quinta-feira, 15 de fevereiro de 1996

Vídeos e Filmes

Por Elivânia Lima

Carlos Fernandes

Jerusalém, 3000 anos
Direção: Central de Produções Vinde
Apresentação: Reverendo Caio Fábio
Brasil - 85 min - Documentário
Pedidos à Central de Produções Vinde - Telefone (021) 719-8770

Jerusalém tem vocação para ser eterna: já foi destruída cerca de 40 vezes, mas sempre ressurgiu das próprias cinzas. Quem a visita, não se cansa de recontar as emoções profundas que experimenta ao conhecer o sepulcro vazio, o Getsêmani, o Muro das Lamentações, o Cenáculo -palco da última ceia -, confirmando a vocação que a cidade também tem para a paixão. Jerusalém, cidade que está completando três mil anos e onde o reverendo Caio Fábio gravou este documentário-turismo, passando por lugares onde Jesus andou, contando suas histórias, revivendo com o espectador as passagens bíblicas.


Carlos Fernandes

Z
Direção: Costa-Gravas
Com Yves Montand e Jean-Louis Trintignant
França - 120 min - Drama

Z é um filme imperdível! Esteve proibido no Brasil por 15 anos, mas agora pode ser visto em vídeo. A primeira cena do filme apresenta um homem discursando a pessoas ligadas ao poder sobre o processo de pulverização ne cenário para se evitar o mofo nas plantações. Aparentemente inocente, este discurso é a metáfora que permeará todo o filme; o tal mofo corresponde às doenças ideológicas chamadas liberdade e conscientização. A partir de um ótimo enredo, Costa-Gravas se utiliza da história de um incidente-assassinato para desnudar as "pulverizações" a que estamos sujeitos. E explica: "É intencional toda e qualquer semelhança."


Carlos Fernandes

No mundo da lua
(Pontiac Moon)
Direção: Peter Medak
Com Ted Danson e Mary Steenburgen
EUA - 106 min - Aventura

Este é para relaxar! No mundo da lua tem um enredo bastante original. Em 1969, quando todo o mundo se voltava para ver o homem chegando à lua na Apolo 11, Bellamy (Ted Danson), mais interessado em alcançar seus próprios desafios, propõe ao filho, Andy, uma aventura tão emocionante quanto a de Neil Armstrong: completar no seu velho Pontiac a mesma distância que separa a Terra da lua. A viagem é cheia de surpresas, de conhecimento mútuo, de companheirismo e, mais do que tudo, de resgate do amor familiar que há muito estava adormecido. Este é um daqueles filmes com gosto de sessão da tarde.


Carlos Fernandes

O vôo pela vida
(Life flight)
Direção: Donald W. Thompson
Com Pat Delany e Jim McMullan
EUA - 85 min - Drama
Pedidos à Apocalypse Vídeo - Tel (021) 231-2334

Em O vôo pela vida várias histórias paralelas acontecem, unidas pelo helicóptero Life flight. A equipe que nele trabalha está pronta a socorrer as pessoas e dar-lhes atendimento médico. Mas os que fazem parte deste contexto de salvamento têm seus próprios conflitos e precisam, num certo sentido, ser recuperados: o sargento que precisa vencer seu trauma de helicópteros; o piloto que ainda não conhece o Salvador de sua alma; o enfermeiro que não sabe como auxiliar a quem lhe pede respostas sobre a Verdade. Histórias comuns, que nos levam a valorizar a vontade e a Palavra de Deus.


Um golpe de mestre

Deputado eleito pelos crentes transfere rádio evangélica para a LBV

Por Marcelo Dutra

Carlos Fernandes
Francisco Silva: possível influência para impedir
exibição de matéria sobre a Rádio Brasil

Para quem se diz evangélico desde o nascimento e foi eleito com o apoio das igrejas, o deputado federal Francisco Silva (PPB-RJ), 57 anos, surpreende. Ele prestou um desserviço aos crentes ao agir como o principal articulador da cessão da Rádio Brasil AM para a Legião da Boa Vontade (LBV), uma entidade espírita kardecista. O parlamentar retomou o controle da emissora no dia 13 de dezembro do ano passado através de uma liminar judicial, na qual alegava que a Vinde (Visão Nacional de Evangelização), como arrendatária, não vinha honrando os compromissos assumidos com ele. Francisco Silva usou o episódio para livrar-se de dívidas acumuladas durante sua gestão de cerca de dois anos à frente da Rádio Brasil. Foi um plano engenhoso, um golpe de mestre.

