quarta-feira, 21 de fevereiro de 1996

Sinais do avivamento genuíno

Carlos Pinheiro Queiroz

Carlos Fernandes

As vésperas do ano dois mil assistimos a um reflorescimento religioso sem precedentes na história. O islamismo tem um crescimento vertiginoso na Europa e países africanos, o catolicismo tradicional e conservador reacende antigas posições na América Latina. No Brasil, espiritismo e umbandismo saem respectivamente da sessão e do terreiro para ocupar espaços nos meios de comunicação, em novelas, ao mesmo tempo em que os evangélicos, especialmente os pentecostais, saem do gueto para a televisão, política, campo de futebol, luta por direitos humanos e até escola de samba. Entre boas e más notícias, críticas e elogios, o fato é que saíram do anonimato.

Um observador comum perceberá um reflorescimento religioso pelo aumento numérico dos adeptos e simpatizantes de determinada religião, celebrações capazes de atrair multidões, maior presença sociedade e, em alguns casos, aparecimento de fenômenos sobrenaturais ou paranormais. Sinais que podem surgir alheios ou contrários à vontade de Deus e desatrelados da qualidade religiosa em si mesma. O cenário psicológico propício, mudanças sócio-políticas, novos modelos econômicos ou a combinação de vários desses fatores. podem propiciar terrenos fertilíssimos para qualquer crescimento religioso, o que não significa que os reflorecimentos religiosos não tragam benefícios de natureza cultural e social. Todavia, como subproduto do espaço onde se desenvolvem, são superficiais, e não tocam nas questões mais profundas da vida.

"Ao contrário de hoje em dia, os líderes de grandes avivamentos espirituais no passado não se consideravam superdotados ou semideuses"

Os avivamentos espirituais nascem no coração de Deus e se concretizam na história, portanto, onde estão fermentando fenômenos sociais, culturais, políticos e econômicos. A grande diferença é que nos avivamentos tais fenômenos são construídos, modificados ou, no mínimo, rebocados, a partir de novos paradigmas éticos e morais inegociáveis, capazes de melhorar a qualidade de vida. Há sinais nos avivamentos que podem nos ajudar a discernir entre um avivamento genuíno e um reflorescimento religioso. Um deles tem a ver com a posição dos líderes dos avivamentos do passado, os quais não se consideravam superdotados, semideuses. Tais categorias funcionavam em suas cabeças como tentação. Sabiam relacionar intimidade com Deus e vida comunitária. O coração pulsava por pacificação e a cabeça pensava em justiça. O outro está relacionado ao processo histórico, à transformação de relações sociais desiguais. Os grandes avivamentos julgaram e denunciaram pelo poder da palavra, socorreram e defenderam os pobres, marginalizados e oprimidos. Foi assim na igreja primitiva (Atos 2:42-43; 4:32-35; 2 Cor 8:1-15 e Rom 12:1-3), na Inglaterra nos tempos de Wesley, nos Estados Unidos com Charles Finney.

O que acontece hoje no Brasil é reflorescimento religioso ou avivamento? Em meio ao reflorescimento religioso brasileiro precisamos discernir o que é joio e trigo, trigo enjoado e trigo intrigado. E até joio enjoado, uma vez que um avivamento genuíno pode conviver em meio a tudo isto, afetar tudo isto, construir outra história, mas em essência é bem diferente da superficialidade dos reflorescimentos religiosos.

Carlos Pinheiro Queiroz é pastor da Igreja de Cristo em Fortaleza e supervisor da Visão Mundial no Ceará e Rio Grande do Norte

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