quinta-feira, 8 de fevereiro de 1996

E o sucesso, o que é?

Por Alex Dias Ribeiro

James Hunt: depois do sucesso,
a decadência, o alcoolismo e a depressão

A bandeira quadriculada, agitada pelo diretor da prova, decretava o fim da classificação para o GP da Inglaterra de Fórmula 1 de 1977. Completei a volta de desaceleração e parei no box, o coração a mais de 150 batidas por minuto e a cabeça a mais de mil, de tanta raiva. Meu March 771 era tão ruim que fui dois segundos mais lento que a McLaren de James Hunt, o pole-position. Dentro da distância dos dois segundos que me separavam de Hunt, estavam outros 25 pilotos e fui eliminado da corrida. O sucesso se mede em milímetros ou em milésimos de segundo, mas a diferença que ele faz na vida de quem o alcança ou deixa de alcançá-lo é enorme em termos de resultado esportivo, econômico, promocional e de realização pessoal e profissional.

Olhando para a vida dos atletas, artistas e políticos de sucesso, pode-se defini-los como vencedores, donos de muita grana, aqueles que têm a cara na TV, uma ou mais mulheres bonitas, dirigem carro último tipo, dão autógrafos, são estrelas. Se você observar a falta de um sorriso sincero no rosto dos que alcançaram todo o sucesso e a glória do mundo, vai perceber que eles não conseguiram a tal da felicidade que esperavam. Muito pelo contrário, o sucesso custou-lhes a perda da privacidade, aflição de espírito, medo e desconfiança de tudo e todos.

A PERSPECTIVA DIVINA - Pedro pregou um sermão poderoso no Dia de Pentecostes e ganhou 3 mil para o time de Cristo. Estêvão pregou um sermão muito parecido e morreu soterrado pelas 3 mil pedradas que ganhou. Qual dos dois teve sucesso? Sucesso para Deus é cumprirmos a vocação histórica que Ele nos deu. É executarmos uma missão intransferível no Seu reino. Tem mais a ver com fidelidade do que com performance.

O sucesso do mundo glorifica o homem que o alcança. O divino glorifica e engrandece somente a Deus. Todo o sucesso que não glorifica a Deus é de origem humana, mundana ou diabólica, aconteça ele num campo de futebol ou dentro de uma igreja. Na busca do sucesso que o mundo oferece, todos querem chegar ao topo da carreira. Para alcançá-lo, muitos não hesitam em pisar na cabeça dos concorrentes ou passá-los para trás. Mas o caminho do sucesso divino é uma escada que desce. Jesus trocou o trono pela cruz, o cetro pela toalha e ensinou como chegar ao sucesso através do serviço, e não do poder. "Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos" (Marcos 9.33). "Humilhai-vos sob a poderosa mão de Deus, para que Ele, em tempo oportuno, vos exalte" (1 Pedro 5.6). "Todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será exaltado" (Lucas 14.11).

A pequena diferença de dois segundos que me separava de James Hunt em 1977 ficou muito grande quando ele se tornou campeão do mundial e ou tudo o que o mundo podia lhe oferecer. Hoje a diferença é maior ainda. Depois do sucesso, vieram a decadência, a frustração, a depressão, o alcoolismo e as drogas. O coração de Hunt não agüentou o tranco e parou de bater aos quarenta e poucos anos. Sucesso é mais a recompensa do fiel do que a conquista do esforçado. De que adianta subir ao pódio sem ter a certeza de que Deus conduziu o processo de alcançá-lo?


Alex Dias Ribeiro é diretor executivo nacional dos Atletas de Cristo.

Duplamente eleitos

Cresce o movimento de judeus convertidos ao Evangelho

Por Teresa Cristina Abreu

Fotos: Frederico Mendes

Jews for Jesus: o povo judaico é alvo de
uma forte estratégia evangelística nos EUA

Uma discreta, mas vigorosa revolução religiosa está acontecendo nas comunidades judaicas em todo o mundo: cada vez mais judeus estão chegando à conclusão de que Jesus Cristo é o Messias. Eles não se convertem, pois esta palavra traz embutida a idéia de abandono da fé judaica, o que não ocorre. Através da leitura do Novo Testamento, entendem que os valores judaicos são reiterados pelo próprio Jesus (ao afirmar que não veio revogar a lei ou os profetas, mas cumpri-los) e também pelo apóstolo Paulo, principalmente na carta aos romanos, em que defende a eleição dos filhos de Abraão. Surpresos, se voltam mais avidamente para os fundamentos de sua religião original, buscando no Tanach (Antigo Testamento) as infindáveis referências ao Yeshua (Salvador). Quando um judeu recebe Jesus como seu Senhor e Salvador, ele se sente mais judeu do que nunca.