A Rádio Brasil AM 940khtz pertence ao Sistema Jornal do Brasil (JB) que, em 1993, a cedeu mediante promessa de venda ao deputado Francisco Silva. O compromisso previa que o deputado assumiria a administração da rádio, ficando responsável pelo pagamento de 3 milhões de dólares referentes a encargos e impostos acumulados na gestão anterior. Na ocasião, como garantia do negócio, Francisco Silva empenhou seu patrimônio empresarial e pessoal, que inclui a Rádio Melodia FM e sua mansão num condomínio de luxo. Em sua gestão à frente da emissora, o deputado não conseguiu saneá-la. Pelo contrário, a bola de neve cresceu, tornando a rádio deficitária. Além disso, durante cerca de dois anos não quitou sequer 5% do montante da dívida.

IGNORÂNCIA - Atolado nas dívidas, Francisco Silva procurou a Vinde pedindo que o ajudasse naquele "momento difícil" - conforme carta datada de 30 de maio de 1995. No mesmo documento, encaminhado ao Sistema JB, o deputado disse que a Vinde era uma entidade íntegra e de credibilidade no meio evangélico. As condições para a transferência previam que a Vinde tornava-se arrendatária da rádio mediante um aluguel mensal de R$ 30 mil para Francisco Silva. A Vinde aceitou pagar dívidas contraídas no período em que o deputado esteve à frente da emissora. Só que os valores mencionados por Francisco, talvez por ignorância, não correspondiam à realidade.

Como os advogados do deputado evitavam os fiscais do INSS, a dívida da rádio com a Previdência foi arbitrada em R$ 21 milhões. Em dois anos e meio, o deputado pagou apenas R$ 120 mil daquele total. Enquanto isso, ele garantia à Vinde que a dívida não passava de R$ 4 milhões. Nos sete meses seguintes, a Vinde efetuou o pagamento de R$ 650 mil, importância utilizada para colocar em dia os pagamentos de IPTU, Imposto de Renda, contas de luz, FGTS e INSS dos funcionários, além de outras dívidas, e que excedia substancialmente o total dos aluguéis da rádio pelo mesmo período. Além de sanear a emissora, a Vinde reestruturou-a, conquistando mais ouvintes, alcançando o terceiro lugar de audiência no Rio de Janeiro, segundo o Ibope. Quando a Vinde percebeu que a dívida da rádio estava num saco sem fundo, renegociou com o deputado Francisco Silva, que concordou verbalmente com a proposta de que a Vinde se empenharia em colocar a situação da rádio em dia e ficaria definitivamente com a concessão.

O choque, contudo, não tardou. No último dia 13 de dezembro, através de uma liminar, o deputado retomou a Rádio Brasil, deixando estarrecidos os funcionários, a diretoria da Vinde e os ouvintes. O presidente da Vinde, reverendo Caio Fábio D'Araújo Filho, confessa sua decepção com o episódio: "Me sinto triste porque o dinheiro veio do povo de Deus que o doou por acreditar que a rádio vinha abençoando milhares de pessoas." Caio Fábio, porém, ressalta não ter qualquer ressentimento em relação ao deputado: "Acho que ele agiu de modo errado e que foi extremamente oportunista tanto em relação à Vinde como com a LBV, mas estou orando para que coloque esta consciência em seu coração."

Carlos Fernandes
A mansão num condomínio do luxo na Barra da
Tijuca foi usada como garantia
Carlos Fernandes
Paulo Lopes: irregularidades na
administração Francisco Silva

Apesar de ter perdido a rádio através da liminar, o reverendo Caio Fábio lembra que a decisão judicial seria facilmente derrubada em virtude da fragilidade das alegações. O reverendo Caio revela que, antes da liminar, já havia decidido devolver a Rádio Brasil AM, depois de uma onda de boatos. Uma nota plantada na coluna do Zózimo, do jornal O Globo, dizia que os evangélicos não se entendiam e que o reverendo Caio Fábio estava devendo aluguéis da emissora a Francisco Silva. "Meu maior capital na vida é a integridade e o respeito, e não iria colocar a Vinde numa confusão dessas", diz Caio Fábio.

