFL-PR Luterana

Sós, mas muito bem acompanhados

Crescem nas igrejas os grupos de descasados, solteiros e viúvos

Por Maristela Velloso

O Grupo Grão, da Igreja Betânia oferece aos
"solitários" lazer, reuniões de oração e, às vezes,
até a chance de formar um par

Não é reunião de encalhados, grupo de complicados, nem agência de matrimônio. Mas, verdade seja dita, é mais ou menos assim que os preconceituosos de plantão costumam olhar um movimento muito recente, que cresce a cada dia em igrejas de várias denominações. Grupos de sós, de convívio, de amizade, de ajuda... o nome pode variar, mas a idéia é a mesma: reunir adultos solteiros, descasados e viúvos, que já não se identificam com o pessoal mais jovem, estão obviamente excluídos dos grupos de casais e, no caso das mulheres, também não se encaixam no perfil das senhoras.

A novidade tem motivos óbvios. Antes, a grande maioria das pessoas casava com menos de 30 anos de idade e o número de divorciados de qualquer igreja não dava nem para compor uma turma de escola dominical. Hoje, deixou de ser incomum passar dos trinta sem casar. E, independentemente de qualquer análise sócio-teológica sobre o assunto, não se pode ignorar que o panorama familiar do mundo inteiro foi radicalmente alterado. Segundo o IBGE, em cada cinco famílias brasileiras, uma é chefiada por mulher. E quando chegam à igreja, onde esses diferentes todos vão congregar?

NECESSIDADE - Movidos pela mesma necessidade, surgiram, nos últimos anos, diversos grupos de sós. Ou, como se intitula o Grupo Grão, da Igreja Betânia, em Niterói, grupos de jovens há mais tempo. Essa é, na verdade, uma brincadeira dos próprios fundadores, que estavam na faixa dos 25 aos 35 anos, em 1992, mas reconheceram que era preciso criar um novo espaço para quem já não transitava confortavelmente entre os companheiros de Mocidade, o grupo jovem da igreja.

Naturalmente, o que se pretende não é uma separação absoluta, contrária à comunhão do corpo de Cristo. Mas há estudos, programas e lazer específicos para cada contexto de vida. Basicamente, a rotina dos grupos inclui reuniões de oração, estudos bíblicos, vigílias, encontros terapêuticos - onde todos falam sobre suas questões pessoais - noites de arte, passeios, churrascos, caminhadas ecológicas e retiros. A idéia é promover um espaço próprio para pessoas maduras, que precisam de cura, apoio, liberdade e lazer saudável, em companhia de semelhantes. E, principalmente, onde também se possa encontrar ajuda quando a barra pesar.

No ano passado, Eva Maximino, por exemplo, então com 44 anos de idade e 25 de casada, se viu sozinha diante do dilema da separação. Sem saber com quem compartilhar sua dor, ela procurou um grupos de ajuda do N.A (Neuróticos Anônimos). "Fiquei dois meses trancada em casa. É horrível", relembra Eva, para quem foi determinante encontrar pessoas que estavam no mesmo barco. Passada a tempestade, ela se reconciliou com o marido e guardou no coração o desejo de levar a experiência para dentro de sua igreja, em Cuiabá. "Além da ajuda de uns aos outros, seriam vários descasados juntos, buscando a ajuda de Cristo", imaginou. A conscientização de Eva gerou o Renascer, da Igreja Batista Nacional de Araés, hoje coordenado por Elizabeth Paulo Cavalcanti, comerciante, 44 anos, desquitada. Diferente do Grão, o Renascer é essencialmente voltado' para a comunhão de pessoas descasadas. O evento de estréia aconteceu em abril, sob o título I Encontro de Koinonia. Foi um sucesso, mas Elizabeth admite que precisa lidar com o preconceito das pessoas: "Todo mundo pensa que nosso alvo é promover encontros amorosos", ela diz.

Sobre essa questão, é bastante objetiva a visão da psicóloga Zenilda Machado da Silva, que está à frente do Grupo de Edificação e Amizade, na Igreja Presbiteriana de Vila Mariana, em São Paulo: "A finalidade não é essa, mas se acontecer, glórias a Deus; todos nós estamos em busca de alguém com quem tenhamos afinidades". Zenilda não quis identificar o casal, mas garante que, desde que foi fundado, há dois anos, o GEA já deu um fruto: "Eles estão namorando e tudo indica que vão se casar".

A maioria dos grupos não tem casos semelhantes para relatar e é curioso perceber os motivos. Primeiro, quem passa a ser casal deixa de ser só e perde a afinidade com os outros. Segundo, há muito mais mulheres do que homens em todas as igrejas.

MAIS MULHERES - O psiquiatra e psicoterapeuta Frederico Vasconcelos - 43 anos, casado e pai de cinco filhos - convi-dado a coordenar os estudos no último retiro do Grão, inclui um dado interessante entre as explicações mais comuns: "Tem mais mulheres nas igrejas porque elas são realmente mais sensíveis e voltadas para a questão espiritual, mas é preciso admitir que também existe preconceito inverso; elas costumam achar que, depois de uma certa idade, se os homens estão disponíveis é porque são desqualificados". De qualquer forma, não dá para ignorai- que é muito mais fácil ver mulheres falando de suas fraquezas e que pouquíssimos homens se separam sem outro relacionamento engatilhado.

Frederico ressalta, ainda, que é funda-mental superar o auto-preconceito. Segundo ele, lidar com o olhar crítico dos outros é menos complexo, porque a opinião alheia pode mudar conforme as circunstâncias. Mas quando não há mudança interior, a pessoa acaba aprisionada pela visão que tem de si mesma. "Sofremos muitas desilusões, o sonho acabou, mas está na hora de refazermos o sonho na perspectiva cristã", recomenda o psiquiatra a todos aqueles que, na sua opinião, podem estar "estreitados pelos próprios afetos".

Não é à-toa que, embora distantes e sem contato nenhum, os grupos de sós têm perfis muito semelhantes e caminham mais ou menos na mesma direção. Na falta de um pastor que se disponha a cuidar do trabalho, essas ()velhinhas machucad4s acabam achando sombra nas pastagens de psicólogos, psiquiatras e demais interessados no bem-estar da alma. Mas, segundo o reverendo Eduardo Rosa Pedreira, da Igreja Presbiteriana da Gávea, no Rio, aqueles que se encontram nessa condição não devem se enganar, esperando que alguém se interesse por seu caso. "Precisamos admitir que a Igreja é uma comunidade essencialmente familiar, que não dá muito espaço para separados. Essas próprias pessoas devem buscar uma solução, como estão buscando e, nessa atitude, já começarem a vencer os preconceitos", sentencia.

