sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

As doze 'marcelladas'

Ao atacar a Fábrica de Esperança e seus organizadores, antes mesmo da conclusão de qualquer investigação, o governador Marcello Alencar cometeu 12 falhas:

Carlos Fernandes
Marcello enganou o reverendo Caio, dizendo que não tinha nada contra a Fábrica
  1. Diz ter recebido informações sobre o uso ilícito da Fábrica de Esperança, em janeiro deste ano, mas não tomou providencias durante mais de 11 meses, acompanhando inclusive o presidente da República em visita às suas instalações;
  2. Disse ao prefeito César Maia que as crianças levam e trazem drogas desde janeiro, mas as primeiras crianças entraram na Fábrica apenas no final de maio;
  3. Disse que os titulares da Fábrica estavam construindo um projeto de milhões de dólares, usado como fachada para guardar apenas dois quilos de cocaína;
  4. Cobrou dos responsáveis pela Fábrica que dessem total garantia de que não haveria mais invasões furtivas de bandidos que vivem na favela vizinha à Fábrica, esquecendo-se que o Estado, com todo seu aparato, não tem sido capaz de coibir com eficácia as ações dos criminosos;
  5. Afirmou que os vigilantes da Fábrica obstruíram a entrada dos policiais, mas os portões da Fábrica estavam abertos e o vigilante apenas disse que iria informar o fato à administração;
  6. Declarou que os policiais invadiram a Fábrica porque sistematicamente os administradores impediam a entrada da polícia, esquecendo-se de que uma das sete entradas da Fábrica é guardada por dois policiais militares, 24 horas por dia, no Centro Comunitário de Defesa da Cidadania. A chave desse portão fica em poder do administrador daquele órgão do governo;
  7. Exigiu impecabilidade da vigilância da Fábrica de Esperança, quando os policiais do Centro de Defesa da Cidadania estavam mais próximos do local onde a droga foi encontrada, do que os vigilantes da Fábrica;
  8. Acusou os diretores da Fábrica de transigirem com os bandidos, esquecendo de que o muro construído pela Fábrica de Esperança - com 4 metros de altura por 3,50 de comprimento - é reto, ao contrário do muro construído em zigue zague pela Prefeitura do Rio, por conta de ação do tráfico de drogas. O próprio prefeito César Maia declarou em artigo publicado nos jornais que o poder público tem tido eventualmente que negociar com traficantes a construção de obras públicas;
  9. Acusou a administração da Fábrica de Esperança de tentar desvalorizar a investigação policial, ao criar uma comissão de sindicância interna, esquecendo-se de que tal iniciativa apenas denota o desconforto no qual os diretores do projeto se viram, antes as declarações precipitadas do governador de que o local era "depósito e ponto de distribuição de drogas". O governador sugeriu até que os diretores "arrumem seus culpados";
  10. Acreditou que a Fábrica de Esperança era um lugar de ilícito penal, mas ainda assim sancionou o projeto de lei transformando a Fábrica em entidade de utilidade pública estadual, em data posterior à sua conversa com o prefeito, que lhe teria feito denúncias sobre a Fábrica;
  11. Iludiu o reverendo Caio Fábio, em encontro no Palácio Guanabara, no dia 12 de julho deste ano, dizendo-lhe que não tinha nada contra o reverendo, exaltando as atividades da Fábrica, aceitando receber uma oração em seu favor e dizendo, ainda, que gostaria de visitar a entidade para conhecer seus projetos. Na verdade, já havia afumado diversas vezes, inclusive ao prefeito, que supunha haver atividades irregulares na Fábrica de Esperança;
  12. Acusou peremptoriamente a Fábrica de Esperança de ser depósito e centro de distribuição de drogas, sem saber que, no mesmo dia, durante as diligências policiais nas dependências da Fábrica, cerca de 15 policiais que participaram da operação pediram para almoçar no restaurante da instituição, comendo assim comida que pretensamente teria sido comprada com dinheiro ilícito.

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