sexta-feira, 1 de março de 1996

O bolinho dos poderosos

Guefilte fish, delícia da cozinha judaica, simboliza liderança

Por Ester Roisenberg

Fotos: Frederico Mendes

guefilte
O guefilte fish deve ser servido frio, como entrada ao prato principal

GÊNESIS 1.26 é o primeiro versículo bíblico que fala em peixe. Ao longo de toda a Escritura, mais de 50 vezes o peixe é mencionado, predominando no Antigo Testamento. Através de peixe, muitos milagres foram realizados, como o do profeta Jonas. Yeshua (Jesus, em hebraico) por diversas vezes se utiliza do peixe para fazer milagres e comunicar maravilhosas mensagens. Em Mateus 4.19 diz: "Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens." Além dos significados religiosos, na culinária judaica o peixe é uma constante. O peixe com cenouras - guefilte fish - é dos mais conhecidos, simbolizando liderança e fertilidade. O guefilte fish ao molho rein da receita abaixo, ao ser saboreado, poderá ser um verdadeiro sonho para você. Bom apetite!

Ingredientes (para 30 bolinhos)

MASSA

1/2 kg de filé de pescadinha
1/2 kg de filé de dourado
1 cabeça de peixe
2 fatias de pão (após ficar de molho em 1/2 copo d'água)
2 ovos inteiros
2 cenouras
4 cebolas pequenas
1 colher de chá de sal
1 colher de sobremesa de açúcar
pimenta do reino a gosto

Modo de preparar

Passar na máquina de moer: os filés de peixe, as fatias de pão e as duas cebolas pequenas. Acrescentar na massa os ovos inteiros e temperar com uma colher de sal, uma colher de açúcar e a pimenta. Fazer bolinhos (não pequenos) com essa massa. Colocar numa panela com cerca de dois litros d'água (ou o suficiente para cobrir os bolinhos), as duas cenouras, as outras duas cebolas em rodelas inteiras e a cabeça de peixe. Quando a água começar a ferver, colocar na panela os bolinhos, um a um. Temperar a água fervente com um pouquinho de sal, açúcar e pimenta. Deixar cozinhar por uma hora e meia. Depois de pronto, retirar os bolinhos e enfeitar com as cenouras cozidas em rodelas.

MOLHO REIN

3 beterrabas
2 colheres de sopa de vinagre branco
3 colheres de mostarda
1 colher de chá de açúcar
1 colher de raiz forte ou nabo ralado
sal e pimenta do reino a gosto

Modo de preparar

Cozinhar as beterrabas com casca. Descascar e passar no liquidificador, misturando os demais ingredientes. Os bolinhos são servidos frios, com o molho rein, como entrada.

A incrível paz de Deus (parte 1)

Por George R. Foster

Em meio às pressões do cotidiano há uma promessa para nossos corações

O nosso mundo parece uma panela de pressão, com os grandes problemas mundiais cada vez mais próximos. As guerras atacam os nossos nervos, a fome nos persegue nas revistas e telas de tevê, a superioridade tecnológica das grandes corporações ameaça nossas chances no mercado de trabalho. Gravidez na adolescência, aborto e doenças sexualmente transmissíveis podem estar a apenas um encontro mal escolhido dos nossos filhos. Muitos dos políticos eleitos servem a si próprios, ao invés de servirem à nação. Não é de espantar que estejamos emocionalmente angustiados. Mas, a Palavra de Deus nos promete paz, mesmo em tempos difíceis.

SEMPRE ALEGRE - A paz é uma grande palavra de três letras. Jesus orou para que tivéssemos a sua paz. Neemias disse "Os anjos anunciaram bodas de felicidade para todas as pessoas." Tiago aconselhou: "Considere como pura felicidade quando você enfrentar tribulações." Mas, o que é felicidade? Uma emoção a ser procurada? Uma virtude a ser cultivada? Um sentimento que vem quando as circunstâncias estão corretas? Tem que ser mais que um sentimento, porque eu nunca encontrei um versículo que nos ordenasse como sentir. Paulo não disse sinta-se feliz, mas "assuma uma atitude de felicidade; alegre-se em Deus e tenha fé; deixe todas as circunstâncias, boas ou más, serem uma razão para você se alegrar". Deus não pede para nos alegrarmos em função das circunstâncias. Ele ordena que nos alegremos em todas as circunstâncias. Ao invés de deixarmos os nossos humores mudarem conforme os acontecimentos, devemos ver Deus acima e até por trás deles.

