sexta-feira, 12 de abril de 1996

Sem meias palavras

Encontros da Vinde apostam na sinceridade como forma de resolver crises em casa

Carlos Fernandes

Na maioria dos debates sobre família, os chavões se repetem: "é a célula mater da sociedade", "de sua estabilidade, depende nosso bem-estar". Muito papo, pouca solução. As famílias brasileiras - e as evangélicas também se incluem aí - atravessam crises de toda sorte: econômica, moral, psicológica.... Na tentativa de ajudar a reverter esse quadro, a Visão Nacional de Evangelização (Vinde) reúne anualmente milhares de pessoas em congressos onde o debate teórico dá lugar a palestras de base prática e muita sinceridade. O tema dos encontros deste ano - Família, lugar ele culpa e graça - já deixa claro que a intenção é curar feridas; nunca escondê-las. Não é por acaso que, entre os palestrantes, estão médicos e pastores, como os psiquiatras Fábio Damasceno e Eleni Vassão.

Desde o ano passado, o Encontro Vinde para a Família é realizado em duas regiões. O encontro do sudeste já aconteceu, de 28 a 31 de março, no Hotel Fazenda Vale do Sol em Serra Negra, interior de São Paulo. Em abril, o hotel Carimã em Foz do Iguaçu, no Paraná, receberá o segundo evento, do dia 18 ao dia 21. Os assuntos são os mesmos, bem como os lugares são igualmente encantadores. "Um convite à visitação e reestruturação interior", descreve o reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, presidente da Vinde. Apesar da elegância dos hotéis, a gerente do departamento de eventos da Vinde, Marilda Avillez, diz que a preocupação é realizar encontros que ofereçam boa acomodação a preços razoáveis.

Carlos Fernandes
Centenas de pessoas comparecem ao evento
para conhecer medidas práticas contra o
desgaste nas relações familiares

DESGASTE - Gente de todo o Brasil comparece a esses congressos. Marilda Avillez, que já participou da organização de cinco encontros, conta que "a maioria dos casais chega reclamando do desgaste em suas relações". Ela acredita muito na eficácia desses eventos e arremata: "Com comunicação e entendimento da Palavra de Deus, há interação e desejo de mudanças. Os congressos de família têm por objetivo dar esperança."

Este tipo de encontro, aliás, é uma das principais estratégias de ação da Vinde. Além dos eventos para família, a missão realiza, todos os anos, congressos para líderes evangélicos, jovens, empresários e executivos. O encontro para pastores e líderes é o mais antigo. O primeiro ocorreu há 13 anos, na mesma época em que era criado o departamento de eventos.

O encontro para a juventude é realizado em parceria com Mocidade para Cristo (MPC) do Brasil, sempre na última semana do mês de julho. O evento reúne centenas de jovens no Sesc de Guarapari, no Espírito Santo. Neste ano, o encontro será de 27 a 31. Os congressos de pastores e líderes e de empresários e executivos ainda não têm data marcada.

As inscrições para o Encontro Vinde para a Família, em Foz do Iguaçu, ainda estão abertas. Outras informações podem ser obtidas pelos telefones (021) 717-5242 e 719-8770 ou pelo fax (021) 717-6404.


Extraído Família. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 26, abr. 1996.

quinta-feira, 11 de abril de 1996

Epistola do Leitor


Edição 5

Obra do maligno "Manhã de domingo, 25 de fevereiro de 1996. Estava me dirigindo a um templo da Igreja Universal do Reino de Deus. Antes, resolvi comprar a revista VINDE de fevereiro. Mal entrei na igreja, um obreiro, ao me ver com a revista, arrebatou-a de minhas mãos, dizendo ser uma obra do maligno. E completou: "Não se lembra do que o pastor disse dessa revista?" Posteriormente, rasgou-a na minha frente. Fui reclamar com um dos pastores que nem ligou (...). Fiquei perplexa e desnorteada. Lembro que, em 1994, meu filho quase foi agredido por ter afirmado que iria votar em Lula. Apenas por isso um pastor incitou fiéis e obreiros, afirmando que meu filho estava perturbado. Magoado e desapontado, ele deixou de ser crente. Orem por essa igreja. Se publicarem esta carta, por favor, omitam meu endereço e coloquem só as iniciais do meu nome pois temo represálias." S.R. - São Paulo (SP)