Pela peculiaridade dessa revelação, muitos judeus messiânicos (cristãos) preferem estabelecer suas próprias comunidades, em que as festas e as tradições judaicas são mantidas, porém voltadas para a pessoa de Yeshua Hamashiach (Jesus, o Messias). Como, por exemplo, a festa do Pessach (Páscoa), em que o cordeiro pascoal remete à libertação do povo de Israel do Egito, que passa a ser celebrada em Cristo, o perfeito Cordeiro de Deus. No Brasil, os judeus messiânicos podem ser encontrados nos templbs evangélicos, mas também em igrejas próprias, como a Congregação Beit Lehem e o Templo Aron Kodesch, ambos no Rio de Janeiro, ou a Congregação Judaico-Messiânica Beith Israel, em São Paulo. Os programas de rádio - como O Poço de Jacó, na carioca Rádio Relógio, e Chamada da Meia-Noite, na Rádio Alvorada de Porto Alegre (RS) - e as entidades religiosas, voltados para a evangelização do povo judaico, vêm se aperfeiçoando, principalmente através do estudo do hebraico bíblico, matriz da revelação de Jesus Cristo.

Joseph Danon ministra a ceia na Congregação Beit Lehem, igreja de judeus messiânicos fundada no mesmo prédio da Tijuca onde existia uma sinagoga

Os evangélicos são tímidos neste tipo de ministério. Há quem pense que judeus não devem ser evangelizados porque rejeitaram Jesus ou, pior, não o merecem, pois afinal "eles o mataram". A assistente social Anita Burth, de Campinas, SP, relembra as hu-milhações que sofria na infância com a brincadeira da malhação do Judas. "Na época, não entendia que Jesus era judeu e me sentia discriminada. Hoje percebo que a história da igreja cristã está repleta de pensamentos e , ações anti-semitas que fazem com que os judeus não consigam, de um modo geral, se aproximar do cristianismo."

OS HOMENS ERRARAM - Muitas foram as atrocidades cometidas contra os descendentes de Abraão ao longo da Era Cristã. A diáspora (dispersão) promovida pelos romanos no ano 70 espalhou os judeus por diversas nações. Sempre foram considerados judeus errantes, confinados em guetos, alheios à vida social e política dos países onde se instalavam. Na Idade Média, as cruzadas tentaram impor o cristianismo na terra de Israel. Durante a Inquisição, muitos judeus foram forçados à conversão para escapar das fogueiras. Mas o clímax da perseguição aconteceu no holocausto ordenado por Hitler, na Segunda Guerra Mundial, quando 6 milhões de judeus foram mortos pelo regime nazista.

Outra grande dificuldade para chegar a Cristo é o desconhecimento da religião judaica pelos próprios judeus. A maioria deles, tanto dos que vivem em Israel como da diáspora, é judia por tradição familiar e racial, como Sérgio Danon, do Rio de Janeiro, que se tornou cristão aos 20 anos. "Eu era um judeu tradicional", conta. "Lia a Torá (a Lei de Moisés) em casa, ia no Rosh Hashaná (Ano Novo) e no Bar Mitzvá ciação do menino na sociedade, aos 12 anos) de primos e amigos, mas não havia sentido religioso nestes encontros." Há também os ortodoxos, que não passam de 20% da população judaica, segundo o Centro de Informação de Israel, em Jerusalém.

DIVIDA HISTÓRICA -Ester Roisenberg freqüenta a Igreja Presbiteriana Betânia, em Niterói (RJ), onde se batizou há quatro anos. É casada e tem três filhas: Raquel, 10, Letícia, 13, e Melissa, 16. O processo que a levou a Cristo foi longo, cheio de dúvidas, porque achava que estaria traindo as tradições, as raízes. O marido Reneu se converteu primeiro. "Deus estava trabalhando na minha vida. Eu sabia que havia algo diferente em Jesus, mas achava que ia deixar de ser judia."

Para Ester, as filhas e o marido Reneu, conversão não implicou em perda da identidade

Há três anos, Ester conheceu a congregação de judeus messiânicos Yeshuah Tsion, nos EUA. Bem recebida pelos cristãos, Ester garante que não se sente discriminada por freqüentar a igreja. "Há uma mágoa dos cristãos em relação aos judeus por haverem crucificado Jesus. Mas havia um plano de Deus para que Jesus viesse, morresse e fosse traído. Os cristãos devem amar os judeus. Jesus é judeu."

Sérgio Danon, 27, é vice-presidente da Congregação Beit Lehem, igreja de judeus messiânicos no Rio de Janeiro. É casado há quatro anos com Mexia e tem um filho chamado Israel. Há sete anos ele estava à procura de Deus e, por isso, começou a ler o Novo Testamento até que, num domingo, resolveu ir à igreja com os pais. "Duas semanas depois, eu me batizei", revela. O encontro com o pastor não-judeu Leonardo Mezner definiu o ministério da família Danon. "Nós o conhecemos através de um programa de televisão. Entramos em contato e ele confessou que estivera orando a Deus, pois já se encontrava no Brasil há 34 anos como missionário entre judeus, e estava para se aposentar. Queria abrir uma igreja e o sinal da aprovação de Deus era encontrar uma família judia inteira convertida", recorda.