MODERAÇÃO COM TODOS - A maioria dos nossos problemas tem rostos e nomes. Nós nos preocupamos com as pessoas. Será que nos notam, gostam de nós, nos respeitam, nos aceitam, falam de nós, estão nos gozando? E sobre nós? Será que estamos tratando as pessoas da maneira como gostaríamos de ser tratados? Somos amáveis e gentis? Deus disse "Nunca te deixarei nem te desampararei. De maneira que digamos com confiança: O Senhor é quem me ajuda, não temerei o que possa me fazer o homem."

"Aquele que teme o homem, depressa cairá: o que espera no Senhor será levantado" (Pv 29.25). Desentendimentos e conflitos provavelmente ocorrerão, mas eles não têm de destruir relacionamentos. Que amizade maravilhosa, quando concordamos que podemos não concordar e continuar unidos uns aos outros em amor.

Aos tessalonicenses, Paulo escreveu: "Mas fizemo-nos dóceis no vosso meio, como uma mãe que anima a seus filhos" ( 1 Ts 2.7). A mansidão é necessária em relacionamentos saudáveis e para a -unidade do Corpo de Cristo. "Com toda a humildade, e mansidão, com paciência, suportando-vos uns aos outros em amor. Trabalhando cuidadosamente por conservar a unidade de espírito pelo vínculo da paz" (Ef 4.2-3).

A mansidão não vem naturalmente para alguns de nós, mas a nossa resposta a essas palavras da Bíblia deve ser um compromisso de ser manso e de confiar que a graça de Deus irá nos transformar. Quando praticamos a mansidão evitamos as situações emocionais que provocam tanta angústia em nós e naqueles que se relacionam conosco.

SEM PREOCUPAÇÕES - Ficar preocupado é natural, uma reação automática, e involuntária às ameaças e problemas da vida. Normalmente nem percebemos que estamos preocupados. Em Cristo não temos nada com que nos preocupar, mas nos preocupamos com o nada. O que é preocupação? A primeira definição para "worry" (preocupação, em inglês) do Random House Dictionary é: "atormentar-se com pensamentos perturbadores". A segunda é interessante: "atacar com os dentes, balançando e sacudindo como os animais fazem". Isso descreve muito bem o que fazemos com as coisas que nos preocupam. Nós saboreamos, para ver que gosto tem, mesmo antes de acontecer. A verdadeira pergunta é: quem está mordendo quem?

Quando alguém lhe diz para não se preocupar, você geralmente responde: "Eu tento não me preocupar." Paulo não sugere que nós tentemos, ele simplesmente diz: "Não se preocupe com nada." Lembremo-nos de Jesus: "Não se preocupe com o que vestir, comer, ou com o amanhã." Preocupação não é somente se preparar hoje para as situações que irão acontecer amanhã. Preocupar-se é ser atormentado por coisas que podem nem mesmo acontecer, ou que provavelmente não serão tão ruins quanto se imagina. A preocupação é o medo na sua forma mais comum e duradoura. O psicólogo Bill Backus diz em seu livro Telling yourself the truth (Dizendo a verdade a si mesmo): "Sentimentos dolorosos persistentes são contrários à vontade de Deus. Ele não quer que seus filhos sofram depressão, preocupações e crises de ira." Para combater a preocupação, a ansiedade, a ira e outras emoções destrutivas, Backus diz que devemos prestar atenção à nossa voz interior. Ele prescreve uma fórmula efetiva: localizar a falta de fé nos pensamentos; argumentar contra essa falta de fé; trocá-la pela verdade de Cristo.

O apóstolo Paulo tinha muitas razões para se preocupar. Enquanto as igrejas com problemas procuravam pela sua liderança, ele estava na prisão. Porém, estava determinãdo a olhar para o lado positivo das coisas, em um tremendo exercício de fé. Nós somos responsáveis pelas coisas que estão sob o nosso controle, mas devemos deixar tudo o que foge ao nosso controle para o Senhor.

Por que temos de nos preocupar, se Ele controla tudo? Temos de tomar uma posição radical de seguir a Palavra de Deus e acreditar em suas promessas: "Remetendo a Ele todas as vossas inquietações, porque Ele tem cuidado de vós" (1 Pedro 5.7). Não é suficiente decidir não se preocupar. Temos de trocar a nossa preocupação por fé e oração.


O pastor George R. Foster é escritor da Missão Evangelistica Betânia na América do Sul.
Tradução de Erick Mathias.
A segunda e última parte deste estudo bíblico será publicada na próxima edição.


Extraído: Estudo. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 54 e 55, mar. 1996.