A manobra de Francisco Silva foi motivada por uma notificação judicial movida pelo Sistema JB que visava a reintegração da posse da emissora. Ameaçado de perder não somente o controle da rádio, como também o restante de seu patrimônio, Francisco Silva resolveu retomar a emissora para renegociá-la com a LBV.

Entre as acusações do deputado, uma é de que a Vinde não vinha pagando direitos trabalhistas dos funcionários da rádio. Esta informação é contestada pelo presidente do Sindicato dos Radialistas do Rio de Janeiro, Paulo Lopes. Ele afirma que os funcionários estavam plenamente satisfeitos com a Vinde, o que não ocorria no período em que o deputado administrou a rádio. "Na época de Francisco Silva, os pobres dos funcionários tinham que implorar para ter seus direitos", denuncia Lopes. As ações arbitrárias do deputado não pararam ali. Segundo a assessoria da imprensa da LBV, apenas dois dias após reassumir o controle da emissora, Francisco Silva procurou a diretoria da entidade oferecendo a locação da rádio. Apesar de ter sido eleito com apoio dos evangélicos, Silva não se constrangeu em passar a rádio para um grupo espírita.

Procurado pela reportagem da Vinde, o deputado escorregou e se contradisse. Pelo telefone, disse que o responsável pela transferência da rádio para a LBV havia sido a própria Vinde - um absurdo sem igual. Ao ser lembrado que conversava com um repórter da Vinde, Francisco Silva gaguejou e deu outra versão: "Foi o JB que passou a rádio para a LBV." Só que o Sistema JB está brigando na Justiça com Francisco Silva. Dias depois, novamente procurado pelo repórter da Vinde, o deputado Francisco Silva se irritou e fez ameaças ao saber que sua casa havia sido filmada para o programa de TV Pare & Pense, apresentado pelo reverendo Caio Fábio. Ele disse que colocaria o repórter na cadeia por invasão de domicílio. Mais uma vez estava blefando. As cenas haviam sido feitas da rua. Seus advogados chegaram a insinuar que a matéria do programa de TV explicando sobre a negociata não iria ao ar, o que de fato ocorreu. O programa do dia 13 de janeiro foi estranhamente suspenso, possivelmente censurado por influência de Francisco Silva ou de pessoas ligadas a ele. No momento, o processo sobre a posse da Rádio Brasil AM ainda está sendo julgado, apesar de a programação estar sendo produzida pela Legião da Boa Vontade, uma instituição séria e que tem o direito democrático de possuir uma rádio, mas que não atende às expectativas do ouvinte evangélico.

Carlos Fernandes
Na carta enviada ao JB, a credibilidade da Vinde é reconhecida

quarta-feira, 14 de fevereiro de 1996

No pódio da fé

Curado de esclerose múltipla, Marcone de Sousa se tornou maratonista

Carlos Fernandes
Recuperado, Marcone (E) participou da São Silvestre, em São Paulo

Há quem pense que esclerose só atinge pessoas de idade avançada. Trata-se, na verdade, de um distúrbio neurológico, que se caracteriza pela destruição do revestimento em volta dos nervos no sistema nervoso central, em associação a uma resposta inflamatória. Na esclerose múltipla várias partes do corpo são afetadas. Tida como doença hereditária, a enfermidade não tem cura, segundo os médicos. Mas quando a medicina esgota todos os seus recursos, só há uma pessoa que pode dar solução. Jesus é um médico que não tem consultório, mas atende a qualquer hora, em qualquer lugar.

Marcone Conrado de Sousa é uma testemunha viva de que nada é impossível para Deus, nem mesmo esclerose múltipla. No dia 4 de novembro de 1985, ele acordou com formigamento nos braços e nas pernas e foi à Casa de Saúde Nossa Senhora do Carmo, em Coronel Fabriciano (MG), onde mora. Permaneceu uma semana internado e os médicos não conseguiram diagnosticar o seu problema. Transferido para o Hospital Felício Roxo, em Belo Horizonte, Marcone foi examinado por uma junta médica chefiada pelo neurologista Itamar Megda Cesarini.

Depois de 18 dias em observação, a equipe diagnosticou a esclerose múltipla. Sem solução, Marcone recebeu alta e voltou para Coronel Fabriciano, onde começaria uma corrida, "a maior maratona de toda a minha vida", como diz. A enfermidade tirou-lhe a coordenação motora e a visão esquerda, além de causar uma série de distúrbios mentais e jogá-lo numa cadeira de rodas. Convertido desde os 12 anos e membro da Igreja Evangélica Betânia, em Coronel Fabriciano, Marcone não conseguia compreender o plano de Deus. "Eu não entendia como um cristão podia ter uma doença daquelas. Comecei a me desesperar, até que alguém me mandou parar de perguntar o porquê e passar a perguntar para que", conta.