O grupo Oásis, do Rio de Janeiro, já existe há seis anos e, além de promover encontros sociais, realiza obras assistenciais

CELIBATO - O reverendo Eduardo, casado, 31 anos, cuida pessoalmente dos estudos do Grupo Ágape, formado há sete meses por iniciativa de Denise Luna, uma professora de inglês de 39 anos que se separou há três e estava prestes a abandonar a igreja. "Tem umas alas evan-gélicas muito xiitas por aí, que acham que a pessoa separada deve viver no celibato", denuncia. Como não conse-guia compreender sozinha a orientação que a Bíblia oferece a este respeito, ela propôs ao reverendo Eduardo que fosse criado o grupo, também no sentido de que as pessoas dessa faixa de idade pudessem se reunir em outras atividades sociais. "Só fazem programas para crianças, jovens e casais?", questiona. Procurada por VINDE, Denise não hesitou em aproveitar a oportunidade para sugerir que a Visão Nacional de Evangelização organize um grande evento para os não casados de todo o Brasil. Está aí uma boa idéia. Ainda não se sabe de nenhum seminário ou congresso que reúna pessoas ou grupos de cidades diferentes, mas há terapeutas que vêm, há algum tempo, se dedicando à restauração de pessoas com dificuldades existenciais, decorrentes de perdas afetivas, sepa-rações, divórcios ou vida soltitária. Como o casal de psicólogos Ageu Heringer Lisboa e Margarete Bonucelli, de São Paulo, e a psicóloga Fátima Fontes, de Recife, que estão à frente do Projeto Re-Destinação. Eles são psico-dramatistas e trabalham com grupos de, no máximo, 50 pessoas, fazendo encontros semanais durante um período de aproximadamente quatro meses; um tempo em que homens e mulheres experimentam um processo de vivência terapêutica e encontram oportunidade para mergulhar na auto-compreensão e descoberta do outro.

"Não é bom que o homem viva só"

São os seguintes contatos com os grupos de sós:

RIO DE JANEIRO:
Grupo Oásis - Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro tel. 021 262 2330
reuniões aos domingos, às 17h, na Catedral

Grupo Ágape - Igreja Presbiteriana da Gávea rel. 021 274 3148
encontros toda primeira sexta-feira do mês, às 20h

Grupo Grão - Igreja Presbiteriana Betânia, de Niterói tel. 021 711 7539,
reuniões de oração toda quarta-feira e um evento mensal, divulgado em boletim

SÃO PAULO:
Grupo de Edificação e Amizade - Igreja Presbiteriana de Vila Mariana,
encontros uma vez por mês, contatos com Zenilda Machado tel. 011 524 4651

Ageu Heringer Lisboa e Margarete Bonuccelli - Psicólogos e psicodramatistas,
coordenadores de encontros do Projeto Re-Destinação tel. 011 570 5475

RECIFE:
Fátima Fontes - Psicóloga e Psicodramatista tel. 081 241 7517

CUIABÁ:
Grupo Renascer - Igreja Batista Nacional de Araés contatos com Elizabeth Cavalcanti tel. 065 621 3445

Fátima Fontes, psicóloga de Recife, criou
uma classe de escola dominical para sós

A possibilidade de atuarem juntos em alguma frente de ação social também é uma tendência forte entre os grupos. Ainda que estejam precisando curar feridas e memórias, adultos solteiros, descasados e viúvos costumam ter compromisso e disposição para servir. É o que vem demonstrando o pioneiro Grupo Oásis, que existe há seis anos na Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, liderado por Elza Barbosa Pimentel, aposentada, 58 anos. A faixa de idade da maioria dos integrantes do grupo é ligeiramente mais elevada do que a dos outros - varia entre 40 e 55 anos -, mas o "fenômeno 20% de homens e 80% de mulheres" se repete. Elza acha normal: "Só nos bares e estádios de futebol é que não é assim", brinca.

Eles seguem a todo vapor. Encontram-se várias vezes por semana, fazem eventos sociais e culturais regularmente e são presença certa na Madrugada do Carinho, que leva comida, roupas e cuidados higiênicos aos desabrigados toda sexta-feira à noite, em parceria com igrejas batistas. Elza tem orgulho em destacar: "O reverendo Guilhermino Cunha já disse que tudo o que o Oásis faz é bem sucedido". Este, aliás, é um aspecto predominante na vivência dos sós que começam a se organizar dentro das igrejas. A princípio, soam exóticos e polêmicos. Mas essa natureza marginal é justamente o que os torna simpáticos. "O que me atraiu ao grupo foi a liberdade; ninguém precisa ser nada para entrar", observa Elizabeth Albuquerque, aeroviária, solteira, 36 anos, recém-chegada ao Grão. Apesar de solteiro e perfeitamente adequado à Mocidade da Betânia, o engenheiro Ricardo Fonseca, 29 anos, também preferiu estar com os polêmicos: "É uma questão de afinidade", diz.

Casais e crianças também acabam atraídos pela atmosfera de liberdade e aceitação do trabalho. Antônio Fernando e Regina Araújo, de 36 e 32 anos, têm duas filhas pequenas, um casamento estável e todas as condições próprias para ingresso no grupo de casais. Mas são assíduos frequentadores do Grão e, curiosamente, até o momento de responderem sobre o assunto, nem tinham percebido que poderiam estar participando de um grupo de sós. "O que nós sentimos é que estão todos buscando maturidade", revelam.

A observação procede, mas não é unânime. Até que se atente para a seriedade, a profundidade e a beleza do termo congregar, muitas iniciativas terão que ultrapassar a barreira do preconceito. Há dois anos, a psicóloga Fátima Fontes, casada, 37 anos, criou uma classe de escola dominical especial para sós, na Igreja Batista Emanuel, na Boa Viagem, em Recife. "Encheu de mulher, chamaram de classe de velho e o pastor, que era solteiro, não apareceu", ela conta. Na condição de estudante da alma humana, FátiMa entende que o que Deus quer é que tenhamos, antes de tudo, uma vida plena: "Minguem está fazendo apologia da solidão; a Bíblia mesmo fala que 'é melhor serem dois do que um' (Ec. 4:9), mas precisamos assumir as nossas histórias. Não vamos esquecer que Jesus foi um solteiro".

Aproveitando o assunto, vale citar: para o escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850) autor de quase cem romances e criador de pelo menos 2000 personagens, "cada idade tem a sua juventude". Para o Autor da vida e Criador de todas as coisas, "tudo tem o seu tempo determinado e há tempo para todo propósito debaixo do céu" (Ec,3:1).1v4

Noviça Rebelde, não!

Maristela Velloso

Maristela Veloso, jornalista,
34 anos, divorciada, uma filha,
faz parte do grupo Grão

O Grão foi criado a partir da conscientização de um grupo de pessoas jovens, mas que já não se identificavam com as atividades dos mais novos e queriam um espaço próprio. Não era uma questão de idade, mas de universo de interesses. Na brincadeira, a gente costumava dizer que não dava mais para ficar vendo A Novica Rebelde todo fim de semana. Por outro lado, os adolescentes mais velhos se recusavam a passar para a chamada Mocidade porque não queriam andar com os amigos de seus pais a turma do papo cabeça. Assim nasceu o Grão, cujo nome - idéia de Léa Saltes, uma das integrantes - refere-se ao grão de mostarda que "cresce, se torna maior que todas as hortaliças e deita grandes ramos a ponto de as aves dos céus poderem aninhar-se à sua sombra" (Mc.4:32).