A graça de ouvir

Por Reverendo Ricardo Barbosa de Souza

Ilustração: Renato Ratencourt/Anware

"As palavras dos sábios, ouvidas em silêncio, valem mais do que os gritos de quem governa os tolos"
(Eclesiastes 9.17)

Recentemente, lendo um livro, deparei-me com uma afirmação que levou-me a parar e refletir. Dizia assim: "Quando o homem ouve, Deus fala. Quando o homem obedece, Deus age... Não somos nós que falamos a Deus, é Deus quem fala a nós. A lição mais importante que o mundo necessita é a arte de ouvir Deus." O silêncio é uma das virtudes cristãs que perdeu seu significado na cultura evangélica contemporânea.

Falar sobre silêncio e contemplação para nossa sociedade moderna parece um contra-senso. Hoje, o que define a espiritualidade de um cristão é a agenda repleta de compromissos que o ocupem o dia todo com reuniões, trabalhos evangelísticos, pregações, visitas etc. As igrejas não desejam como líder um pastor que passe algumas horas do dia recolhido em silêncio e oração. Quase sempre procuram alguém dinâmico, cheio de novas idéias, sempre pronto a mobilizar a igreja para grandes empreendimentos e que não desperdice seu tempo com atividades não produtivas. Nossos cultos e nossa vida religiosa precisam ser preenchidos de forma a não deixar espaços vazios, pois o silêncio para o homem moderno atua como uma presença inoportuna que insiste em denunciar nossos fracassos. Não há nada mais constrangedor num culto ou reunião de oração do que os espaços vazios entre uma oração e outra. Se estes espaços não são preenchidos rapidamente por orações ou cânticos, serão por gritos de aleluia. Richard J. Foster diz que "na sociedade contemporânea, nosso adversário se especializa em três coisas: ruído, pressa e multidões. Se ele puder manter-nos ocupados com a grandeza e a quantidade, descansará sara satisfeito". A televisão, o rádio, o toca-fitas transformaram-se nos amigos dos homens solitários. Necessitamos de algum ruído, de movimento, de grandes projetos para nos sentirmos vivos.

"O caminho de volta para o coração, de encontro com a alma, só pode ser trilhado através do silêncio e da contemplação. Ouvir o veredicto de Deus o nosso respeito exige o silenciar de outras vozes para ouvir apenas Sua voz."

Um dos testemunhos mais antigos sobre o lugar e importância do silêncio na vida cristã vem dos escritos de Inácio de Antioquia, um contemporâneo do Novo Testamento. Ele dizia que é melhor permanecer quieto e ser, do que ter fluência e não ser. Para ele, os três maiores eventos na história da salvação = o nascimento virginal, a encarnação e a morte de Cristo - deram-se num profundo silêncio de Deus. Os escritos dos Pais do Deserto do quarto e quinto séculos estão repletos de admoestações sobre o valor do silêncio. "Deus é silêncio", dizia João, o Solitário, monge sírio do século quinto. Durante toda a vida da Igreja, o silêncio sempre ocupou um lugar fundamental na espiritualidade cristã. Tomás Kempis escreveu: "No silêncio e na quietude, a alma devota faz progressos e aprende os mistérios escondidos nas Escrituras."

O silêncio para os Pais do Deserto não significa apenas o não falar, mas também uma postura diante de Deus e de nós mesmos. É um silêncio que nos habilita a ouvir, meditar e contemplar as obras e mistérios de Deus. Eles diziam: "Um homem pode parecer silencioso, mas, se em seu coração, está condenando os outros, está falando sem cessar." Na meditação esotérica, o silêncio é uma tentativa de esvaziar a mente, enquanto que o silêncio na contemplação cristã é uma tentativa de esvaziar a mente dos pensamentos humanos e enchê-la com os pensamentos de Qeus. "O silêncio é muito mais do que a ausência da fala. Essencialmente, silêncio é ouvir." O Salmo afirma: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus" (Salmos 46.10a). O profeta também fala: "O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra" (Habacuque 2.20). O silêncio e a contemplação na tradição cristã são a postura que assumimos diante de Deus para ouvir-lhe a voz. Os cristãos ortodoxos entenderam melhor esta necessidade do coração e da alma e desenvolveram, ao longo da história, uma forte tradição contemplativa. Para eles, a oração é muito mais uma questão de ouvir do que de falar. Ao invés de apresentar a Deus a lista de supermercado com súplicas e gratidão, eles procuram aguardar em silêncio para ouvir o que Deus tem a dizer e então respondem em oração. Para eles, o grande exemplo de oração na Bíblia é Maria, mãe de Jesus, que apenas respondeu: "Eis aqui a serva do Senhor, que se cumpra em mim segundo a Sua vontade" (Lucas 1.38). Oração é a nossa resposta à proposta e chamado de Deus. A primeira palavra é sempre de Deus, a nós cabe a resposta.