No final de novembro de 1985, quando voltou para casa, Marcone convenceu-se de que até o Natal voltaria a andar. No dia 24 de dezembro ele começou a dar os primeiros passos dentro de casa. Mesmo caindo e se machucando, não desanimou e logo passou a dar voltas ao redor da casa, depois no quarteirão e assim por diante. Procurou o doutor Itamar para saber se poderia fazer algum tipo de atividade física. Nem mesmo a resposta negativa do médico fez sua fé desfalecer. Não demorou muito e Marcone estava correndo de 20 a 30 quilômetros em dias alternados. As outras funções do seu corpo também começaram a se restabelecer. Não houve um culto específico, uma oração com imposição de mãos, apenas o exercício da fé. Sua confiança em Deus levou-o a lutar, a correr, a vencer. Marcone conta que se firmou na passagem bíblica da carta de Paulo aos efésios, capítulo 3, versículos 20 e 21: "Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém."

Hoje, aos 35 anos, ele é motorista particular, instrutor de auto-escola e atleta. Desde 1988, para surpresa dos médicos, Marcone está correndo e participou da corrida de São Silvestre de 1994. Mesmo sem vencer a prova, Marcone se tornou um herói da fé.

terça-feira, 13 de fevereiro de 1996

De pão também vive o homem

Os cristãos que praticam boas obras por conta própria. Eles não aspiram à fama, tampouco querem reconhecimento público. Suas realizações nao têm apoio oficial e, não raro, são feitas com recursos próprios

Por Carlos Fernandes

Carlos Fernandes

Em todo o Brasil, inúmeros evangélicos têm sido despertados para a necessidade de fazer algo diante da realidade de milhões de pessoas cuja existência o poder público finge ignorar: os chamados excluídos, eufemismo que designa os necessitados, indigentes e abandonados. Nas cidades grandes e do interior inúmeros movimentos são tocados por pessoas cuja motivação é oferecer condições de vida dignas para que a mensagem do Evangelho possa ser recebida. Para essas pessoas, a pregação só se torna legítima quando a mão que leva a Bíblia também serve para amparar.

A solidariedade se manifesta na assistência social, no sustento de pessoas e comunidades, na cooperação com as atividades das igrejas, realização de eventos beneficentes, manutenção de escolas e em várias maneiras em que a fé é expressa na prática de obras e de simples atos de amor. Eles são os discretos que atuam, os anônimos que participam, os heróis do nosso tempo. Ou, simplesmente, são os crentes que fazem.

Carlos Fernandes
Altair instalou uma escola para
crianças faveladas de Duque de Caxias

FORA DO UXO - O engenheiro Altair Cavalcanti Ribeiro, de 38 anos, acredita que a igreja tem sobre si a responsabilidade de intervir nos problemas sociais do nosso país. "Não adianta ficar culpando o governo e não agir", afirma. Com esta motivação, formou um pool de 12 empresas, entre as quais a sua marmoraria. O grupo implantou e sustenta o Jardim Escola Cordeirinho, uma escola maternal e de alfabetização numa das regiões mais miseráveis do estado do Rio de Janeiro: a favela do Lixão, no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, local onde diariamente centenas de pessoas revolvem montanhas de detritos em busca de restos de comida. A escola funciona na Igreja Presbiteriana Independente, da qual Altair é membro, próxima à favela, e atende 80 crianças, oferecendo ensino básico, educação religiosa, três refeições por dia e uniformes. Também promove passeios e festas para os meninos e meninas que, em sua maioria, só contam com as merendas para se alimentar. Altair acredita que, através das crianças, pode alcançar suas famílias com a mensagem do Evangelho: "Procuramos seguir o que diz a Palavra sobre ensinar às crianças o caminho no qual devem andar, mas, além disso, precisamos dar-lhes condições dignas de vida". Todas as semanas cestas básicas são distribuídas entre os moradores da comunidade. Recentemente, a dona de um centro espírita na favela se converteu ao Evangelho e o transformou no Centro do Espírito Santo, onde atualmente são realizados cultos. Brevemente vai abrigar uma creche. O próximo projeto dessa parceria de empresários é a instalação de um consultório médico-odontológico dentro da favela.

