domingo, 11 de fevereiro de 1996

Um papel para valer

Para o ator Felipe Folgosi,trabalhar nas novelas é como uma missão

Por Stela Bastos

Fotos: Frederico Mendes

Carlos Fernandes
Felipe faz parte da Associação de
Funcionários Cristãos da Rede Globo

Cena 1: Felipe lê os capítulos da semana e vê a cena em que o cigano Wladimir, seu personagem na novela das oito, está na praia vendendo os cobertores das sete feiticeiras.

Cena 2: Felipe se aconselha com o pastor da sua igreja e sai em paz.

Cena 3: Não se sabe por que nem até quando, mas a gravação da cena foi suspensa.

Essa não é uma seqüência da novela Explode Coração, exibida pela Rede Globo de Televisão. É apenas uma pequena sinopse de um dos episódios da vida real de Felipe Folgosi, 21 anaS, um ator bonito, tranqüilo, saudável e, com certeza, um dos mais bem sucedidos de sua geração. À primeira vista, Felipe pode parecer apenas mais um jovem galã de novelas, que sonha com o sucesso: Mas, por trás da bela estampa de paulista bem nascido, existe um cristão fervoroso, cada vez mais disposto a submeter-se à vontade de Deus.

Orando e se aconselhando com os pastores de sua igreja, Felipe estreou na TV como o jovem drogado Júlio, da minissérie Sex Appeal em 1992. Em seguida, fez o paranormal do bem Alef, na novela Olho no Olho. Depois gravou um episódio do programa Você Decide e agora faz parte do polêmico núcleo dos ciganos de Explode Coração, interpretando Wladimir. A sua atuação na TV abriu-lhe, ainda, as portas do teatro profissional. Felipe já atuou ao lado de Othon Bastos, Jayme Periard e Edwin Luisi, em Meus Queridos Canalhas, com direção de Gracindo Junior, e fez o Elicano, da peça Péricles, de Shakespeare, dirigida por Ulysses Cruz.

BUSCANDO O CAMINHO - É difícil escolher o início da conversa com Felipe. Como começou a carreira ou quando se converteu? As histórias se misturam e revelam que, desde muito cedo, Felipe procurava tudo o que tem hoje. Como a maioria das pessoas que optam por essa. profissão, aos 14 anos, ele já demonstrava o gosto pela arte dramática, fazendo teatro infantil na escola. E assim como o trabalho de ator tem raiz na adolescência, ele lembra que, também nessa época, tinha o hábito de acompanhar a mãe em todos os tipos de evento ou reunião de cunho religioso. "Nós estávamos em busca de alguma coisa. Fizemos curso de meditação, tarei, yoga, entramos no espiritismo, umbanda, consultamos cartomante, búzios... Qualquer coisa que indicasse um caminho, a gente ia", lembra. Até que, em 89, fazendo compras de Natal na sofisticada Rua Oscar Freire, em São Paulo, eles encontraram "o caminho", como ele diz, através do diretor de teatro Tomás Gomide, antigo amigo de sua mãe, então convertido à fé evangélica. Conversa vai, conversa vem, ela contou que ia ser submetida a uma cirurgia cardíaca para tentar se livrar de um problema de calcificação na válvula minai e Tomás não fez por menos. "Eu achei estranhíssimo", confessa Felipe, explicando que "ele perguntou se ela cria em Jesus e orou pela cura dela ali mesmo, dentro da loja". Os novos exames confirmaram a cura.

Carlos Fernandes
Carlos Fernandes
Felipe contracena com Stela Freitas, sua mãe na
novela Explode Coração, e com Ricardo Macchi e
Stênío Garcia, seus parentes ciganos

Testemunhas do milagre que p4s um ponto final no sofrimento da mãe, Felipe e sua família nunca mais foram os mesmos. Apesar de seus pais viverem separados, já houve várias conversões de um lado e de outro. "Paralelamente, os parentes da minha mãe e alguns do meu pai também foram se convertendo", diz ele, sorridente. Seu irmão, de 27 anos, também é evangélico. E o pai "já se abriu; só falta ir para a igreja", segundo Felipe. Quando todas essas maravilhas aconteceram, ele já havia participado de outras montagens amadoras no colégio, tinha feito vários comerciais para a TV, em São Paulo, e era aluno do curso de teatro de Celia Helena, devidamente autorizado e incentivado pelos pais. "Sempre fui muito bem na escola, por isso minha mãe não viu problema nenhum", comenta. Mas, a partir daí, decidiu que era melhor colocar as coisas numa nova perspectiva. Trancou o curso e começou a orar incessantemente, pedindo a Deus que respondesse sobre suas opções profissionais. E foi justamente nesse período, que de define como "parada para pensar", em 1992, que Felipe Folgosi foi chamado para fazer o teste da Globo, candidato a interpretar Júlio, na minissérie SceAppeal O papel marcou sua estréia na TV, aos 17 anos.