Condenados sem provas

Duzentos evangélicos estão presos injustamente, acusados de envolvimento com o terrorismo no Peru

Por Jorge Antonio Barros

Texto e fotos de Jorge Antonio Barros
enviado especial a Lima e Ayacucho, via d'Ávila Tours

Segundo estado mais pobre do Peru,
Ayacucho é o berço do Sendero Luminoso

MARCADO pela desigualdade social, o Peru vive, na surdina, outra cruel contradição em consequência da luta ferrenha desencadeada pelo governo forte de Alberto Fujimori contra o terrorismo que devastou o país. Enquanto a igreja evangélica, assim como a sociedade peruana, se vê tranquilizada pelos resultados da Dincote (Direção Nacional de Combate ao Terrorismo), da Polícia Nacional Peruana, mofam nos cárceres do país nada menos que 200 evangélicos, condenados injustamente a penas que variam de cinco a 30 anos, acusados de envolvimento com o grupo guerrilheiro Sendero Luminoso, um dos mais violentos que já surgiu na América Latina.

Arcangel Saurie escapou da emboscada que resultou
na morte do primo Rômulo e acabou sendo eleito
congressista no Peru

A contradição maior é que foi justamente o Sendero Luminoso que, na tarde de 5 de setembro de 1992, matou, numa emboscada em Ayacucho, quatro evangélicos, entre eles o líder quéchua (povo indígena) Rômulo Saufie, que virou um mártir da igreja evangélica peruana e tema do livro Ayacucho para Cristo, dos americanos W. Terryn Whalin e Chris Woehr (ver matéria na página 32). Uma semana após a morte dos quatro de Ayacucho (Rômulo; seu irmão, Ruben; o sobrinho Marco e o primo Josue), foi preso o líder e fundador do Sendero Luminoso, professor Abimael Guzman, condenado a prisão perpétua. O governo Fujimori começava a dar o xeque-mate numa disputa que resultou, ao longo de 15 anos, em mais de 20 mil mortos e um prejuízo de 22 milhões de dólares ao país.

SOBREVIVENTE - Único sobrevivente da emboscada do Sendero em Ayacucho, Arcangel Miguel Quicafia, 44 anos, primo e amigo de infância de Rómulo Saufie, foi eleito congressista dois anos após o atentado. "A igreja evangélica teve um papel muito importante no combate ao terrorismo no Peru", afirma Quicafia, que esteve no Brasil em 1993 dando seu testemunho em várias igrejas evangélicas. "Só Deus sabe porque fui salvo das balas do Sendero", conta Quicaria. Depois de eleito, ele não usa mais o primeiro nome. "Arcangel foi morto com Rômulo", dramatiza.

Se a igreja foi mesmo uma das forças que freou o avanço do Sendero, como diz Quicafia, por que então mais de 700 evangélicos já pararam atrás das grades, acusados de terrorismo? No afã de combater o terrorismo que se instalou no país no início da década de 80, o governo forte de Fujimori decretou a lei do arrependimento, que reduz a pena de militantes na guerrilha em troca da delação. Para se vingar de evangélicos com os quais se confrontavam, os guerrilheiros forjaram denúncias envolvendo os religiosos. Um advogado que integrou a comissão de direitos humanos do Conep (Concílio Nacional Evangélico do Peru) obteve informações de que guerrilheiros do Sendero Luminoso chegaram ao requinte de esconder armas em igrejas para incriminar evangélicos.

A 3 mil metros, Ayacucho virou uma dos bases da ação do Sendero Luminoso

DENÚNCIAS FALSAS - As principais consequências dessas denúncias falsas foram processos sumários, julgados às pressas em tribunais sem rosto e com provas inconsistentes. Um dos casos mais dramáticos é o do casal Juan Carlos Chuchon Zea e Pelagia Salcedo Pizarro, membros da Assembléia de Deus, condenados injustamente a 30 anos de prisão. Em 11 de dezembro de 1992, eles foram detidos em casa, num subúrbio de Lima, acusados de integrar o Socorro Popular, organização de apoio ao Sendero. Sem a presença do ministério público, a polícia invadiu a casa de Chuchon, onde alegou ter encontrado granadas, munição, explosivos e material de propaganda subversiva.

Chuchon e a mulher garantiram que o material foi plantado pela polícia, depois de serem submetidos a uma longa sessão de torturas na presença dos dois filhos. Hoje, Chuchon e Pelagia estão, respectivamente, nas prisões de segurança máxima de Yanamayo e Santa Mônica. A história do casal de evangélicos condenados injustamente é um símbolo da crueldade de que tem sido vítima a igreja evangélica peruana. Nascidos em Ayacucho - onde também nasceu o Sendero Luminoso - eles deixaram a cidade depois que vários parentes seus foram assassinados pelo Sendero. Deixaram sua cidade natal para escapar do grupo terrorista. Mas acabaram sendo vítimas da repressão policial em Lima.

Juan Mallea, com o filho, virou bode expiatório
de grupos paramilitares

Outro evangélico, o taxista Juan Mallea, de 36 anos, também virou símbolo da luta da igreja contra o autoritarismo no Peru. Preso com um guerrilheiro no banco de trás de seu táxi, Mallea foi acusado de participar do massacre de La Cantuta, em que nove estudantes e um professor universitário desapareceram em 1992. O governo queria transformá-lo num bode expiatório para esconder a ação de grupos paramilitares - estes sim, responsáveis pelas mortes dos universitários. Mas o Conep, com apoio do movimento internacional de direitos humanos, conseguiu provar a inocência de Mallea.

GUERRA SUJA - Assim como na Colômbia, a igreja evangélica peruana sobrevive entre as bombas do terrorismo e os fuzis dos militares. A partir do massacre de Callqui, em que seis evangélicos foram executados por militares, em 1984, a igreja perdeu as ilusões de que poderia estar a salvo nas mãos da repressão. O caso serviu também para despertar entidades como o Conep, que existe há meio século, mas somente na última década começou a se preocupar mais com a questão dos direitos humanos naquele país.

O governo Fujimori combateu o
terrorismo com uma propaganda violenta

O massacre de Callqui deixou marcas. "Cantem, cantem para não ouvir os tiros", diziam os oficiais para os fiéis em pleno culto de onde foram tiradas as vítimas. A reportagem de VINDE localizou pelo menos um militar que confessa alguns métodos da guerra suja no combate à guerrilha. Nascido em lar evangélico, o ex-sargento Oscar Huarac Sanchez, 26 anos, serviu o Exército por dois anos na região de Ayacucho, no auge do Sendero Luminoso. Ali testemunhou ações genocidas do Exército contra povoados onde os senderistas se refugiavam após ações terroristas. Certa vez, ele conta, os oficiais enviaram helicópteros para bombardear um pequeno povoado sem a menor confirmação de que lá se escondiam guerrilheiros. Ele revela também ter visto os soldados disputarem quem era mais violento matando terroristas e tirando-lhes o coração a punhaladas.

Um temor nasceu no coração do sargento Huarac quando seus superiores determinaram que as tropas fizessem uma operação pente fino nas igrejas evangélicas da região de Ayacucho em busca de provas de uma fantasiosa conexão entre o Sendero e os cristãos. "Foi aí que pensei em deixar o Exército", lembra Huarac.