O apóstolo Paulo afirma que somos o templo do Espírito Santo, o lugar da sua morada. Ele está em nós e vive em nós. Por que, então, será que muitos cristãos hoje não gozam da vida do Espírito? Será que é apenas pelo fato de que ainda não o experimentaram plenamente? Pode ser. Mas imagino que a grande dificuldade que muitos cristãos hoje enfrentam na sua vida espiritual não é a necessidade de mais experiências, mas de se voltarem para dentro da alma e do coração para, de fato, conhecerem o Deus que habita ali. Teresa de Ávila dizia: "Aquieta-te em silêncio e encontrarás o Senhor em ti mesmo." Só não ouvimos a voz de Deus porque estamos por demais inquietos e com o coração cheio de muitas vozes.

Para João da Cruz, o silêncio leva-nos a uma crise purificadora. No seu livro A noite escura, onde descreve seu deserto pessoal, afirma que o sofrimento liberta-nos da dependência dos resultados exteriores. Tornamos nos cada vez menos impressionados com a religião dos grandes acontecimentos, dos templos, dinheiro, milagres etc. para nos preocuparmos com aquilo que de fato necessitamos.

Este caminho de volta para o coração, de encontro com a alma, só pode ser trilhado através do silêncio e da contemplação. Ouvir o veredicto que Deus tem a nosso respeito exige o silenciar de outras vozes e ruídos para ouvir apenas a voz de Deus. A prática do silêncio é evitada porque é através dela que os fantasmas da alma, medos e angústias que vivem nos esconderijos do coração, surgem com todo seu poder e terror. Mas é através do silêncio que encontramos o poder de Deus, que faz sucumbir os fantasmas e os medos e renova em nós a alegria da paz e comunhão íntima com o Senhor. Para João Cassiano (385-435), a libertação dos impulsos frenéticos que freqüentemente nascem das nossas inquietações interiores é que nos conduz a uma verdadeira e livre comunhão com Deus e os homens.


Ricardo Barbosa de Souza é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília (DF).


Extraído: História. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 52 e 53, mar. 1996.

Epístola do leitor


Edição 4

Sertão
"Moro no sertão de Pernambuco e, graças a esta revista, sou informada de tudo que se passa no meio evangélico de nosso país."
Maria Adelaide Torres - Cabrobó (PE)

Caiuás
"Fiquei maravilhada ao ver publicada, na segunda edição da revista Vinde, a matéria sobre os índios da tribo Caiuá, onde nossa igreja realiza um trabalho tão lindo e difícil. Fiquei especialmente feliz por perceber que torna-se realmente público algo de que já tínhamos conhecimento: a Missão Caiuá e as barreiras do inimigo. Um de nossos presbíteros, Hypérides Zorzella, tesoureiro da Missão, sempre pede orações devido a tantas dificuldades, como foi muito bem abordado pela revista. (...) Parabéns e muito obrigada!"
Tânia Bueno de Souza - São Paulo (SP)

Intervencionismo
"O pastor Jimmy Swaggart (entrevista da edição de janeiro) bem que poderia ternos poupado de frases como: 'Vamos reconhecer que os EUA, como nação evangélica, devem influenciar o mundo.' Ora, esta afirmação de que os EUA são uma nação evangélica é discutível, principalmente no sentido que a palavra evangélica tem para os brasileiros, e a influência evangélica que ele defende parece que não tem a ver com a pergunta do repórter. A influência de Bill Clinton e de outros presidentes norte-americanos tem, isso sim, um caráter policialesco, intervencionista, de resultados quase sempre duvidosos, vide o caso do Panamá (para citar um exemplo recente) ou do Vietnã."
Judith Ramos - São Paulo (SP)

Horizontes
"A revista Vinde veio para ficar e ampliar os horizontes da igreja evangélica brasileira, acostumada a uma existência inexpressiva no cenário nacional. (...) A revista cobre o Brasil e alarga as tendas para o exterior. Parabéns pela brilhante iniciativa! conosco."
Pastor Alfred Pauls, presidente da Associação das Igrejas Menonitas do Brasil - Curitiba (PR)

Ti-ti-ti
"A revista Vinde deve assumir uma postura de total imparcialidade, evitando ao máximo o ti-ti-ti bastante característico da política neste país, evidenciado no artigo As Doze Marcelladas (edição de dezembro). Não gostaria de ver tão conceituado veículo de informação transformar-se numa espécie de partido dos coitadinhos perseguidos."
Pedro Schreber - Rio de Janeiro (RJ)