As primeiras reuniões congregavam apenas 12 membros na casa do pastor. "Nós não tínhamos dinheiro para comprar uma casa na Tijuca, que anteriormente havia sido uma sinagoga chamada Beit Yachov (Casa de Jacó). Pela fé, o pastor Mezner deu a entrada de 5 mil dólares, tudo o que tinha. A casa custava 45 mil dólares. Não sabemos como o dinheiro apareceu, mas em três meses pagamos tudo", orgulha-se.

JUDAÍSMO NOMINAL A assistente social Anita Burth Kurka, 36, freqüenta a Comunidade Cristã Koinonia. Seu encontro com Cristo se deu há 16 anos, depois de procurar Deus no espiritismo, na teosofia e religiões orientais. Anita cresceu sem referências da religião. "Eu e minha família morávamos no subúrbio do Rio, longe da comunidade, de sinagogas e escola judaica. Assimilamos a cultura local", conta.

Anita confessa que, na adolescência, se revoltou com seu nominalismo judeu. Como sua família não conseguiu ascender economicamente para participar de clubes e freqüentar as escolas da comunidade, ela cresceu com uma vivência dupla. Não era igual aos outros por ser judia, mas, ao mesmo tempo, não sabia o que era. Foi então que resolveu sair em campo na descoberta de Deus. "Eu tinha muita sede dele. Sabia que existia, mas não sabia onde. Fui a várias religiões até ser apresentada a Jesus por uma amiga", relembra.

Uma das mais atuantes entidades de evangelização de judeus, a Jews for Jesus, tem representação em todos os continentes. Seu ministério é voltado para a distribuição de literatura escrita por judeus cristãos, com testemunhos e estudos profundos das profecias do Antigo Testamento.

Cristo para os judeus

A evangelização dos judeus não é tarefa fácil. Existem hoje no Brasil diversos grupos que se dedicam ao ministério de provar que Jesus é o Messias esperado. Aqui estão alguns deles:

A Sociedade Brasileira Amigos de Israel distribui literatura específica sobre este tipo de missão. Caixa Postal 3132, Rio de Janeiro, RJ.

Congregação Beit Lehem, Rua dos Artistas, 205 - Tijuco, tel. (021) 228-8153.

Igreja Bet Sor Schalom, Rua Albuquerque Lins, 1282, em São Paulo, SP, telefone (011) 67-1802.

Templo Aron Kodesh - Caixa postal 16060, Rio de Janeiro, RJ. CEP 22222-970.

O programa O Poço de Jacó (RJ) é dirigido aos judeus. Rádio Relógio, 12 horas, domingo.

O pastor David Corrêa é um conhecido missionário brasileiro entre judeus. Caixa postal 21106, São Paulo, SP. Tel (011) 542-6120.

O pastor José Valadão é um antigo professor de hebraico e missionário entre os judeus. Telefone (033) 331-2176.

Jews for Jesus é uma organização internacional, sediada nos Estados Unidos, que distribui literatura para evangelizar judeus. Endereço: 60 Haight Street, San Francisco, CA 94102-5895, USA.

Congregação Judaico-Messiânica Beith Israel, Rua Domingos de Morais, 2518, São Paulo, SP, telefone (011) 524-3965.

Ponto de luz na índia

Por Marinês de Biasi

OM / Divulga
Material evangélico é escasso na Índia

Enquanto os cristãos do Ocidente têm vários tipos de traduções bíblicas à sua disposição, milhões na índia não têm sequer o Novo Testamento. Mas o ministério de literatura no país está avançando. Foi aberta mais uma livraria na cidade de Bangalore, em julho passado. Num país onde há pouquíssimo material evangélico à disposição, esta é uma boa oportunidade para cristãos e futuros contatos com objetivos evangelísticos.




Islamismo para os negros


OM / Divulga
O islamismo é propagandeado como
religião dos negros na Inglaterra

Em número crescente de afro-caribenhoss está se convertendo ao islamismo na Inglaterra. Os negros sofrem com a carência econômica, a discriminação racial e as doenças sociais no país da rainha Elizabeth. Lá, como em muitas outras partes da África e dos Estados Unidos, o islamismo tem sido apresentado como a religião adequada aos negros, em oposição ao cristianismo, que seria para os brancos.

CONFINS

PAQUISTÃO -Morte ou exílio é o título do novo livro publicado por Aftab Alexander Mughal, que trata do caso de Rehmat e Salamat Mashi. Menciona a escolha que os dois tiveram que fazer, assim como muitos cristãos que têm sido acusados de blasfemar contra Maomé.

TURQUIA -Os cristãos armênios que permanecem na Turquia estão sofrendo perseguição. Em virtude da crescente pressão. três cristãos sírios ortodoxos receberam asilo na Alemanha.

MARROCOS-Quatro cristãos marroquinos acusados de proselitismo e aprisionados em Tanger foram libertados no dia 17 de agosto após protestos internacionais. Um dos acusados. Mehedi Ksara, tem mais de 80 anos e está com a saúde bastante debilitada.

FILIPINAS -O grupo islâmico Abu Sayfat planeja saquear e destruir cidades cristãs como Dipolong e Liloy.