Curiosamente, "onde a violência foi mais dura houve o fenômeno da multiplicação de cristãos", conta o missionário e cientista Pedro Hocking, coordenador da Rede Ágape no Peru. A Rede Ágape, vinculada à missão Portas Abertas, atua em favor da igreja perseguida na América Latina. "A igreja peruana já aprendeu a fazer uma oração de guerra contra principados e potestades que estão por trás da violência", diz Hocking. No final do ano passado, o Conep lançou em todo o país a campanha de oração e solidariedade aos detidos injustamente por terrorismo.

O missionário Pedro Hocking diz ter provas de sobra do poder da oração. Ele lembra que, no auge da guerra, a igreja conquistou uma coleção de testemunhos de "milagres de proteção" - armas que engasgavam e navalhas cujos fios simplesmente não cortavam.

Sendero de mortes e trevas


Após a captura do líder Abimael Guzmán Reynoso, o presidente Gonzalo, houve um racha no Sendero Luminoso. Um grupo concordou em se empenhar num acordo de paz com o governo peruano, enquanto outro optou por permanecer na clandestinidade, prolongando a luta armada em direção do sonho de uma revolução maoísta. Este grupo - mais intransigente é formado hoje por não mais do que 600 homens escondidos nas selvas peruanas, sob o comando do ex-estrategista militar de Gusmán, Oscar Alberto Ramirez Durand, o camarada Feliciano, um homem de 42 anos disposto a tudo para não se dar por derrotado. Filho do general de Brigada do Exército peruano Oscar Ramirez Martinez - que o deserdou - o camarada Feliciano é hoje o homem mais procurado do país. Com o que restou do Sendero, ele se movimenta a cavalo pelas selvas do Estado de Ayacucho, justamente onde nasceu o Sendero Luminoso.

Embora esteja reduzido à sua quarta parte, o Sendero Luminoso ainda representa um perigo para o governo peruano, que enfrenta também ações do grupo menos radical MRT (Movimento Revolucionário Tupac Amaru). Temendo ser alvo de algum atentado, o presidente Alberto Fujimori não se movimenta no país sem estar escoltado por forte esquema de segurança. Foi assim na última semana de outubro do ano passado, quando ele esteve em visita a Ayacucho. Ali, Fujimori admitiu que o poder judiciário é lento, mas vai revisar as penas de condenados injustamente por terrorismo.

A 800km de Lima, Ayacucho fica a cerca de 3 mil metros de altitude. É o local de origem do Sendero Luminoso, em 1980. Uma das sementes do Sendero foi, sem dúvida, a miséria e a desigualdade social que marcam o Peru. A capital do país, Lima, tem hoje 50% da população vivendo em favelas. Ayacucho é o segundo Estado mais pobre do Peru. Sua renda per capita não chega a um terço da média nacional, como diz o professor mexicano de Ciências Políticas e Sociais Jorge Castarieda, autor do livro Utopia Desarmada, que conta a história dos grupos de esquerda na América Latina.

Nesse terreno fértil, o Sendero Luminoso transformou-se num dos mais violentos e intransigentes grupos armados da esquerda latino-americana. Repórter da Unidade Investigativa do El Comercio, Miguel Ramirez lembra que a violência do Sendero atingiu o auge em 1992, com a explosão de um carro-bomba num edifício da Rua Taram, no bairro de Miraflores, onde vive a nata da sociedade limenha. A ação terrorista resultou em 15 mortes.

Os números da guerra anti-terror

  • Mortos: entre 20 mil e 30 mil, 735 deles evangélicos
  • Refugiados: 700 mil
  • Exilados: 300 mil pessoas deixaram país, em 91, no auge do terrorismo
  • Desaparecidos: 5 mil
  • Presos Políticos: 1 mil
  • Prejuízos: US$ 22 milhões

* Dados relativos aos últimos 15 anos

Os Saufie, uma saga de sangue


Josué Sautie sucedeu o irmão Rômulo (entre a irmã e a tia) à frente dos evangélicos quéchuas peruanos

Descendente do império inca, a família Saufie tem uma saga escrita com sangue. Três anos antes da morte dos quatro de Ayacucho, entre eles o líder cristão quéchua Rômulo Saufie, foi assassinado o avô dele, Justiniano Quicara. O ancião teve a língua cortada por integrantes do Sendero Luminoso, o mesmo grupo que matou seus netos, curiosamente no mesmo local - Chalciqpampa, lugarejo nos andes a cerca de 151cm de Ayacucho, no sudeste do Peru. A região é dominada pelos quéchuas, povo indígena que vive no Peru, Bolívia e Equador.

Josué Sautie

Casado com a americana Donna Saufie, com quem teve quatro filhos, Rômulo Saufie era conhecido por missionários de todo o mundo por sua liderança cristã entre os quéchuas peruanos. Ele se tornou célebre ao concluir a tradução da Bíblia para a língua quéchua após 13 anos de trabalho, com a ajuda do missionário presbiteriano Homer Emerson, já morto. Rômulo foi assassinado pelo Sendero pouco depois de concluir o trabalho. "Quando terminar, quero levar a Palavra de Deus aos muçulmanos", dizia Rômulo à mulher, Donna.

No dia 5 de setembro de 1992, Rômulo e seus parentes retornavam de um culto em memória do avô, Justiniano. Na estrada dos Libertadores, que leva à Ayacucho, o grupo foi vítima da emboscada do Sendero. Os guerrilheiros haviam incendiado cerca de 30 veículos que foram obrigados a parar. Filha de missionários americanos que chegaram no Peru na década de 50, a viúva de Rômulo lembra que o país vivia o auge da guerra promovida pelo Sendero. Por sua militância evangélica, Rômulo já havia recebido ameaças do Sendero Luminoso.

O assassinato dos evangélicos quéchuas repercutiu como um estrondo entre as missões cristãs no mundo inteiro, que imediatamente entraram em oração para que Deus desse um basta à ação terrorista no Peru. Por isso, Donna não acredita que tenha sido simples coincidência a prisão do líder do Sendero, Abimael Guzmán. Uma semana depois do assassinato, Guzmán foi pego e, logo depois, condenado à prisão perpétua. Quem não se lembra das imagens de Guzmán enjaulado como uma fera, metido numa roupa listrada?

A prisão do líder e fundador do grupo maoísta nascido nas salas de aula da Universidade de San Cristoban de Huamanga, em Ayacucho, foi o golpe de misericórdia no Sendero. Aos poucos, o país supera o trauma do terrorismo, enquanto a igreja evangélica quéchua acaba de ganhar um novo líder: Josue Saufie trotou uma vida confortável nos Estados Unidos como designer de jóias pela missão de prosseguir o trabalho do irmão Rômulo no Peru. "O que mais importa hoje é fazer a obra de Deus. É ser rico com Ele nos céus", garante Josue, um ex-delinquente que, por pouco, não ingressou no Sendero Luminoso. Nascido em lar evangélico, se afastou da igreja até parar na cadeia, onde seria condenado a 15 anos. No dia em que planejava fugir da prisão, teve uma visão em que um homem resplandescente lhe disse: "Todos os seus pecados estão perdoados. Segue-me".

