sexta-feira, 1 de dezembro de 1995

O placar indigesto da violência nos estádios

As brigas entre torcidas de futebol têm sido cada vez mais freqüentes no país e tomaram-se alvos da oração dos Atletas de Cristo

Por Alex Dias Ribeiro

Paus, garrafas e bombas rolavam na arquibancada com mais intensidade que a bola no gramado, em outubro de 1994. O número de vítimas fatais aumentava a cada fim de semana. Alguma coisa precisava ser feita.

Crendo que o cristão só pode exercer sua função de sal da Terra e luz do mundo fora das quatro paredes de sua igreja, os Atletas de Cristo resolveram arregaçar as mangas e pôr em campo uma campanha pela paz nos estádios. Entendíamos que ninguém melhor que os seguidores do Príncipe da Paz estava credenciado a falar de paz. Começamos então a trabalhar.

"Adversários, sim. Inimigos, nunca" era nosso slogan. Criamos faixas, cartazes, folhetos, filme para a TV, spots de rádio, faixas para os jogadores carregarem ao entrar em campo. Organizamos debates sobre a violência, participação em programas de televisão, manifestações públicas em que os atletas pregariam a paz às suas torcidas organizadas e até o jogo pela paz.

Este era o roteiro do comercial que seria veiculado na TV:

  • Sete mortos nos últimos meses (Gilmar, do São Paulo).
  • Este é o placar da violência (Marcelinho, do Corinthians).
  • Vamos virar este jogo (Cleber, do Palmeiras).
  • Diga "não" à violência, a próxima vítima pode ser você.

Mas não conseguimos o patrocínio para colocar a campanha no ar. O homem de marketing da empresa, que tinha o cacife para bancá-la, chegou a sugerir que alguns dos atletas eram encrenqueiros demais, para falar de paz. Nossa campanha acabou no fundo do baú das muitas boas idéias que não conseguimos viabilizar por falta de dinheiro.

Um ano depois, fizemos uma vaquinha para produzir e publicar, pelo menos, o cartaz como encane no jornal dos Atletas de Cristo. Mas não pudemos aproveitar o fotolito do ano anterior. Tivemos que alterar o texto. O número de mortos tinha subido de sete para 17. Dezessete a zero para a violência é o que eu chamo de placar indigesto.


Alex Dias Ribeiro é diretor executivo nacional dos Atletas de Cristo.

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