OM / Divulga
O mutirão no interior do Estado contou com o trabalho de dentistas voluntários

Festa no interior

O município de Valença (RJ) parou para ver o mutirão missionário organizado no dia 18 de dezembro pelo grupo Amor por Missões, da Igreja Batista Monte Gerizim da Ilha do Governador, no Rio, com o apoio da congregação instalada na cidade. Na praça central da cidade foram montadas diversas barracas, onde voluntários ofereciam serviços gratuitos de consulta médica e jurídica básica, fluoretação em crianças e corte de cabelo. Paralelamente, diversos grupos de evangelismo percorreram as ruas de Valença distribuindo folhetos enquanto o público da cidade ouvia o grupo musical e se divertia com o teatrinho infantil.

Genocídio no Sudão

Em função da campanha para o aniquilamento das tribos cristãs nubas, vilarejos e plantações são queimados e casas saqueadas nas montanhas Núbia, no Sudão. As pessoas são deixadas sem comida, água e roupas. Homens e mulheres foram separados para não nascerem bebês nubas. As forças do governo queimam igrejas e mesquitas, pois descobriram que os muçulmanos nubas são solidários com os cristãos.

Fotos: arouivo OM
Crianças japonesas crescem em lares islâmicos e enfrentam preconceitos religiosos

Casar para converter

A comunidade islâmica no Japão,, um país tradicionalmente zen-budista, é composta por imigrantes do Irã, Bangladesh, Paquistão e Malásia. São homens que chegam ao país à procura de melhores condições de vida e de emprego. Casam-se com japonesas que se convertem ao islamismo, pelo menos nominalmente. As dificuldades dessas famílias transculturais são os conflitos gerados nos filhos que são criados dentro do islamismo. Assim enfrentam todo o tipo de preconceito.

Crise de identidade

É grave a ameaça que a comunidade cristã enfrenta no Irã. As dificuldades econômicas têm forçado famílias inteiras a retornar ao islamismo. A reação dos cristãos não tem sido consistente ou ativa ao lidar com o clamor cristão do Irã e em outros países islâmicos. Um oficial do Ministério do Exterior em Teerã anunciou ter recebido somente 197 cartas de protesto contra a morte do reverendo Mehdi Dibaj, em 1994. Não foi uma reação significativa de solidariedade da parte dos cristãos do resto do mundo.

Se você tem notícias do campo missionário e quer divulgá-las, envie um texto de oito a dez linhas (papel ofício, corpo 1 2) com uma foto colorida de cada matéria para: Revista VINDE - Rua Luis Leopoldo Fernandes Pinheiro, 604/102 andar - Niterói, RJ - CEP 24001-970, aos cuidados de Marinês de Biasi.


Maria Inês Noronha

Correio Missionário

Escreva para estes missionários brasileiros que têm dedicado seu tempo, suor, saúde e recursos para levar o Evangelho a vários pontos do Brasil e do mundo, oferecendo a eles uma palavra de incentivo e seu apoio.


Diana e Margaret Grasman
Apdo 1768, Hermosillo
Sonora, Mexico 8300

Eliel Salles
P.O. Box 1037
3500 Limassol
Chipre

Vera Montanine
R. Manoel Bosco Ribeiro, 426
Jd. das Indústrias
S.J. dos Campos,
SP 12241-070

João Batista
Logos II
Postfach 1565
74819 - Mosbach - Alemanha

Daniel e Nilvana Rezende
Praceta Filinto Elisio, 10/4° B
Carnaxide, Linda-a-velha
Portugal

José Carlos Alcântara da Silva
C. Postal 112
Alta Floresta - MT
CEP 78580-000

quarta-feira, 7 de fevereiro de 1996

O vazio de sonhos

Por Reverendo Caio Fábio DAraujo Filho

Estou espantado com o que aconteceu ao Brasil. O diabo roubou nossos sonhos. Os muitos ideais que marcaram as últimas gerações desapareceram subitamente, como a névoa ante o incidir implacável do sol da manhã. Bem ou mal, em tempos passados a gente via o mover irrequieto de ondas de esperança agitando a sociedade brasileira e a igreja. Eu, por exemplo, sou da geração que contestou sistemas com o movimento hippie, questionou a igreja mediante a adesão aos grupos de renovação carismática, fez propostas de integralidade ministerial através do clamor para que a fé fosse vivida no seu todo, buscou ocupar espaços para a missão evangelizadora no mundo secular, tentou oferecer um referencial cristão novo e desafiador para o mundo, andando na contramão do Evangelho, e que sonhou com a possibilidade de que a mensagem bíblica da unidade da igreja pudesse ser praticada.

Os fatos, porém, foram outros. Vi o movimento hippie, como era de se esperar, mostrar sua verdadeira face licenciosa, desesperada, materialista e interesseira. Mas isto era apenas porque os hippies não tinham nada de Deus em seu projeto. Com a igreja seria diferente. Mas não foi. A Renovação Carismática tomou rumos estranhos. Um lado se tornou legalista, comportamentalista e quadrado. Um outro lado optou por um intimismo espiritual irracional, que conseguiu ser superficial e, muitas vezes, vizinho da maluquice.