IGREJA EM CRESCIMENTO

  • Nome oficial: Peru
  • Capital: Lima
  • Nacionalidade: peruana
  • Idioma: aimará, espanhol e quéchua (oficiais)
  • População: 22,9 milhões (1994)
  • Religião: maioria católica e cerca de 8% de evangélicos
  • Data nacional: 28/07 (Independência)
  • Moeda: sol novo

segunda-feira, 1 de janeiro de 1996

Pastor Jimmy Swaggart: O difícil caminho da restauração

Swaggart não toca no passado, mas diz ter superado o tempo de "humilhação, dor e sofrimento"

Jorge Antonio Barros e Marcelo Dutra

Um dos maiores televangelistas do século, cujo trabalho missionário alcança hoje 46 países, incluindo a antiga cortina de ferro — onde o Evangelho jamais havia entrado — o pastor norte-americano Jimmy Swaggart refaz seu ministério após um tempo de "humilhação, dor e sofrimento", como ele mesmo define. Embora tenha confessado publicamente o pecado de adultério, em 1988, Swaggart não se submeteu à disciplina imposta pela Assembléia de Deus de Baton Rouge, em Louisiana, nos Estados Unidos. Fundou sua própria igreja, o Centro de Adoração Familiar, depois de se recolher por um ano.

Após o escândalo, ele retorna às cruzadas evangelísticas de massa no Brasil, onde seu programa de televisão deverá voltar ao ar este ano. Com a experiência adquirida em décadas de pregação ao redor do mundo, Swaggart adverte com veemência que, após a derrocada do comunismo, já existe um novo obstáculo à expansão do Evangelho: o crescimento do islamismo. No entanto, ele se anima com a revelação que diz ter recebido de Deus: a abertura da nação mais populosa do mundo - a China comunista - ao cristinianismo.

Casado há 43 anos com Francis, que esteve ao seu lado o tempo todo, Swaggart só não fala no seu próprio passado. O drama de ter praticado adultério e confessado publicamente virou um assunto proibido. Não tocar neste tema foi a condição imposta por assessores no Brasil para que Swaggart desse a seguinte entrevista exclusiva à revista VINDE:


Como o senhor tem visto os últimos conflitos no Oriente Médio?

Toda a expectativa em torno do primeiro-ministro Yitzhak Rabin nos trouxe muitas esperanças com relação às negociações de paz entre israelenses e palestinos. Ao mesmo tempo, eu me sentia temeroso com a possibilidade de uma conspiração para afastá-lo de seus objetivos pacifistas. Agora, após sua morte, tornamos a reconhecer o fato de que não devemos nos iludir, pensando que a paz em Israel será estabelecida por um homem.

O que a Bíblia nos fala a respeito?

A Bíblia é muito clara quanto aos acontecimentos no cenário político mundial. Pelo que sabemos, Israel continuará a conviver com conflitos, atentados, conspirações e guerras. A Bíblia também mostra que apenas após o reconhecimento oficial, por parte da nação de Israel, de que Jesus é o Messias, o filho que Deus enviou para nos salvar, é que a paz será possível naquele país. Quando Israel se submeter ao completo senhorio de Cristo é que Deus poderá intervir nas questões militares e diplomáticas.

O que o senhor acha da política externa do presidente americano Bill Clinton?

Sei que o presidente americano é duramente criticado por sua postura diante do comportamento das demais nações, por suas atitudes e estratégias. Contudo, vamos reconhecer que os Estados Unidos, como nação evangélica, devem influenciar o mundo. Somos uma nação poderosa e desenvolvida porque nossos pais foram tementes a Deus e hoje desfrutamos das bênçãos do legado de fé e serviço ao Senhor. Então, biblicamente, temos uma responsabilidade muito grande diante de Deus para com o mundo em que vivemos. Sempre que possível, devemos ajudar, promover a paz ou agir com justiça. Aquele a quem muito é dado, muito lhe será cobrado. Por isso, devemos assumir nossas responsabilidades e trabalhar para o bem-estar comum.

Meu retorno se deu após uma fase de muita humilhação, dor e sofrimento. Deus me levantou e me fez saber o tempo de começar de novo a pregar o Evangelho.


Como está a igreja evangélica brasileira?

Sinto muito, mas eu não me sinto capacitado para fazer uma avaliação segura sobre esse tema. Este é um país muito grande, a igreja evangélica aqui possui milhões de membros e continua em franco crescimento. Porém, é só o que eu sei. Não estou inteirado sobre questões doutrinárias e comportamentais das diversas denominações evangélicas. Mas uma coisa percebo: a igreja evangélica no Brasil é uma das mais fortes do mundo. E é uma grande organização, que cresce e se impõe a cada dia.

O senhor tem acompanhado o crescimento do movimento pentecostal na igreja evangélica brasileira nesses últimos dez anos?

Realmente, é um movimento que cresce de modo muito veloz. Eu diria até que é no Brasil que se tem detectado um crescimento mais forte do pentecostalismo em todo o mundo. Temos uma experiência muito grande em televisão aqui porque mantivemos por sete anos um programa de TV. A receptividade foi muito grande. E, visitando esta nação, fui percebendo uma sede e uma fome muito grande por Deus. As pessoas estão buscando Deus com muita intensidade. Uma outra grande evidência do derramar do Espírito Santo é a convivência pacífica em uma mesma igreja de etnias tão diferentes: são negros, brancos e amarelos vivendo como irmãos. Eu admiro e gosto muito de ver isso. Creio que esse amor a Deus e essa ausência de segregação são itens importantes que levam o Brasil a liderar o avanço do movimento pentecostal no mundo.

Quando o senhor planeja retornar ao Brasil?

Antes de tudo, tenho que considerar que sou um evangelista ocupado em levar a mensagem de Deus para todo o mundo. Sendo assim, deverei cumprir vários compromissos já agendados com outros países, antes de retornar. A propósito, estou seguindo rumo à África para urna grande concentração e depois estarei nas Filipinas em uma cruzada de evangelização. Mas, é claro, assim que cumprir os compromissos com esses e outros países, estarei breve retornando. Eu sinto no Brasil uma força e uma fé muito grande. Em relação aos demais países, é uma nação muito promissora no que diz respeito às missões. Além disso, o povo daqui é muito caloroso e hospitaleiro. Eu me sinto muito bem no Brasil.

Quais os países em que o senhor tem visto uma resistência maior à pregação do Evangelho?

Nos países muçulmanos há uma grande oposição à mensagem do Evangelho. Mas nas demais nações as pessoas têm respondido de modo muito positivo à pregação da palavra de Deus e à unção do Espírito Santo.

Em sua opinião, qual o maior desafio para a igreja evangélica em nossos dias?

Eu diria que continua sendo o mesmo desafio lançado por Jesus Cristo há dois mil anos: cumprir a convocação para a pregação do Evangelho. A ordenança é ainda a mesma. O grande desafio é e será o que encontramos na Palavra de Deus: "Ide por todo o mundo e pregai o meu Evangelho a toda a criatura". Sei que existem muitos outros desafios, mas nossa preocupação básica deve ser a de levar as boas novas para todas as pessoas.

Quais os benefícios e mudanças trazidos pelo fim do comunismo?