Espanto "Quero expressar meu espanto com a reportagem sobre a atuação dos parlamentares evangélicos. Poucas vezes, mesmo na imprensa secular, vi matéria tão distorcida e preconceituosa (...) A coluna Santos projetos para todos os gostos tinha uma tendência clara para ridicularizar seus agentes(...) Minha ficha no Dops foi por resistir do púlpito e da praça pública à ditadura do país (...) O articulista omitiu que eu sou presidente da Comissão Especial de Educação que reformula o ensino básico e superior do país (...) Também não se referiu ao meu projeto de lei da nova residência médica no país, elogiado por todos (...) Por tudo isso e por amor à verdade, quero usar o meu direito de resposta." Elias Abrabão, deputado federal - Brasília (DF)

N. da R.: Quando o repórter relatou o fato de o deputado ter sido fichado no Dops, o objetivo foi justamente o de elogiá-lo, por sua resistência à ditadura militar.

Ainda a IURD "Venho através desta parabenizá-los pela matéria Os santos do pau oco, pela imparcialidade com que relatou o escândalo da IURD. É lamentável que alguns evangélicos ainda se levantem em defesa dos tais santos do pau oco." Milton Miranda Muniz - Itabirito (MG)

"A edição de janeiro me causou grande decepção, ao ver (...) irmãos de fé apedrejando outros irmãos. Jesus jamais faria o que vocês fizeram ao escrever o artigo Os santos do pau oco." Sandra Costa - São José do Rio Preto (SP)

Centenário "Gostaria de registrar a passagem dos 100 anos da Igreja Batista desta cidade. Ela é a primeira igreja evangélica do Norte e Nordeste, possui um templo próprio e é pioneira do evangelismo no interior de Pernambuco. São 100 anos de bem com Cristo." Emerson Freitas - Nazaré da Mata (PE)

Adolescentes "Tenho 13 anos e pertenço à Igreja de Deus no Brasil (...) Quero pedir que dediquem uma página da revista VINDE para as crianças e adolescentes." Cristiane Braz - Paty do Alferes (RJ)

Bené e MST "Como leitor, colecionador e admirador da revista VINDE, gostaria de sugerir matérias sobre o Movimento dos Sem-Terra (MST), reforma agrária e uma entrevista com a senadora Benedita da Silva." Fernando Euzkadi - São Paulo (SP)

N. da R: A entrevista com a senadora do PT está na página 6.

Fábrica de Esperança "Em Assembléia Geral Extraordinária realizada pela Convenção Batista Nacional, regional de Pernambuco, mais de 100 igrejas votaram a favor de solidariedade inquestionável ao ministério da Fábrica de Esperança." Pastor José Linaldo de Oliveira -Recife (PE)

Velha guarda "Sem desmerecer as colunas de música, lamento não encontrar matérias sobre os fundadores da música evangélica brasileira, como Vencedores por Cristo, Milad, Life e Klin Kideshim." Fernando Passarelli - São José dos Campos (SP)

N. da R.: Seu pedido é uma ordem. Esta edição traz uma reportagem com Vencedores por Cristo, um dos grupos pioneiros da moderna música evangélica.

Cartas para esta seção devem ter, no máximo, 15 linhas datilografadas e conter nome, endereço e telefone do remetente. O endereço é:
Revista VINDE
Seção Epístolas do Leitor,
Rua Luís Leopoldo Femandes Pinheiro, 604 - 100 andar - Niterói, RJ - CEP 24030-122 Fax: (021) 717-9622


Extraído Epístola do Leitor. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 11, abr. 1996.

Que milagre o repórter tem?

Adolfo Cruz conta como fez uma entrevista exclusiva com Carmem Miranda

Adolfo Cruz

Divulgação
Pouco antes de morrer, Carmem Miranda resistiu, mas deu uma entrevista exclusiva a Adolfo

Em 50 anos de jornalismo, entrevistei artistas como Charlton Heston, Bob Hope, Tony Curtis, Kirk Douglas, Erro! Flyn, Maurice Chevalier, John Wayne, Natalie Wood e Gene Kelly. No entanto, jamais superei em repercussão a reportagem que fiz com Carmem Miranda, cantora da música popular brasileira e estrela de Hollywood. Tive oportunidade de entrevistá-la em sua bela casa em Bervely Hills, na Califórnia. Como repórter foi, sem dúvida, o momento mais significativo de minha carreira.