Carlos Fernandes
Carlos Fernandes
O engenheiro José Luiz orienta a
construção de igrejas em Bauru

IGREJAS BOAS E BARATAS -"Qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: este homem começou a construir e não pôde acabar." Este conselho da Bíblia tem sido seguido pelo engenheiro civil José Luiz Toledo Martins, de 34 anos, casado e pai de dois filhos. Proprietário de uma construtora e de uma empresa de consultoria e assessoria para construção em Bauru, SP, ele observou que as igrejas evangélicas em geral não têm nenhuma noção quando o assunto é construção e obras, e resolveu colocar seus conhecimentos técnicos à disposição dos pastores de sua cidade. José Luiz acha que os evangélicos são mal orientados e acabam desperdiçando dinheiro em obras intermináveis e problemáticas. Ele oferece serviços gratuitos de consultoria, envolvendo projeto, elaboração da planta, cálculos estruturais, relação de material e toda a orientação necessária para a construção ou reforma de templos. Assim, sob a sua direção, várias igrejas têm sido erguidas de maneira rápida e a preço reduzido. Convertido há um ano e meio, José Luiz é membro da Igreja Cristã Renovada e também colaborou na construção de um alojamento para 84 pessoas no centro de recuperação de viciados em drogas Esquadrão da Vida. "Temos que prestar assistência a essas pessoas. Este deve ser nosso propósito", declara o construtor de igrejas.

Carlos Fernandes
Carlos Fernandes
Carentes encontram abrigo e
ouvem a Palavra com o irmã Aracy

CASA, COMIDA E PALAVRA - Uma revelação de Deus lançou Maria Araci da Rosa Paulo no trabalho de assistência a mendigos, desabrigados e pessoas abandonadas. A irmã Araci, como é chamada pelos seus assistidos, conta que teve uma visão em que se encontrava caminhando por uma longa estrada quando surgiu à sua frente uma pessoa maltrapilha que lhe suplicava ajuda. A partir de então, a senhora de 67 anos, Assembléia de Deus e evangélica desde criança, entendeu que sua missão era dar amparo aos miseráveis. Há 17 anos ela começou a construir uma casa de dois andares, onde hoje mora com a família e mais 96 pessoas, que ali encontraram abrigo. "Ser cristão não é só sentar no banco da igreja, não", diz com convicção. O espaço, chamado Casa de Oração, fica no bairro de Beltrão, no município fluminense de Niterói, e tem uma sala onde são realizados três cultos por dia, que contam com a participação dos hóspedes. Entre eles, há desempregados e pessoas que viviam na mais completa indigência. Eles chegam e vão ficando. O andar de cima é repleto de beliches onde dormem os homens - as mulheres ficam em outra parte. Todos tomam café da manhã, almoçam e jantam no local.

Sendo uma mulher pobre, a irmã Araci só encontra uma explicação para o fato de conseguir manter a casa funcionando: "É tudo na base do milagre. Às vezes, aparecem pessoas que fazem doações, Deus multiplica o pouco que temos e dá para todo mundo." Ela não se incomoda em dividir o espaço com desconhecidos: "Deus me mandou fazer isso." Muitos deles se tornaram crentes e ajudam nos trabalhos da casa e na assistência aos outros. "Dentro destes corpos maltratados", diz irmã Araci, "existe uma alma que Jesus quer salvar". Cercada das pessoas.que ali encontraram ajuda, ela tem a satisfação de constatar que sua visão tornou-se realidade.

A oração no pensamento de Walter Hilton

Por Reverendo Ricardo Barbosa de Souza

Carlos Fernandes

WALTER HILTON nasceu na terceira década do século 14, provavelmente em Yorkshire, Inglaterra, e morreu em 14 de março de 1396. Foi contemporâneo de João Wycliffe, o grande tradutor bíblico. Enquanto Wycliffe tornava-se um teólogo envolvido com questões de natureza política e civil, Hilton desenvolvia seu ministério, a princípio como leigo, ajudando grupos pequenos de pessoas. Não há nenhum indício de que tenha assumido alguma posição de destaque ou algum ministério mais público. Sua vida é praticamente desconhecida, a não ser pelos escritos e cartas que deixou, instruindo e orientando seus discípulos. Ele foi, como Evelyn Underhill apresenta, "uma destas figuras escondidas, destes amigos quietos e secretos de Deus, que nunca falharam com sua igreja".