Políticos
"Parabéns pela reportagem de Jorge Antônio Barros sobre como atuam os evangélicos no Congresso (edição de janeiro). A comunidade evangélica" tem-se comportado com muita ingenuidade em relação aos políticos evangélicos. (...) 99% dos evangélicos são trabalhadores que sobrevivem com mísero salário. (...) Está na hora de os parlamentares evangélicos, em sua maioria, deixarem os banqueiros, latifundiários e empreiteiros e ficar do lado dos pobres."
Luis Cavalcante, diretor do Movimento Evangélico Popular Socialista - Osasco (SP)

Saúde
"Sou enfermeira e gostaria que a revista Vinde abrisse um espaço para reportagens sobre saúde no país e no mundo. (...) Aqui em minha cidade é um corre-corre para se conseguir comprar a revista."
Mônica Cabral - Macéio (AL)

Julgamento
"Fiquei muito triste com a matéria Os santos do pau oco (edição de janeiro). Sou evangélica e há muitos anos acompanho os trabalhos da Igreja Universal. (...) Essa igreja foi levantada por Deus nesses últimos dias justamente para atender os mais carentes e infortunados. (...) Acho que a revista se precipitou no julgamento."
Doroti Mitéro - São Paulo (SP)

Demora
"Lendo a revista VINDE, pergunto a mim mesmo: por que demorou tanto tempo para termos uma revista assim?"
Paulo Francisco Siqueira - Fortaleza (CE)

Nill
"Gostaria de pedir-lhes que publicassem uma entrevista com o cantor Nill, ex-integrante do grupo Dominó. Estou muito interessada em saber quais são os seus projetos para o ano de 1996."
Luciene Krauser - Curitiba (PR)

Atletas
"Gostei muito da edição número 3 e quero salientar que a coluna Atletas de Cristo, a respeito dos bad boys, está impecável."
Júlio César Savani - Guarulhos (SP)

Cartas para esta seção devem ser enviadas para:
Revista VINDE
Redação, Atendimento ao Leitor,
Rua Luís Leopoldo Femandes Pinheiro, 604 - 100 andar - Niterói, RJ - 24030-122


Extraído Epístola do Leitor. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 11, mar. 1996.

Oração de mãe não se engana

Mulheres de todo o Brasil se organizam para interceder pelos filhos

Teresa Cristina Abreu

Fotos Divulgação

Carlos Fernandes

Um ditado antigo diz que "por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher". Machista? Num tempo em que as mulheres estão disputando, cabeça a cabeça, todos os espaços antes exclusivos dos homens, a idéia de atuar nos bastidores pode parecer bastante antipática. Mas o projeto Desperta, Débora não tem nada de competitivo. Trata-se de uma convocação para que 25 mil mães de todas as denominações evangélicas estejam formalmente comprometidas em orar diariamente, durante 15 minutos, por seus próprios filhos, pelos amigos de seus filhos e pelos filhos de suas amigas.

A proposta do projeto baseia-se em Jeremias 35.3. A coordenadora nacional do projeto, Ana Maria de Souza Pereira da Silva, acredita que este é um momento estratégico na história da juventude brasileira. "A pressão do sexo, das drogas e da falta de compromisso com Deus é intensa sobre crianças, jovens e adolescentes. Temos visto, através da TV e na própria escola, a influência maligna escancarada contra nossos filhos. Eles precisam de uma grande cobertura de oração", analisa.

MÃES QUE ORARAM - A necessidade de despertar as mães para uma cruzada de intercessão se manifestou em Seul, na Coréia, durante a Consulta Geral de Evangelização Mundial - GCOWE '95, encontro internacional de pastores e líderes promovido pelo Movimento AD 2000, cujo lema é "Uma igreja para cada povo, e o Evangelho para cada pessoa até o ano 2000". No Brasil, o projeto foi encampado pela Mocidade para Cristo - MPC -, que já atua há 43 anos na evangelização de jovens e adolescentes.

O coordenador da Rede de Líderes Denominacionais do Movimento AD 2000, pastor Jeremias Pereira da Silva, garante que "ninguém ora por filho ou filha como as mães oram", e lembra a influência do juiz Samuel por causa das orações de sua mãe Ana; o ministério frutífero de Timóteo, devido à poderosa intercessão da avó Loide e da mãe Eunice; a luta de Débora, chamada "mãe de Israel", pela restauração de sua nação; e a eficácia do clamor da mãe de João Wesley, um dos maiores evangelistas de todos os tempos, entre outros.