Chateada com uma reportagem publicada na extinta revista O Cruzeiro, Carmem Miranda não dava entrevistas há 14 anos à imprensa brasileira. Por isso, cheguei bastante receoso à casa de Carmem. Depois de ver toda aquela parafernália - um gravador daqueles enormes com transformador e tudo, bastante usado naqueles anos 50 - ela foi taxativa: "Pode desligar tudo; não dou mais entrevista para o Brasil." Deu o assunto por encerrado, enquanto eu desapareci na poltrona, murchei repentinamente. Num canto da sala, Carmem ficou pensativa, diante de um quadro.

Naqueles momentos de extremo desconforto, recorri a Deus. Com minha pequenina fé, aguardei. Carmem, então, veio em minha direção, bateu no meu ombro e disse: "Você volta feliz para o Brasil, se eu lhe der a entrevista?" "Claro", respondi imediatamente, já vibrando. Gravamos então quase meia hora de entrevista, com Carmem alegre e bem falante. Melhor resultado não poderia obter: a entrevista exclusiva foi um marco do programa Cinelándia Matinal, que apresentei por 26 anos na Rádio Nacional.

A entrevista em Beverly Hills foi também a última concedida por Carmem Miranda. Trinta dias após a morte da cantora, publiquei a entrevista na íntegra na revista Manchete. Na época, cedi até trechos da entrevista à Voz da América, serviço radiofônico norte-americano, em português. Também ofereci, várias vezes, partes da entrevista a diversas emissoras de rádio, sem cobrar um tostão. Até porque a entrevista foi um presente dos céus, de um valor que cada vez mais se fortalece histórica, emocional e espiritualmente. Foi a vitória de um profissional ainda jovem, em situação difícil.

Mas a bênção não parou por ali. Ainda hoje, 40 anos após a morte de Carmem Miranda, a entrevista exclusiva é lembrada com carinho. Agora mesmo recebi do Museu Carmem Miranda, no Rio, um bonito troféu. Nesse museu há uma réplica do escritório de Carmem Miranda, em Los Angeles e trechos da entrevista são exibidos aos visitantes.

Como não poderia deixar de ser, ainda sou grato a Deus por essa vitória. Não avaliamos como, ao longo de nossa existência, perdemos muitas oportunidades de exercitarmos nossa fé. Claro que, pelos anos a fora, minha fé tem se multiplicado, em diferentes momentos, quando fui respondido por Deus. A fé em Deus, em nosso salvador Jesus Cristo e no Espírito Santo, é muito importante. Conquistamos a paz, a despeito de nossas lutas e imperfeições e podemos sentir em sua plenitude o amor e a misericórdia infinita. Ainda estamos aprendendo a usar o poder da fé. Para o que crê tudo é possível. E sem fé, como diz Hebreus 11, versículo 6, é impossível agradar a Deus.


Adolfo Cruz é radialista, homem de televisão e membro da lgreja Presbiteriana Bethesda, no Rio.


Extraído Entrevista. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 33, abr. 1996.

quarta-feira, 10 de abril de 1996

Um livro com cheiro de mulher

Parceria da Vinde Comunicações e O Boticário dá colônia de presente

Por Teresa Cristina Abreu

Luiz Antônio Moraes
Alda, diretora da Vicom e Maria de Fátima, do Boticário: um brinde às mulheres

O livro A mulher no projeto do reino de Deus, do reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, chega ã décima edição trazendo um presente extra para os leitores. Cada exemplar dá direito a uma amostra da deo-colônia Floratta, d'O Boticário. A combinação parece perfeita. A fragrância, considerada a mais feminina da atual coleção, acompanha um livro que tornou-se referência na literatura evangélica por sua perspectiva, senão feminista, certamente inovadora para os padrões brasileira, sobre o papel que Deus reservou à mulher.