Os que buscaram ocupar espaços na secularidade acabaram, na maioria das vezes, perdendo a identidade evangélica, seja pela falta de conteúdo em suas presenças evangelizadoras, seja pela incapacidade de delimitar com clareza as fronteiras da ética, ou ainda pela impossibilidade de viverem um projeto cristão atraente e diferenciado. Por último, eu diria que o Movimento pela Unidade Visível acabou sendo vítima de si mesmo. Neste particular, sinto-me à vontade para falar pela consciência e memória histórica de ter sido um dos seus mais ardorosos protagonistas nos últimos 20 anos.

O que vale hoje é não virar dinossauro, é não ser extinto. Quem pensa assim esquece que morte é a palavra mais viva do Evangelho

Entretanto, vimos uma ação intensa, sutil e diabólica perverter muitos dos nossos sonhos naquela área. Neste aspecto, creio ser útil dedicar um pouco mais de espaço à nossa reflexão. Isto porque, presentemente, nos vemos enredados por esta situação. Pessoalmente, fico perplexo quando vejo as mais lindas palavras de ordem do clamor pela unidade serem esvaziadas de seus conteúdos e enchidas com valores totalmente contrários ao Evangelho do Senhor Jesus. Unidade, que biblicamente significa a vivência do amor generoso, que respeita e afirma diferenças, mas que converge fraternalmente para a prática da missão que nos é comum, tendo a Palavra da Verdade como elo vinculador, foi transformada em imperativo estratégico, motivado pela necessidade de mostrar força política que impressione a sociedade, a mídia, os políticos e os que podem dar e receber em eventuais negócios com os donos de igreja. Corpo de Cristo, que no Novo Testamento encerra a idéia de organicidade carismática e de vinculação essencial uns aos outros pelo. Espírito Santo e Seus dons, acabou virando senha maçônico-evangélica, palavra de ordem que caracteriza a entrada ao Corpo-rarivismo da religião, onde valores, princípios, verdade e coerência não têm nenhuma importância.

Tudo o que vale é a certeza de que, fazendo parte daquela confraria evangélica, os seus membros podem mentir, roubar, enganar, manipular e tudo o mais, pois o Corpo jamais virá contra tais procedimentos. Uma vez no Corpo, não há amputações. O dedo pode estar podre, mas o corpo morrerá com ele e confessará solidariedade à gangrena, e sempre dirá que qualquer tentativa de extirpar a podridão será encarada como quebra da harmonia do sistema. Até onde consigo enxergar, percebo que a Máfia funciona assim, mas não é como as coisas devem ser no verdadeiro Corpo de Cristo (Mateus 5.29, 30).

Além de tudo isto, é fácil ver como os grandes ideais morreram. O que vejo todos os dias é a igreja justificando seu comportamento nivelado ao que há de mais baixo no mundo. Um deputado evangélico diz acerca de usar o púlpito para fazer insistente e manipuladora campanha política: "A CUT e os outros sindicatos fazem assim nas empresas. Por que não pode ser assim a igreja?" Outros, para justificar o comportamento antibíblico e antiético de certos líderes evangélicos, dizem: "É, é sim. Mas o seu Fulano de Tal também ficou rico de modo ilícito e as organizações dele fazem a mesma coisa." Outros ainda, dizem: "É, eu sei que eles não têm escrúpulos e tudo aquilo é fake. Mas, se eu não fechar com eles, vou perder o que tenho. Por favor, você tem razão, mas fica na tua. Eu só estou com eles porque os de fora são iguais. Eles, pelo menos, se dizem nossos irmãos."

Ora, tudo isso nos mostra como os sonhos acabaram. O que vale hoje é não virar dinossauro, é não ser extinto, é sobrevivência. Quem pensa assim esquece que morte é a palavra mais viva do Evangelho. Quem quer ganhar sua vida a perde. Quem aceita sacrificá-la a salva. E quem disse isso foi aquele Santo Bobo que caiu na besteira de morrer na Cruz. Mas o Bobo tinha Pai. E o Pai dele sabia tudo sobre ressuscitar idealistas e aventureiros da Verdade. No terceiro dia, os bobos são levados ao pódio da sabedoria universal. O prêmio dos bobos que aceitam a via do sacrifício é a ressurreição dos mor-tos. Palavra de quem sabe tudo!

Talvez você esteja pensando que este meu Pare & Pense está muito down. Engano seu. A admissão da realidade é, para mim, uma admissão. Trata-se de uma ação em curso e que se transforma no primeiro passo para que sejam deflagrados nossos processos. Eu não sei ser diferente. Sou incuravelmente esperançoso. Sonhar é um mal irremediável na minha vida. Creio ter razões genéticas, históricas e espirituais para justificar o que digo. Meu bisavô, seu Araujinho, se casou aos 68 anos e morreu aos 104, cheio de ânimo. Meu avô, João Fábio, morreu cedo, aí pelos 64. Mas viveu muito. No seu humanitarismo essencial, sempre gostou de gente e quis ajudar os outros, até mesmo quando comprou um velho hospital e fez dele a sua casa, sempre lotada de necessitados. Meu pai está vivo, e como. Só tem 20% de vista em um dos olhos. O outro não vê nada. Mas a visão está lá, no fundo de sua mente. E ele continua a sonhar. Mas minha mais forte motivação sonhadora vem de Jesus e do Espírito Santo. Sei que Deus tem prazer quando eu sonho e parto para o parto, na intenção de realizar aquele ideal.