"SEM COBERTURA, NÃO DÁ" - Felipe não tem dúvida de que só foi escolhido porque Deus quis: "Eu era um entre muitos atores, fiz um teste só e logo que acabei o diretor Ricardo Waddington me disse que eu poderia dormir tranqüilo. Eu sei que Deus tem seus propósitos", conclui, confiante. Mas isso não quer dizer que ele tenha ilusões a respeito da profissão, das características próprias de seu trabalho, do meio artístico, e das freqüentes recaídas que qualquer pessoa pode ter, se não estiver atenta à comunhão com o Senhor. Felipe sentiu na pele as conseqüências de levar a vida "sem cobertura", como diz, quando foi escalado para fazer um dos protagonistas da novela Olho no Olho, de Antônio Calmon, cuja trama se baseava numa espécie de guerra do bem contra o mal através dos poderes paranormais de dois jovens. Felipe fazia o paranormal do bem e o ator Nico Puig, seu amigo pessoal, o suposto adversário. O contexto é fictício e não vem ao caso, mas assim como alguns atores e pessoas da equipe se sentiram gravemente afetados por uma atmosfera espiritual negativa nos bastidores da novela, Felipe também não tem as melhores recordações desta época. "Foi um momento muito importante da minha carreira, artisticamente falando", recorda, "afinal, eu era um protagonista; mas fiquei muito tempo aqui no Rio, morando sozinho, longe da minha família, sem ir à igreja e sem cobertura. Foi pela misericórdia mesmo", admite, com a expressão de quem já cresceu na fé.

CENAS DE BEIJO - É fato, porém, que um ator crente, jovem, bonito e assediado pelas gatinhas de todo o Brasil dificilmente escaparia da curiosidade geral: E essa história de ficar beijando as atrizes? Não tem uma hora em que as coisas se confundem? Afinal de contas, há muitos coleguinhas de trabalho que acabam se envolvendo durante a novela. Mas Felipe não perde a pose para responder sobre as supostas vantagens de seu ofício. E aproveita para fazer uma interessante comparação: "As pessoas têm preconceitos contra a igreja e o cristianismo", argumenta, "mas os cristãos também não podem cair nesse erro, por falta de informação. É claro que há pessoas que se relacionam amorosamente no meio artístico, assim como há casais de namorados em bancos, hospitais, enfim, em quaisquer locais de trabalho. O beijo é técnico, na hora você não está nem vendo a pessoa direito, não é um momento propício a nada", assegura o ator. Ele acha que algumas pessoas se aproximam afetivamente, muito mais pela convivência do dia-a-dia do que por qualquer outro motivo. "Aí, é claro, uma cena romântica pode acabar ajudando", admite, lembrando ainda que a diferença está na repercussão que a mídia proporciona aos namoros de pessoas famosas, como os atores.

Carlos Fernandes
Na novela, Felipe amo Leandro Leal (D), mas namora Roberto índio do Brasil, irmã de Patrick Alenco

Como um deles, Felipe sabe que está na mira das lentes e bastante vulnerável a tais situações. Mas nunca pensou em abrir mão da carreira por conta disso. Quando foi escalado para fazer o cigano, assumiu a mesma conduta que sempre seguiu: orou muito e se aconselhou com o pastor Esteves, da Igreja Renascer, de São Paulo, onde congrega. "Até agora, graças a Deus, não tive nenhuma cena de ler mão, nem cartas, nem fazendo adoração a nada", diz, aliviado. Mas, se for preciso, Felipe tem consciência de que estará agindo como intérprete de uma trama. Na sua visão, o mais importante é estar fora dos muros da Igreja, pregando o amor de Cristo. "Deus precisa da gente em todos os lugares; acho muito bom que a igreja esteja mudando a sua estratégia de evangelismo. Jesus não andava entre pecadores? Se nós não falarmos para este povo, quem vai falar?", indaga Felipe.

FALANDO DE JESUS - Sentindo-se incluído neste chamado, ele acha que está fazendo o que deve: "Todo mundo sabe que sou cristão e tenho tido oportunidade de falar do amor de Jesus para muitas pessoas", ele diz. Felipe procura crescer como ator mas também deixa evidente a preocupação em evoluir como servo de Deus. "Já fui mais ansioso, mas hoje sei que é muito mais valioso dar um bom testemunho e ficar tranqüilo para aproveitar as aberturas, sem obrigação. Mas é claro que eu tenho as minhas estratégias: já orei com muitos companheiros do trabalho, e lhes dei bíblias e livros evagélicos", conta Felipe, sem traços de vaidade. Ao contrário. Felipe deve dar trabalho às meninas com tanto equilíbrio. Ele confessa que já namorou mais de uma atriz, mas descobriu que não vai ser feliz em "jugo desigual", ou seja, namorando uma menina que não seja também sua irmã em Cristo, e está calmo, esperando sua varoa chegar. Apesar das inúmeras jovens evangélicas que dizem estar orando por Felipe - numa desculpa para paquerá-lo, ele tem uma certeza: "Oração nunca é de-mais, e adoro quando oram por mim."

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