O reverendo Caio Fábio se vale do exemplo de Cristo - apresentado como o maior defensor dos direitos das mulheres para minar a base de preconceitos que subestimam a importância da atuação feminina em vários aspectos da vida. Lançado em 1985, A mulher no projeto do reino de Deus teve 9 mil exemplares vendidos e estava esgotado havia dois anos. Na nova edição, pela Vinde Comunicações (Vicom), o texto foi revisto e ampliado. O padrão gráfico mudou, inclusive a capa. O formato booklet (10,5cm X 18cm) foi substituído pelo tamanho tradicional (14cm X 21cm).

Luiz Antônio Moraes
No livro, que já está na décima edição,
o reverendo Caio Fábio analisa os
preconceitos contra a mulher

A idéia de promover com um brinde o relançamento de A mulher no projeto do reino de Deus partiu da diretora da Vicom, Alda d'Araújo. "Eu queria que a preciosidade desse livro fosse acompanhada por alguma coisa caracteristicamente feminina", diz, lamentando a escassez de títulos voltados para a mulher entre os lançados pela editora. A opção por uma amostra de perfume pareceu ideal e entusiasmou o diretor d'O Boticário, Eloi Zanetti, tão logo recebeu a proposta do gerente de marketing da editora, Maurício Soares. A escolha da fragrância Floratta, lançada no ano passado, foi quase imediata. Como o próprio nome diz, a base da deo-colônia é essencialmente floral. "É o perfume mais feminino que temos atualmente", afirma Maria de Fátima Gaspar, representante de vendas d'O Boticário. O design da embalagem é assinado pelo francês Thierry Lecoule. Ao todo, serão 5 mil amostras de 5ml do perfume, distribuídas com o livro nas lojas Vinde em todo o Brasil.

A Vicom e O Boticário oficializaram a parceria no dia 16 de fevereiro. Na ocasião, a representante de vendas d'O Boticário também formalizou a doação de 2 mil kits com cadernos para a Fábrica da Esperança. O material foi produzido pela Fundação O Boticário de Proteção à Natureza, em São José dos Pinhais, no Paraná. Cada um dos kits, feitos em papel reciclado, vem com cinco cadernos - de linguagem, desenho e aritimética - acondiciona-dos em uma pasta.

Compre no Estante Virtual

Extraído Business. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 25, abr. 1996.

terça-feira, 9 de abril de 1996

Pedradas no Banco Central

Por Emílio Garófalo Filho

Carlos Fernandes
As funções ingratas, mas necessárias,
do BC provocam a ira de muita gente

De uns tempos para cá, jogar pedras no Banco Central se transformou num dos esportes mais populares do Brasil. Seja pela prática de juros altos, pelo câmbio baixo, ou pelo excessivo lucro dos bancos e até mesmo pela quebra de algumas instituições. O BC é culpado quando não podemos comprar a prazo, ou quando encurtam os prazos de consórcios. Dia virá em que ouviremos dizer que a falta ou excesso de chuva, se não foi culpa do BC, pelo menos, foi desejada pelo banco. Pedra nele.

O Banco Central existe para cuidar da moeda, da estabilidade do sistema financeiro e das reservas internacionais. Não é de sua competência zelar pela agricultura, apoiar o comércio, incentivar a indústria, patrocinar o setor de serviços e, muito menos, investir em educação, saúde, infraestrutura etc. Não que sejam menos importantes que a moeda ou o sistema financeiro. Simplesmente, o BC não foi criado para esses fins. Para exercer sua missão, o Banco Central utiliza alguns instrumentos conhecidos:

1) Política monetária - Compreende a administração da taxa de juros e do prazo de colocação dos títulos emitidos pelo BC. O objetivo básico é controlar a quantidade de dinheiro em circulação. Isto porque, se esse dinheiro se multiplica demais, isto é, acima da taxa de crescimento dos produtos e serviços disponíveis, gera inflação. Lembre-se do cruzeiro, cruzado, cruzeiro novo, cruzeiro real etc.

Também pode-se incluir aí a política creditícia. Trata-se do controle de crédito ao consumidor, compulsórios, cartões de crédito, consórcios. O objetivo principal é evitar uma explosão do consumo. Lembremos novamente o cruzado: explosão de consumo, desabastecimento, importação alucinada e crise cambial.