A rede de oração Desperta, Débora pretende manter orações diárias e reuniões mensais até junho de 1997. A primeira reunião aconteceu em junho do ano passado, em Belo Horizonte (MG), com a presença de cerca de 500 mães. Segundo Ana Maria, no mês de janeiro o projeto já era atuante em 20 estados brasileiros, contando com, pelo menos, sete mil mães cadastradas. O alvo dessas Déboras é impactar cerca de 50 mil jovens brasileiros com a mensagem do Evangelho, levando-os a assumir compromissos com Deus para alcançar esta geração. Quem desejar fazer parte deste ministério deve entrar em contato com Ana Maria de Souza Pereira da Silva pela caixa postal 1508, CEP 30161-970, Belo Horizonte, Minas Gerais, ou pelo telefone (031) 442-9476.

Pastor Nilson Fanini: Governo encerrou briga entre Globo e Record

Líder mundial dos batistas revela interferência do Planalto na 'guerra santa'

Marcelo Dutra e Omar de Souza

Fotos de Frederico Mendes

Carlos Fernandes
Duas semanas antes das acusações lançadas pelo O Globo, o pastor Fanini garantia que era o principal acionista da TV Record Rio

Pouca gente percebeu a trégua que houve entre as TVs Globo e Record depois de meses de confronto. Numa entrevista exclusiva concedida à revista VINDE, no início de janeiro, em Niterói, o pastor Nilson do Amaral Fanini deu pelo menos uma pista para explicar a repentina paz. Fanini revelou que a guerra santa acabou por influência direta do governo, que deu um basta aos ataques mútuos numa reunião com diretores das emissoras. "Houve uma ordem da presidência da República para que se fizesse uma reunião com a diretoria das redes Globo e Record no sentido de forçar uma parada nas denúncias de um lado e de outro, pois estavam indo longe demais", afirmou o pastor Fanini.

O pastor paranaense Nilson Fanini, 63 anos, tornou-se o primeiro brasileiro a ocupar a presidência da Aliança Batista Mundial, entidade que representa os mais de 100 milhões de batistas do planeta. Como evangelista, já pregou em 87 países. Além de pastorear há 31 anos a Primeira Igreja Batista de Niterói, também preside o Reencontro, organização assistencial que atende milhares de pessoas de Niterói e municípios vizinhos. O programa do mesmo nome que comanda é um dos mais antigos evangelísticos de TV em rede nacional. Recentemente, teve o nome cogitado para uma eventual candidatura a presidente da República.

Mas a este impressionante e elogiável histórico de vida juntou-se, no fim de janeiro, um episódio extremanente confuso: uma reportagem do jornal O Globo acusa o pastor Fanini de ter vendido 51% das ações da TV Record Rio de forma irregular. Esta acusação contradiz as informações anteriormente prestadas pelo líder batista. Na entrevista à VINDE, duas semanas antes, ele garantia ser ainda acionista majoritário. Procurado depois pela nossa reportagem para contar sua versão, o pastor Fanini não respondeu até o fechamento desta edição, em meados de fevereiro.

O que significa para a igreja evangélica brasileira, e mais especificamente para a denominação batista, o fato de o senhor ter sido eleito presidente da Aliança Batista Mundial?

Foi uma escolha divina. É uma honra muito grande para mim e para o país ter um brasileiro à frente de 200 pastores que representam, por sua vez, várias nações da Terra, num trabalho que reúne mais de 100 milhões de cristãos.

Como ocorrem as eleições para a escolha de um novo presidente da ABM?

Para cada mandato elege-se o representante de um continente diferente. O meu vai de 1995 até o ano 2000. Nas próximas eleições, tudo indica que o presidente será da África. Ele precisa ter um certo currículo. Deus vinha me preparando. Já preguei em 87 países, o que me tornou bastante conhecido no mundo como evangelista. Na minha posse, em Buenos Aires, desafiei os representantes das 128 nações a dobrar o número de batistas na Terra até o ano 2000. Ou seja, o objetivo é atingirmos 200 milhões de pessoas, 500 mil igrejas e 72 mil universidades e colégios em toda a Terra.

Conjectura-se que o senhor pode vir a se candidatar à presidência da República. Como surgiu isto?

Houve essa passeata muito grande (promovida pela Igreja Universal do Reino de Deus), com 1 milhão de pessoas em todo o país, e alguém citou meu nome. A imprensa diz que, dessa vez, foi o Laprovita (Vieira, deputado federal), mas ele nem me consultou. O resultado é que fui procurado por diversos jornais do país e tive que me declarar contrário à idéia. Talvez amanhã Deus queira, mas, no momento, já me deu uma tarefa muito grande.