Ao chegar, ao fim deste artigo, tenho uma coisa em mente: quero provocar em você o desejo de voar bem alto, de não baixar o nível, de não deixar a sublimidade do Evangelho virar apenas um gibi de fundo de quintal. Aí vem o sonhador ....................... (escreva seu nome na seqüência desta frase).

Universal reúne fiéis contra a Globo

Por Danielle Franco

Fotos de Pauty Araújo
Os fiéis da Universal tomaram a Cinelândia com faixas e cartazes

Abriga entre a Igreja Universal do Reino de Deus e a Rede Globo de Televisão teve mais um episódio no dia 6 de janeiro, quando os representantes da IURD organizaram uma manifestação em defesa do bispo Edir Macedo, que está sob investigação policial. Convocados a participar do 1° Encontro da Paz, milhares de fiéis da IURD se concentraram nas principais capitais do país. Na Cinelândia, centro do Rio, a manifestação reuniu pastores de várias denominações, embora nenhum líder nacional tenha comparecido.

Alguns dos mais exaltados incitavam o povo a pronunciar palavras de ordem contra a Rede Globo. Num momento de tensão, o bispo Romualdo pediu que os fiéis, munidos de pedrinhas de isopor, se dirigissem à câmera da Globo e imaginassem que estavam "derrubando Golias". A manifestação terminou às 18h com uma oração na qual se pediu "misericórdia para os inimigos".

Em São Paulo, a manifestação a favor do bispo Macedo reuniu 80 mil pessoas no Vale do Anhangabaú, segundo a Polícia Civil. O coordenador do evento, Mário Luiz de Souza, acredita ter contado com o apoio de todos os evangélicos do país: "Quem não se pronunciou a nosso favor também não acusou, ficou calado." Ficar calado, aliás, parecia ser a palavra de ordem. Quatro fiéis da Igreja Universal disseram que "não podiam falar nada". O padre Marco Antônio Janom, da Igreja Católica de Vila Formosa, diz não acreditar que a Igreja Universal ataque a católica: "O objetivo deles é falar de Jesus." O rabino da Congregação Israelita do Tucuruvi, Mário Najmanovich, afirma apoiar qualquer manifestação pela liberdade religiosa, e ataca: "Toda informação que a Rede Globo produz sobre judeus, ciganos e evangélicos é distorcida."

MANIFESTO - A postura da Igreja Universal tem motivado manifestações de entidades evangélicas internacionais. A Fraternidade Evangélica Latino-Americana, com sede em Buenos Aires, Argentina, que representa 60 milhões de cristãos evangélicos no continente, expediu um documento conjunto com a Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da República Argentina (ACIERA). Na nota, a entidade declara "ser necessário deixar clara nossa posição frente a práticas estranhas à nossa fé", além de afirmar que a IURD não pertence a nenhuma das organizações signatárias do manifesto. Em outro trecho, a declaração afirma que repudia os métodos de proselitismo e arrecadação de fundos "que não estão de acordo com as normas bíblicas, a moral pública e as leis de cada país", acrescentando que é preocupante o uso abusivo da palavra seita, que vem sendo aplicada em referência aos evangélicos em geral e aos pentecostais em particular. "Do mesmo modo", prossegue o manifesto, "o uso do termo evangélico não pode ser aplicado a igrejas cujas doutrinas e práticas não condizem com o que os cristãos evangélicos aceitam como princípios derivados da Palavra de Deus". A declaração termina lembrando que esses fatos lamentáveis não são surpreendentes, pois foram anunciados pelo Senhor Jesus Cristo.

Colaborou Sandra Silva, de São Paulo.

Fotos de Pauty Araújo
O protesto levou às ruas membros de várias denominações evangélica

As diversas faces de um conflito

Briga Universal x Globo permite abordagens maniqueístas a uma questão complexa

A guerra entre as emissoras Globo e Record é apenas uma das vertentes da polêmica... que envolve a disputa pelo poder político nos sistemas de comunicação de massa

Nos filmes e novelas é muito fácil. O mocinho é o sujeito bacaninha, imaculado, cheio de boas intenções, geralmente bonito e elegante, enquanto o vilão é o calculista incapaz de um gesto altruístico e disposto a usar os mais sórdidos expedientes para alcançar seus objetivos. Na vida real, porém, a coisa é bem mais complicada, ainda que os veículos de comunicação brasileiros aparentemente se deixem influenciar pela tradição folhetinesca do país. A guerra que travam as Organizações Globo e a cúpula da Igreja Universal do Reino de Deus demonstra esta tendência maniqueísta da mídia. Jornais, revistas e emissoras de rádio e televisão posicionados dos dois lados procuram reduzi-la a uma mera rusga religiosa. Tal simplismo tem levado muitas pessoas, principalmente evangélicos, a fazer de Roberto Marinho e o bispo Edir Macedo anjos ou demônios ao sabor de novas denúncias recíprocas.