2) Política cambial - Basicamente, é o controle da taxa de câmbio entre o real e as moedas estrangeiras. O valor dessas moedas não deve cair muito em relação à nossa, porque isso atrapalha ou inviabiliza as exportações. Também não pode subir muito, porque encarece produtos que o Brasil precisa importar, causando inflação. A eterna (e complexa) busca desse equilíbrio expõe o BC a críticas, ora de um lado, ora de outro.

Nesse âmbito, se destaca a política á capital estrangeiro. Estamos apelidando assim o conjunto de esforços para controlar o fluxo ao Brasil de capitais externos. Quando faltam, podem levar o país a uma crise cambial. Quando são abundantes, ou seja, há muita oferta de moeda estrangeira, a moeda nacional tende a ficar muito forte, prejudicando as exportações e ensejando a substituição de quase tudo por produtos estrangeiros. Para evitar isso, só se o BC comprar todo esse excesso, mas aí coloca muito dinheiro em circulação e volta ao problema da política monetária.

A administração desses remédios econômicos, como se vê, é muito complexa e, em países como o nosso, eles não têm bula. Nunca se sabe a dose ideal, nem os efeitos colaterais. São ruins, amargos, mas sem eles o paciente pode morrer. É pela sua obrigação de administrá-los e por sua complexidade que, freqüentemente, o BC é alvo de pedradas.


Emílio Garófalo Filho é bacharel em Economia pela PUC-SP e sócio-diretor da MCM Consultores Associados S. C. Ltda.


Extraído Moeda e Mercado. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 24, abr. 1996.

A amiga evangélica da Xuxa

Com voz e unção, a cantora Aline Barros conquista espaço para evangelizar a apresentadora dos baixinhos

Adriane Lopes

Carlos Fernandes
A cantora Aline fez sucesso
no especial de fim de ano
da Rainha dos Baixinhos

Um arrepio contagiava operadores de som e quem , mais passasse pelo estúdio. Entre surpresa e perplexa, a pequena platéia assistia atenta à gravação que a cantora Aline Barros fazia para o especial de fim de ano da apresentadora Xuxa Meneguel. "O que é isso, meu Deus? O que está acontecendo?", perguntavam-se alguns, procurando entender a emoção que tomara conta do ambiente. Queriam respostas que a produtora Marlene Mattos já havia buscado ao saber que o Imperator lotara, meses antes, para ouvir aquela voz e o grupo de que faz parte, o da Comunidade Evangélica da Vila da Penha. Foi esta santa inquietação despertada por seu talento que abriu para Aline Barros portas de acesso à televisão, aos programas da Xuxa e à própria apresentadora, de quem se diz uma amiga, assim como da produtora Marlene Mattos.

Depois do concorridíssimo lançamento do disco Tempo de adoração, na casa de espetáculos do Méier, subúrbio do Rio, a Comunidade foi convidada para se apresentar no Xuxa Park. O programa, um desfile de artistas populares, vai ao ar nas manhãs de sábado. Satisfeita com a descoberta, Marlene chamou Aline, que já começava a preparar o disco solo Sem limites, para cantar num dos clipes do especial de Natal. Deste convívio nasceu uma amizade que começa a mostrar aos evangélicos uma Xuxa um pouco diferente da que pintam. Aline a descreve como "uma pessoa aberta e interessada no Evangelho".

Carlos Fernandes
A cantora lotou o lmperator, no lançamento de seu novo CD

A apresentadora, por sua vez, também ouve falar de um Deus mais próximo e atuante do que o "cara lá de cima", como ela costuma chamar. Sempre que tem uma chance, Aline conversa com Xuxa e Marlene sobre Jesus Cristo. "Foi Deus que me colocou perto das duas para falar de seu amor e mostrar testemunho de vida. Elas são pessoas preciosas para Deus", diz a cantora. Certa disso, Aline vem pedindo a todas as igrejas por onde passa que orem por Xuxa. Se depender do número de pessoas para quem Aline se apresenta, a artista pode ficar certa de que Deus está ouvindo falar muito dela ultimamente. Tão logo explodiu o hit Consagração, que Aline gravou com a Comunidade quando tinha 16 anos, os convites se multiplicaram. No ano passado, co-meçaram a vir do exterior. Em maio, Aline percorreu várias igrejas dos Estados Unidos, especialmente da Assembléia de Deus. Em dezembro, foi chamada para o lançamento da Associação de Artistas de Cristo, presidida pelo humorista Dedé Santana, em três cidades americanas. A associação reúne artistas em jantares e confraternizações evangelísticos e o lançamento vai se repetir nas principais capitais do Brasil.