Meu ministério mantinha nosso programa de TV na Rússia bem antes da queda do comunismo. O Senhor já me fazia sentir que o comunismo iria acabar, que estava com os seus dias contados. Deus providenciou para que entrássemos na Rússia antes disto acontecer. Foi uma bênção muito grande. Com o advento da queda do comunismo, várias outras portas se abriram e então conseguimos penetrar em muitos outros países outrora fechados para o Evangelho. A nossa surpresa e alegria foram enormes. Encontramos um povo ávido por conhecer o nosso Deus. Hoje estamos com o nosso programa em diversos países que estiveram sob o domínio do comunismo. Atualmente estamos penetrando na China comunista. É claro que, com o desaparecimento e a queda desse tipo de governo, a igreja cresceu e foi beneficiada com as mudanças que se seguiram. Hoje, Deus tem me falado de maneira muito forte que em breve haverá uma abertura política e espiritual muito grande na China. Eu amo muito aquele povo. Nós já temos conseguido, de forma muito tímida, entrar na China. Acredito muito que logo poderemos levar o Evangelho de uma forma mais abrangente e tremenda. Eu não possuo nenhuma informação que possa me garantir que isso esteja prestes a acontecer, contudo creio que Deus intervirá.

Uma evidência do derramar do Espírito Santo é a convivência na igreja de etnias tão diferentes: negros, brancos e amarelos vivem como irmãos.


Como está o seu ministério hoje, nos Estados Unidos?

Mantemos nosso programa de televisão e nossa igreja em Baton Rouge está indo muito bem. O programa tem sido transmitido para vários países, como Filipinas. África e Rússia.

Quantas pessoas assistem ao seu programa nesses países?

Não posso dizer com precisão o número de nossos telespectadores. Sei que temos um público muito grande nas Filipinas e também na Rússia. Para você entender melhor, o sinal das emissoras vai além das fronteiras e consegue alcançar povoados, cidades dos países vizinhos da Rússia e da África, por exemplo.

Os Estados Unidos já foram um grande celeiro espiritual, enviando centenas de missionários que evangelizaram boa parte do mundo. Essa realidade está hoje mudada. Como o senhor vê isso?

É verdade. Nossa nação é muito abençoada. De lá saíram muitos homens e famílias que dedicaram suas vidas à pregação do Evangelho. Aconteceram muitas mudanças ao longo do tempo. Esse envio de missionários caiu consideravelmente. Mas hoje podemos claramente perceber que um grande reavivamento espiritual está para acontecer em nosso país. Com esse derramar do Espírito Santo, creio que voltaremos a enviar missionários para a evangelização dos povos.

Quem são os grandes evangelistas de nossa geração?

Você vai querer que eu me inclua nesta relação? (risos) Bem, sou apenas mais um homem de Deus a levar o Evangelho às nações dentre vários outros de nossa geração. Posso mesmo citar grandes nomes, como Billy Graham, Benny Hinn, evangelistas de linha tradicional ou pentecostal.

O que o senhor nos diz sobre o movimento neo-pentecostal, no qual poderíamos incluir o pastor Benny Hinn como uma de suas expressões internacionais?

Eu aprecio muito o trabalho desenvolvido pelo pastor Benny Hinn. Também vejo com bons olhos o movimento que cresce velozmente nas dissidências de igrejas de linhas histórica e tradicional. Eu oro para que Deus continue ungindo e abençoando ministérios como os do pastor Hinn.

O que a igreja norte-americana tem feito contra o avanço do consumo de drogas no país, que segundo estimativas, possui cerca de três milhões de dependentes?

Não existe nenhum programa amplo e específico para o combate ao crescimento de dependentes químicos sendo desenvolvido pela igreja. Uma coisa eu posso afirmar: a igreja não possui uma fórmula mais eficaz do que o Evangelho de Jesus Cristo. O Evangelho liberta, restaura e traz perdão. A igreja deve reagir e tem reagido contra as drogas e toda a sorte de crise moral com a mensagem simples do Evangelho. Temos milhares de testemunhos de pessoas que foram libertas de vícios e de uma vida moral decadente pelo poder maravilhoso do Evangelho de Jesus. Essa é a resposta da igreja para o mundo em crise: o Evangelho.

Quantos cristãos existem hoje na América?

Eu diria que toda a América é cristã (risos). Todos se dizem cristãos. É difícil fazer uma estimativa desse tipo quando se trata de um país típica e tradicionalmente evangélico. Ou seja, cristãos são mais de 250 milhões, agora, o número de cristãos genuínos, os que experimentaram o novo nascimento, não dá para calcular.

Quantos discos o senhor já gravou como cantor evangélico, desde que iniciou sua carreira musical?

Desde que nasci eu comecei a cantar (risos). Gravei meu primeiro disco em meados dos anos 50 e hoje tenho mais de 40 álbuns gravados. Agora mesmo finalizei mais um, a ser lançado em breve, cujo título é God is real (Deus é real).

O que o senhor tem a dizer sobre o movimento da música cristã contemporânea?

Sinto que a música cristã está mudando suas perspectivas, e se tornando apenas uma música popular. Nunca fui simpatizante da MCC, não concordo com o movimento e acho que não vem do Senhor. O movimento ainda cresce na América, mas não deverá ser sempre assim.

Deus tem me falado de maneira bem forte que em breve haverá uma abertura política e espiritual muito grande na China. Temos conseguido, de forma tímida, entrar neste país.


E quanto ao White Metal, o heavy metal cristão? O que dizer sobre isso?

Simplesmente, não sou a favor, embora eu seja da época em que o rock'n'roll se popularizou nas canções de Elvis Presley e Jerry Lee Lewis. O rock gerou o heavy metal e hoje ele está na igreja também. Sabe, a música é o meio pelo qual revelamos nosso coração a Deus, e ela não pode ter um ritmo agressivo. Eu entendo que nossa música deva ser alegre e de muita celebração. Posso citar que no Velho Testamento as pessoas adoravam a Deus cantando Salmos e Hinos. Não consigo aceitar o rock como apropriado para nos levar à adoração e ao louvor a Deus.

Quais as maiores mudanças em seu ministério nos últimos cinco anos?

As coisas estão sempre mudando em meu ministério, porém não existe uma sequer que mereça destaque, a não ser quando Deus restaurou o meu chamado e a minha vocação. Retomei minhas atividades e, sentindo forças renovadas, continuei, de lá para cá, a cumprir aquilo para que fui chamado: pregar o Evangelho, levar a Palavra de Deus a todas as partes do mundo.

Como foi o seu retorno à pregação do Evangelho após algum tempo de impedimento por motivo de falha humana?

Eu me sinto muito bem. É claro que meu retorno se deu após uma fase de muita humilhação, dor e sofrimento. Mas pude entender o grande amor que Deus teve pelo rei Davi que, após seus grandes erros e pecados, o perdoou e restaurou. Deus me levantou e me fez saber o tempo de começar de novo a pregar o Evangelho.

E como está o amor por sua esposa?

Bem, muito bem. Acabamos de completar 43 anos e posso lhe garantir que tudo o que ela manda eu faço direitinho.