Embora ele nunca tenha sido pastor de uma igreja local, todos os seus escritos têm um caráter pastoral e psicológico. O conteúdo dos seus escritos são bíblicos, cheios de sabedoria pastoral, penetrando nas questões mais profundas e secretas da alma humana. Um dos assuntos que marcam o pensamento de Walter Hilton é o da relação pessoal e íntima do homem com Deus. A oração, neste contexto, ocupa um espaço significativo nos seus escritos e cartas.

"Portanto, é verdade que a oração não é a causa da graça que o Senhor nos oferece, mas um canal através do qual a graça livremente flui para dentro da alma."

Para Hilton, a oração é, sobretudo, um caminho para a transformação da vida e compreensão da graça de Deus. Ele reage ao conceito mais comum da oração como sendo um instrumento de tornar conhecidas nossas necessidades diante de Deus. Ele afirma: "Oração é o meio mais proveitoso de se obter a pureza de coração, a erradicação do pecado e a receptividade das virtudes. Não devemos imaginar que o propósito da oração seja o de dizer a Deus o que precisamos, porque ele sabe muito bem quais são as nossas necessidades. Pelo contrário, o propósito da oração é o de nos tornar prontos e aptos para receber, como vasos limpos, a graça que nosso Senhor livremente nos dá".

Ele deixa claro que a pureza do coração não é uma condição para a graça de Deus, mas que o coração humano só experimenta de fato a graça quando é transformado e purificado pela experiência da oração. "Portanto, é verdade que a oração não é a causa da graça que o Senhor nos oferece, mas um canal através do qual a graça livremente flui para dentro da alma." A oração para Hilton é, em última análise, um encontro com a graça transformadora e perdoadora de Deus.

Diante disso, ele sugere que a oração não deve ser determinada pelos desejos momentâneos e circunstanciais do mundo. Pelo contrário, todo esforço deve ser orientado para que a nossa mente se desligue das coisas terrenas e perceba aquelas que são eternas. Isto não significa que a experiência da oração deva ser desconectada das realidades da vida, mas que seu foco não deve ser nós mesmos, nem as necessidades que o mundo nos impõe, mas Deus, Sua vontade e Seu reino.

Para Walter Hilton, o cristão deve procurar conhecer os desejos de sua alma para, a partir deles, definir a agenda de sua vida e da oração. Para ele, os desejos espirituais são definidos como "uma rejeição aos prazeres mundanos e carnais que residem no coração e um completo desejo pela alegria celeste e a eterna bênção da presença de Deus". Uma vez tendo estes desejos sinceramente definidos no coração, todo o nosso trabalho e toda a nossa oração devem começar e terminar neles. É neste sentido que o apóstolo Paulo fala em "buscar as coisas lá do alto" e "pensar nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra". Segundo o apóstolo, é lá que se encontra nossa vida em Cristo. É esta "vida oculta juntamente com Cristo" que devemos buscar no ato da oração. Desligar-se das coisas terrenas e mundanas e ligar-se nas eternas e celestes significa optar por aquilo que é próprio de Deus e colocar nele nossas paixões e desejos.

Infelizmente, para muitos cristãos modernos, a oração transformou-se num instrumento de conquistas, de demonstração de poder, de definir, a partir das realidades mundanas e circunstanciais da existência humana, a agenda da nossa súplica. É difícil mudar este hábito. Preferimos receber as dádivas materiais como sendo as bênçãos de Deus do que termos nossas mentes e corações transformados em Cristo. Os nossos desejos são determinados muito mais pela propaganda e pelas nossas carências do que por Deus e a esperança da comunhão eterna com ele. É aqui que Hilton contribui para com a igreja moderna. É preciso olhar mais uma vez para dentro e reconhecer quais são os desejos que nos consomem. Eles irão determinar a pauta e o significado de nossas orações.