Carlos Fernandes
Aline conta que já falou de Jesus para a Xuxa

Apesar da agenda cheia, Aline procura adaptar os compromissos à rotina normal de uma estudante de 19 anos ela cursa Biologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Não deve ser impossível, já que a música sempre fez parte de sua vida. Aline canta desde os dois anos. Aos cinco, apresentava-se em casamentos. Aos nove, começou a gravar com a Comunidade Evangélica da Vila da Penha. O primeiro solo a ficar conhecido foi Tua Palavra, que Aline gravou aos 14. Para o futuro, pretende gravar, pelo menos, um disco por ano. Atualmente, sua gravadora é a Grape Wine.

Ao final da gravação para o especial da Xuxa, o estúdio havia se tornado um templo. A pequena platéia mergulhava em momentos de louvor, ainda querendo entender como. Aline já havia compreendido: "Aleluia! Isso é unção e eles nem sabem!"


Extraído Depoimento. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 20-21, abr. 1996.

segunda-feira, 8 de abril de 1996

Frente a frente com o herege

Evangélica conta tudo o que viu no congresso de Moon

Por Jaqueline Rodrigues

Carlos Fernandes
Com apoio de telões, o 'reverendo' Moon falou a uma platéia formada por cerca de 800 evangélicos

Quando fui convidada a participar do Congresso das Américas em Montevidéu, no Uruguai, já sabia do que se tratava: uma conferência promovida pela Igreja da Unificação - a famosa seita do "reverendo" Moon. Sob o pomposo nome de Revitalizando o Cristianismo Para Unificação das Américas, o evento reuniu cerca de 800 evangélicos brasileiros na capital uruguaia, com todas as despesas de transporte, hospedagem e alimentação custeadas pela organização. Uma proposta extremamente sedutora, aceita com prazer incontestável por dezenas de irmãos que certamente jamais haviam saído de suas cidades, quanto mais para uma viagem internacional. Já no aeroporto, podia-se ter uma idéia do que nos esperava: entre pastores, diáconos e obreiros de diversas denominações que compunham nosso grupo, a expectativa comum era a de aproveitar a viagem ao máximo e, de quebra, ouvir in loco as doutrinas da seita que, num passado recente, foi acusada de promover lavagens cerebrais em seus jovens seguidores.

O vôo até Montevidéu transcorreu na maior normalidade, apenas com alguns episódios curiosos, como o do irmão que, após sua refeição, levantou-se e bateu na barriga, num gesto de satisfação, dizendo para seus companheiros: "Ah, agora sim." Ou de outro passageiro que furtivamente colocou em sua bagagem travesseiros, cobertores e talheres - mas esse, graças a Deus, não era evangélico nem estava conosco.

Uma vez em terra, pudemos ter a primeira impressão do extremo profissionalismo com que o Movimento da Unificação promove estes encontros. Com certeza, se uma das suas intenções é demonstrar organização e opulência, isso foi conseguido rapidamente. Hospedagem em hotéis de ótimo nível - os melhores da cidade, com 4 e 5 estrelas -, traslados em ônibus refrigerados e com guias turísticos, refeições com horas marcadas e inúmeros detalhes que foram previstos com antecedência e executados estritamente conforme o programa. Reunir quase mil brasileiros, conseguir cumprir todos os horários e não registrar nenhum imprevisto sério foi uma façanha que o staff do congresso conseguiu realizar para nossa perplexidade, acostumados que estamos com atrasos, extravios e muita bagunça.