Há, pelo menos, meia dúzia de batalhas inventadas durante a discussão dos ataques da Globo e dos métodos da Universal. Nos programas de debates da Rede Record e nas rádios e jornais controlados pela IURD aduba-se o terreno do que é plantado nas igrejas da denominação: a TV Globo é a filial mais poderosa do inferno e, portanto, suas acusações nada mais são que investidas demoníacas para destruir a grande obra da Universal. Eventualmente, o reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, presidente da Associação Evangélica Brasileira - AEVB - é citado como cúmplice e pau mandado de Roberto Marinho. A conveniência desta abordagem é que da dispensa explicações sobre os métodos de arrecadação nas igrejas à base de intimidação, a aplicação do dinheiro, a filosofia do dá ou desce etc. O pastor e teólogo batista Ariovaldo Ramos não tem dúvida de que, em qualquer igreja que respeita os princípios básicos de disciplina, denúncias como as que foram feitas contra os principais líderes da IURD gerariam, no mínimo, inquéritos internos. "A imprensa aumentou, mas não inventou", lembra.

Por outro lado, quando a Globo mobiliza todo seu arsenal contra a Universal, mira em outros alvos. As manchetes do jornal e os noticiários da TV que levam o nome do grupo de Roberto Marinho vendem a idéia de que uma grande ameaça paira sobre a sociedade cristã - leia-se católica -brasileira. Quando colocam a função eclesiástica de Edir Macedo entre aspas, mas não usam o mesmo critério para identificar, por exemplo, o arcebispo do Rio, dom Eugênio Sales, as Organizações Globo e vários outros veículos bombardeiam sobre o povo a concepção de que Igreja, com i maiúsculo, só há uma, com sede no Vaticano. Os efeitos respingam em toda a sociedade evangélica brasileira, que acaba adotando um mote semelhante e enxergando os católicos como adversários.

DISPUTA POLÍTICA - O restante da grande imprensa aponta outra face da chamada "guerra santa": a disputa pelo poder político. Reportagens de revistas como Veja e IstoÉ chamam atenção para o rápido crescimento do sistema de comunicação da IURD que, se ainda é pequeno comparado à Globo, já é suficiente para garantir a publicidade da igreja e a projeção de seus aliados, particularmente os que ocupam cargos políticos. Se é verdade que, por ser dono da Globo, Roberto Marinho tem o país em suas mãos, a mais evidente ameaça a seu poder se chama Edir Macedo. Mas é ingenuidade intelectual limitar a briga ao âmbito político.

Muitos pastores preferem conjecturar a respeito de um quarto tipo de batalha, igualmente maniqueísta. São os que resumem o episódio à questão pessoal envolvendo o bispo Edir Macedo e o pastor dissidente Carlos Magno de Miranda. Neste círculo de discussão, eminentemente evangélico, os protagonistas alternam a condição de mocinhos e bandidos. Enquanto o bispo Macedo é classificado como "um homem ousado, responsável por uma grande obra", seu detrator é "o traidor ressentido por ter sido excluído da cúpula da IURD". Na mesma roda, os papéis podem se inverter. Há os que defendem o pastor Carlos Magno como "um exemplo de coragem nas denúncias", ao mesmo tempo que celebram o desprestígio do principal líder da Universal.

PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA - É possível identificar ainda outras duas formas maniqueístas de se enxergar o episódio. Uma delas, entre política e intelectual, coloca a elite brasileira, com a Globo como principal agente, organizada contra os evangélicos - explicação que só faz sentido quando os crentes, ao invés de se associarem aos interesses da classe dominante, procuram posicionar-se em favor dos oprimidos e sem voz, como orienta o livro de Provérbios, capítulo 31, versículos 8 e 9, o que nem sempre acontece. A outra, interessante na intenção, mas limitada na abrangência, identifica evangélicos pela postura, dividindo-os entre éticos ou não. De fato, é de uma miopia quase insana assimilar explicações pouco convincentes sobre a gana por dinheiro demonstrada pela cúpula da IURD nas imagens da fatídica fita de vídeo. Só que a questão não reside apenas na probidade - ou ausência dela - de quem freqüenta os templos. Em artigo publicado na edição de janeiro do jornal A Raiz, o bispo Tico Oscar, líder da Igreja de Nova Vida em São Paulo, lembra que a prioridade da Igreja, antes da necessidade de provar sua honestidade, é cumprir as determinações do Evangelho.

Além do simplismo, o reducionismo também afeta as análises que vêm sendo feitas sobre a guerra Globo x Universal. Muitos falam em perseguição religiosa, esquecendo que, pelo menos por enquanto, apenas um grupo está sob ataque direto. E seria pretensioso demais, inclusive no que diz respeito às práticas eclesiásticas, achar que a IURD representa toda a comunidade evangélica brasileira. Outros falam em perseguição diabólica, mas não lembram da farta munição que muitos crentes, famosos ou não, vêm fornecendo ao inimigo, seja na exploração da boa-fé de milhares ou nos escândalos locais, como adultérios e cheques sem fundo. "O que está havendo, para ser misericordioso, não é perseguição, mas muita imaturidade", afirma o pastor Ariovaldo Ramos. "A perseguição de fato dependerá muito do quanto de atenção, reflexão e arrependimento haverá em meio a isso tudo."