Reage Fábrica

Por Jorge Antonio Barros

Chico Caruso,O Globo

Evangelho e política sempre deram pano para manga. Para alinhavar melhor essa história junto aos partidos políticos, VINDE enviou-nos a Brasília, para conhecermos um pouco dos nossos homens no Congresso Nacional. Não só os homens, mas também as duas únicas mulheres que integram o grupo de 40 parlamentares evangélicos num Congresso com 594 representantes da sociedade brasileira — a senadora Benedita da Silva (PT-RJ) e a deputada Lídia Quinan (PMDB-GO). Além de constatarem que apenas dois parlamentares não pertencem a partidos que dão sustentação ao governo FHC, nossos jornalistas descobriram que nem todo depurado que diz "senhor, senhor" entrará no reino dos céus. Entre os evangélicos, há um que já foi suspeito de liderar pistoleiros no interior do Maranhão.

As ligações perigosas na política levam também ao Palácio Guanabara — sede do governo do Estado do Rio de Janeiro — cujos ataques do chefe, Marcello Alencar, aos dirigentes da Fábrica de Esperança podem influenciar os policiais que investigam o caso da cocaína no maior projeto social do país. Como se não bastasse o sequestro moral sofrido pelo reverendo Caio Fábio, os "robocops" do governador estão à caça de provas de que há conivência entre a direção da Fábrica e o tráfico de drogas. Um absurdo que só mesmo o governador, com a sua habitual competência, seria capaz de imaginar.

Horas depois do episódio da Fábrica, Alencar já tinha investigado, julgado e determinado a sentença. São culpados os responsáveis por um projeto que faz o que o governo deveria fazer. A reação incompreensível do governador deixou ao menos, uma coisa boa: pela primeira vez, evangélicos aderiram a um ato público não religioso, pela cidadania. Uma ira santa em favor da Fábrica de Esperança os levou ao Reage Rio que, mesmo com chuva, teve milhares de manifestantes no centro da cidade.

Outro que reúne multidões é um dos maiores televangelistas de todos os tempos, o pastor americano Jimmy Swaggart, que nos deu uma entrevista exclusiva, com a condição de que não abordássemos o episódio de sua queda espiritual. Para amenizar a edição - porque ninguém é de ferro - temos o depoimento do humorista Dedé Santana e duas novas colunas - Clip Gospel, com Felippe Hernandes e a versão literária do programa Pare e Pense, com o reverendo Caio Fábio. A redação de VINDE lhe deseja que 96 seja um ano de vitórias e muita informação.


sábado, 2 de dezembro de 1995

Bateu na trave

Chute na estátua da "santa" atinge evangélicos por tabela

Por Omar de Souza

Carlos Fernandes
A imagem da discórdia, reproduzida à exaustão pela mídia nacional

Um ato de intolerância religiosa foi suficiente para deflagrar uma guerra religiosa que nada tem de santa. Na madrugada do dia 12 de outubro, o bispo Sérgio Von Helde, da Igreja Universal do Reino de Deus, chutou a estátua de Maria Aparecida, padroeira católica, diante das câmeras da TV Record. Os golpes dados pelo bispo podem não ter sido suficientemente fortes para quebrar a imagem, mas produziram uma cadeia de efeitos indiretos que colocaram os evangélicos em situação constrangedora. Como, por exemplo, o bispo Renato Suhett, recém-saído da Igreja Universal, que tenta alugar um local para realizar os cultos da igreja que pretende abrir, e só encontra respostas negativas. E, mais: a Igreja Católica capitalizou as repercussões do episódio a seu favor na tentativa de recuperar o prestígio que vem perdendo no país.

Era tudo o que a mídia afinada com as lideranças católicas precisava. No mesmo dia 12 de outubro, o Jornal Nacional, da Globo, mostrou as cenas do programa em que o bispo Von Helde desafiava uma estátua da santa a mover-se enquanto dava leves golpes com o pé na base da imagem. No dia seguinte, vários jornais estamparam na capa a reprodução da imagem da TV. O teor das matérias era sempre o mesmo, sugerindo que a maioria católica brasileira teria se sentido agredida pelos ataques à figura de Aparecida. Diversos líderes religiosos foram consultados, mas o destaque invariavelmente ia para os bispos católicos. Todos falavam do "insulto à padroeira", porém nenhum deles questionava a imposição de um feriado nacional exclusivamente católico num país onde, pelo menos no texto da Constituição, não há religião oficial.

INQUÉRITO - Enquanto religiosos católicos, como dom Aloísio Lorsheider, cardeal-arcebispo de Aparecida, e dom Eugênio Sales, do RR, apontavam o "fanatismo" do pastor da Universal, a igreja comandada pelo bispo Edir Macedo enfrentava problemas em diversas frentes. O presidente Fernando Henrique Cardoso reprovou a "manifestação de intolerância", ainda que se tenha calado quanto ao apedrejamento de um templo da Universal no bairro de Olaria, subúrbio do Rio, e a invasão de outra igreja, em Brasília, por um grupo de manifestantes supostamente católicos, que agrediu os fiéis. Von Helde - que, comenta-se, vai publicar um livro sobre o episódio - foi convocado a depor em inquérito instaurado pelo delegado do 27° Distrito Policial, no bairro do Aeroporto, em São Paulo, acusado de vilipêndio a objeto de culto. A TV Record, comprada pela Igreja Universal; passou a perder anunciantes e profissionais, inclusive o jornalista Chico Pinheiro, editor-chefe do Jornal da Record. Os donos de cinemas e teatros no Rio se recusam a alugar as salas para a realização dos cultos da igreja do bispo Renato Suhett, alegando que os evangélicos são "incitadores à agressividade". A crise levou o bispo Edir Macedo a colocar sua voz no ar para desculpar-se com os católicos, a esta altura falando pretensiosamente sobre a possibilidade de "perdoar" seus detratores. O pastor Ronaldo Didini, que defendeu a atitude do colega no programa 25ª Hora, foi afastado e enviado para a África do Sul.

O chute do bispo prejudicou, por tabela, a comunidade evangélica brasileira que, mesmo compartilhando o repúdio à adoração de imagens de escultura, não concordou com o ato de intolerância. A cúpula católica, por sua vez, contabilizou os golpes do bispo Von Helde como lucro. Há muito tempo não se via tanto espaço dedicado à igreja romana, a mesma que nunca protestou contra um grupo musical paulista chamado Devotos de Nossa Senhora Aparecida, cujo repertório é pródigo em palavrões e baixarias. A Rede Vida de televisão, controlada pelo clero católico, enxergou na polêmica uma grande oportunidade de pleitear mais verbas e aumentar sua área de alcance, no sentido de "combater as seitas evangélicas".


Extraído Intolerância. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1995, a. 1, ed. 2, p. 48, abr. 1995.

sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

O clarão de fé que incomoda o poder

A Fábrica de Esperança completa seu primeiro aniversário sob as trevas da difamação

Por Marcelo Dutra

Carlos Fernandes
A Fábrica de Esperança foi idealizado pelo Rev. Caio Fábio

No meio do quadro sombrio de violência e miséria que vem sendo pintado da cidade do Rio de Janeiro, um facho de luz se sobressai, acenando com a perspectiva de recuperação dos princípios de dignidade, tal como as cidades-refúgios dos tempos do Velho Testamento. Um dos mais ousados projetos sociais da América Latina passou a significar uma expressiva diferença na qualidade de vida de 180 mil habitantes do complexo de Acari, Zona Oeste do Rio de Janeiro, que está entre os cinco maiores bolsões de violência e miséria do mundo. Debaixo de calúnias dos governantes do Rio, a Fábrica de Esperança festeja seu primeiro aniversário no dia 17 de dezembro, prestando serviços através de 17 projetos comunitários que beneficiam cerca de 200 pessoas por mês com atendimento médico, odontológico e jurídico, sem falar nos diversos cursos profissionalizantes. O sonho de cidadania, que parecia impossível, vira realidade, levando ao pé da letra a afirmação do apóstolo Paulo de que "agora permanecem a fé, a esperança e o amor" (1 Coríntios 13:13).