É claro que todos os participantes tinham a curiosidade de ver de perto o famigerado Sun Myung Moon, o coreano de 76 anos que em pouco mais de quatro décadas conseguiu reunir milhões de seguidores em 160 países do mundo. Quando ele surgiu de trás das cortinas, acompanhado pela sra. Hak Ja Han, sua mulher, eu pude perceber o respeito que seus seguidores têm por ele, e até mesmo a emoção que sentem em sua presença. Para o auditório composto por evangélicos, por outro lado, sua aparição causou arrepios. Afinal, estávamos diante daquele que é proclamado por seus discípulos como o Senhor do Segundo Advento, aquele que deverá restaurar a linhagem celestial, tarefa que, para eles, não foi cumprida por Adão e Jesus, seus supostos precursores. "Isto é uma heresia", comentou alguém atrás de mim, enquanto outro espectador murmurava lá de trás: "Misericórdia!" Enquanto isso, Moon discursava em seu idioma - que às vezes dá a impressão de que o falante está brigando com os interlocutores. Ouvi-lo dizer que Jesus teria fracassado em sua missão foi muito duro para mim e não pude esconder de ninguém que estava chorando, pois eu sentava na primeira fila. Frente a frente com o herege.

Além do líder, vários outros pastores da seita fizeram conferências, que na verdade eram monólogos que tínhamos de ouvir calados. Um dos organizadores até nos tripudiou, dizendo que tinham nos trazido até ali, oferecendo-nos do bom e do melhor, para que fizéssemos nossa parte que era apenas escutá-los. Somente no final de cada palestra, era aberto um tempo de poucos minutos para perguntas - que, aliás, eram respondidas como melhor lhes conviesse. Se alguém se animasse a contestar, ouvia como resposta que era assim que eles criam e acabou-se. O tempo só esquentou quando um pastor discutiu com um conferencista e mandou-o calar a boca. Nesse momento, formou-se um bolo de gente na minha frente, o palestrante foi afastado e muitos evangélicos condenaram a atitude do pastor. Algo assim como uma briga entre irmãos. Isso motivou mais um discurso que tivemos que ouvir sobre educação, boas maneiras etc. Como crianças de uma escola interna que precisam seguir as rígidas regras de disciplina de seus tios e tias. Lamentável constatar que, na verdade, o que os organizadores queriam mesmo era comprar o nosso silêncio.

Mas quem foi apenas em busca de turismo não decepcionou-se. Além da hospedagem em hotéis confortáveis, tínhamos todas as noites jantares em uma aprazível estância-fazenda chamada La Redención, para onde éramos transportados em modernos ônibus refrigerados. Lá, tínhamos oportunidade de conversar com os outros irmãos, ouvir histórias e algumas pérolas, como a de uma irmã que dizia estar clamando a Deus para pesar a mão sobre os hereges, enquanto saboreava a comida oferecida por eles mesmos. Nesses jantares, os organizadores programaram números musicais, com cantores evangélicos que aproveitaram a oportunidade para soltar a voz - além, é claro, de vender uns disquinhos e agendar apresentações.

Na véspera de - nossa partida, fomos brindados com um passeio a Punta del Este, para conhecer o mais famoso balneário uruguaio. Nesse clima mais descontraído, pudemos trocar impressões sobre tudo o que tínhamos visto e ouvido. Conversei com uma pessoa que ficou mais tranqüila quando eu lhe disse que estava achando um absurdo as doutrinas de Moon. Ela me confidenciou que tinha pensado que eu era um de seus discípulos e estaria infiltrada entre os irmãos. Ser confundida com uma espiã de Moon foi menos chocante do que perceber, aqui e ali, alguns evangélicos comentando que as coisas faladas não eram tão feias assim e que talvez até fosse possível trabalhar junto com eles. Tive a impressão de que o ecumenismo defendido pelos adeptos do Movimento da Unificação não é uma coisa tão utópica quanto parece. E que, lamentavalmente, alguns crentes estão se deixando levar por aquele canto da sereia. Nem que para isso seja preciso levá-los para um outro país e sustentá-los por uma semana. É assim que se adestram as consciências.


Jaqueline Rodrigues é professora de Literatura, membro da Igreja Missionária Evangélica Maranata e foi ao Uruguai disposta a denunciar a estratégia de Moon.



Extraído Denúncia. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 6, p. 18-19, abr. 1996.

Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...