COMBINAÇÃO DE FATORES - A verdade é que cada linha de pensamento tem suas argumentações. Além da santidade que lhe é atribuída, a guerra que travam a Igreja Universal do Reino de Deus e as Organizações Globo é mais complexa, até porque uma análise menos apaixonada demonstra que há mais gente envolvida no conflito. É o resultado da soma de vários fatores, tanto os citados nesta matéria como outros que possam ainda estar por ser revelados, posto que, a cada dia, as partes diretamente envolvidas trazem à tona algo novo. Fato é - e a História comprova - que o Evangelho escandaliza sempre, seja quando é proclamado e vivido de forma genuína ou nas ocasiões em que é utilizado como fachada. No primeiro caso, porque incomoda quem não quer compromisso com o Reino de Deus. No segundo, porque a prática não condiz com o discurso. Nos dois, porque a sociedade sempre reage aos novos fenômenos. Se nem todos os fatos recentes favorecem a Igreja Evangélica brasileira, ao menos comprovam que ela não é mais ignorada.

terça-feira, 6 de fevereiro de 1996

O país dos bodes expiatórios

Por Délis Ortiz


A quebra do Banco Econômico resultou no escândalo da pasta cor-de-rosa

Tirar máscaras era a ordem no começo da década. A imprensa vendeu, o leitor comprou, o povo acreditou, o Primeiro Mundo aplaudiu. Despencou o presidente e veio o efeito dominó: CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para tudo - empreiteiras, anões do orçamento, bingo, só para lembrar algumas. Mandatos caçados, renúncias, entra em cena o Ministério Público e a Polícia Federal. Devassas, inquéritos e poucos julgamentos.

Tudo remexido, dá a sensação de que tudo mudou. Será? O processo de mudança foi apenas instalado. A delação continua frenética, às vezes irresponsável. Primeiro a calúnia, depois a confirmação ou não dos fatos. Sabe-se, não comprovar o crime nem sempre prova a inocência. Há um cheiro de hipocrisia no ar.

Quando o PC, do esquema que derrubou o Collor, jogou na cara de deputados e senadores que eles lhe faziam uma cobrança hipócrita, muitos perderam o fôlego. O crime era doações e sobras de campanha. PC pagou pelos restos milionários. No mérito, somos moralistas. E na prática? A lei eleitoral mudou. Na eleição passada, o preço da campanha ficou menor, não podia ter efeitos especiais na TV, cenas de comícios, de pobres e de consternação. As doações de campanha exigiam bônus - papéis com nome, endereço, CGC do doador e, é claro, o valor. Para driblar o negócio, teve até a vista grossa dos observadores oficiais. Muitos dos beneficiários eram os algozes dos corruptos do esquema PC. Agora é a pasta cor-de-rosa. Ingênua como a cor é a pretensão de pensar que ali tenha alguma novidade. Empresários, banqueiros e até multinacionais financiam campanhas. Quem nunca recebeu uma ajuda para a campanha? Mas ninguém cobrou uma CPI de doações. A razão, rabo preso. Cada qual com uma trave maior que outro no olho, como levar adiante as acusações?! A manobra foi desviar a atenção para o autor da denúncia. O bandido passa a ser quem vazou a notícia.

Todos erram, sejamos solidários. Esse é o raciocínio político. Mas, como tudo o que é feio exige castigo, há de existir um bode espiatório que paga por todos. A lei, na época das doações documentadas na pasta rosa, não proibia explicitamente as doações, por isso as atenções se concentraram na busca do responsável pelo vazamento da informação. Das centenas de suspeitos do Banco Central, um só culpado, um só punido - não fez nem recebeu doação, não é político: o malquisto interventor do Econômico (a pasta estava lá). Responsável pelo banco, se a pasta estava no banco, o culpado. Caso encerrado.

Eleições municipais à vista. Na convocação extra do Congresso, o ensaio do que vai ser a batalha por espaço, que se traduz em poder, melhor dizendo, dinheiro. Vem agora a fatura do apoio dado ao governo no ano passado: verbas para o município. Todo mundo quer garantir uma obrazinha, para o eleitor pensar que o político que ficou em Brasília luta pelo bem-estar da cidade que lhe deu votos. Se for para ajudar outro candidato, bem; se o próprio parlamentar for o candidato a prefeito, melhor ainda. O jogo de cena continua. Os aliados protestam, mas continuam fiéis. Querem FHC como cabo eleitoral. Contatos despretensiosos escondem a maratona em busca de financiadores de campanha. Passou a metade da década e a ordem de mudança foi esquecida. Tudo igual, e os sepulcros estão cada vez mais caiados.

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Délis Ortiz é jornalista, repórter de Política da Rede Globo de Televisão e membro da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília.

Revista Vinde - Edição 3

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