Como afirma Walter Hilton, o propósito da oração é o de obter a pureza de coração, a erradicação do pecado e a receptividade das virtudes. Em outras palavras, oramos para alcançar a santidade na medida em que Deus converte nossos caminhos e pensamentos aos seus caminhos e pensamentos. É através da oração que somos confrontados com o nosso próprio pecado e transformados pela graça de Deus. James Houston afirma que "muitos cristãos não oram porque não querem ser transformados". Por último, a oração torna o nosso coração receptivo à compreensão e à vivência das virtudes cristãs. Humildade, obediência, amor e perdão são algumas das virtudes que só podem ser compreendidas e vividas num ambiente marcado pela oração. Num contexto de extrema competitividade e busca por realização a partir das conquistas materiais, Hilton traz uma enorme contribuição ao resgate da oração como instrumento de crucificação, amizade e santificação. Sem dúvida, o que mais necessitamos hoje é resgatar no caráter do cristão a busca por santidade, a luta contra o pecado e a manifestação do fruto do Espírito.


O reverendo Ricardo Barbosa de Souza é pastor da Igreja Presbiteriana do Planalto, em Brasília (DF).

segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996

Humor

Carlos Fernandes

Quero lhe fazer apenas três perguntas:
Quem é você? De onde você veio e para onde você vai?
Sou Zé Pedreiro. Tô vindo da obra e vou pro meu barraco.

A fé sob as luzes do espetáculo

Cantora põe talento e espiritualidade lado a lado nos palcos

Por Telma Costa

Carlos Fernandes

Quando, aos 14 anos, clamei a Deus para que me fizesse ter minhas próprias experiências com Ele, que eu queria conhecê-lo não pelo que os livros ou os pastores diziam, mas pelo meu entendimento pessoal da verdade, não imaginei que a resposta viria tão imediata e diária. Desde então, eu não posso deixar de falar das coisas que tenho visto. O véu se rasgou diante de mim e pude olhar a vida com mais clareza e amor. Conseqüentemente, a barreira do preconceito, diariamente construída dentro da igreja, caiu. À medida que o amor ao próximo cresce, o preconceito diminui, e Cristo foi o exemplo vivo disto.

Que barato ver as coisas com a simplicidade que elas têm. A minha carreira tem servido para levar luz ao meio artístico, tão necessitado de uma palavra de amor, de conforto, de paz e esperança. No teatro, na televisão, num show ou numa aula de canto sempre se pode ser (verbo amplo e de ação). Alguns dos meus alunos brincam, dizendo que vão tirar férias do terapeuta e ficar só com minhas aulas de canto, que são uma terapia. Ouvi de um diretor da TV Globo, hoje um grande amigo: "Telma, você é a pessoa mais decente que já conheci." Deus seja louvado.

Em determinadas ocasiões tenho dado Bíblias de presente aos atores e cantores (ser missionária custa dinheiro) e tenho ouvido dessa turma coisas como "quero ter o seu Deus" ou "já tentei tudo na vida, só me resta falar com você". E lá se vão quatro horas de conversa numa mesa de restaurante. Nos meus shows pelo Brasil, no momento dos agradecimentos, faço referência aos apoiadores, pa-trocinadores, amigos e "ao meu Deus que me dá paz, aquela paz de verdade, porque só com ela a gente pode amar, se permitir ser amado, ter saúde e sucesso. A Ele toda a honra e toda a glória".

Uma coisa tenho aprendido: nada acontece por acaso. As vezes, os acontecimentos parecem peças isoladas, mas o futuro dirá sempre o porquê de cada um deles. Uma vez eu estava no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, assistindo a um quarteto alemão, que cantava num espaço mínimo à frente da cortina. Olhei para eles, olhei para o teto, a platéia, as paredes, e desejei muito, com todo o meu coração, estar ali naquele palco algum dia. Um ano depois, lá estava eu, com o palco inteiro só para mim, acompanhada de uma orquestra de mais de 70 instrumentos. No ensaio, entrei naquele espaço vazio, platéia vazia, e orei agradecendo a Deus por ter atendido ao meu secreto desejo.

Ainda criança, um professor deu um conselho em classe, que me acompanharia para sempre: "Quando escolher sua profissão, não pense se ela já está saturada no mercado, se é difícil. Escolha aquela onde está o seu coração. Se fizer isso, será bom no que faz e terá trabalho." Busco me aperfeiçoar a cada dia, mas de uma coisa estou certa: é cantando e representando que está o meu amor, meu prazer. E a certeza de que eu não poderia estar em melhor lugar do que aquele em que aproveito a doação dos talentos de Deus.


Telma Costa é atriz, cantora e membro da Igreja Batista de Itacuruçá (Ri).

Revista Vinde - Edição 3

--- Reage Fábrica Pastor Jimmy Swaggart Epistolas do Leitor Eles não gostam de oposição Os "ro...