Carlos Fernandes
"Fui procurado pelos jornais e me declarei contrário à idéia de ser presidente da República. Talvez amanhã Deus queira, mas não no momento."

Pesquisas indicam que os evangélicos brasileiros estão decepcionados com a atuação dos seus representantes políticos. O que o senhor acha?

Igreja é uma coisa, política é outra. A igreja não pode ser palanque nem partido político. Agora, que a política precisa de sal e luz, é uma realidade. É uma decepção dupla: quando se elege uma pessoa e ela falha, ela falha como cidadão e como crente.

As obras assistenciais do Reencontro já existem há 20 anos. Como está este trabalho atualmente?

Me baseio na mensagem que Deus colocou no meu coração: que Jesus ia de cidade em cidade pregando, ensinando e curando. Baseado nesse tema, pregando o Evangelho total para o homem total, o Reencontro marcha. Com isso, hoje temos 29 especialidades clínicas, 56 médicos, 22 dentistas, enfermeiros que já perdi o número e assistentes sociais. Em 1995 atendemos quase 120 mil pessoas. Temos também as cruzadas no Brasil e no mundo, programas de rádio e televisão e também a Liga Bíblica, que já distribuiu 18 milhões de novos testamentos.

O programa começou durante o regime militar. Houve problemas com censura?

Me censuravam, não deixavam falar muitas coisas, mas nunca tive problemas sérios.

Como foi o processo para conseguir a concessão da TV Rio na década de 80?

Eu e o Arolde de Oliveira (deputado federal), então diretor do Dentel, fizemos uma empresa e começamos a concorrer com muitos pretendentes, entre eles o Jornal do Brasil, a Editora Abril e o Paulo Maluf. O Leitão (de Abreu), chefe de gabinete do presidente Figueiredo, sugeriu que se desse a concessão para "um pastor que tem aí, que ele não vai botar no ar mesmo". Aí, ele me deu. Só que, com a ajuda de Deus, eu botei no ar. Sem um tostão da igreja, do Reencontro ou de qualquer evangélico. O dinheiro veio da minha família, que é dona da Kepler-Weber S.A.

Seria a primeiro emissora evangélica do país?

Inicialmente nós tentamos, mas depois descobri que uma televisão no Brasil, principalmente em VHF, não consegue sobreviver só com programação evangélica. Eu estava sempre no vermelho. Mas depois que entrou em rede. o custo foi dividido.

Foi assim que a TV Rio acabou se tomando Rede Record?

O nome é fantasia. A razão social é Rádio Difusão Ebenezer Ltda. O nome fantasia pode ser mudado a qualquer momento. Para fazer a rede, ficou Record Rio.

O senhor ainda tem ligações com a TV Rio?

Detenho ainda 51% das ações e estou negociando a venda para um grupo de 6 empresários, que detêm os outros 49% das ações. Portanto, é necessário que eu assine centenas de cheques pela empresa, pois ainda sou sócio majoritário.

Os mesmos que detêm o controle da emissora no restante do Brasil?

Do lado da Rede Record, não sei dizer. Sei que a TV Rio tem um contrato de filiada com a Rede Record. A programação é selecionada por nós. O que eu quero dizer é que está-se cumprindo hoje a finalidade para a qual eu a criei, ela está glorificando e defendendo o nome de Deus.

Na época em que a Record foi comprada em São Paulo falou-se em 45 milhões de dólares. Este é o preço de uma emissora de TV?

A Record de lá é outra coisa completamente diferente. Aqui é outra empresa, não tém nada a ver com a Record de São Paulo.

Como presidente da Aliança Batista Mundial, o senhor é remunerado?

Boa pergunta. É bom que se diga que não recebo um tostão da ABM, eles só me ajudam com as passagens. É tudo por amor ao Evangelho.

A que o senhor atribui o crescimento dos evangélicos no Brasil nos últimos anos?

Hoje o crescimento dos evangélicos é duas vezes e meia mais rápido do que o da população brasileira. Não é só quando Caio Fábio, Fanini, Billy Graham enchem o Maracanã. Hoje o que vale é essa garra, esse exército de irmãozinhos e irmãzinhas que fazem reuniões nos colégios, nas fábricas, nas Forças Armadas. E mais: a mídia. Hoje nós temos boas emissoras de rádio e de televisão evangélicas.

O senhor acredita que o crescimento quantitativo foi acompanhado de crescimento qualitativo?

Sim e não. Há muitas igrejas por aí que não estão batizando. Em outras falta espiritualidade. Além disso, a liderança tem que estar cada vez melhor preparada. O pastor tem que ser quase um super-homem, visitar, pregar, evangelizar etc. Mas, na maioria dos casos, está havendo, graças a Deus, um bom crescimento.