Para o idealizador da Fábrica de Esperança, reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, 40 anos, que sempre bifurcou seu ministério em evangelização e ação social, é difícil falar de Deus a quem não tem acesso a coisas básicas, como três refeições diárias. "Como pregar o Evangelho para um sujeito que não consegue raciocinar direito e está no limite da resistência humana? É preciso que esta pessoa veja o amor de Deus na prática; só então vamos poder falar de graça e misericórdia", argumenta. Com este propósito, o reverendo fundou a organização não-governamental Vinde (Visão Nacional de Evangelização) que, após 15 anos de atividades, adquiriu maturidade para encarar o desafio de aceitar a oferta dos empresários paulistas Alípio Gusmão e Salo Seibel, proprietários da antiga Formiplac. Os sócios - um presbiteriano e outro judeu - consideraram inviável a retomada das atividades da fábrica após um incêndio que destruiu a quase totalidade das instalações, em 1992.

Carlos Fernandes
A Fábrica de Esperança recebe investimentos
de Viviane Senna (acima) para escola de
informática (abaixo)

PARCERIAS - Foi então que surgiu a idéia de transformar os 55 mil metros quadrados da Formiplac num manancial de bênçãos para os habitantes das 16 favelas que formam o complexo de Acari, região geograficamente exduída dos benefícios sociais, na definição do jornalista Zuenir Ventura em seu livro Cidade Partida. O primeiro obstáculo a nublar o sonho do reverendo Caio Fábio foi a falta de dinheiro. A Vinde, que é mantida por doações voluntárias, não poderia bancar sozinha um projeto daquelas proporções. A solução foi partir para o sistema de parcerias.

Carlos Fernandes

A Xerox do Brasil foi a primeira empresa privada a assinar contratos com a Fábrica, investindo em escolas de treinamento técnico e oficinas profissionalizantes. Recentemente, inaugurou um projeto orçado em 60 mil dólares para treinar e capacitar adolescentes e adultos no desmonte e recuperação de máquinas copiadoras. O Instituto Ayrton Senna investirá, nos próximos três anos, cerca de 210 mil dólares na escola de informática. Atualmente funcionam três laboratórios de informática com cerca de 560 alunos. Para Viviane Senna, presidente do Instituto Ayrton Senna e irmã do piloto brasileiro morto em maio do ano passado, estes cursos são importantes porque dão oportunidade de trabalho aos adolescentes que só seriam engraxates, catadores de papel, camelôs ou até mesmo aviões do tráfico.

Outra parceira de expressão é a indústria de refrigerantes Pepsi. A idéia é simples: a Vinde fica responsável pela venda dos refrigerantes desta marca em igrejas evangélicas cadastradas e parte do lucro é repassada à Fábrica de Esperança. Dezenas de outras parcerias oferecem uma série de oficinas que vão desde cursos de sapateiro e cabeleireiro até o de teatro. Uma creche abriga 50 crianças da comunidade, que tem a terça parte de seus habitantes formada por meninos e meninas de zero a 14 anos.

Carlos Fernandes
Adolescentes trocam a ociosidade na favela por
treinamento nas oficinas profissionalizantes da Xerox

Vários segmentos do setor empresarial estão atentos aos progressos do empreendimento social da Vinde e mostram-se interessados em participar. Em reunião da Câmara de Comércio Americana para o Brasil, no Rio, em outubro, o empresário Sérgio Andrade de Carvalho, construtor de shopping centers do porte do Nova América Factory Shopping, no Rio, manifestou seu contentamento com o trabalho feito pela Fábrica de Esperança. "O mais difícil para um empresário é ter o equilíbrio entre o sonho e o poder de realização, e o reverendo Caio Fábio tem isto 'na medida cerca", elogiou o empresário engajado em obras sociais no Rio.

Motivos para comemorar o primeiro aniversário não faltam. A meta é de que 70 serviços estejam na linha de montagem da Fábrica dentro dos próximos três anos. "Se é para concretizar a esperança, as parcerias são bem-vindas", sinaliza a supervisora geral da Fábrica, Cristina Christiano. No dia 18 de dezembro, um culto em ação de graças reunirá pastores, empresários, funcionários e jornalistas nas dependências da Fábrica de Esperança. Mas a festa mesmo é dos cidadãos de Acari.

Os telefones da esperança A partir de agora todas as doações à Fábrica poderão ser abatidas no Imposto de Renda. As doações podem ser feitas através do sistema automático Disque-Esperança.

  • Disque 0900-7850-05 para doar RS 5
  • Disque 0900-7850-10 para doar RS 10
  • Disque 0900-7850-20 para doar R$ 20
Carlos Fernandes
Fernando Henrique assinou decreto
transformando a Fábrica de Esperança
em empresa de utilidade pública federal

Utilidade pública federal e estadual Júlio Cézar de Souza tem 13 anos e mora com o pai, a madrasta e mais quatro irmãos na favela Parque União, próxima a Acari. Trabalhava como ajudante de pedreiro para reforçar o orçamento doméstico, mas agora é um dos alunos do curso de informática da Fábrica de Esperança e sonha em ser digitador. "Estou tentando melhorar de vida, talvez consiga arrumar um bom emprego no futuro", diz.

A Fábrica de Esperança é um oásis na vida de milhares de famílias, sobretudo por levar a mensagem do Evangelho àqueles desfavorecidos pela sociedade. Tem feito isto seguindo um antigo, mas atualíssimo conselho de Jesus no sermão do Monte das Oliveiras: "Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Deus que está nos céus." Na área social, a Fábrica vem se tornando uma referência na batalha pela recuperação do conceito de cidadania. Além de um tribunal de pequenas causas, que já está em funcionamento, ela conta com o Centro Comunitário de Defesa da Cidadania. Só no mês de setembro, o CCDC contabilizou 6 mil atendimentos, providenciando documentos como certidões de nascimento, carteiras de identidade e certificados de óbito.

Recentemente, a Fábrica de Esperança recebeu um grande incentivo para seu sustento. No dia 23 de agosto, o presidente Fernando Henrique assinou um decreto considerando-a de utilidade pública federal. Em seguida foi a vez do governador do Rio, Marcello Alencar, sancionar projeto de lei dedarando-a entidade de utilidade pública estadual. Os atos permitem à Fábrica receber incentivos financeiros dos governos federal e estadual, além da concessão de subvenções para cobrir despesas de custeio.

Extraído Solidariedade. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1995, a. 1, ed. 2, p. 53-54, dez. 1995.

Revista Vinde - Edição 3

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