Carlos Fernandes
"Uma pessoa me ligou do Planalto contando que o presidente queria uma reunião entre diretores da Globo e Record. Estavam indo longe demais."

Os escândalos atuais envolvendo líderes da Igreja Universal do Reino de Deus são resultado desse crescimento quantitativo sem o devido preparo qualitativo?

Neste caso há uma guerra empresarial, não religiosa. São duas redes que estão lutando por espaço. Recebi um telefonema há poucos dias do Palácio do Planalto. A pessoa me pedia para orar pela situação e me contou que houve uma ordem direta da presidência da República para que se fizesse uma reunião com a diretoria das redes Globo e Record no sentido de forçar uma parada nas denúncias de um lado e de outro, pois estavam indo longe demais. E esta reunião foi realizada.

Esta reunião foi com o próprio Ministro das Comunicações, Sérgio Motta?

Não posso declarar. Mas orei a Deus para que cultivássemos o valor religioso das mensagens da Record.

Como o senhor analisa os escândalos envolvendo os evangélicos no Brasil e no mundo por conta dos métodos da IURD?

Não me cabe criticar. A Igreja Universal tem tirado 6 milhões de pessoas das garras do diabo, e nisto realiza um grande trabalho. Agora, é uma igreja adolescente. Está formando a doutrina, a teologia, os pastores. É natural que algumas coisas aconteçam. Tem coisas que eu fazia na minha adolescência e não faço mais hoje. Houve um momento em que a Associação Evangélica Brasileira se manifestou contrária aos métodos da Universal.

A cúpula da IURD reagiu com um documento contendo a assinatura de vários pastores, inclusive do senhor. Qual o motivo de seu apoio?

Era uma questão de liberdade religiosa. A Universal tem direito à liberdade. Aquilo foi Nilson Fanini quem assinou, não foi o presidente da Aliança. A Igreja Batista não tomou partido, nem para um lado nem para o outro.

O senhor crê que esteja havendo uma perseguição contra a igreja evangélica?

Ultimamente estão perseguindo muito os evangélicos. Quando, por exemplo, um deputado católico ou espírita faz umas e outras, nunca se diz que ele é católico ou espírita. Mas quando é um evangélico, dizem até a qual igreja pertence. Isso é discriminação e é inconstitucional.

Enfim, como o senhor se posiciona em relação à IURD?

Eu admiro o trabalho fantástico que a Igreja Universal faz, mas com algumas coisas não concordo, como talvez eles não concordem com algumas coisas da minha igreja. Discordo dos métodos da IURD, mas devemos respeitar um ao outro.


Extraído Entrevista. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 6, mar. 1996.

Uma viagem no tempo

Carlos Pinheiro Queiroz

Carlos Fernandes
A Terra Santa confere aos neoperegrinos uma nova visão da Bíblia

Conhecer Israel é quase sempre um velho sonho de quem aprendeu na Bíblia a amar a história de um povo muito especial para Deus - o povo judeu. Com o editor-chefe de VINDE, Jorge Antonio Barros, não poderia ser diferente. Enviado especial à Terra Santa para cobrir uma das mais concorridas excursões lideradas pelo reverendo Caio Fábio, Jorge realizou o velho sonho, de conhecer a terra por onde Jesus andou, operou milagres, foi crucificado e ressurgiu dentre os mortos, há dois mil anos.

Como em Israel a emoção fica à flor da pele até para o mais insensível cristão, o repórter foi em busca das melhores histórias de gente que vai à Terra Santa em busca de uma bênção divina. De gente simples como a empregada doméstica Felipa Vieira - que vendeu lote e telefone para viajar, e mal sabia que Jerusalém fica em Israel - a gente viajada como a professora aposentada Obédia que cumpriu sua sétima peregrinação a Israel e o político Francisco Rossi, convertido ao Evangelho; que no Depoimento deste mês revela que pretende ser candidato à prefeitura de São Paulo, pelo PDT.

Outra revelação deste número foi feita pelo presidente da Aliança Batista Mundial, pastor Nilson do Amaral Fanini, aos repórteres Omar de Souza e Marcelo Dutra. Fanini contou, em entrevista exclusiva, que o governo de Fernando Henrique deu um basta à "guerra santa" entre a Record e a Rede Globo. Os diretores daquelas emissoras foram obrigados a sentar na mesma mesa e aceitar uma trégua.


Extraído Epístola da Redação. Revista Vinde, Rio de Janeiro, ano 1996, a. 1, ed. 5, p. 3, mar. 1996.

Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...